Clima ruim.

Concluída no primeiro dia do evento, Declaração de Belém reconhece urgência de salvar a floresta e respeitar seus povos, mas não entrega plano concreto. Depois de 14 anos de silêncio, governos do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela reconhecem a urgência de trabalharem juntos pela proteção da Amazônia, mas não fixam metas conjuntas ou prazos para acabar com o desmatamento. LINK


Se quem pode mudar o rumo das coisas não vai fazer nada, podemos parar com a encheção de saco? Desfavor da semana.

SALLY

O grande fracasso da Cúpula da Amazônia é apenas o pano de fundo para a postagem de hoje, que trata de algo muito maior: é simplesmente ridículo o estado de negação e a abordagem da questão ambiental que o ser humano está adotando. É patético. É contraproducente.

Quem tem um mínimo de conhecimento científico e discernimento sabe que o ser humano já causou danos extensos demais ao planeta para que isso seja reversível sem uma carga de sacrifício que ninguém está disposto a fazer. Quem tem cérebro consegue ver que não estamos falando de um esforço individual como reciclar ou não usar canudo de plástico, isso só se reverte com sérias medidas governamentais impostas a todos.

Portanto, no campo individual, não há nenhuma medida realmente eficiente que possa ser adotada. Mas as pessoas se sentem muito nobres e responsáveis reciclando lixo. Elas se sentem superiores. Então, ou o fazem por ego (para se sentirem úteis), ou por burrice (achando realmente que isso vai fazer diferença enquanto empresas poluentes detonam o planeta). Não seja nem burro, nem egocêntrico.

A realidade é que a situação não é reversível. O ser humano não sabe funcionar sem todos os recursos, comodidades e facilidades que a indústria poluente disponibiliza. Não seria hora de assumir isso? Não seria hora de dizer “ok, vamos encarar a verdade, nada vai mudar em larga escala, então, estamos rumando para nossa extinção” em vez de continuar fingindo que ainda dá para fazer algo para prevenir? Não seria mais esperto já contar com a danação que está por vir e pensar em formas de mitigá-la em vez de fingir que vai evitá-la?

Mas, imagine você se o ser humano admite que algo está fora do alcance do seu poder. Jamais. Bora continuar desfilando nobreza e usando canudo de papelão, afinal, é bacana se sentir bom, se sentir superior, se sentir útil. Vamos fingir que atitudes individuais fazem a diferença. Vamos fingir que não depredamos o planeta a um ponto de não retorno. Vamos fingir que temos o controle de tudo e que ainda dá tempo. É mais agradável.

Você consegue viver nesse pacto de mentira? Eu não consigo. Eu estou irritada e de saco cheio de ver isso diariamente. Sejamos francos: cagamos o planeta todo. A merda está feita. Será que agora, por gentileza, podem parar de encher o saco? Ou, se for o caso de uma compulsão patológica por encher o saco, poderiam, por favor, encher o saco de quem tem poder para fazer algo em escala coletiva?

Não, não vão parar de encher o saco, pois a indústria do medo rende cliques, visualizações, engajamento. Quantas vezes noticiarem alarmismo, prazos e ameaças, terão zilhões em visualizações. E, veja bem, nem estou dizendo que não tem uma grande danação vindo por aí, pois tem sim. A questão é: que tipo de babaca masoquista acha produtivo ficar lendo diariamente sobre algo que ele não pode evitar? São décadas de ameaças constantes. Chega. Já deu. Parem de encher o saco de quem não pode mudar a realidade.

Parem de encher o saco com questões ambientais. O dano já está feito e é irreversível. Parem de encher o saco do cidadão comum, que nada pode fazer para mitigar um dano global, catastrófico, generalizado. É como encontrar um corpo com 50 tiros de fuzil ficar todo santo dia noticiando “olha como ele está sangrando, olha como ele está mal, olha aqui essa foto” ou pior, pressionando a pessoa a colocar um band-aid no baleado: não vai fazer a menor diferença.

Bora ser realista sobre o que poderia ser feito para reverter o problema em larga escala? Daí as pessoas dizem se querem ou não e a gente sai de cima do muro. Só tem dois caminhos: fazer muitos sacrifícios coletivos ou aceitar que fodeu e parar de cobrar.

Para começo de conversa, seria necessária uma proibição global de ter filhos. A superpopulação é um problema real, incontroverso e reconhecido como principal dano ao planeta. E aí? Topam? Topam que seja proibido ter filhos? Não, né? Foi o que eu pensei. E tem outra: mesmo que se proíba a humanidade de ter filhos, ainda assim, tem gente demais no mundo. Bora matar metade da população mundial na base da aleatoriedade, de algum sorteio? Topam? Não, né? Foi o que eu pensei.

Bora abolir o uso de combustíveis fósseis? Acabou carro, acabou avião, acabou deslocamento fácil. Bora criar sérias restrições energéticas? Você terá duas horas por dia para usar internet, seu computador e seu celular. Topam? Não, né? Foi o que eu pensei. Bora parar a expansão imobiliária e não encostar em florestas? Bora proibir plástico e cada um leva sua garrafinha de vidro para a padaria encher de leite? Imagina, só imagina a histeria se uma dessas medidas fosse implementada.

O ser humano quer ter conforto, mas quer “salvar o planeta”. Como sempre, um demente, incoerente e sem noção da realidade. Não espanta que esteja a caminho da própria extinção.

Admitam: o dano foi profundo demais para reverter com pequenas medidas individuais e as grandes medidas globais que precisariam ser tomadas ninguém quer. Admitam: deu ruim, não tem volta. Bora tocar nossas vidas da melhor forma possível e tentar sobrepassar as severas consequências que estão por vir em vez de ficar nessa palhaçada, nesse teatrinho, nessa babaquice de fingir que estão tentando fazer alguma coisa?

Parem de encher o saco. INSUPORTÁVEIS. Parem de encher o saco com algo que não pode mais ser evitado. É como ir até uma grávida e pregar sobre o uso de camisinha. TARDE DEMAIS, IDIOTA! Parem de encher o saco das pessoas, que não podem fazer nada relevante no âmbito individual e foquem seu tempo e energia em formas de remediar/mitigar as danações que estão por vir, ao menos o que for possível.

Não se iluda: essas informações sobre o planeta, o aquecimento global, o derretimento de geleiras e todo o dano ambiental não são pensadas para conscientizar nem para tentar reverter o quadro. São busca por audiência monetizada. Medo rende cliques, nosso cérebro nos faz focar naquilo que pode ser uma ameaça, como mecanismo de sobrevivência: se estivermos cientes do que nos ameaça, temos mais chances de escapar. Isso está sendo usado contra você para ganhar dinheiro.

Repito: a ameaça é real, o planeta vai se tornar inabitável para seres humanos, mas não tem nada que você possa fazer no campo individual que reverta esse cenário e, o que pode ser feito no campo coletivo, você provavelmente não vai topar e os governos nem sonham em fazer. Então, hora de assumir que estamos nesse caminho trágico em vez de ficar fingindo que não, que queremos algo diferente, que podemos fazer a diferença.

A vida é feita de escolhas, e nós, humanidade, fizemos a nossa. É muito feio chorar e tentar não pagar a conta quando ela chega. Sejam adultos, assumam responsabilidade por suas escolhas e tenham resiliência para arcar com as consequências. Querem fazer algo? Foquem no remediar, não no prevenir. Vai lá e inventa um jeito rápido, simples e barato de transformar água do mar em água potável, filho da puta, em vez de ficar se acorrentando em árvore! Prevenção não é mais uma opção.

E PAREM DE ENCHER O SACO DE QUEM NÃO PODE FAZER NADA.

Para dizer que está deprimido demais para comentar, para dizer que o planeta vai ficar bem melhor sem o ser humano ou ainda para dizer que é mais fácil fazer algo pequeno e inútil do que algo grande e útil: sally@desfavor.com

SOMIR

Resolveram promover aquecimento global para ebulição global. Realmente não sei se é uma tentativa de assustar mais as pessoas ou se é apenas uma aceitação de derrota. O que eu entendo melhor é que nos dois casos, é uma péssima estratégia de comunicação.

Se estamos tentando fazer o ser humano médio ficar mais nervoso com o prospecto das mudanças climáticas, o que exatamente se espera com isso? Que o cidadão comece a chorar ao ver um canudinho de plástico? Eu sei que tocar o terror nas pessoas é um jeito de fazê-las se mexer, mas primeiro precisamos de uma condição básica: que elas possam se mexer.

Poluição e desmatamento na escala que fazemos atualmente são coisas de empresas gananciosas e governos corrompidos. Não é algo que dependa tanto assim de quantas descargas você dá por dia na sua privada, nem mesmo de você separar o lixo reciclável. É melhor do que nada, não vou negar isso, mas é só a cereja do bolo.

Enquanto as pessoas com dinheiro e poder de verdade para mudar a forma como consumimos (e desperdiçamos) os recursos naturais estiverem nessa de soltar declarações de intenção sem metas (e punições por não as cumprir) e fazer propaganda te dizendo que é para ser mais consciente com o ambiente na sua casa, não vai mudar nada. Se você estiver tomando Rivotril de nervoso por causa do clima ou se estiver tomando cervejinha no bar sem se importar com nada, vai dar no mesmo.

A diferença é que se as pessoas estiverem mais e mais em pânico com um “inimigo comum”, é mais fácil exercer poder sobre elas. Como eu não sou conspiracionista (acho o ser humano médio muito burro para planos complexos assim), acho até que é algo que acontece naturalmente: não quer dizer que grandes empresários e políticos planejaram o que estão fazendo, é que é tão conveniente tocar o terror e culpar o cidadão comum que é irresistível para eles. Criam a ilusão de que estão fazendo algo para ajudar sem precisar mexer um músculo, e melhor ainda, tem um bicho-papão para assustar as pessoas a obedecer.

Se é uma aceitação de derrota, eu também acho uma péssima ideia. Desistir é diferente de aceitar. Aceitar que já fizemos merda com o clima da Terra e que vamos sofrer com eventos mais extremos é o primeiro passo para tomar boas decisões daqui para frente. Desistir não, desistir é achar que as coisas já chegaram na sua conclusão. O planeta é um sistema complexo e em constante movimento, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

Podemos fazer muitas coisas sim para melhorar nossas vidas e dos nossos descendentes. Canudinho de papel foi só uma decisão estúpida, não a prova de que não podemos fazer nada. Historicamente, o que mais muda o funcionamento da sociedade humana é tecnologia. Não é religião, não é ciência, não é filosofia nem arte… quando nossas ferramentas nos permitem fazer as coisas de forma diferente, fazemos. O resto vai acompanhando.

O aumento exponencial de qualidade de vida do ser humano é resultado direto de máquinas e ferramentas que facilitam e tornam mais eficientes nossos processos. O ser humano precisa de muita energia para fazer o que quer, e gera uma quantidade avassaladora de lixo no processo. Isso é literalmente o motivo do aquecimento global desde o começo da Era Industrial. Desde as máquinas a vapor, evoluímos absurdamente em eficiência energética e manejo de detritos, se a humanidade dos 8 bilhões ainda estivesse com aquela tecnologia, os céus das cidades seriam pretos feito carvão e a expectativa de vida ainda estaria na faixa dos 40 anos de idade.

Temos que aceitar que influenciamos diretamente no clima do planeta, e temos que aceitar que mesmo sem muita preocupação com isso, já conseguimos melhorar bastante a quantidade de poluição que criamos em nossas vidas. Há um caminho lógico aí: ao invés de querer que a humanidade faça algo insano como parar de consumir energia e usar recursos naturais, deveríamos querer que cada tecnologia disponível melhore ao ponto de gerar menos e menos efeitos negativos.

Até porque isso está diretamente relacionado com maior potencial de lucratividade. Um computador que funciona um dia inteiro numa carga de uma hora na tomada é exponencialmente melhor do que um que ocupa um andar inteiro e usa mais eletricidade que vários bairros juntos, não? E de bônus, o que você tem na sua mão é mil vezes mais poderoso que os computadores gigantes do passado.

Ainda temos problemas com lixo, especialmente o eletrônico, mas sabe o que é lucrativo também? Conseguir reciclar mais e mais materiais quando as pessoas trocam de celular. Especialmente no século XXI, quando alguns recursos naturais começam a ficar mais complicados de tirar da natureza, as frutas mais baixas da árvore já foram colhidas.

Muito me incomoda tratar a questão ambiental como um favor que fazemos para a natureza, porque isso tira o incentivo real de fazer algo melhor. Se é só para fazer pose, vai na rede social dizer que é vegano ou faz declaração de boas intenções depois de cada reunião inútil sobre preservação ambiental. Se você quer resultados, é importante pensar em… resultados. Mais eficiência na nossa tecnologia e formas de tornar lucrativas as pilhas de lixo que produzimos todos os dias são caminhos evolutivos. Ninguém precisa ser bonzinho, só precisamos fazer as coisas de jeitos melhores.

Não vai ser a índia ativista com um cocar na cabeça que vai melhorar as coisas, vão ser cientistas, engenheiros e talvez até contadores achando formas de fazer o mundo render mais com menos. Siga o dinheiro, siga a tecnologia. Pode fazer promessa vazia na conferência ambiental à vontade se estiver colocando recursos em pesquisa e desenvolvimento de materiais, processos e tecnologias em geral que otimizem nosso funcionamento como espécie. Isso funciona sim.

Repito: se a gente não tivesse melhorado absurdamente em eficiência e reciclagem nos últimos séculos, o mundo já seria um inferno tóxico em 2023. Por enquanto está mais quente do que deveria. É ruim, mas poderia ser imensamente pior. Já existe um caminho para reduzir o grau de sofrimento da humanidade nos próximos séculos, é só investir mais nele.

O que não pode é achar que encher o saco do cidadão médio com culpa inútil por algo que não pode mudar é uma forma de resolver o problema. Mais cientistas, menos ativistas, por favor.

Para dizer que aquecimento global nem existe (negar virou religião, nem discuto mais), para dizer que o problema não é seu, ou mesmo para dizer que pelo menos o Bolsonaro era honesto sobre não ligar: somir@desfavor.com

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Comments (8)

  • Tem coisa muito pior no discurso ecológico de
    Taubaté
    que esse povo propaga.

    O destaque negativo são os infames créditos de carbono, que são tipo uma Bitcoin do verde, mas só que pior.

    A pretexto de conter as emissões atmosféricas e de fazer algo em favor de uma suposta preservação ambiental, se cria uma fonte adicional de subsídios para atividades no campo do agronegócio envolvendo muitas vezes espécies exóticas usadas pra cultivos de finalidade comercial.

    Com o histórico relativamente recente de associação canavieira tentando vender na mídia o cultivo da cana-de-açúcar como responsável pela fixação de carbono o sequestrando da atmosfera, todo cuidado é pouco.

  • Pessoal não conseguiu nem ficar dentro de casa, com água encanada e internet durante uma pandemia, quem dirá fazer sacrifícios maiores pelo meio ambiente…

    É melhor mesmo fazer algum filme alarmista como “um dia depois de amanhã” e esperar que no final tudo se resolva sozinho, com toda humanidade sobrevivendo e todos podendo retornar ao american dream de consumismo, mas “despertos”.

    • Podiam assumir que vão continuar depredando o planeta ferozmente e tentar usar recursos e tempo para mitigar as consequências disso, que serão muitas. Vai acabar a água? Faz uma cúpula de cientistas para acelerar e aprimorar o processo de dessalinização da água do mar. Vai esquentar o planeta? Pensa num sistema de resfriamento subterrâneo. Mas não, continuam fingindo que vão melhorar a depredação do planeta…

  • “vão ser cientistas, engenheiros e talvez até contadores achando formas de fazer o mundo render mais com menos”
    Nerds carregando o mundo nas costas enquanto os normies só comem, cagam e reclamam, pra variar.

  • Pra quem tem contato com crianças, ainda tem muito eco-pânico nas escolas e mídias infantis? Na minha época tinha muito: A água vai acabar, efeito estufa, chuva ácida, aquele filme da indiazinha Tainá sobre a destruição da Amazônia… eu achava que só ia viver até os 20 anos. Hoje em dia eu com 27 anos lembro e acho graça desse meu pânico. Sacanagem enfiar essas coisas na cabeça das crianças.

    • É contraproducente. Não se consegue uma mudança na realidade nem na mentalidade das pessoas através do medo, e ainda provoca um efeito rebote, pois quando você ensina coisas como “em 2020 todas as geleiras terão derretido” como me foi ensinado, quando chega 2020 e as geleiras estão intactas, dá uma grande vontade de ligar para os professores e mandar para a casa do caralho.

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