O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi considerado “persona non grata” pelo governo de Israel desde que fez um paralelo entre o Holocausto e a guerra em Gaza durante uma entrevista no final de semana. LINK


Mas a gente já não tinha discutido isso durante a semana? Sim, mas não foi o suficiente, embora a maioria das pessoas a da mídia já tenham enjoado do tema. Desfavor da Semana.

SALLY

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Minha ideia para a postagem de hoje era começar com dez páginas de prints nesse estilo, para causar impacto mesmo. Mas ficamos com medo de que muitos leitores pensassem que não haveria coluna, que as postagens estariam substituindo nosso texto, então, o número de imagens foi reduzido.

Saibam que o que vocês estão lendo é uma pequena amostra, muito pequena mesmo, e muito filtrada, descartando o discurso de ódio mais pesado e violento. E saibam também que não é só a dona maria da esquina e o seu joão da padaria falando. Por exemplo, esta senhora que se diz antissemita, é professora da Universidade Cândido Mendes.

É isso que está nascendo no Brasil. Independente das críticas que todos nós tenhamos a esta guerra, deixou de ser sobre a guerra. Agora é um problema do Brasil. É sobre o brasileiro. E sobre o brasileiro, mídia nenhuma vai falar, pois ninguém quer perder leitor. Só a gente.

Se no sábado passado o Desfavor da Semana foi sobre as merdas que o Lula fala impunemente, esta semana é sobre a ampla aceitação dos brasileiros a ela e como se deixam contaminar por isso. Parece que o brasileiro só quer odiar, só quer falar mal, só quer apontar o dedo, não importa para quem. Quando seu líder, seja ele quem for, escolhe um alvo, o povo sai em bandos para começar o linchamento. Não é apenas sobre este caso, é um modo de funcionar.

É um modo de funcionar que sempre existiu e sobre o qual eu sempre falei, mas até então estava camuflado por essa falsa aura de povo bom, festeiro, alegre e solidário. O “bom selvagem”. Desculpa, mas desde as minhas mais remotas lembranças do Brasil, sempre foi isso: gente doida para escrotizar alguém. Isso lhes dá prazer. Isso os faz se sentirem melhor. O brasileiro médio tem um vício em detonar os outros.

Já contei aqui sobre a história que presenciei, da minha mãe, com câncer, padecendo com tratamento quimioterápico, vítima de agressividade de movimento negro por usar turbante para cobrir a cabeça, que estava careca, certo? É isso. O brasileiro médio é isso. Salvo honrosas exceções, é um ser mesquinho que se alimenta de escrotizar os outros para se sentir superior ou para receber aplausos.

Se isso não te preocupa ou te indigna por si, lembre-se: hoje é com Israel, amanhã pode ser com o seu ou com você.

Aqui acaba a parte civilizada do texto. Por um compromisso com nossos leitores, que nos acompanham há 15 anos, achei que vocês mereciam uma página civilizada. As outras não serão, portanto, se você não está em um bom dia ou se não está no clima de coisas pesadas, pare por aqui e vá para o texto do Somir, que sempre é civilizado. Para quem quiser continuar na civilidade, recomendo este vídeo.

Para quem quiser me ver perder a razão, apenas continue lendo.

A primeira coisa que quero te dizer, e não é nada pessoal contra você, pois eu disse o mesmo para o Somir esta semana, é o seguinte: o que você acha não interessa a ninguém. A menos que você seja juiz do Tribunal Internacional, sua opinião não é relevante quando falamos de genocídio. Vale o que diz a lei e vale o que diz o Tribunal Internacional.

O Tribunal Internacional diz que Putin comete genocídio contra a Ucrânia. Lula não apenas não critica, como ainda elogia Putin. No máximo diz que “não tem que se meter”. Curioso que estes nobres brasileiros que agora defendem a Palestina não defendem ou defenderam o povo ucraniano, mesmo depois de ataque a hospital, igreja, orfanato. Indignação seletiva? Ou são brancos demais para merecer uma levantada de bandeira?

O Tribunal Internacional diz que não há genocídio na Palestina. Vou repetir: o que você acha que está acontecendo lá, sentadinho no sofá de casa, é irrelevante. Quem tem competência para determinar se é genocídio ou não já disse que não é. Mas aí o brasileiro médio vê genocídio (o brasileiro médio se acha capaz de dizer o que é genocídio!) e está revoltadíssimo.

Quando se fiz que não há genocídio não se diz que Israel está se comportando bem. Eu não tenho dúvidas que Israel está cometendo muitos crimes de guerra, mas uma coisa não é sinônimo da outra. São definições que estão em lei, sobre as quais já fizemos textos próprios. Em toda guerra morrem muitos inocentes, por isso guerras deveriam ser inaceitáveis. O fato de estar morrendo inocente pelo qual as pessoas simpatizam não torna o evento um genocídio.

O Holocausto, além de ser um genocídio, não se compara a nada na história moderna, pois de fato, nunca aconteceu nada nem parecido com isso: a forma como foi planejado, executado, divulgado. Novamente, não me importa o que você acha, não é comparável. Não vou me estender pois o Somir explicou muito bem isso no texto de quarta-feira.

Mas, além de não existir simetria na comparação Israel x Hitler, o que seria apenas uma imprecisão, a fala do Lula foi muito além. Comparar um grupo ao seu pior algoz é um golpe baixo para ferir, massacrar e tripudiar. É cruel. Não é crítica, é impor sua preferência pessoal de lados nesta guerra para espezinhar o outro lado. É tentar jogar todo um país contra um grupo que não fez nada nem remotamente parecido com Hitler. E pelo visto, está conseguindo.

“Mas Israel fez tal coisa…”. Não importa. Se você acha que eles são baixos, não justifica que você seja baixo também e os compare com algo incomparável. Sua moral, sua ética, seus valores não podem despencar pelo fato do outro ter se portado de forma vil, caso contrário, você é tão vil quando a pessoa que critica. Exagerar em algo para dar ênfase pode até ter lugar em uma conversa de bar, mas não na boca de um Chefe de Estado, do qual se espera seriedade, responsabilidade e um mínimo de vergonha na cara.

O mais curioso nessa história é ver a narrativa que está se construindo de “mas nem foi tão grave assim” que tenta colocar o Holocausto como um exagero. Eu poderia tolerar esse pensamento, apesar de discordar dele, se houvesse coerência. Não há, pois o brasileiro é o povo mais ofendido, viadinho, faniquiteiro, chiliquento, fresco e sensível que existe. Se você dá chiliquinho quando erram pronome, fecha o cu e não fala do Holocausto, filho da puta.

Quando um brasileiro é chamado de “macaco”, o chilique é sem precedentes, aí é seríssimo, aí é o fim do mundo. Mas o Holocausto, um genocídio arquitetado com requintes de crueldade para exterminar grupos da face da Terra, com uma campanha difamatória que sobrevive até hoje, isso não é tão grave assim. Isso pode ser comparado a uma guerra declarada para reaver reféns. Os floquinhos de neve especiais e sem vivência devem achar que em guerra não morrem milhões de inocentes.

Um crime com pena menor, como racismo, é motivo para toda sorte de faniquitos, mesmo quando ele não existe, mesmo quando é mais uma invenção de alguma minoria sem saúde mental e a mentira consegue ser provada pela presença de câmeras no local (um beijo a todos os aeroportos do Brasil!). Uma das piores tragédias, massacres, violações a direitos humanos de toda a história, talvez não seja tão grave assim? Talvez possa ser equiparado a uma guerra pequena (sim, é uma guerra pequena).

Vocês não têm vergonha não? São povo mais chiliquento, sensível, faniquiteiro, vira-lata e barraqueiro do mundo, que mata o vizinho por ele ter feito algo mínimo e estão apontando o dedo para o Holocausto e ponderando se foi realmente isso tudo? É patético ver um povo tão ofendido comparando a maior ofensa contra a humanidade com algo banal como uma guerra.

Mãe que vai bater na porta da escola ou até da faculdade pois o filho marmanjo está sofrendo bullying, jovem que chora pois foi obrigado a andar de ônibus ou ainda imbecis frouxos que ficam berrando que isso ou aquilo dá gatilho querendo que o mundo pare de falar sobre o que os incomoda apontando o dedo e ponderando se o Holocausto foi tão grave assim? Comparando morte de civil como efeito colateral a um evento destinado a dizimar grupos da face da Terra? Meus amores, de Israel quisesse eliminar todos os palestinos, eles não estariam mais entre nós.

Se tivessem feito com brasileiro um milionésimo do que foi feito no Holocausto, estava todo mundo gritando e chorando até hoje. Se em um país sem desastres naturais e sem guerra já tem esses sojados de merda entupidos de ansiolítico e antidepressivo, dando piti, choramigando, mimizando e se vitimizando sempre que podem, imagina o que o brazuca pensaria de algo remotamente próximo do Holocausto.

Não é fascinante como o homem branco tem que ser responsabilizado por uma “dívida histórica” por causa da escravidão e como isso será lembrado e monetizado por séculos, mas, quando é com outros povos, talvez não seja tão grave assim?

Se com escravidão já tem esse chororô do caralho de dívida histórica, só realiza como o brazuca se portaria se ele tivesse sido vítima de Holocausto e o Presidente de outro país equiparasse o brasileiro a seu algoz.

Fechem o cu. Fechem o cu e calem a boca que vocês faniquitam por muito menos e, se fosse com vocês, estariam um milhão de vezes mais putos e mais ofendidos. Indignados com o que Israel está fazendo? Os mesmos que autorizariam a polícia a matar, torturar e passar por cima de qualquer um se suas mães ou seus filhos fossem sequestrados? Fechem bem o cu, meu ouvido não é penico.

Não é fascinante como o bandido que rouba não tem culpa, pois o capitalismo gera essa desigualdade que o obriga a isso, como a pessoa que bate não tem culpa pois seus atos foram fruto de problemas mentais ou dos remédios que ela toma, como a pessoa que trafica não tem culpa pois a sociedade o excluiu e o obrigou a isso, mas Israel? Israel tem culpa ter sido atacada, de ter pessoas mortas, mutiladas, sequestradas, torturadas. Israel sabia muito bem o que estava fazendo. Israel mereceu.

Os reis do auto perdão, de não assumir responsabilidades, de culpar terceiros, subitamente se tornaram os patrulhadores da responsabilidade. Os “não pode falar assim comigo se não é assédio moral no trabalho” repentinamente acham que, independentemente do que a outra parte faça, é válido invadir, estuprar, sequestrar, degolar bebês, matar e torturar. Comigo não pode nada, com quem eu não gosto, eu autorizo tudo. Vocês não tem vergonha não? Deveriam ter.

O povo que apontava o dedo para bolsonarista, ria e chamava de “chapéu de papel de alumínio” espalha teorias da conspiração envolvendo judeus e defende reais genocidas: culpa a vacina da Pfizer pela morte de Alexei Navalny (opositor de Putin). O povo que reclamava que Bolsonaro os fazia passar vergonha internacional agora cala quando Lula consegue a proeza de ser declarado persona non grata, algo que Bolsonaro não conseguiu, mesmo bostejando por quatro anos seguidos.

O povo que faz ou aplaude quando um ladrãozinho de celular é pego, amarrado no poste e linchado até a morte está indignado que uma nação está passando por cima de tudo e de todos para reaver seus reféns. Por um celular vale desrespeitar os direitos humanos, por pessoas não. Quando é com você pode ser feito tudo que é preciso, quando é com os outros, se critica do alto da soberba do sofá de casa, sem saber porra nenhuma sobre a guerra e sobre genocídio. Pega bem atacar Israel. Vamos todos atacar para estar “do lado certo”.

O povo que não hesita em cacetar qualquer pessoa, seja conhecido, seja participante de reality, quando ela se aproxima de alguém indesejado, o povo que fala que se dez pessoas se sentam à mesa com um nazista temos 11 nazistas, acha que tá tudo normal no seu Presidente dizer algo que é elogiado por um grupo terrorista que promoveu uma invasão com mortes, sequestro, estupro e tortura. “Ain, fulana não presta, anda com fulano”. Mas a porra do Lula receber aplauso desse tipo de gente, plenamente aceitável, né? Ele foi corajoso. CORAJOSO. Falar uma bosta te um tamanho GG a ponto de ser elogiado por um grupo terrorista agora é coragem!

O povo que se espanca por causa de briga de vizinho, que resolve na brutalidade tantos impasses, o povo que bate na esposa, bate nos filhos, troca porrada no jogo de futebol, que diz que se estuprarem sua filha vai fazer o que for preciso para encontrar e matar… apontando o dedo para quem tá passando por cima de civil inocente para encontrar estuprador da filha. É que quando é com o brasileiro, ele pode tudo, mas quando é com os outros, ele aponta e desfila virtude.

O povo que dá piti, faz caça às bruxas, pede por demissão e até por prisão quando uma pessoa, ainda que idosa, erra um pronome está querendo falar sobre histeria, vitimização e exagero. O povo que passou anos acusando os outros de serem nazistas (inclusive o atual Vice Presidente) agora equipara as vítimas de Hitler a Hitler. Acuse-os do que você faz continua sendo uma fórmula que dá certo.

Um povo que dá um ataque histérico por críticas de um desconhecido em rede social (e ainda as chama de “ataque”) e acha que os outros não podem falar nada que lhes seja desagradável, magoe ou ofenda, está achando de boa Lula comparar Israel a Hitler. Os mais ofendidos, os mais chiliquentos, os mais sensíveis e que pregam mais empatia estão achando normal.

O povo que teve nacionais mortos e ainda tem sequestrados aplaude um Presidente cuja fala foi igualmente aplaudida pelos assassinos e sequestradores desses brasileiros. Eu sinceramente duvido que em algum país do mundo isso fosse encarado com essa tranquilidade. Posso falar pela Argentina: se um grupo mata e sequestra argentinos e Milei fala algo elogiado por esse grupo, no dia seguinte o argentino bota fogo em todos os prédios oficiais do governo.

“Mas os judeus…”. NÃO TEM MAS OS JUDEUS. A escolha de um governo infeliz não pode vincular todo um povo, e vocês, mais do que ninguém deveriam saber disso! Se esse buraco quente infestado de mosquitos que é o Brasil tivesse alguma relevância mundial vocês já estavam bombardeados até o cu pelas merdas que Lula e Bolsonaro já falaram! Vocês gostariam que o mundo pense que vocês são sinônimo do que o Bolsonaro e o Lula falam? Fechem o cu, calem a boca e parem de colocar gasolina em um incêndio horrível que já está acontecendo! Olha o ódio a judeus que está se espalhando no Brasil! Sua opinião é mesmo tão importante a ponto de compartilhá-la se, de alguma forma, ela foi agravar a situação?

Meus queridos, o Brasil e o brasileiro só não promovem barbáries por não ter capacidade para isso, por burrice, incompetência e/ou preguiça. Se o brasileiro médio tivesse poder, ele se comportaria muito pior do que Israel. Sem poder é vídeo no Coco Bambu fraudando aniversário. Com poder? O céu seria o limite.

O brasileiro médio é uma bosta. Sua prioridade não é o bem-estar social, não é o outro brasileiro sequestrado, não é tentar acalmar o conflito, não é porra nenhuma que não seja apontar o dedo para alguém e detonar. Esse é o combustível que move o brasileiro e isso fica bem claro pelos seus hábitos: idolatria por reality show, compulsão por acompanhar a vida alheia nem que seja da janela de casa, stalkear e fofocar sobre os outros e falar mal de tudo e de todos.

Vocês são minúsculos. Tanto quem está colaborando para esse ódio aos judeus quanto quem está assistindo quieto. Minúsculos. Vocês são minúsculos e se acham grande bosta, acham que as opiniões sem qualquer estudo ou embasamento (notícia de jornal não é estudo) são ótimas, acham que podem opinar sobre tudo, acham que o resto do mundo gosta de vocês… só se for para drogas, turismo sexual ou para fugir depois de cometer um crime.

Tenham vergonha. Olhem a seriedade do que está acontecendo e ainda tem gente repetindo “pelo menos tiramos o Bolsonaro”. Por mais ignóbil, criminoso e nefasto que seja o Bolsonaro, você pode ter certeza de que os reféns brasileiros estavam em casa na primeira semana se ele fosse Presidente. Chega de militância, é hora de cobrar seriedade do estrume que vocês elegeram.

Não vai acontecer, por motivos óbvios: um Presidente é apenas um reflexo do seu povo. E o brasileiro é isso aí, o mesmo que Lula, um desinformado, ressentido, cujo sonho é oprimir, ostentar e receber aplausos. Um babaca que polariza para ser o contraponto, o virtuoso, o correto. Um ególatra que nunca tem boas intenções, apenas intenções que beneficiam a si mesmo e a seu ego.

Vão morrer jurando que o Lula é melhor do que o Bolsonaro, né? Pega bem falar isso. Vão morrer jurando que para defender o povo palestino é preciso detonar Israel. Vão morrer mostrando virtude, felicidade e ostentação em redes sociais enquanto na vida real é só choro, ranger de dentes, infelicidade, frustração e remedinho tarja preta.

Se vocês toleram viver em um esgoto, num retrocesso civilizatório que ataca judeus, nós não. Aqui isso terá tolerância zero. Assim como na pandemia guardamos algumas dúvidas e receios pessoais e não aprovamos comentários que coloquem a ciência em questão para não gerar insegurança vacinal, daqui para frente guardaremos algumas críticas e não aprovaremos alguns comentários para não contribuir com essa maré asquerosa de antissemitismo que está se disseminando no Brasil. Responsabilidade sobre o que falar não se limita a divulgar conteúdo que não seja falso, mas também a o que falar, quando falar e como falar.

“Mas Sally, para quê isso se vocês são irrelevantes?”. Somos mesmo. Mas isso aqui é permanente, vai ficar disponível por muito tempo e eu quero que qualquer um que leia, em qualquer época, saiba que diante do que aconteceu, a gente se posicionou, mesmo sendo a posição mais “impopular” e tentou contribuir para que esse absurdo não escale. Eu, mesmo que irrelevante, estou tentando fazer algo a respeito. Você está?

Para finalizar, um lembrete: uma coisa é escrotizar ucraniano em meio ao genocídio que estão sofrendo, outra é tentar cantar de galo para cima de homem branco rico. Boa sorte com o Mossad.

Para se ofender (eu estou ofendida com o que o brasileiro está fazendo/tolerando, estamos quites), para tentar retrucar algo que jogue fogo no incêndio e ter seu comentário reprovado ou ainda dizer que por minha causa agora o Somir vai ter que sair do Brasil para não ser preso (estou fazendo um bem a ele): comente.

SOMIR

Eu também queria falar mal do brasileiro e da sua reação ridícula à fala de Lula, mas vocês acabaram de ler o texto da Sally. Eu não faço melhor do que ela essas coisas, então assino embaixo. Já não aprovava comentário de nazista de direita antes, é só uma continuação da lógica não aprovar os dos nazistes de esquerda (gênero neutro para ser mais inclusivo).

O que me resta fazer é analisar alguns pontos que não cabiam na parte da bronca. O primeiro deles é como o Brasil manteve sua imagem de imbecil inconsequente no cenário mundial. É parte da imagem deste país de terceiro mundo estar um grau abaixo do que se considera adulto responsável. É meio como se o país e o que vem dele estivesse num nível de exigência intelectual abaixo da média dos países realmente civilizados.

A reação internacional não foi grandes coisas. Israel soltou os cachorros, mas não foram os que mordiam, e sim os que latiam mais alto. Pessoas morrem quando Israel está realmente furiosa. Lula recebeu umas críticas pelo Twitter e o embaixador brasileiro foi exposto de forma vexatória por lá. Aqui chamou atenção, mas no resto do mundo foi mais conversa de corpo diplomático do que notícia de mídia de massa.

Quer dizer que Lula não falou algo tão bizarro assim? Falou. Tem mil motivos para explicar o terror da comparação que fez, mas ele estava mais protegido das consequências porque para o mundo, o Brasil é uma fazenda com praia, onde as pessoas dançam e não pensam muito. O presidente da França, por exemplo, nunca vai ser pego falando uma asneira dessas. Porque ele sabe que se ele fizer isso, vai pagar um preço enorme dentro e fora do país. Do país de onde vem, esperam um nível mais alto.

Mas era só o Brasil. Ninguém quis falar isso, porque seria muito deselegante, mas o Brasil nem é gente… o povo é muito ignorante, atrasado, faltou proteína na primeira infância… não é como se o que viesse daqui fosse muito sério. O que eu sim, acho preconceito, nem todo mundo aqui é nesse nível República das Bananas, mas o país não se ajuda quando manda broncos do nível de Bolsonaro e Lula falarem no cenário mundial.

Não deixa de ser uma zona de conforto: se a maioria do mundo acha o brasileiro meio bicho, um povo que não vale a pena “julgar como adulto”, é muito mais fácil se livrar das consequências pelos atos. OS EUA nitidamente trataram o Brasil como aquela “criança especial” na turma quando começaram a colocar panos quentes na briga com Israel. É confortável não pagar o preço cheio pelas besteiras que diz e faz, mas também significa que o que vem daqui não é levado a sério.

Para Lula e cia., isso está ótimo. Eles podem fazer seus showzinhos sem medo de consequências internacionais. Mas também não esperem nenhum peso na opinião brasileira em qualquer discussão de valor. Isso só muda quando o próprio Brasil se levar a sério. Quando o mundo olha pra cá e vê que a discussão não passa de treta de rede social e showzinho da oposição, sabe que nem a gente quer mesmo sair dessa posição de criança abobada da turma. O Brasil não é visto como sério porque não se leva a sério.

Não precisa ser nível Alemanha onde o presidente sairia preso do prédio onde desse uma declaração dessas (por motivos óbvios), mas no mínimo a coisa ficar tão feia para o presidente que ele tivesse que vir pedir desculpas em rede nacional e ficasse com muito medo de impeachment. Aqui no Brasil basta esperar o ciclo de notícias mudar, porque não vai dar em nada.

O que me leva ao segundo ponto: é impressão minha ou o ciclo de notícias está moldando o mundo ao invés do mundo moldar o ciclo de notícias? A fala absurda de Lula foi notícia por alguns dias e depois o assunto já tinha mudado. O quanto ele contava com isso para poder falar o que falou? É como se tudo tivesse prazo de validade, independentemente da gravidade. Aposto que alguns de vocês já estavam esperando um DS sobre os avanços da Polícia Federal sobre a trama (estúpida) de golpe de Bolsonaro e sua turma.

Não é um assunto inconsequente, mas não era para vir para o topo da atenção da mídia de massa enquanto a questão de Lula não tivesse alguma resolução. A gente ficar no tema da fala de Lula comparando Israel com os nazistas é uma anomalia no mundo atual. Já tinha saído de moda. Como a gente espera criar um país onde o crime não compensa se indignação dura só enquanto o ciclo de notícias permite?

Veja só: pode ter ficado “chato” para muita gente falar sobre isso. Ninguém é tonto nas altas escalas do poder, eles já trabalham com esse foco de atenção de peixinho dourado da sociedade. Vai lá, apronta e espera no máximo umas 72 horas até o mundo achar outro objeto brilhante. A última coisa que durou um pouco mais que isso foi o ataque dos vândalos “patriotas” em Brasília, e eu até temo que só tenha durado mais porque janeiro é um mês mais parado.

Lula escapa do grosso das consequências por fortalecer a imagem do Brasil de país que não serve para conversas adultas sobre o mundo, nos mantendo como índios incapazes aos olhos da comunidade internacional; e também se aproveita do minúsculo foco de atenção da grande mídia, que assim que vê o número de cliques diminuir um pouco já corre para o próximo espetáculo. É um ciclo que se repete e vai mantendo o país travado numa complacência incrível com suas autoridades e também com os absurdos que o povo diz todos os dias. Não tem consequência. O brasileiro parece gostar dessa situação, e projeta essa imagem todos os dias.

A coisa deveria ter ficado muito feia para o Lula, mas já estamos vendo o assunto desaparecer como se nada. O resto do mundo só teve reforçada a imagem de shithole da gente e a gente está nadando numa boa nesse monte de merda. O Brasil precisa de consequências, senão nunca vai sair da infância…

Para dizer que ninguém que ficaria ofendido consegue ler o texto da Sally até o final, para dizer que você está sendo oprimido por não poder ser nazista, ou mesmo para dizer que é mesmo confortável ninguém te levar a sério: comente.

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Comments (30)

  • Agora eu me lembro por que parei de ler esse blog. Que triste fim para o Desfavor. Já pode mudar o nome para Revista Oeste.

    • Parou de ler mas volta e comenta, né?
      Já pode mudar seu nome para desocupado.
      Faça um favor a todos nós e realmente pare de ler.

  • Sou brasileira e concordo com tudo que a Sally disse. Me sinto envergonhada da mediocridade e ignorância desse povo. Terrível.

  • Não tem coisa mais brasileira do que um dos fugitivos do presídio de Mossoró ter uma suástica tatuada na mão esquerda.

  • Eu já não tinha muita fé no Bostil mas o Lule não levar um impeachment depois dessa é de cair o cu da bunda, ainda mais aqui que tem uma população considerável de judeus.

  • O brasileiro médio nem sabe o que é um judeu.
    Então antissemitismo e “nazisme” no Brasil não me desce.
    Sobre o Boa sorte com o Mossad: eu reformularia para boa sorte para o Mossad, afinal encontrar terroristas e reféns no seu próprio território não devia ser tão caótico para o melhor serviço de inteligência do mundo, não massacrando civis.

    E veja bem, não duvido da capacidade do Mossad, duvido das intenções.

    Boa parte das atrações cristãs estão na Palestina, meus pais as visitaram cerca de 8 anos antes do minha primeira ida a Israel (a trabalho, sou médica) e ao entrar no país, me interrogaram na salinha sobre essa ida a Palestina.

    • “O brasileiro médio nem sabe o que é um judeu”. O brasileiro médio, a bem da verdade, não sabe é porra nenhuma sobre porra nenhuma, mas, mesmo assim quer dar pitaco, bater o pé que está certíssimo e fazer um inferno na vida de quem “ousar” discordar. E antissemitismo e “nazisme” no Brasil também não me descem…

  • “não é só a dona maria da esquina e o seu joão da padaria falando.”
    Esses sequer sabem que o twitter existe, estão ocupados trabalhando e criando os filhos e/ou netos e vivendo a vida como dá. O grosso dos usuários são jovens desocupados de classe média pra cima, e isso é preocupante. Esses jovens da primeira geração “nativa digital” deveriam ser mais educados e inteligentes, mas são o completo oposto. Não dominam português e matemática básica, não sabem usar um computador… daqui a pouco nem serão mais bípedes.

    • Não é verdade. O brasileiro é um dos que mais usa redes sociais em todo o mundo, inclusive no horário de trabalho.

    • Conheço gente em dedicação exclusiva que fica 24h online. Fico pensando como diabos arrumam tempo para trabalhar, postar e acompanhar tudo o que acontece. Nunca saberei.
      E parabéns pelo textos, Sally e Somir. Ler isso foi um alívio pro meu coração.

  • Eu já tinha visto comentários contra o povo judeu e a favor do nazismo. Lendo esse tipo de coisas percebo que quem escreveu se identifica com o pensamento daquele grupo. A dúvida é:
    Realmente acham que nós brasileiros não iríamos junto com os outros enfrentar todo o tipo de sofrimento infligido? Porque de “raça pura” a gente não tem nada e passamos muuuuuito longe do que quer que seja considerada essa classificação.

    • Sim, eu acho isso fascinante. Esquecendo que brasileiro, por mais que tenha a pele transferência, não seria consigo branco (“ariano”) e sim latino e seria morto (seria demais pedir essa percepção), mesmo em uma análise mais simplória, pela aparência, pelas fotos dos perfis, a gente vê que a pessoa certamente seria morta. Deve ser gente que acha que Hitler só matava judeu.

  • Uma coisa que realmente eu só fui reparar depois de me tornar leitora do Desfavor é o quanto o brasileiro é ofendido e ressentido. Olha… Surreal.

    É bom porque eu também me policio pra não me tornar o que eu abomino

    • E incoerentes.

      Os mesmos que dão piti se a gente fala sobre negros ou sobre trans, pois não temos “lugar de fala” então não devemos opinar, só calar a boca e escutar quem vivencia essa realidade, estão opinando sobre Holocausto e dizendo que os envolvidos (Israel e Alemanha) estão errados no que estão dizendo…

  • O país mais pobre da África vai se desenvolver e enviar um foguete pra Urano e o Brasil ainda vai estar choramingando por causa da colonização, impressionante.

  • Uma coisa curiosa é que existe, em muitos setores da grande mídia, e no meio diplomático, a presunção de que internacionalmente o Brasil tem tradição de bom mediador de conflitos. Falta levar em conta os conflitos internos e o esforço enorme em se manter irrelevante, já que para essas coisas, tem uns 3 séculos que resultados são mais importantes do que palavras.

    • Eu lembro de algo bem-sucedido na era FHC, mas né, bons tempos nos quais mesmo votando merda o brasileiro ainda conseguia votar num merda alfabetizado e ateu…

      • Outra coisa que também merece reflexão é um possível erro de avaliação sobre a competência das autoridades de segurança israelenses, que se reflete nessa campanha militar desastrosa. O Brasil não é o único país que está sofrendo com esse ciclo de políticos dissociados da realidade.

  • Dizer que o massacre perpetrado por Israel é “morte de civil como efeito colateral” é uma estupidez descomunal. Se a pretensão era resgatar os reféns, não faz sentido devastar toda a faixa de Gaza, mas a obsessão histérica de criticar o brasileiro prepondera sobre qualquer sensatez.

    • Então, meu anjo, quando você não sabe onde os civis estão, tem que revirar tudo até encontrar, não só os civis, como os criminosos que fizeram isso.

    • “Dizer que o massacre perpetrado por Israel é ‘morte de civil como efeito colateral’ é uma estupidez descomunal”.

      Guardadas as devidas proporções, sugiro pesquisar quantos civis franceses morreram por ações dos aliados durante a campanha da Normandia (A França foi o terceiro país mais bombardeado por aliados depois do Japão e da Alemanha).

  • Isso vai manchar o apoio a Palestina. Não vai demorar para que quem apoie a Palestina passe a ser visto não só como apoiador de terrorista como também simpatizante do nazismo. Parabéns aos envolvidos.

    Aliás, se vocês também verem alguém digitando com parênteses triplos ((( ))), podem denunciar e bloquear que provavelmente é perfil simpatizante de nazismo, supremacista branco ou semelhantes. Exemplo: O mundo é dominado por (((eles))). É um apito de cachorro entre antissemitas para se referir a judeus.

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