Não tem dono?

O suspeito de estuprar uma mulher de 22 anos após show do cantor Thiaguinho foi preso na noite do último domingo (30/7), em Belo Horizonte, em Minas Gerais. A vítima teria sofrido a violência sexual na volta do show, após compartilhar a viagem para casa com o irmão e ser deixada na calçada de casa pelo motorista de aplicativo. LINK


Vivemos num país de animais. Desfavor da semana.

SALLY

Uma moça foi a um show de pagode e bebeu demais. Na hora de ir embora, de madrugada, um amigo pediu um carro de aplicativo, colocou ela lá dentro e compartilhou a rota com o irmão da moça. A moça chegou desacordada no ao endereço da sua casa, o motorista tocou a campainha insistentemente, mas ninguém abriu. Então, ele deixou a moça na porta de casa e foi embora. Um mendigo que por ali passava, pegou a moça desacordada, a levou para outro lugar e a estuprou.

Alguém tem que levar a culpa. Alguém tem que ser responsabilizado. Ao que tudo indica, a corda vai arrebentar para o lado do motorista, o que nos leva à pergunta: as não têm noção do país em que vivem não? As pessoas acham que vivem na Suíça? Que todo brasileiro tem a mesma consciência, educação, respeito e civilidade que a pessoa aprendeu?

Óbvio que fossemos nós a dirigir um táxi jamais deixaríamos ninguém desacordado na porta de casa, mas isso… somos nós. Somir, eu e você. E nós somos a exceção. Quando a gente faz a coluna “Ei, Você” não é para espezinhar ou humilhar (apesar de que, às vezes acontece). Quando a gente sempre reforça o que é o brasileiro médio não é para espezinha ou humilhar. É para relembrar ao leitor que o Brasil não é a sua bolha e tem muita barbárie por aí.

A realidade é: não é seguro se entorpecer com o que quer que seja até ficar inconsciente na rua. Não é seguro se entorpecer com o que quer que seja e ficar inconsciente em um táxi. Não é seguro se colocar voluntariamente em nenhuma situação ou condição que te deixe vulnerável, principalmente se você for mulher, estiver sozinha e for noite.

É assim que a gente gostaria que fosse? Não. Todo mundo gostaria que o Brasil fosse um país seguro. Mas, as coisas são como elas são, não como a gente gostaria que elas fossem, então, não adianta se comportar da forma que gostaríamos que fosse. É preciso se comportar de acordo com a realidade. E não é esperado que uma pessoa adulta, com 22 anos de idade, não saiba disso.

“Mas Sally, você está culpando a vítima”. Não. A pessoa que a estuprou tem que ser processada, condenada e presa. Não estamos falando de culpa e sim de responsabilidade. Estamos jogando luz no erro de julgamento de uma pessoa para que o leitor observe e aprenda, sem nunca ter que passar por nada parecido. O mundo lá fora não é sua bolha, nele você não vai encontrar pessoas como você, com os seus valores, com a sua ética, com a sua humanidade. Porte-se de acordo, para o seu próprio bem.

“Quer dizer que eu tenho que ficar com medo de sair na rua?”. Não, Pessoa Quer Dizer, não quer dizer isso não. O que estamos pedindo é consciência, não medo. Adotar cuidados mínimos, não de forma apavorada, mas sim consciente de que consequências ruins podem surgir se estes cuidados não forem adotados. É chato? É. É injusto? Pra caralho. É limtador? Sim. Mas é melhor do acabar estuprada em uma vala, não é mesmo?

Vamos analisar a cadeia de eventos e repensar se a grande culpa é mesmo do taxista?

Amigos da moça contaram à polícia que a viram bebendo muito. Isso leva a crer que ela voluntariamente se alcoolizou. Se alguém dopou essa moça de alguma forma, jogando algo na sua bebida, então podem esquecer todo meu discurso sobre cuidados, ela não teve qualquer responsabilidade pelo que aconteceu. Mas se ela escolheu beber até cair no meio da rua, de madrugada, ela se colocou em risco. Não que isso dê o direito de fazer o que fizeram, mas era algo que poderia ser evitado. Era algo que ela poderia evitar. E quando a gente pode evitar um estupro, meus amigos, devemos fazer o que está ao nosso alcance.

Depois do show, a moça visivelmente bêbada foi colocada em táxi “por um amigo”. Desculpa, mas amigo não é. Que porcaria de amigo coloca uma mulher muito bêbada, quase inconsciente, em um carro com um estranho e volta para casa com a consciência tranquila? Custava acompanhar? Custava ligar para alguém ir buscar a moça? Custava levar ela para a sua casa? Custava fazer qualquer outra coisa? Nem que fosse deixar em um hospital, qualquer coisa seria melhor do que isso.

Curioso que ninguém bateu nesse “amigo”, bateram no taxista. E também no irmão da moça, por não atender a porta quando o taxista tocou o interfone e telefonou. Gente, alguém é obrigado a ficar acordado às 3 da manhã para receber irmã inconsciente de tanta bebida? Não é uma criança, é uma mulher de 22 anos. Qual é a obrigação do irmão de estar acordado esperando por ela? Adultos de 22 anos são responsáveis por suas escolhas e por tudo que era previsível e evitável que decorre delas.

Sobre o taxista, o que ele fez não foi legal, mas daí a ser crime? Haja paciência… Ele tirou a moça do carro, tocou interfone, ligou para a casa da moça, tocou interfone novamente… Como eu disse, nós não faríamos isso, mas as pessoas têm diferentes graus de consciência, não dá para esperar comportamento exemplar, compassivo, ético e preocupado de todo mundo. Justamente é esse o risco de se colocar nas mãos de estranhos: você nunca sabe que tratamento vai receber.

Essa mentalidade de que o taxista é um escroto por agir assim é simplória demais. Vai saber como essa pessoa foi educada. Vai saber qual era o grau de cuidado que os pais tinham com ele. Vai saber o que ele entende por cuidado… O que para você é muito óbvio, para outra pessoa pode ser desconhecido. O brasileiro médio, no geral, é muito brutalizado, não dá para esperar o nosso padrão de cuidado como regra.

“Mas ele não deveria deixar ela no meio da rua”. Eu concordo, porém, se a gente entrar no “mas”, dá para encontrar muito culpado. Por mais que vocês estejam acostumados, não é normal viver em um país no qual uma mulher desacordada na rua tem grandes chances de ser estuprada. O normal é que as pessoas socorram, não que abusem. O normal é que o Estado mantenha uma segurança pública nas ruas que proteja a todos, inclusive aos desacordados. A real é: tá tudo errado, não adianta canalizar toda sua revolta para o taxista e decretar ele o culpado oficial.

Então, a única saída é: cuide-se você mesmo, para não depender do cuidado de uma pessoa aleatória, de um desconhecido, que pode nem saber cuidar direito. Se você teve um lar, uma família, uma criação onde te foi ensinado a tratar os outros com cuidado, bom para você. A maior parte não teve e, por consequência, não vai saber cuidar. Por isso, cuide você de você mesmo como você acha que merece, pois se deixar na mão de estranhos, o cuidado pode não ser tão bom.

Vi muita gente defendendo que mulher tomar maiores cuidados é se render a uma sociedade hostil, encorajando mulheres para que elas não adotem nenhuma restrição por preocupação. Quanta bobagem! A sociedade não muda por alguém resolver peitar e se colocar em risco. A sociedade muda com educação, com exemplo e com consciência. Peitar e se colocar em risco só causa danos a quem o faz, não melhora em nada o mundo.

“Mas eu não quero sofrer restrições, não acho justo”. Beleza, e ser estuprada, você quer? Pois basicamente são essas as duas opções. Pensa aí, reflete com calma o que vai te fazer menos mal e escolhe.

Não seja essa pessoa que diz “é um absurdo que eu tenha que me privar disso, vou fazer, pois não é certo ter que me privar disso”. Não, não é certo, nem justo, nem correto. Mas essa conta, será você a pagar, e não vai ser barata.

Não faça isso com você. Não negue a realidade. Porte-se de acordo com o entorno, o brasileiro médio não é sua família, nem seus amigos, nem seus colegas de trabalho, o brasileiro médio é bicho, é o pessoal do “Ei, Você”. Você se colocaria desacordado nas mãos das pessoas do “Ei, Você”?

Quem poderia ter evitado isso tudo, em primeira instância, era mulher, que deveria ter discernimento para cuidar de si mesma e, em segunda instância, o amigo, que tinha um dever muito maior de zelar por ela do que um desconhecido. Mas fica mais fácil bater no taxista, né?

Quando a moça bebe até cair e acha que não vai acontecer nada, todo mundo entende. Quando o amigo dela a coloca inconsciente em um táxi com um estranho e acha que não vai acontecer nada, todo mundo entende. Mas quando o taxista a deixa inconsciente na porta de casa e acha que não vai acontecer nada é “nooooossa, que absurdo, que monstro”. Francamente, não tá coerente isso não.

A maior culpa é do filho da puta que estuprou a mulher. Porém a maior responsabilidade pelo evento ter se desdobrado dessa forma é da mulher e do seu amigo. Já deu desse papo não poder atribuir responsabilidade a alguém só pelo fato da pessoa ter se ferrado.

Para dizer que para começo de conversa tá errado sair de casa para ir a um show do Thiaguinho, para perguntar que porra de país é esse onde um homem carrega uma mulher desacordada pelas ruas sem o menor problema ou ainda para dizer que se não tratar mulher como criança é machismo: sally@desfavor.com

SOMIR

Como ainda paira sobre o caso a possibilidade da mulher ter sido dopada durante o show, eu vou manter fora do meu texto a imensa putez com adultos que ficam bêbados ao ponto de perder a consciência e se colocam em situações de risco. Evidente que ninguém merece ser estuprado, evidente que eu quero viver num mundo onde você pode deixar uma mulher desacordada na rua e não acontecer nada de ruim com ela, mas a sociedade tem uma leniência absurda com quem escolhe se embriagar nesse nível.

E eu queria que o foco deste texto fosse só isso: a necessidade de educar as pessoas sobre o perigo que é se intoxicar nesse nível para se divertir e como isso é sinal que algo está muito errado com a saúde mental do brasileiro. Mas no país dos selvagens, o buraco é bem mais embaixo. É uma disfuncionalidade que toma conta da sociedade, brutalizando o cidadão de tal forma que parece que não tem solução.

E é essa mentalidade de “não podemos melhorar de dentro para fora” que faz com que absurdos como tratar a vítima como criança e o motorista de aplicativo como uma espécie de cúmplice do estupro se forma. O brasileiro acaba achando que sempre faltou uma lei, uma regra externa para controlar os danos dos seus comportamentos.

Mas o Estado só vai até certo ponto. Quase todos os elementos desse caso não podem ser resolvidos com leis e punição, tirando, é claro, o estuprador. Existe um criminoso óbvio e uma vítima óbvia no caso, e está tudo relacionado ao momento no qual aquele homem leva a mulher para um lugar afastado e a estupra. Isso tem lógica dentro do funcionamento das leis. Que o criminoso seja julgado e punido de acordo.

Agora, todos os fatores contribuintes para a situação não fazem parte das regras legais de funcionamento da sociedade, e nem poderiam fazer. A mulher pode ter se embriagado até ficar naquele estado por conta própria, e isso, gostemos ou não, é parte das liberdades pessoais de um estado democrático de direito. O motorista pode ter escolhido se livrar de uma pessoa que não estava cumprindo seu “contrato” ao não sair do carro, e gostemos ou não, não deveria fazer parte de nenhuma lei se responsabilizar pelo que outros adultos fazem se você não tem nenhuma contribuição para isso.

Não é punir o motorista do app que vai resolver qualquer um desses problemas, mesmo se for uma lei, é uma lei que não faz sentido para o brasileiro médio. Eu imagino que se eu fosse o motorista, deixaria essa mulher num pronto-socorro justamente por temer o que aconteceria com ela caso ficasse abandonada na rua. Mesmo potencialmente puto por a pessoa ter desmaiado de bêbada no meu carro. Eu sou do time que achou o cara no mínimo um imbecil por ter abandonado a moça, mas não sou do time que acha que deveria ser obrigação legal dele cuidar dela.

As pessoas continuam entendendo que ser criminoso e ser babaca são coisas diferentes. Não tem como criar leis para evitar que as pessoas façam coisas irresponsáveis, estúpidas ou egoístas. Se a moça não tivesse sido estuprada e só tivesse acordado na calçada no dia seguinte, não seria nem notícia. Aliás, eu aposto que se não tivesse a gravação do homem levando-a embora, mesmo que tivesse sido estuprada, não teria virado notícia.

Pessoas fazem essas coisas o tempo todo, nem sempre com consequências tão terríveis e bem registradas por vídeo. O cidadão médio mal sabe o que é crime e o que não é, acha que pode processar os outros por qualquer motivo aleatório, todo dia tem várias pesquisas bizarras de pessoas caindo no texto sobre Lesão Corporal da Sally. Então não faz sentido achar que um Estado com mais leis regulando comportamentos vai mudar muita coisa.

Se você for analisar o caso de forma fria, é uma sequência de pessoas não pensando muito bem nas consequências de seus atos. Até porque no dia a dia elas devem fazer coisas tão irresponsáveis quanto, mas não sofrem consequências sérias. Mas aí vira notícia, muita gente se revolta, pede mais canetadas aleatórias dos políticos… e esquecem tudo dois dias depois.

Tempo suficiente para mais sequências de irresponsabilidades se acumularem em outra notícia terrível. Claramente não está funcionando o processo de pedir punição legal para quem erra quando não temos nenhuma forma de educação para evitar esses erros. Essas situações vão continuar se repetindo, com ou sem histeria punitiva. Muitos dos lugares mais violentos do mundo tem as punições mais violentas para o crime também.

E não ajuda nada essa distorção da ideia de “não culpar a vítima” que transforma mulheres em crianças. No caso da moça ter ficado bêbada por conta própria, ela teve um comportamento que nenhuma lei do mundo pode evitar as consequências. Já existem leis contra o estupro. O criminoso não fez isso porque achava que não era crime. Nunca se coloque num estado de vulnerabilidade desse tipo, ou no máximo só faça isso perto de pessoas que você conheça e confie. Repito: nunca vai existir uma lei que impeça um crime de acontecer. Não é assim que nada funciona.

Sua segurança pode ser terceirizada até certo ponto. E é muito importante perceber que nosso acordo social não diz que adultos são obrigados a cuidar de outros adultos como se fossem seus filhos. Qualquer lei que você quiser criar para forçar esse tipo de mentalidade vai dar errado, porque não é assim que as pessoas intuem o funcionamento do mundo. O Estado não inventou regras de convivência, ele adaptou bom-senso milenar sobre o melhor equilíbrio entre segurança e liberdade. Você ainda está por conta própria na vida real.

Tem coisas que só mudam se as pessoas forem educadas e incentivadas a pensar mais no que fazem. Criar vilões onde eles não existem atrapalha muito mais do que ajuda. Você tem que se cuidar, porque vive num país onde as pessoas não entendem conceitos básicos de civilidade, e nos países onde isso existe, não foram leis e histeria que criaram o ambiente.

Para dizer que ninguém gasta Boa Noite Cinderela em show de pagode, para dizer que vivemos numa sociedade, ou mesmo para dizer que se deixasse ela numa delegacia corria o risco de ser preso (não duvido): somir@desfavor.com

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Comments (30)

    • Nem nós queremos definir um “lado certo”, apenas ressaltar a responsabilidade que cada pessoa deve ter com seu autocuidado.

      • Sem dúvida. Mas, bom senso e noção, infelizmente, são artigos cada vez mais em falta na sociedade atual. O que mais tem por aí são pessoas que nunca aprenderam que tudo na vida tem consequências, que não se deve dar sopa pro azar, e que gente adulta e responsável assume a responsabilide por seus atos.

  • Sally, passaram três semanas e o fundo do poço tem porão.

    Infelizmente, a pessoa que estava envolvida em tal caso resolveu problematizar a questão quase tipo a Mariana Ferrer, mas só que pior. Muito pior.

    Obtive tal informação por meio do LinkedIn do Túlio Vianna e recomendo que você dê uma lida pra ver que esse desfavor que tem cara de mais uma problematização no campo do direito está se tornando um fosso ainda mais profundo do que se imaginava.

    • Você diz a mulher?
      Não vou contribuir divulgando alguém que não está recebendo a mínima atenção da mídia. Vamos deixar ficar sem voz, que é melhor para todos.

      • Está recebendo ocasionalmente atenção da mídia local, em BH, em especial por conta do motorista do app estar arrolado pelo crime de estupro, mas como o defensor dele, o citado Túlio Vianna, não esquerdou o suficiente, o processo prossegue.

  • Se esse resultado não tivesse ocorrido é bem possível que a moça em questão estivesse aos risos no dia seguinte dizendo “bebi tanto que acordei na calçada” para repetir o ato em outra ocasião. Estamos por nossa conta esse é o lema que devemos seguir.
    Sempre fui a amiga que cuidava das outras até dar basta em perder minha diversão por falta de noção alheia e começar a sair sozinha, formei outros grupos de amigos. Já ajudei estranhas em festas, mas como Sally disse isso sou eu, jamais ia contar com essa ajuda de estranhos.

  • Já deixei de andar com algumas amigas de adolescência justamente porque levantava essa questão de que tanto o alcool quanto estar na rua tarde da noite nos colocam em uma situação de vulnerabilidade. Sempre fiz o que podia para evitar isso, passei vários rolês sóbria e voltando mais cedo que gostaria, mas nada de trágico me aconteceu nesse contexto. Em contrapartida, quase todas as meninas que me achavam neurótica têm uma história ruim pra contar.
    Dá para criar um ambiente seguro e situações em que se pode beber bastante, mas nunca até ficar inconsciente ou perder os sentidos. Minhas amigas e eu nos revezamos para que pelo menos uma de nós esteja sóbria e ajude quem possa precisar, mas ninguém nunca abusou e precisou de fato. Atrevo-me a dizer que quem precisa beber até perder a noção das coisas é justamente quem não deveria beber em hipótese alguma.
    Mesmo assim, não consigo imaginar deixar alguma amiga ou algum amigo nesse estado por conta própria. Já ajudei algumas pessoas que não conhecia muito bem e sempre tive amigos se oferecendo pra me acompanhar ou me levar em casa, mesmo estando sóbria, por ser tarde da noite. É triste que o mundo não seja tão seguro quanto a gente gostaria, e que tantas tragédias evitáveis aconteçam por descuido.

    • Eu até entendo que algumas pessoas não tenham controle do quanto bebem e bebam achando que estão bem quando na verdade não estão, mas com 22 anos você já consegue detectar esse problema, esse erro de julgamento e adotar medidas para se proteger. Não dá para dizer que a moça não teve nenhuma responsabilidade no que aconteceu.

    • “Atrevo-me a dizer que quem precisa beber até perder a noção das coisas é justamente quem não deveria beber em hipótese alguma.”

      Comcordo 100%, Paula.

      • “Atrevo-me a dizer que quem precisa beber até perder a noção das coisas é justamente quem não deveria beber em hipótese alguma.” Sem dúvida. Mas é uma pena que quem mais precisaria ter essa noção também é justamente quem mais de dispõe a sempre que bebe, entornar todas até perder a consciência…

    • Fez muito bem, Paula. Todo cuidado é pouco, ninguém nasce com estrela de bonzinho na testa e convém não dar chance pro azar.

  • Se você faz qualquer pergunta que traz a discussão de volta para a seara da realidade, como:

    – por que beber até apagar?;
    – por que o infeliz que botou ela no carro não foi junto?;
    – por que ela, visivelmente intoxicada, não foi levada a uma emergência, ao invés de para casa?

    Muito provavelmente você será colocado como “parte do problema” por pessoas que não fazem ideia de qual é o verdadeiro problema aqui.

    • A lição que fica é que o mundo está errado e tem que se adaptar a uma pessoa que, ciente do entorno perigoso, resolveu se colocar em risco

    • Gui, eu conheço gente à beça que me diz que, quem não enche a cara ao ponto de apagar e só acordar muito zurêta e todo mijado e/ou cagado no dia seguinte, simplesmente NÃO bebeu…

  • Tem muita informação correndo, parece que o amigo até se ofereceu para ir junto, mas a mulher recusou.

    Eu acho até que ele tirou o corpo fora pra não correr o risco dela acusar ele de alguma coisa.

    Agora, a postura da família dela já dá a letra: é uma irmão mais velha que tem falado com a imprensa, culpando Deus e o mundo, dizendo que a mulher não tinha o hábito de beber em demasia. Até o SAMU, que foi chamado quando ela foi encontrada de manhã, está sendo responsabilizado porque não a levou para um hospital (aparentemente, a mulher recusou e pediu para ser levada para casa, o que eles não poderiam fazer).

    A maior conquista da terceira onda do feminismo é justamente essa: TODO MUNDO é responsável pelas mulheres, exceto elas próprias. Mulher não erra, mulher não falha, e quem tem que garantir a integridade de qualquer mulher é a “sociedade”. Mulher é vulnerável quando bebe, homem não. Mulher é vulnerável no mercado de trabalho, homem, não importa qual seja o serviço, não. Mulher é vulnerável se tiver 23 anos e namorar um homem mais velho, homem não.

    Eu sempre escutei histórias de homens sendo largados em porta de casa/hotel quando estavam muito bêbados, sempre num clima de descontração, às gargalhadas. Homem também pode ser roubado, morto, até estuprado quando está inconsciente. Mas só a mulher deve ser tratada com dignidade.

    • Pois é, se fosse com um homem, mesmo que houvesse estupro, ninguém teria essa empatia. Certamente teria gente relembrando que “cu de bêbado não tem dono”. Essas são as mulheres que pedem por direitos iguais…

      • Direitos iguais é meuzovo. A luta por trás disso é por vantagens no campo socioeconômico a todo custo, se possível vendendo uma falsa imagem de bastiões da virtude.

        Nesse meio de militância identitária, é lugar comum se explorar a questão dos crimes contra a mulher, contra minorias étnicas e religiosas, bem como contra a população LGBTQUIABO para reforçar o viés de validação de seus posicionamentos ideológicos tacanhos e egoistas.

        Como exposto lá atrás aqui mesmo no desfavor, tais militantes profissionais tiram vantagem do caos social e sempre que possível alimentam ainda mais a estigmatização das populações que eles dizem representar em benefício próprio.

        No ambiente político atual, muito pior que o de 20 anos atrás, o melhor que pode acontecer é o Lula morrer, sendo de morte morrida, seja de morte matada porque assim se tem ao menos uma possibilidade de a gente escapar de um eventual golpe branco nas eleições de 2026.

  • O certo seria levar a pessoa, caso não tenha ninguém em casa pra recebê-la e esteja desacordada, deve ser levada direto para o pronto atendimento, mas sabe como é motorista de aplicativo… Por razões de ordem econômica, ele não vai pelo certo e sim pelo mais econômico, sendo que ele deve inclusive ter ficado puto até mesmo com ter que carregar a mulher no braço pra deixá-la na calçada.

    Pode ter certeza que se você for PCD com dificuldade de locomoção que implique na necessidade de carregar a pessoa pra dentro e pra fora do carro, o motorista vai rejeitar a corrida ou pelo menos vai atender o pedido de corrida puto da vida, sendo que o mesmo provavelmente só aceitou a “cilada” porque o pagamento foi por meio do APP, até porque se fosse um pagamento direto, o mesmo nem se daria ao trabalho de levar a mulher pra casa da mesma.

    E como sei disso? Já participei em grupos de motoristas de aplicativo, que falavam direto dos BOs com corridas.

  • Responsabilize primeiro e mulher e depois seu “amigo”.
    O motorista do App só fez a sua obrigação que era levar a mulher do ponto “A” ao ponto “B”,
    ele estava trabalhando e foi pago para cumprir a missão, aliás, fez mais do que foi contratado para fazer
    que era levar, e não tirar do carro e colocar na calçada como um saco de batatas sem dono.
    Ainda incluo que alcool, a droga legalizada, é a mais perigosa de todas as drogas, cu de bebado não tem dono.
    Por que bebem até cair?
    Falta de juízo.

    • Todos errados. Não vejo culpado maior entre A (a mulher que foi pra farra encher a cara), B (o “amigo” que em vez de levá-la pra casa ou pro pronto-socorro, se limitou a chamar o motorista de aplicativo pra terceirizar a responsabilidade e continuar na farra), C (o motorista de app, que pegou a cilada e ao invés de levar a beberrona pro pronto socorro, se limitou a carregar a mesma para a entrada da casa e ainda assim com a maior má vontade do mundo e arrependido de cair nessa verdadeira cilada) ou D (o mendigo, que de oportunista foi lá e abusou sexualmente da beberrona desacordada por estar há muito na vontade de uma bombada e deve ter achado que se caiu na rede, era peixe).

      E quanto as consequências, pra beberrona resta saber se não pegou alguma DST ou então se não ficou grávida por conta da besteira, além, é claro, das críticas da turminha moralista. Pro “amigo” (bem da onça, diga-se de passagem) o que deve sobrar é no máximo o relacionamento de friendzone azedado. Pro motorista de aplicativo, sobra a fúria popular por conta do desleixo para com a beberrona e o provável descredenciamento das plataformas de app com as quais ele trabalha, inclusive forçando o mesmo a arranjar outro trabalho. Pro mendigo, bem, vai sobrar a estada na penitenciária, com o risco de ser achincalhado e até mesmo morto pelos metidos lá dentro da cela caso os mesmos venham a saber do porquê dele ter ido parar lá.
      Como diz o Lito do Aviões e Músicas, bastava um elo da corrente ser quebrado para nada de mais grave acontecer e se as coisas aconteceram como aconteceram, foi pelas ações que essas quatro pessoas protagonizaram.

      • Os autores de crimes contra a dignidade sexual costumam ser mantidos em celas distintas dos réus/condenados por outros tipos penais, justamente por causa do risco apontado.

  • Lembrando que alcoolismo é uma doença. Pensar 2X agora antes de entrar em carro de aplicativo, porque a pessoa pode perder a consciência por queda de pressão, por baixa de glicose, por AVC e simplesmente vai ser despejada na rua pra ser assaltada, estuprada, sequestrada. É a vida moderna…

  • O cara não é amigo dela mesmo, se fosse não largaria no carro de desconhecido. A culpa pior foi do motorista sim, porque aceitou levar a mulher daquele jeito prestes a desmaiar e depois ao invés de ligar pra polícia, deixar numa emergência, qualquer coisa do gênero, largou no chão da rua sozinha de madrugada uma pessoa desacordada.

  • E ainda querem que a empresa do motorista se responsabilize.

    “Ah mas eu já fiz um monte de coisa e nunca deu nada” até o dia que dá. Aí depois morre de medo de sofrer julgamentos.

    Tive tantas amigas assim, que se colocavam em situações perigosas e se deram bem mal e depois “não me julgue”. Mas ironicamente eram as primeiras que, quando eu falava que não ia fazer algo para me preservar (exemplo sair 6hrs da manhã sozinha em uma parte pouco movimentada da cidade que sei ter muitos nóias), nossa, ouvia de tudo. Até meu caráter era colocado em xeque.

    Por motivos óbvios, ninguém gosta de ter amigos desempregados por muito tempo. Ninguém gosta de ter amigos com depressão ou outra doença incapacitante. Ninguém gosta de ter amigos introvertidos. Então, também por razões óbvias, ninguém deveria gostar de ter amigos que se ou te colocam irresponsavelmente em riscos.

  • “E não é esperado que uma pessoa adulta, com 22 anos de idade, não saiba disso.”
    Zoomers podem até ser espertos quando se trata de tecnologia, mas muitos não têm a “esperteza das ruas” que é quase inerente nas gerações anteriores. As crianças passam cada vez mais tempo em casa olhando pra telas, sabem cutucar uns botões pra assistir youtube ou matar bicho nos joguinhos, mas mal conhecem o bairro onde moram. Mas dá pra culpá-los? Hoje em dia é questão de poucas horas pra uma criança sumir e ser levada pro outro lado do mundo pra ser prostituída, escravizada ou recrutada pra alguma guerra bizarra. A não ser que coloquem câmeras em cada canto do planeta, duvido que isso mude. Mas como exploração infantil é de interesse de muita gente poderosa, isso vai continuar.

    • Não, não, não. Não precisa de vivência de rua para saber que uma mulher inconsciente, em local público, de madrugada pode ser abusada. Desculpa mas mesmo com zero vivência isso pode ser presumido.

      Não é desconhecimento. É arrogância, é negação. É achar que os outros estão exagerando e nunca vai acontecer com você.

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