O Brasil tem Saída!

Hoje é dia de estreia no Desfavor! Estamos implementando uma novidade para tentar melhorar a qualidade de vida do leitor e este texto é sua introdução: uma coluna permanente chamada “O Brasil Tem Saída”.

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Sim, querido leitor, o Brasil tem saída: ela se chama “aeroporto”. Por isso, decidimos criar uma coluna fixa onde vamos deixar todas as notícias que pudermos encontrar sobre oportunidades para sair do Brasil já com alguma remuneração e/ou infraestrutura no novo país.

Nossa intenção é manter essa coluna constantemente atualizada, o que, dentro das nossas possibilidades, significa inserir novidades pelo menos uma vez por semana, facilitando a vida de quem está a procura de oportunidades fora do país. Para acessar a coluna basta clicar no banner ou no Menu (no alto e à direita) e depois no título “O Brasil Tem Saída”. Vamos ao texto.

Existem muitos países que estão à procura de diferentes tipos de mão de obra, desde trabalho braçal, até mão de obra altamente qualificada, permitindo que você chegue empregado, recebendo um salário digno. Também existem países que querem apenas mais habitantes e te pagam uma mesada bastante generosa apenas para que você more no local. Existem diferentes oportunidades e talvez alguma delas mude sua vida.

Porém, antes de dar esse upgrade na sua vida, seguem algumas dicas para que você esteja preparado. Não é tão fácil quanto parece. Nada escrito neste texto é pensado para te desencorajar a sair do país, muito pelo contrário, acreditamos que seja a melhor opção, porém, você precisa estar ciente do que vai enfrentar, até mesmo para se preparar melhor.

Quando falamos em mudar de país, normalmente, a primeira questão que vem à cabeça das pessoas é dinheiro. Sim, dinheiro é importante e deve ser considerado, mas você não pode deixar de pensar em outras questões que podem pesar tanto quanto – ou até mais. Normalmente dinheiro toma toda a atenção das pessoas e, quando elas finalmente saem do país, são pegas de surpresa por outros obstáculos.

Vamos tirar o elefante branco da sala e falar logo de dinheiro então, para depois entrar nos demais quesitos. Se você tem dinheiro guardado suficiente para se manter por pelo menos um ano em outro país, vá com tranquilidade. Se não, leve em conta estas dicas.

Sair do seu país para morar no exterior com uma mochila nas costas e fé é algo que não recomendamos. Pode até dar certo, mas o risco, a vulnerabilidade e os sacrifícios provavelmente sejam penosos demais. Você vai descobrir que o período de adaptação a outro país consome muita energia, disponibilidade emocional e forças. Então, o ideal é que não vá sobrecarregado, com a pressão de não saber se vai conseguir comprar comida. O ideal é que vá na situação mais confortável possível.

Existem diferentes situações nas quais um país te paga para morar lá. Você pode conseguir bolsa de estudos, pode apenas morar no local e ser remunerado por isso (ou ganhar uma casa), pode trabalhar e receber pelo seu trabalho e muitas outras. O importante é que exista um contrato e que ele seja de longa duração, preferencialmente de mais de um ano, que é o tempo mínimo para alguma adaptação. Você não vai querer procurar emprego coma corda no pescoço no seu primeiro ano longe do seu país, acredite.

Então, se você não tem dinheiro guardado e quer sair do país, saia com alguma garantia. E sempre investigue bem a proposta antes de ir, assegure-se de que não é um golpe. Pode ser que alguém esteja se passando pela instituição, pode ser que a instituição não exista, pode ser tráfico de pessoas, pode ser qualquer coisa. Investigue, investigue e investigue.

Inclusive nas opções que vamos elencar na nova coluna, afinal, nós colhemos as notícias, mas seria impossível checar a veracidade de cada uma delas. Sintam-se livres para debater nos comentários da nova coluna o que acham uma furada e o que acham uma boa opção.

Encontrando uma forma de ser remunerado, o próximo passo é avaliar o custo de vida no local, para entender se essa remuneração te permite viver com um mínimo de dignidade.

Hoje você pode descobrir com facilidade o custo de vida de cada país e da região para a qual você pretende se mudar. Basta usar suas redes sociais para conversar com pessoas de lá, ler notícias do local ou até acessar e-commerce locais: nada como uma boa simulação de compra de supermercado para ter uma noção do custo de vida. Compare o que estão de oferecendo com o custo de vida estimado e avalie se é uma boa oportunidade.

Mas lembre-se: em países sérios, se você for bom, você cresce no seu trabalho e rapidamente ganhará mais. Vejo muita gente desistindo de sair do país pois isso implicaria em uma redução do seu padrão de vida, algo que, no começo, é quase que inevitável. O que essas pessoas não consideram é que em poucos anos estarão muito melhor do que estariam se tivessem ficado no Brasil em termos de remuneração. Então, é um investimento: você vai descer alguns degraus para, em poucos anos, subir muitos outros.

Se estiverem dispostos a trabalho duro, trabalho sério, trabalho focado na excelência, o crescimento profissional vem. Jeitinho, mentirinha no currículo, atraso, enrolação… nada disso costuma ser tolerado. Se sua vida é escorada no jeitinho, melhor ficar no Brasil. Caso contrário, você só tem a ganhar se sair, já que na maior parte dos países civilizados, qualquer trabalho é digno e razoavelmente remunerado – e quem é bom acaba crescendo.

Além da questão do dinheiro, tem outras coisas que você precisa saber. Mudar de país é mais difícil do que parece, tanto é que várias pessoas desistem e voltam. É mais ou menos como ter filhos: todo mundo descreve como a oitava maravilha, pois, à medida que o tempo vai passando, as coisas vão ficando mais fáceis e o cérebro vai apagando todo o trauma e perrengue do começo.

Mesmo o Brasil sendo um país difícil, revoltante e violento, vai ser muito duro se adaptar a outro país. Mas é possível e vale à pena. Porém, se você for pensando que tudo fluirá fácil, vai levar um choque e isso vai tumultuar seu processo.

Você não vai fazer amigos assim que chegar, fazer amigos é um processo demorado, toma tempo, convivência, é uma construção a longo prazo. Isso implica um período mais solitário. Claro que você sempre tem a opção de se comunicar virtualmente com seus amigos no Brasil, mas não é a mesma coisa. Viver em um lugar no qual você não é especial para ninguém é duro. Pensar “se eu morrer amanhã só vão descobrir meu corpo quando feder” é duro.

Melhora com o tempo. Você acaba fazendo amigos, acaba tendo colegas, conhecidos, uma rede de segurança. Mas vai demorar. E, até lá, você vai sentir falta de estar em um lugar onde era conhecido, era querido, era especial. O downgrade não é apenas econômico, ele é social também. Se você era admirado e respeitado no seu trabalho, agora você será alvo de curiosidade e até desconfiança. Precisará se provar, reconstruir um nome, uma carreira, credibilidade.

É uma sensação de não-pertencimento muito complicada de lidar. E ela vai perdurar por muito tempo. Além da solidão, além da saudade de todos os que ficaram no Brasil, você vai ter saudade do que você era no Brasil. Do espaço que ocupava no seu grupo social. Isso fica, não vai com você.

Muitas das suas conquistas ficarão no Brasil e você terá que buscar novas conquistas no novo país. E recomeçar é duro, em qualquer coisa que a gente faça. Quem já parou e voltou a frequentar academia entende o sentimento: não importa quão dedicado você seja, se você parar um mês e voltar, no dia seguinte dói tudo, como se nunca tivesse treinado um dia na sua vida.

A adaptação a uma nova cultura não é fácil. Por mais que o país seja melhor, por mais que o país funcione melhor, por mais que o país ofereça mais qualidade de vida, mudar de cultura te obriga a se adaptar, a mudar a você mesmo, a reavaliar todos seus hábitos, escolhas e rotinas. E isso é cansativo.

Você vai encontrar o que eu chamo “respingos de Brasil” nos seus hábitos, costumes e personalidade, que precisam ser corrigidos, pois países que não são uma República das Bananas não aceitam certas coisas que, para o brasileiro são perfeitamente normais, inofensivas e corretas. Você vai ter que reaprender a viver e se adaptar à cultura dos outros, concorde você ou não com ela.

Você vai ter que estudar e não apenas um novo idioma. Acreditem, o idioma costuma ser o menor dos problemas. Você precisa entender quais são as normas do lugar que vai morar. O que é crime? O que é passível de multa? O que o condomínio proíbe? Que horas recolhem o lixo? Que hora as lojas abrem e fecham? Quais formas de pagamento o supermercado perto de casa aceita? Busque online, vá ao consulado do país no Brasil e converse com funcionários, faça toda a pesquisa que puder.

Muito daquilo que você dava como certo no Brasil e nem cogitava que pudesse ser diferente em outro lugar, para sua surpresa, será diferente. Você vai descobrir que coisas que acreditava serem universais, como por exemplo, poder pagar uma conta no banco (presencial ou online) não são. E, por mais que você estude, tem coisas que só vai descobrir quando chegar lá, e, geralmente, passando perrengue. Se puder conversar com brasileiros que moram no local, faça. Vai te poupar muitos erros.

Tem também a sensação de culpa, pelas pessoas que você deixou. Família, idosos que podem vir a precisar de você, até mesmo filhos. Não tem jeito, é um sentimento com o qual você terá que aprender a lidar (e que fica mais suave com o tempo), afinal, não faz sentido que alguém tenha que ficar em um país ruim e viver infeliz só para não se sentir culpado. Pense da seguinte forma: quando você estiver bem-sucedido, pode levar quem você quiser para perto, você está apenas em uma jornada de separação temporária.

Tenha em mente que todo o estranhamento, o choque, o não-pertencimento inicial não querem dizer que você não sirva para esse país. Qualquer pessoa que troca de país sente isso. É como passar pela arrebentação na praia: você vai entrando no mar, apanhando, tomando onda na cabeça, caindo, rolando, sendo derrubado, mas insiste, até que passa pela arrebentação e vem uma gostosa calmaria. Persista e você vai se adaptar e ser tão feliz como seria no Brasil – ou mais.

O fato de estar triste, solitário, infeliz e deslocado não é sinal de que não deu certo, é sinal de que você ainda está em um processo de adaptação. Dificilmente alguém está adaptado antes de um ano. Um ano é o tempo mínimo para que a pessoa comece a se sentir mais confortável no novo país. Antes disso, é desconforto mesmo. Desconforto, medo, frustração, culpa, tristeza, saudade. Mas passa. E é por um motivo nobre: ter qualidade de vida, segurança e estabilidade.

No começo vai ser especialmente difícil pois provavelmente você não terá acesso a aquilo que era o seu lazer, o que você usava para desestressar, desopilar. Futebol na praia, barzinho com amigos, domingo em família… seja lá qual for a maneira pela que você recarregava as baterias, provavelmente não estará mais disponível.

O que significa que você vai ter que encontrar novas formas, dentro das limitações que as circunstâncias vão impor. O que, por sua vez, significa que você não vai ter como desopilar por um tempo, até encontrar essas formas. Não tem jeito, é tentativa e erro: experimentar coisas novas até descobrir algumas de que goste. Por sinal, todo mundo deveria fazer isso na vida, em vez de ficar apegado ao mesmo lazer. Repita o mantra: depois de um ano, tudo vai melhorar.

É curioso como as pessoas conseguem sublimar um desconforto inicial em nome de um ganho futuro em questões mais fúteis, mas não conseguem fazê-lo em questões mais importantes. Todo mundo sabe que se fizer uma cirurgia plástica o pós-operatório vai doer, vai ser desconfortável, vai ter limitações. Mas as pessoas fazem mesmo assim, pois querem remover a gordura, querem outro nariz, querem outro peito.

Porém, quando é algo da magnitude de mudar de país para ter uma vida melhor e dar uma vida melhor aos filhos, eu não vejo a mesma garra. Talvez as pessoas tenham a ilusão de que vai ser muito mais fácil do que elas pensam e o choque faça com que não tenham estrutura para seguir em frente. Por isso eu te digo, eu te garanto, eu te juro: aguenta, que melhora com o tempo. Sua vida no novo país não vai ser sempre o sofrimento e perrengue dos primeiros anos. Melhora.

Mesmo ciente de tudo isso, em algumas horas o desespero vai bater. O saco cheio vai bater. A exaustão vai bater. Nessas horas é fundamental de que você se lembre que vai melhorar, desde que você faça por onde. Sua postura é fundamental. Se você não estiver disposto a se moldar à nova realidade, vai ser um tormento.

É preciso estar aberto a abraçar uma nova cultura, estar ciente de que para obter os muitos benefícios do país que você escolheu vai ter que abrir mão de coisas que você gosta (já vi gente voltar ao Brasil pois não tinha feijão no país onde a pessoa estava!) e é preciso que se faça esforço diário para adaptação. Não fique com raiva do novo país, não pegue birra do novo país, não alimente implicância com o novo país.

E muito cuidado com o que eu chamo de “síndrome de ex”. Quando um relacionamento termina, por pior que ele estivesse, a gente tende apenas a focar no que perdeu, fica lembrando apenas das coisas boas do ex e esquece todas as cagadas, problemas e diferenças.

É comum que as pessoas façam o mesmo quando saem do país: romantizam o Brasil, só lembram das coisas boas, atenuam os inúmeros defeitos, achando que não são tantos nem são graves. Não caia nessa, é só o medo te manipulando, querendo te fazer voltar para o que é conhecido. Uma banheira de merda é quentinha e confortável, mas ainda é de merda.

A adaptação a outro país não é um processo passivo, não é só chegar e esperar até você se acostumar. É um processo ativo. Você tem que estudar, compreender aquela sociedade e procurar coisas, comidas, lugares e lazer que te agradem. É um processo demorado, onde é indispensável saber lidar com frustração: de cada 5 coisas que você tentar, só vai gostar de uma e isso não quer dizer que o lugar seja uma merda, quer dizer que você está aprendendo sobre ele. Garanto que você não gostava de tudo no Brasil.

Ajuda muito nesse processo se você tiver um “porto seguro”, uma pessoa com a qual possa conversar, desabafar, pedir conselhos sempre que bater o desespero. Se você tem um bom amigo capaz de fazer esse papel, peça para que ele seja seu curador de adaptação e acione-o sempre que precisar.

E, muito importante: desapega. Tem que sair do Brasil e deixar o Brasil sair de você. Não dá para ir a outro país esperando “Um Brasil com neve” ou “Um Brasil que paga em dólar”. Não vai ser Brasil em nenhum outro lugar. Não procure Brasil onde você está. Desapega do Brasil e você vai ver que muitas das coisas que você gosta no Brasil são apenas costume/falta de opção/condicionamento e que existem muitas outras opções no novo país que vão te conquistar e te fazer feliz.

Bateu o desespero? Respira fundo e pensa que vai melhorar. Respira fundo e conversa com alguém. Respira fundo e vai fazer algo que recarregue sua bateria e reduza seu estresse. Voltar ao Brasil é como voltar com aquele seu ex que te agredia só por ser mais fácil, já que ao menos você o conhecia bem.

Eu já mudei de bairro, de cidade, de estado e de país, portanto, se você está sofrendo para se adaptar a um novo país, não tem nada que você esteja sentindo que eu não tenha sentido. Pode deixar seu comentário aqui (inclusive anônimo, para preservar sua privacidade) que a gente conversa e certamente você vai se sentir melhor.

E, por fim, o conselho mais importante de todos: saia do país pelas razões certas, ou seja, por não estar satisfeito com o país. Se você está saindo por outro motivo, como por exemplo para recomeçar do zero pois sua vida não te agrada, não vai dar certo. O céu e o inferno são portáteis, eles vão com a gente, onde quer que a gente vá.

Então, se a sua mente não está em um bom lugar, sua vida não será boa no Brasil, na França ou na Austrália. Mudar o cenário não muda sua vida, mudar sua mente muda sua vida.

É isso, espero que nossa nova coluna ajude de alguma forma.

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Para dizer que tem coisas que só o Desfavor faz por você, para dizer que os outros povos são muito frios (o brasileiro é que é informal demais) ou ainda para dizer que feijão é indispensável: sally@desfavor.com

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Comments (36)

  • A ideia do texto é bacana! Vocês poderiam focar em outro texto na parte financeira e prática propriamente dita de todo esse processo, porque essa é uma preocupação de muitos.

    Vamos colocar valores mais ou menos reais e práticos pra ver o nível da coisa: digamos que tu tenha lá uns 5 mil guardados… Blz, mas só 5 mil é a passagem pra Europa, se bobear na classe econômica, e com muita sorte tu conseguiria por esse preço a passagem de ida e volta, lembrando que é sempre bom já comprar a passagem de volta, por precaução! Viajar pra Argentina, nesse caso, é relativamente fácil, o peso argentino é mais barato que o real, isso facilita, então… Talvez até mesmo pra NY pegando uma promoção pela CVV, mas aí já é outra história, estaríamos falando de viagem de turismo, e não de migração.

    Mas não é só isso! Ainda tem que pensar no seguro viagem, que costuma ser caro, pensar no que levar de fato, pq não dá pra levar a mudança inteira num avião, e mandar tudo via transporte marítimo é caríssimo, pensar também que tem que ter dinheiro vivo em mãos (comprar euro ou dólar já no Brasil, porque comprar em Frankfurt ou em Paris é uma dor de cabeça e burocracia que só! Em Buenos Aires, pelo menos quando eu fui, era facinho encontrar cambio, mas tem que tomar cuidado pois muitos deles são golpistas e vendem moeda falsa!).

    Tem que pensar também que tem que ter um cartão de crédito internacional, além de dinheiro vivo em mãos, e também até mesmo uma financeira tipo wise ou western union pra manejar a grana, enfim, uma dor de cabeça que só! Ahh e criar uma conta em banco internacional tu tens que provar até que tu existe, que teu cromossomo é de verdade! Fora tudo isso, tem que estar preparado pra tudo, porque tem lugar, como nos EUA, que é tudo via cartão de crédito, não existe esse negócio de débito a vista como aqui no BR. Já em outros lugares, como Portugal, parece que eles evitam pagar no crédito, não dá pra entender!

    Ahh e não vão achando que em todo lugar a gente tem essa facilidade de simplesmente receber um boleto por email, abrir no app do banco no cel e pagar não, ou mesmo pagar com QR code via pix, porque não tem! Tem lugar que até hoje ainda se usa cheque e não há como fazer transações (TED, DOC) de uma conta pra outra. Triste, porém real.

    Não bastasse isso, tem que pensar também: onde tu vai morar? Na periferia de Paris? Num “banlieu”? Ou num grand-chateau no centro de Paris? Se for distante, tem que pegar 2h de metro etc, vale a pena considerando o deslocamento para o trabalho? Aliás, tem que pensar também onde tu vai trabalhar, com o quê, enfim… São tantas coisas! E, no cômputo geral, ainda falando em dinheiro, essa brincadeira toda não sai por menos de 30, digamos 50 mil.

    Daí tu pensa… Digamos que tu tenha lá teus 5 mil guardados e tenha seu (sub)empreguinho mequetrefe ganhando seus 1300 por mês, vivendo numa kitnet pagando 700 de aluguel, sem muito luxo e conseguindo poupar, na garra, uns 100, 200 por mês? Daí tu até tenta fazer uns freela pra levantar mais grana, mas não consegue com frequência, é algo muito sazonal… Então, como lidar? Como juntar essa grana toda pra ir pra fora? A não ser que se espera dezenas de anos a fio (até lá o BR já afundou de vez, não?) simplesmente não dá pra agora, pra dentro de um ou dois anos. A não ser, é claro, que se entre num concurso público qualquer aí, a pessoa ganhe lá seus 4 mil, daí já dá pra começar a pensar na ideia. Digo isso porque aposto que muitos por aí se identificam com essa situação de salário mequetrefe e uma quantia ínfima guardada. Então, como lidar? Vai dizer que é falta de planejamento da pessoa, de que ela não economiza direito e pode cortar mais ainda os gastos pra economizar mais?

    Ou talvez, sei lá, se a pessoa sair refugiada do país, pedir asilo político, ou mesmo se tiver um golpe de sorte e for ofertada ir para o pais com tudo pago e ainda emprego garantido… Eu sinceramente não sei, se vocês souberem como proceder nisso, seria de grande valia para textos futuros.

    Ahh e acrescentando lá atrás… Antes de ir, brasileiro precisa fazer o que eu chamo de “detox brasil”: tem que desapegar das coisas com as quais está acostumado aqui, e não é só pix e pagar coisas com celular não. Na Europa e EUA as coisas são muito “do it yourself”, faça você mesmo. No posto de gasolina, não vai ter frentista colocando gasolina pra ti, é tu quem vai lá, paga primeiro e depois se serve na bomba. Caixas de mercado tendem a não ter também, tu mesmo enfia as coisas lá que comprou, passa o código de barras, seleciona a forma de pagamento e passa o cartão. Pequenos reparos em casa, tipo na rede elétrica, arrumar o chuveiro, a torneira etc, tendem a ser difíceis de achar quem faça por ti, então tu mesmo tem que fazer. Eletrodomésticos são caros, então não é comum aquele modelo de aluguel em que grande parte do eletro e móveis já estão inclusos. Ahh e também tem aquele modelo, geralmente na Europa, em que tu tens desconto na tarifa de luz considerando alugar o local já com aquecedor, fogão etc. E sim, dependendo do lugar que tu vai, não tem como escolher “não usar aquecedor só porque quero economizar na luz”, é item obrigatório pra sobrevivência. Além disso tudo, considerando Europa e Eua/Canadá, prepare-se para muita umidade e frio, e limpeza de casa não se faz com água e sim com produtos químicos que tu só passa com pano e pronto. Gastação de água pra lavar carro também não costuma existir, em Portugal, inclusive, é proibido sob pena de multa, quem lava carro na frente de casa gastando água. Enfim, são várias coisas pra se readaptar, tem que pesquisar muito antes a cultura do local, falar com quem já foi, ou quem mora lá, enfim.

    • Ge, alguns bancos te permitem abrir uma conta internacional e fazer a conversão do seu saldo em real para dólar e vice-versa, através de parceria com bancos americanos. Eu fiz para receber o pagamento de alguns freelances pela internet e meu irmão está conseguindo ganhar a vida assim. Não sei se resolveria o problema de forma permanente, mas é tanto uma forma de já começar uma reserva em dólar pra ir embora quanto uma maneira mais segura de poupar se a pessoa não necessariamente quer sair a curto prazo. Afinal, em 2010 a maioria das pessoas não pensava que o real fosse desvalorizar tanto e aqui estamos. Daqui 5 anos, o dólar pode custar 10 reais e dificultar muito a vida de quem deixar para comprar de última hora.
      Nós usamos o Inter, mas acredito não ser o único banco que permite conta internacional.

  • A coluna é uma excelente ideia, parabéns !!!
    Quero ir embora ontem, mas…
    Mas infelizmente tenho muitas questões pendentes: falta de conhecimento 2a língua, peso da idade, inseguranças diversas (sera q vou me adaptar, sera que vai ser bom, será que isso ou aquilo), e a pergunta do milhão: será que vale msm a pena?
    E sim, o Brasil já me exauriu, porém as dúvidas são muito relevantes, afinal, o que é o céu para uns, pode ser o inferno para outros…

    • Não se preocupe com o idioma, a menos que você vá para um país de idioma muito complicado (como Japão), em poucos meses você aprende. Pode inclusive começar a aprender hoje, sozinho, online. Sem dúvida toda a adaptação vai requerer um esforço, mas, para mim, viver no Brasil também era um esforço diário enorme, então, achei melhor passar pela adaptação e depois viver em paz. Avalie o quanto te exaure viver no Brasil, tendo em mente que o processo de adaptação, em algum momento, deixa de ser tão demandante.

  • Quase 8 décadas

    Pessoa brasileira há quase 8 décadas (lembra?) já vivi de tempos em tempos (desde os 30 anos)também no Oriente e na Europa, devido a isso conheço de perto a cultura e o dia a dia de diversos países lá fora, todas as culturas completamente diferentes, algumas abomináveis mas me adapto com facilidade a todas elas, anos de experiência nesse meu vai e volta.
    A cada volta ao Brasil sinto que cheguei em casa.
    É só o avião aterrizar, abrir a porta, desço a escada e respiro com a paz que aconchega o meu coração.
    Sim, eu cheguei em casa, cheguei ao meu lar querido, (ainda nem passei pela alfândega e já me sinto diferente).
    Chego em minha casa e o ninho do qual estive longe por tanto tempo me acolhe como uma mãe junto a qual nada nunca irá me faltar.
    Definitivamente eu nunca irei morar fora do Brasil para sempre.
    Minha vida já deve estar nos finalmentes, a cada dia que passa é um dia a menos para eu viver, mas ainda vou e volto feliz por voltar.
    Tive todas as ofertas gratuitas e incontáveis oportunidades para fixar residência em qualquer país do planeta, recusei todas.
    Aqui é ruim? É.
    Aqui tem coisas boas? Tem.
    Razao ou emoção? Opto pela emoção, é ela quem me faz feliz.
    Ainda recordo o 7 x 1, estava no ar voltando para o país perdedor, mesmo perdendo eu estava feliz, meu chão sagrado ainda estava a minha espera.
    Enquanto digitava pensava: ninguém quer saber a sua opinião, o post se refere a sair do Brasil!
    Tá, eu só quero dizer por quê quero ficar.

  • Imagino como deve ser foda desembarcar em um lugar e, já na imigração, receber olhares atravessados só por causa do nome do país que está escrito na capinha do passaporte. Não duvido que os guardas cochichem entre si na língua deles: “Porra, chegou mais um macaquito…”

  • Acho que a solidão não vai ser um grande problema pra mim. Ainda mais quando é parte do processo de adaptação e se vou reconstruir minha vida social mais cedo ou mais tarde.

    Na verdade, vendo o copo meio cheio, é até incentivo querer sair do casulo eventualmente, quando se está lidando com pessoas diferentes, com outra mentalidade e cultura.

    E a questão de se deslocar em si… Bom, eu já morei em diferentes cidades. Não é a mesma coisa que mudar de país, mas, não sou lá a pessoa mais apegada com terra.

    • Eu acho que a parte mais difícil é desapegar de você mesma, do que você era no Brasil, pois não dá para ser o que se era no Brasil em outro país. Até se reencontrar e ficar funcional demora.

  • Já vi casos de gente que passa uns tempos no exterior, faz muito dinheiro e volta pro Brasil pra comprar apartamentos pra alugar.

  • Pra Alemanha, procurem o programa ProRecognition. Eles oferecem consultoria pra revalidar seu diploma, seja técnico ou universitário. O nível de proficiência em alemão exigido depende da profissão, área da saúde obviamente exige mais.

    Não sei muito sobre outros países, mas aqueles projetos da Itália e do Japão, de pagar pessoas pra morarem em vilas à beira da extinção, parece furada. A vila provavelmente é longe de tudo e as casas provavelmente estão em mau estado (e você vai ter que arcar com as reformas), talvez exijam que você faça algo pra atrair mais gente, sob pena de perder o visto. Mas é só achismo meu.

    Enfim, migração fácil só sendo muito rico (visto de investidor) ou muito pobre (visto de refugiado). Classe média que lute, hahahaha

    • Qualquer proposta do Japão cheira um pouco a furada. Pela questão da xenofobia. Caso se assemelhe um pouco a um japonês e seja fluente no idioma, lindo. Se o fenótipo for diferente, complica. Tem a questão da força de vontade e motivação da pessoa, claro.

      • Olha, dificilmente o brasileiro não seja tratado como inferior no começo… até nos EUA acontece. O tempo se encarrega de provar o valor da pessoa.

        • Eu me referi especificamente à sociedade japonesa. Já vi estrangeiros reclamando também sobre isso. E já vi fotos de placas com algo como “somente japoneses” em portas de estabelecimentos comerciais.

          • Não precisa ir tão longe pra sofrer a segregação japonesa. Muitas empresas daqui do Brasil só contratam descendentes por “não confiarem” nos brasileiros. Eu particularmente não acredito que seja uma questão de confiança, mas sim de ocultar informações. E também em quesito saúde o Japão não é bom, pois não tem hospitais pra quem morar no interior e até pra fazer uma avaliação no dentista é muito difícil. Enfim, não recomendaria o Japão para morar, somente pra turismo. Mas se for o sonho de alguém aqui, não acreditem em propagandas muito boas ou fáceis demais. Procurem quem já morou lá, como foi dito no texto.

  • Excelente texto, Sally. São conselhos super válidos e sobre questões que muita gente não leva em conta nem ao mudar de apartamento, que dirá ao mudar de país. Ir morar em outras latitudes nunca é fácil, mas, se a pessoa fizer tudo certo e for resiliente, o resultado compensa. Se eu um dia sair do Brasil, é muito provável que leve um tempo para me acostumar com algumas novidades e tenha os meus “choques de cultura” – me deparar com coisas que são normais lá fora porém esquisitas para nós e vice-versa ; mas acho que, de tudo, o que talvez menos me incomodoria seria essa e alegada suposta “frieza” de outros povos. Porque nunca me agradou esse costume brasileiro de já ir logo de cara tratando com toda a intimidade alguém que acabou de conehcer. Isso não é “cordialidade”, mas inconveniência. E eu, de minha parte, procuro ser sempre o mais respeitoso possível mesmo ao lidar com pessoas com quem convivo há anos. Tanto que vários conehcidos às vezes se aborrecem comigo e achem que eu sou “excessivamente cerimonioso” por nunca entrar sem bater, não abrir mão de dizer “com licença”, “por favor”, “muito obrigado” e “se não for abusar da sua boa vontade” e sempre perguntar “Posso?” antes de fazer ou de pegar alguma coisa, além de ser também muito “cheio de dedos” quando preciso abordar alguém, seja um completo estranho ou não.

      • Falando em “reaprendizado total”, Sally, você e os impopulares que já passaram pela experiência de morar no exterior poderiam contar histórias de perrengues e até de eventuais micos vividas em outros países. Creio que ninguém, por mais preparado que esteja, passa incólume por esse “período de adaptação”. E podem ser coisas apenas engraçadas como parecer um bobo ao se atrapalhar com o idioma e/ou hábitos locais ou situações bem mais sérias como já ser malvisto logo ao chegar apenas por ter vindo de onde veio e ter sobre si uma presunção negativa dos nativos de ser apenas mais um malandro/preguiçoso/golpista/aproveitador/baderneiro vindo de um shithole incivilizado.

    • “E eu, de minha parte, procuro ser sempre o mais respeitoso possível mesmo ao lidar com pessoas com quem convivo há anos. Tanto que vários conhecidos às vezes se aborrecem comigo e achem que eu sou “excessivamente cerimonioso” por nunca entrar sem bater, não abrir mão de dizer “com licença”, “por favor”, “muito obrigado” e “se não for abusar da sua boa vontade” e sempre perguntar “Posso?” antes de fazer ou de pegar alguma coisa, além de ser também muito “cheio de dedos” quando preciso abordar alguém, seja um completo estranho ou não.”

      Juro que eu não entendo como alguém poderia considerar que isso seja um defeito…

    • W.O.J, eu nasci e fui criada no Brasil e até hoje fico chocada com a nossa falta de civilidade. Os hábitos que você descreveu deveriam ser mantidos como bom senso e respeito básicos ao invés de causar estranhamento. Já reclamaram em um dos meus trabalhos anteriores por eu ter me recusado a ir beber com colegas em plena terça-feira útil. Aparentemente, recusar um convite para beber no início da semana e pedir que parassem de insistir significa que sou mau humorada e chata.
      Minha ideia inicial era acumular dinheiro suficiente para imigrar com segurança durante alguns anos, mas estou tentando agilizar isso com trabalhos remotos que pagam em dólar/euro, já que real rende pouco mesmo quando o investimento é bom. Quando a gente pensa nas perspectivas de crescimento e qualidade de vida no Brasil, dá vontade de ir embora até correndo hahahaha

      • “Já reclamaram em um dos meus trabalhos anteriores por eu ter me recusado a ir beber com colegas em plena terça-feira útil. Aparentemente, recusar um convite para beber no início da semana e pedir que parassem de insistir significa que sou mau humorada e chata.”

        Sei bem como é isso, Paula.

  • Amei a ideia da coluna, Sally! E muito bom o seu texto também. Não me vejo construindo uma vida em outro país, mas quem sabe eu mudo de ideia eventualmente? É sempre bom ouvir de quem sabe…

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