DRAMA! CAPÍTULO 5, CENA 1:

Na favela Velha Esperança, Carlão encara demoradamente o estranho que acabara de bater na porta do barraco de Pilha e Lindamár. O jipe importado estacionado na frente, mais caro que o bairro todo, atrai a atenção de toda a rua, principalmente das crianças e de Pantera:

PANTERA: Mano! Com um carro desses eu nunca mais precisava batê punheta na vida!
CRIANÇA REMELENTA: Mãe! Ele falou punheta!
PANTERA: Calabôca, pivete!
CRIANÇA REMELENTA: Mãe! Ele me bateu!
PANTERA: Bati?

De dentro da casa, Lindamár corre para atender a porta:

LINDAMÁR: Pronto, meu drogadinho, chegou a ajuda!
PILHA: Quem é, Juma?
LINDAMÁR: Juma é a rampeira da tua mãe! E eu não sei quem é, eu só tinha esse número de telefone marcado na sua agenda escrito “emergência desmemoriada”.

Lindamár abre a porta. Do outro lado um homem vestindo um casaco de couro, chapéu e óculos escuros parece estar preocupado com seu carrão cercado de descamisados.

LINDAMÁR: Você é o L.G.?
L.G.: Sim. Posso entrar?
LINDAMÁR: Mas limpa o pé que você pisou num cocôzinho de cachorro. Hihihihihih.
L.G.: Merda!
LINDAMÁR: Isso. Hihihihi… O senhor não está com calor com essa fantasia de detetive?
L.G.: Sim… Já limpei o pé. Posso entrar?
LINDAMÁR: Claro!

Adentrando o recinto, o misterioso homem aproxima-se de Pilha, que observa desconfiado.

PILHA: Quem é você, rapá? É da imprensa? Não dô entrevista não… Não de graça…
L.G.: Temsalamãonopão!

Pilha começa a tirar a roupa. Parece hipnotizado.

LINDAMÁR: O que é isso? Não fica pelado não seu favelado! Tem visita!
L.G.: Não se preocupa, moça. Mamãechegoucasacaiu.

Pilha pára tudo o que está fazendo.

LINDAMÁR: Como você fez isso?
L.G.: Logo no começo da carreira dele nós o levamos para uma sessão de hipnose para controlar os impulsos auto-destrutivos do Rafael. Ele reage a algumas palavras-chave. Sabe o Pábio Fuentes que vivia indo no meu programa?
LINDAMÁR: Seu programa? Você é famoso?
CARLÃO: Cê é o Lulu Giberato! Eu ti conheço!!!

Lindamár e Lulu olham assustados para a janela. Carlão dá um sorriso amarelo e desenmoldura-se. Lindamár corre e fecha a janela num movimento brusco.

DRAMA! CAPÍTULO 5, CENA 2:

Do lado de fora da casa de Pilha e Lindamár, Carlão ainda tenta escutar o que se passa lá dentro com o ouvido encostado na janela fechada. Pantera se aproxima:

PANTERA: Mano, cê não ia lá dá uns trato naquela bacana?
CARLÃO: Vixi, é mêmo! Fica escutano a conversa aqui e me avisa se acontecê alguma coisa…
PANTERA: Vô te avisá como?
CARLÃO: Aqui ó… fica com o meu célula! Aí cê me liga.
PANTERA: Só…
CARLÃO: Essa vida di postrituto… postitruto… pos… tri… ah, puto… é foda! Fui!
PANTERA: Coráge aí! Fica na paiz que eu te ligo se rolá morte aqui!
CARLÃO: Valeu!

Carlão sai correndo rumo ao seu destino, e enquanto desaparece no horizonte, Pantera começa a perceber que não adianta muito usar o celular de Carlão para ligar para Carlão…

PANTERA: “Pô, o mano nunca tem crédito…”

DRAMA! CAPÍTULO 5, CENA 3:

Do lado de dentro da casa, Lindamár está fascinada com a nova descoberta sobre seu amor. Lulu, agora sem o disfarce, mantém Pilha sentado em posição de lótus no chão com outro comando verbal.

LINDAMÁR: Ele faz mais truques?
LULU: Faz, mas o meu código de ética impede que eu conte as outras palavras-chave.
LINDAMÁR: Por favor, seu Lulu, conta!
LULU: Não posso.
LINDAMÁR: Mas… por que o seu telefone estava marcado na agenda nele para ser chamado em caso de perder a memória?
LULU: É melhor para todos nós se ele mantiver algumas coisas do passado bem enterradas na memória, senhora.
LINDAMÁR: Senhorita que o filha-da-puta ainda não me deu um anel. Hihihihihi…
LULU: De qualquer forma… Eu vou te dar esse papelzinho com uma palavra especial. Assim que eu estiver longe daqui, você diz essa palavra em voz alta para ele e a cabeça dele volta ao normal.
LINDAMÁR: Ele deixa de ser um vadio drogado abusado inconseqüente e maluco?
LULU: Isso nem a hipnose deu conta. Toma o papel. Tenho outros compromissos e preciso ir agora.
LINDAMÁR: Se ele perguntar o que aconteceu, eu digo que você esteve aqui?
LULU: Só se você quiser morrer.
LINDAMÁR:
LULU: Hehehehehe!
LINDAMÁR: Hahahahaha!
LULU: Mas é sério. Conta para ele e você morre.
LINDAMÁR:

Lulu coloca todo seu disfarce e volta para seu carro. Após afastar as crianças e Pantera das proximidades do veículo, entra e arranca levantando a poeira da terra batida, sumindo rapidamente no horizonte.

DRAMA! CAPÍTULO 5, CENA 4:

Carlão finalmente chega ao seu destino, um condomínio de apartamentos de alto padrão. Logo na portaria, começa a bater no vidro escuro da guarita de segurança.

CARLÃO: Ow! Ondié qui fica a casa da Helena?
VOZ: Senhor, fale no comunicador.
CARLÃO: Hã? Quem tá falando?
VOZ: Senhor, o comunicador. Aperte o botão para falar.
CARLÃO: Fala mais alto ou sai daí di drento!
VOZ: *suspiro*

O segurança sai de dentro da guarita, faz contato visual com Carlão e aponta especificamente o interfone.

CARLÃO: Volta aqui!
VOZ: NO INTERFONE!!!
CARLÃO: Não to cum meu celulá aqui mano! Larga de cu doce e fala cumigo!
VOZ: *suspiro*
CARLÃO: Vô na Helena, mano!
VOZ: Ok, aguarde.

O portão principal se abre e Carlão finalmente adentra as dependências do edifício. O segurança se aproxima:

SEGURANÇA: O senhor vai seguir à esquerda até o elevador. Décimo quinto andar.
CARLÃO: Véio… Essa Helena é gostosa?

O segurança olha surpreso para Carlão.

SEGURANÇA: D-d-décimo… décimo quinto andar… *voltando para seu cubículo*

Carlão não entende nada, mas segue seu caminho até o apartamento de sua cliente. Ao chegar, descobre que há apenas uma porta na saída do elevador, o apartamento cobre o andar todo do prédio.

Carlão bate de forma nada discreta na porta. Uma senhora, do alto dos seus 70 anos de idade, atende. Carlão não consegue evitar a cara de decepção. Sabendo que precisa do dinheiro, agarra a idosa e taca a mão na bunda dela.

SENHORA: Agradeço o mimo, rapaz, mas eu não sou quem você está procurando.
CARLÃO: Putz… Foi mal… Mais a bunda da sinhora tá durinha hein?
SENHORA: Obrigada. Por favor, siga-me.

Carlão segue a mulher por uma suntuosa sala de estar, decoradas pelos mais variados tipos de obras de arte. Ao entrar no corredor, percebe uma foto emoldurada na parede. Uma belíssima jovem segura um cetro, trajada com um vestido, uma coroa e uma faixa que diz “Miss…”

SENHORA: É aqui.
CARLÃO: Hã? Firmeza! É pra ficá pelado?
SENHORA: Isso você decide com a dona Helena. Pode entrar. *apontando a porta de um quarto*

DRAMA! CAPÍTULO 5, CENA 5:

Enquanto isso, na casa dos Somir:

SOMIR: Preciso voltar para o trabalho. Hoje tem reunião e eu vou voltar tarde.
SALLY: Reunião com a sua querida secretária, é?
SOMIR: Sally, não começa.
SALLY: Por que você nunca me deixa te visitar no trabalho? A empresa é do MEU PAI!
SOMIR: Era, Sally, era… E não tem nada a ver com a secretária, eu não gosto de misturar a vida pessoal com a profissional.
SALLY: Ela é mais bonita do que eu?
SOMIR: Isso é impossível, meu amor.
SALLY: Olha lá! Tá me traindo sim!
SOMIR: Puta que pariu! Hoje quem tem motivo pra ficar desconfiado sou eu! Eu acreditei em você na história do pedreiro e é assim que você retribui?
SALLY: Você acreditou porque sabe que eu sou tonta e não te traio.
SOMIR: Ah, tem que ser tonta para não me trair?
SALLY: Você nem me defendeu contra a sua irmã.
SOMIR:
SALLY: Vai! Vai pro seu trabalho me trair!
SOMIR: Você TEM que virar tudo a seu favor, né?
SALLY: Eu estou muito chateada com você. Vai embora!

Somir sai de casa soltando fogo pelas ventas. Sally espera sua saída para soltar um pequeno sorriso de satisfação. Logo após, pega o papel com o telefone que Somir anotara anteriormente e começa a discar. Depois de sete toques, finalmente a ligação é completada:

LINDAMÁR: Alô?
SALLY: Lindamár?
LINDAMÁR: Primeira e única. *estrondo* Espera um pouquinho.
SALLY: Quer que eu ligue outra hora?
LINDAMÁR: Se for cobrança, sim. Se for emprego, não.
SALLY: Meu nome é Sally, me indicaram seu nome para o emprego de dia…
LINDAMÁR: *latidos* Quieto, Pilha!
SALLY: De diarista…
LINDAMÁR: Lavo, passo e cuzinho… quer dizer, cozinho. Hihihihi… PINGANATARRAQUETA!
SALLY: Pois não?
LINDAMÁR: Espera só um pouquinho… *cacarejo*
SALLY: Olha, eu posso ligar outra hora…
LINDAMÁR: PEGANATARRAQUETA! Estou tendo um probleminha aqui… Mas eu aceito o emprego sim… *mugidos*
SALLY: Você mora em uma fazenda?
LINDAMÁR: Não, hihihihi. Meu noivo está com um probleminha… NÃO MASCA A CORTINA, PILHA!
SALLY: Eu pago dois salários mínimos por mês e…
LINDAMÁR: APAGATARRAQUETA! Maravilha! Eu aceito sim… *miados*
SALLY: Quando você pode come…
LINDAMÁR: ISSO MACHUCA, FILHO DA PUTA!
SALLY: Hein?
LINDAMÁR: Nada! Desculpinha… Não estou conseguindo ler um papelzinho que o Lulu me deu.
SALLY: Lulu?
LINDAMÁR: *silêncio*
SALLY: Você pode começar amanhã?
LINDAMÁR: Posso. Daqui a pouco eu ligo pegando o endereço… *ligação cai*

CONTINUA…

DRAMA! CAPÍTULO 4, CENA 1:

Todos permanecem imóveis, olhando para Somir.

SUELI: Não precisa explicar, Sally, explico eu. Mano, sua esposinha estava prestes a te trair…
SALLY: MENTIRA, SOMIR! ISSO É MENTIRA!
SUELI: Somir, sua esposa não vale nada…
SALLY: Somir, sua irmã é uma encalhada que vive tentando separar a gente, você não vai acreditar nela, vai?

Somir olha paralisado, com o olho esquerdo latejando

SUELI: Somir, coloque limites na sua esposa, onde já se viu uma mulher casada receber um homem estranho sozinha em sua casa?
SALLY: Somir, eu te avisei que o pedreiro vinha hoje, não fiz nada escondido de você…
SUELI: Somir, eu sou sangue do seu sangue, porque eu mentiria para você?

Somir rosna algumas palavras pelo canto da boca, ainda sem piscar:

SOMIR: Sally, será que você pode sair de cima desse pedreiro?

Sally pula ao lado de Somir e chora:

SALLY: A Somira é uma escrota! Ela me infeniza desde que a gente começou a namorar! Somir, eu não quero mais essa mulher dentro da minha casa! Não quero!
SUELI: Somir, você vai virar as costas para sua irmã?
SALLY: ENCALHADA! VACA!
SUELI: SONSA! MENTIROSA!

Sally e Sueli começam a gritar uma com a outra enquanto o pedreiro faz um sinal com as mãos que indica que ambas são malucas. Somir olha para o pedreiro, estufa o peito e pergunta:

SOMIR: Afinal, o que foi que aconteceu aqui?
PEDREIRO: Olha, Seu Doutor, eu tava lá no banheiro trabalhando quando essa dali (aponta para Sueli) chegou e as duas começaram a brigar. No começo eu achei graça, mas elas sairam no tapa, então eu achei melhor separar. Aquela de lá (aponta para Sally) tava enfiando a porrada na outra, daí eu fui segurar e o Senhor chegou…
SALLY: Eu não disse que eu era inocente!
SOMIR: Sally, você bateu na minha irmã?

Somira solta um sorriso vitorioso

SOMIR: Depois eu converso com você, Sueli – Somir abre a porta e Sueli sai com cara de deboche.

DRAMA! CAPÍTULO 4, CENA 2:

Na comunidade Nova Esperança, Olavo leva Kelly para jantar. Entram no restaurante “Alegria Verde” e sentam em uma mesa.

KELLY: Que porra de cardápio é esse, Olavo?
OLAVO: Kellynha, é um restaurante vegetariano…
KELLY: Olavo, tá achando que eu sou vaca para comer capim?
OLAVO: Kelly, hoje é sexta-feira santa, não pode comer carne
KELLY: CAGUEI, OLAVO! CAGUEI BALDES! Eu quero carne!
OLAVO: Você pode comer carne de tofu
KELLY: Caralho, Olavo, que bosta de lugar é esse cheio de planta e de bicho?
OLAVO: Kelly, carne vermelha faz mal ao sistema digestivo, aumenta a probabilidade de inúmeras doenças e apodrece dentro do nosso organismo
KELLY: PODRE É VOCÊ, OLAVO, que come essas moitas e depois fica peidando mal!
OLAVO: Kelly, isso são modos de falar com seu marido?
KELLY: Peida mal sim, parece que tem um elefante morto no quarto!

Olavo explica os benefícios de uma alimentação vegetariana enquanto Kelly o imita ridicularizando-o. Uma joaninha sobe pela toalha da mesa e Kelly a esmaga com o a mão.

OLAVO: Kelly, o que você está fazendo?
KELLY: Eu sei, tinha que ter matado com o guardanapo…
OLAVO: Kelly, é um animalzinho de Deus. Porque você o matou? Você acha que esse animal não tem tanto direito à vida quanto você? Você acha que esse animal não tem alma?

Kelly pega sua bolsinha e se levanta da mesa, Olavo se desespera e vai atrás dela

OLAVO: Kelly, espera, princesinha… – Olavo puxa Kelly pelo braço
KELLY: ME LARGA OLAVO, ODEIO QUE ME PEGUEM!

Kelly empurra Olavo, que cai por cima das mesas derrubando refeições e clientes. Kelly sai andando rebolando a bunda e Olavo fica caído com os óculos quebrados chamando por Kelly

Uma hora depois, Olavo sai do restaurante com curativos pelo corpo e se depara com Kelly comendo um espetinho de carne em um bar na esquina do restaurante cujo nome é “Morte Lenta”

OLAVO: Kelly…
KELLY: NÃO PODE CARNE É O CARALHO, OLAVO!
OLAVO: Não pode carne de vaca… mas pode carne de peixe
KELLY: Então relaxa, que isso não é vaca, é no máximo gato…

DRAMA! CAPÍTULO 4, CENA 3:

LINDAMAR: Alô? Oi… Ele está “daquele jeito” novamente… é, preciso de você…
PILHA: ESTOU SANGRANDO!
LINDAMAR: Vem sim, mas tem que ser rápido…
PILHA: Juma, o pessoal da Promoart não vai gostar disso!
LINDAMAR: Tenho que ir, ele está voltando, estou aguardando!
PILHA: Onde está minha guitarra?
LINDAMAR: Pilha…
PILHA: ONDE ESTÁ MINHA GUITARRA???
LINDAMAR: Não grita!

Pilha solta uma sequência de palavrões. Carlão, o vizinho, que estava saindo de casa para um encontro naquele exato momento, passa, escuta e mete o cabeção na janela:

CARLÃO: Tá tudo bem aí ô Dona?
PILHA: Caralho! Pega meus óculos escuros que a camisa amarela desse filho da puta ta me cegando!
LINDAMAR: Tá tudo bem sim, obrigada, viu? Pode ir, já chamei ajuda.
CARLÃO: Tá tirano onda ca minha camisa, Mano?
PILHA: O marca-texto fala!
CARLÃO: PANTERA… CHEGA AQUI
PILHA: Foi chamar teu namoradinho, PiuPiu?

Alguém bate na porta da casa de Pilha e Lindamar. Carlão olha na direção da pessoa e esfrega os olhos, sem acreditar no que está vendo.

DRAMA! CAPÍTULO 4, CENA 4:

Na casa dos Somir, Sally explica com calma o ocorrido para seu marido.

SOMIR: Perdoe a Somira, ela ficou meio maluca desde que se apaixonou por aquele drogado.
SALLY: Que drogado?
SOMIR: Aquele ex-namorado dela que fugiu roubando todos os eletrodomésticos da casa dela
SALLY: BEM FEITO!
SOMIR: Nunca conseguimos achar o vagabundo…
SALLY: Não interessa, eu não quero ela aqui nunca mais!
SOMIR: Sally, não seja intransigente…
SALLY: NÃO QUERO! POR NADA DESSE MUNDO!
SOMIR: Uma caixa do bombom?
SALLY: Não!
SOMIR: UM vestido novo!
SALLY: Não!
SOMIR: Um perfume?
SALLY: Não!
SOMIR: Então escolhe, Sally, o que você quer…
SALLY: Quero uma empregada para me ajudar no serviço doméstico!
SOMIR: Você está achando que dinheiro nasce em árvore?
SALLY: PAÕ DURO! Só para me ajudar com a sujeira dessa obra no banheiro!
SOMIR: Tudo bem, mas EU vou escolher…
SALLY: Tudo bem, mas tem que ser FEIA, MUITO FEIA!
SOMIR: Sally, deixa de ser insegura
SALLY: Nem pensar, Somir. Tem que ser feia!

Somir liga para a secretária, conversa rapidamente e anota dois números de telefone.

SOMIR: Pronto, Sally, já pedi uma indicação. Tá aqui o telefone dela, liga e faz uma entrevista, se ela for feia o bastante a gente contrata

Sally pega o papel com ar vitorioso e comenta de forma maldosa:

SALLY: Se for tão bonita quanto o nome, já está contratada… “Lindamar”! Credo! Amanhã eu ligo.

SOMIR: E por falar em gente feia… o pedreiro está demitido. Vou contratar outro que se encaixe nos “Padrões Sally de Feiura”
SALLY:
SOMIR: Minha secretária me indicou o nome de um rapaz que acabou de se mudar para a comunidade dela e faz esse tipo de serviço.
SALLY: É uma pessoa de confiança?
SOMIR: Claro! Se não minha secretária não indicaria…
SALLY: Então amanhã você liga para ele e marca o dia para ele começar.
SOMIR: Amanhã eu ligo.

Somir deixa em cima da mesa um papel escrito “Carlão” e um número de telefone.

CONTINUA…

DRAMA! CAPÍTULO 3, CENA 1:

Na sede da Green & Green Inc., Somir está parcialmente sentado sobre a mesa de sua secretária/modelo/manequim, murchando a barriga:

SOMIR: (…)E aí eu disse para ela que quem mandava ali era eu. Eu sou super sossegado, sabe? Mas não queiram me ver saindo do sério!
SECRETÁRIA: É por isso que eu sempre vou te tratar bem, senhor Somir.
SOMIR: O que eu disse sobre essas formalidades?
SECRETÁRIA: Desculpa… É que o senh… Você passa tanta autoridade pra gente…
SOMIR: Faz parte do meu trabalho. Mas não se preocupe que eu não mordo não.
SECRETÁRIA: Que pena. Hihihihihi…
SOMIR: *vermelho* Ahem… Você… terminou os relatórios que eu te pedi semana passada?
SECRETÁRIA: Ai, sabe o que é? Eu me atrasei um pouquinho hoje porque fiquei a manhã inteira passando creme no meu corpo e não deu para terminar…
SOMIR: C-c-creme?
SECRETÁRIA: É que minha pele fica tããããooo ressecada, olha só o estado da minha perna… *levantando levemente a saia*
SOMIR: P-p-parece ótima… pra mim…
SECRETÁRIA: Mas não se preocupe, viu? Eu termino os relatórios até amanhã. *ainda mostrando boa parte das coxas*
SOMIR: Eu… *babando* Preciso delas… deles para hoje e…
SECRETÁRIA: O senhor vai me demitir? *fazendo cara de choro*
SOMIR: Não! Não precisa chorar… Eu dou um jeito e termino mais tarde.
SECRETÁRIA: O senhor é tão bom para mim. Gostaria de ter como… retribuir… *mordendo o lábio*
SOMIR:*ajeitando o colarinho*

O celular de Somir começa a tocar. A chamada é de sua irmã, Sueli:

SOMIR: Alô?
SUELI: Maninho?
SOMIR: Fala.
SUELI: Eu passei aqui na sua casa e você não estava…
SOMIR: Mas é óbvio, anta, diferentemente de você, eu trabalho.
SUELI: Hmpf! Parece que não é só você que está ocupado, viu?
SOMIR: Como assim?
SUELI: Sally parece nervosa… E tem uma pessoa assoviando no banheiro…
SOMIR: O pedreiro. Você me ligou por causa disso?
SUELI: Você sabia?
SOMIR: Claro!
SUELI: E não achou nada demais?
SOMIR: Achei um absurdo o preço, mas a Sally teimou que precisava reformar o banheiro!
SUELI: Com um pedreiro desses eu reformava a casa toda!
SOMIR: Hã? Do que você está falando?
SUELI: Me diz uma coisa, foi a Sally que escolheu o pedreiro, né?
SOMIR: Foi… Uma amiga do prédio indicou.
SUELI: Eu sempre desconfiei dessa sua esposinha... *ligação cai*
SOMIR: Alô? Alô?

Somir dá um sorriso amarelo para a secretária e avisa que hoje vai almoçar mais cedo. Depois de sair calmamente da vista da bela atendente, sai correndo desesperado rumo à sua casa.

DRAMA! CAPÍTULO 3, CENA 2:

Enquanto isso, na comunidade Nova Esperança, Olavo acaba de sair do banho preparando-se para seu segundo turno de trabalho do dia:

OLAVO: Pombinha, você viu a minha pasta…

Ele percebe que Kelly está dormindo de bruços, toda esparramada na cama de casal. Completamente nua. Olavo permite-se apreciar a vista por alguns instantes, quando começa a perceber algumas marcas avermelhadas nas costas de sua esposa.

OLAVO: “Deve ter dormido numa cama desconfortável na casa da amiga. Coitada.”

Percebendo a oportunidade rara, Olavo arrisca se atrasar para aproveitar um momento de intimidade com Kelly. Conhecedor do sono pesadíssimo de sua mulher, posiciona-se em cima dela sem se preocupar com sons ou movimentos bruscos.

OLAVO: “Hoje é dia! Vamos lá… Uhnf… Uau! Ela já está pronta… Minha pombinha nunca me decepciona. Unhf… Nossa, ela está muito mais pronta do que o normal… E que cheiro é esse? Parece cheiro de lubrificante… Será que ela colocou para eu aproveitar? Uhnf… Com certeza… Eu sou o homem mais sortuuuuu… ah… do mundo…”

Depois de três minutos de sexo, Olavo percebe que pode ficar mais alguns minutos abraçado antes de sair.

DRAMA! CAPÍTULO 3, CENA 3:

Na favela Velha Esperança, Lindamár acaba de arremessar um vaso (o único da casa) na cabeça de Pilha, que agora está desacordado:

LINDAMÁR: Putaquepariuputaquepariuputaquepariu… Não morre, Pilha! Não morre!

Pilha começa a abrir os olhos, apresentando uma feição ainda mais desorientada do que a de costume.

LINDAMÁR: Meu amor! Desculpa! Eu não queria te machucar!
PILHA: O que… o quê aconteceu?
LINDAMÁR: É… *sem graça* Você caiu de cabeça no vaso. Hihihi… Você está bem?
PILHA: Estou sim, meu amor. Ficou alguma marca no meu rosto?
LINDAMÁR: Ficou uma marquinha… Vai ter que levar um pontinho… ou trinta… E está sangrando um pouquinho.
PILHA: Poxa, a maquiadora vai ter um trabalhão hoje à noite.
LINDAMÁR: Maquiadora? Vai se prostituir de novo, Pilha? Eu disse que não precisa!
PILHA: Hahaha! Você é tão espirituosa, Juma…
LINDAMÁR: Juma?
PILHA: Não posso me atrasar, o Lulu está me esperando. Eu tenho um país para deixar apaixonado. *sorriso canastrão*
LINDAMÁR: Ai meu Gezuiz amado!

Pilha se levanta, sacode a poeira e vai até o banheiro lavar o sangue que escorre em seu rosto.

Lindamár pega o celular e se prepara para fazer uma ligação a cobrar.

DRAMA! CAPÍTULO 3, CENA 4:

Na casa ao lado, outra ligação a cobrar acaba de ser completada:

CARLÃO: É daí que pricisa dum hómi forte, moreno e máchulo pra dá uns trato numa mulé sozinha?
VOZ FEMININA: SIM! Você acha que dá conta do recado?
CARLÃO: Recado? É trampo de óficibói?
VOZ FEMININA: Hahaha… Bem humorado, conta pontos. Faz o seguinte, anota esse endereço e vem fazer a entrevista hoje mesmo! Ah, meu nome é Helena.
CARLÃO: Carlão Jamanta. Pódi sê agora?
HELENA: SIM! Anota aí, Jamanta… *risinho*

Carlão anota um endereço mal e porcamente no jornal, enquanto Pantera pergunta incessantemente o que está acontecendo. Após três tentativas, Carlão finalmente acerta a grafia da rua e desliga a chamada.

PANTERA: E aí, mano?
CARLÃO: Tô indo lá agora… Na rua João da Silva. Pertin daqui, no bairro dos bacana.
PANTERA: Cê é corajoso, mano… Deve sê mó gorda escrota…
CARLÃO: Tô nem aí… Já catei cada coisa di graça! Essa aê paga pelo menos…
PANTERA: Só… Lembra daquela do bigode?
CARLÃO: Num me lembra disso… Vô tomá um banho pra vê se tiro uma gorjeta.

Carlão termina seu “ritual de beleza” e segue rumo à casa de Helena.

DRAMA! CAPÍTULO 3, CENA 5:

Meia hora depois, na casa dos Somir:

SALLY: Eu já disse que não estava fazendo nada, Somira!
SUELI: Claro, eu cheguei a tempo! E se não temia nada, por que derrubou o meu celular?
SALLY: Sua mal-comida ridícula, o seu sonho é estragar o MEU casamento, né?
SUELI: Eu só estou em busca da verdade. Quero mostrar para o meu irmão quem você é de verdade!
SALLY: *bufando* Somira, eu vou te enfiar a porrada!
SUELI: O meu nome não é Somira! É Sueli!
SALLY: SOMIRA! SOMIRA! SOMIRA! SOMIRA! SOMIRA!

Sueli se joga em cima de Sally, ambas começam a se estapear.

O pedreiro esboça uma risada enquanto toma uma cerveja tirada diretamente da geladeira.

SUELI: AAAI! ME SOLTA!
SALLY: Nem pra brigar você presta…
SUELI: Me solta agora senão…
SALLY: Senão?
PEDREIRO: Moças, é melhor separar… Brincadeira de mão não dá certo…
SUELI: Ela começou!
SALLY: Eu? Sua vadia mentirosa!

Ambas começam a brigar novamente, Sally monta em Somira, cujo vestido sobe até a altura da cintura, expondo sua calcinha gigantesca. Somira puxa o top de Sally, expondo seu sutiã. O pedreiro cover de centro-avante argentino tenta apartar a briga puxando Sally pelas costas.

A porta da frente abre com violência, Somir entra em casa e depara-se com a cena.

SOMIR: O que CARALHOS está acontecendo?

Sally, Somira e o pedreiro, descabelados, avermelhados e suados, param tudo o que estão fazendo e olham de volta para Somir.

Somir, vermelho feito um pimentão, apenas demonstra um tique no olho esquerdo. Sally olha para si mesma e percebe em que situação se encontra no momento.

SALLY: Eu posso explicar…

CONTINUA…

DRAMA! CAPÍTULO 2, CENA 1:

Na casa dos Somir…

PEDREIRO: Moça?
SALLY: Ooooiii? Entra, entra, pode entrar! *sorrindo
PEDREIRO: O que aconteceu neste banheiro?
SALLY: É meu marido, ele tentou reformar o banheiro…
PEDREIRO: Mas isto está um desastre!
SALLY: É, eu sei. Ele é uma versão retardada do McGyver
PEDREIRO: Isso vai demorar…
SALLY: Moço…
PEDREIRO: Sim?
SALLY: Alguém já te disse que você é a cara do Batistuta?
PEDREIRO: Quem?

*Toca o interfone

SALLY: Alô?
SUELI: Sou eu, Sally, será que dá para você abrir essa porta, queridinha?
SALLY: Somira?
SUELI: Já pedi para não me chamarem assim, você sabe que eu odeio!

Sally abre a porta

SALLY: Oi Somira…
SUELI: Sally, precisamos conversar…
SALLY: Precisamos?
SUELI: Que barulho é esse? Tem alguém no seu banheiro?
SALLY: O que você quer, Somira?
SUELI: Está nervosa, Sally? Acho que vou ligar para meu irmão…

Somira puxa o celular da bolsa

DRAMA! CAPÍTULO 2, CENA 2:

Enquanto isso, na comunidade Nova Esperança, Olavo retorna depois de um dia de trabalho.

OLAVO: Kelly, você me ama?
KELLY: Quem vive de amor é dono de motel, Olavo!
OLAVO: Não fale assim, Pombinha…
KELLY: Vai se foder, Olavo! Quer romance? Compra um livro! Porque você está me perguntando essas coisas?
OLAVO: É que um colega de trabalho me disse que viu um vídeo seu no YouTube fazendo… coisas. Claro, eu não acreditei, mas ele me mostrou o vídeo e…
KELLY: Tudo montagem. Tudo photoshopping! Ele tem inveja de você e quer nos separar, Olavo!
OLAVO: Tem razão, Amorzinho! O João está com inveja…
KELLY: Tinha que ser o João! Só homem de pau pequeno mesmo para fazer essas cois… ops!
OLAVO: Hã?
KELLY: Hã?
OLAVO: Você conhece o João, Pombinha?
KELLY: Uma amiga minha que trabalha em uma boate conhece…
OLAVO: Qual é o nome da boate?
KELLY: “Três Em Uma”
OLAVO: Meu Anjinho, como você é inocente! Isso não é uma boate, é uma casa de tolerância…
KELLY: É nada, Olavo, é um puteiro mesmo!
OLAVO: Kelly, usei um eufemismo…
KELLY: Usou hoje? Que bacana! Danadinho, nem me mostrou, né? Comprou quando? Veste bem em você? Experimenta para eu ver como ficaaaa!
OLAVO:

DRAMA! CAPÍTULO 2, CENA 3:

Nas ruas da comunidade Velha Esperança…

PILHA: CALA A BOCA, VAGABUNDO! *Tapa na cara
POPULAR: O que foi que eu fiz?
PILHA: CALA A BOCA E ME ACOMPANHA, eu sou da DENARC!
POPULAR: Eu não fiz nada!

Uma cueca molhada voa na testa de Rafael Pilha.

O popular aproveita a oportunidade e foge.

LINDAMAR: TÁ ACHANDO QUE EU SOU SUA ESCRAVA PARA FICAR LAVANDO FREADA DE CUECA, DROGADO?
PILHA: Não está vendo que eu estou trabalhando?
LINDAMAR: Já pedi para você parar de seqüestrar as pessoas, Pilha! E tira essa camisa do DENARC! Quer ser preso mais uma vez?
PILHA: RESPEITA A PULIÇA, RAPÁ! *sorriso maroto

Lindamar bate em Pilha com a Cueca molhada e o obriga a entrar em casa.

PILHA: FRITA UM OVO PARA MIM! QUERO OVO FRITO!
LINDAMAR: Não tem comida, Drogado! Vagabundo que não trabalha não come!
PILHA: Me respeita! Eu sou um astro do rock!

Lindamar solta um palavrão. Um entregador bate palmas do lado de fora da casa.

ENTREGADOR: Bom dia, esta é a Residência do Sr. Rafael Pilha Pó Legal?
LIDAMAR: Depende… *torcendo as mãos e suando frio
ENTREGADOR: Vim entregar uma cesta de café da manhã…
LINDAMAR: Você não é polícia? Ah, então ele mora aqui sim! *puxa a cesta da mão do entregador e bate a porta

Lindamar lê o cartão: “Pensando em você. Sueli” e olha para Pilha com olhar de fúria.

DRAMA! CAPÍTULO 2, CENA 4:

No “casa” ao lado, Carlão está com os ouvidos colados na parede.

PANTERA: Que que cê tá fazendo, mano?
CARLÃO: Shhhhh…
PANTERA: Tá me zoano, né? Cê tá escutando a briga na casa da vizinha?
CARLÃO: Shhhhh, Porra!
PANTERA: Cê é foda…
CARLÃO: Ela tá puta com o mané…
PANTERA: Parece aquelas véia fofoquêra, Carlão! Se liga mano! Mó situação ridícula aí… Nóis vivia zoano as tia lá da terrinha…
CARLÃO: Vixe! Tá falano que ele num deu no côro!

Pantera corre até a parede e se acotovela com Carlão.

CARLÃO: Se fosse minha eu dava uns trato legal…
PANTERA: Porra mano, a mulé é mais feia que a fome!!!
CARLÃO: Vai si fudê. Escuta…
PANTERA: Hahahaha! Ela quebrô alguma coisa nele?
CARLÃO: Tomara que dexe o mané em goma.
PANTERA: Coma.
CARLÃO: Depois nóis janta, mano…
PANTERA:
CARLÃO: Parô.
PANTERA: Dêxa eles vai… A gente precisa arrumá um trampo logo.
CARLÃO: Pegô o jornal?

Carlão e Pantera se sentam no chão e começam a ler os classificados do jornal.

PANTERA: Ow! Saca só… Aqui perto! “Precisa-se de homem forte, moreno e másculo para serviços de assistência pessoal a uma mulher solitária e necessitada.”
CARLÃO: Eita! Vamo ligá agora!

CONTINUA…

Sejam bem-vindos ao primeiro capítulo de “DRAMA!”, a novela da DR FOREVER que é exclusividade do desfavor. (Até porque ninguém mais teria coragem de colocar isso no ar…)

PERSONAGENS:


Conheça a geniosa Sally Somir, uma mulher carinhosa, carente e careta. Sally sempre sonhou com sua independência e uma carreira de sucesso no mundo da dança, mas tudo mudou quando conheceu e se apaixonou pelo seu atual marido, o ranzinza Tiago Somir.


Somir é um homem de opiniões fortes e moral duvidosa, desagradável com quase todos que o cercam, seu ponto fraco e porto seguro é a mulher, da qual não se separaria nem se deixasse de ser um preguiçoso inseguro. Somir vive em pé-de-guerra com sua irmã solteirona Sueli.


Sueli, que de tão parecida com o irmão é apelidada de Somira, quando não está se metendo nos assuntos do casamento do irmão, está correndo atrás do homem pelo qual se apaixonou perdidamente na adolescência, Rafael Pilha.


Pilha, ex-cantor ex-telionatário, já foi uma das celebridades mais conhecidas no Brasil nos anos 80, quando seu grupo, o Pó Legal, liderava todas as paradas dublando músicas melosas em programas de auditório. Por conta das drogas, hoje em dia Pilha mora numa favela com a doce Lindamár Silva.


Lindamár é uma mulher guerreira que sustenta sua casa e seu grande amor trabalhando como lavadeira, passadeira, cozinheira, pedreira, parteira, rameira e enfermeira. Exemplo de dedicação e espiritualidade, encontra na igreja evangélica Deus nos Acuda forças para continuar cuidando do marido drogado.



Também freqüentadora da igreja, Kelly Silveira é uma dançarina de axé desempregada e desclassificada que deu… muito duro… para se mudar para a cidade grande e esquecer seu passado, sempre ao lado do fidelíssimo e sofisticado marido frouxo Olavo Camargo.



Conheça ainda Carlão Jamanta e Pantera, uma dupla inseparável recém-chegada à cidade e que promete bagunçar a vida de todos com seus planos mirabolantes para ficarem ricos e pegar muita mulher.


Eventualmente todos cruzarão seus caminhos com o da jovem Helena, que vive entrevada numa cama após um terrível acidente de carro.

NOTA: Não se preocupem, Sally e Somir continuam sendo os protagonistas.

A cada semana um episódio novo.


DRAMA! CAPÍTULO 1, CENA 1:

Veneza, Itália:

A bordo de uma das famosas gôndolas venezianas, Sally e Batistuta celebram seu amor eterno enquanto navegam pelos românticos canais da cidade.

SALLY: É um sonho estar aqui com você, corazón.
BATISTUTA: Nem um sonho poderia retratar tanta beleza como a que possui.
SALLY: Óóónnhhh… Me beija…
BATISTUTA: Onde está a minha gravata vermelha?
SALLY: Hã? Não sei, amor. Eu quero te beijar.

Batistuta dá um beijo de meio segundo em Sally, sem língua.

BATISTUTA: Pronto. A gravata?
SALLY: É… Quando a gente chegar em casa eu pego ela para você. Vamos aproveitar o passeio romântico agora, tudo bem?
BATISTUTA: Que mané passeio romântico? Sally, eu estou ATRASADO!

Realidade, Brasil:

Sally abre os olhos e dá de cara com Somir, mal-humorado como em todas as manhãs.

SALLY: *grunhido*
SOMIR: Ah, que se foda, pego outra. Você nem pra achar uma porra de uma gravata, hein?
SALLY: *suspiro*
SOMIR: Não custa nada fazer um cafezinho para o seu corazón, né?
SALLY: Corazón?
SOMIR: Você estava sonhando comigo e me chamou disso.
SALLY: Sonhando com você? *princípio de riso*
SOMIR:*princípio de fúria*
SALLY: Claro! Estava sim, corazón! Vou lá fazer o café…

Sally sai rapidamente do quarto em direção à cozinha.

SOMIR: Sally, que zona é essa no banheiro? Por que está tudo enfiado numa sacola? Cadê o meu creme de barbear?
SALLY: Esqueceu que hoje vem o pedreiro para reformar o banheiro? O seu creme e o barbeador estão na sacola verde no chão.
SOMIR: Precisa MESMO reformar o banheiro?
SALLY: Depois da sua aventura de encanador amador, sim.
SOMIR: O chuveiro está funcionando agora, não está?
SALLY: Se por funcionando você quer dizer saindo mais água da parede do que do chuveiro em si…
SOMIR: Fresca.
SALLY: *suspiro*

Alguns minutos depois:

SOMIR: Beijotchamofui! *porta batendo*
SALLY: O café…

DRAMA! CAPÍTULO 1, CENA 2:

Enquanto isso, na comunidade Nova Esperança:

Olavo lê o jornal do dia calmamente enquanto toma uma xícara de café. É distraído pelo som da porta da frente abrindo.

OLAVO: Pombinha?
KELLY: *grunhido*
OLAVO: Deveria ter me avisado que ia dormir na casa de uma amiga. Tive que ligar para todos seus colegas para saber onde você estava.
KELLY: Minha cabeça…
OLAVO: Acabei de fazer um cafezinho, senta aí que eu sirvo para você.
KELLY: Fala… baixo…
OLAVO: Só se você me der uma bitoquinha.

Olavo se inclina, faz bico e fecha os olhos. Kelly afasta o rosto de Olavo com a mão.

KELLY: Vai… tomar… no…
OLAVO: Você não acha que está muito cedo para começar com esse linguajar?
KELLY: *suspiro*
OLAVO: Pronto, saindo um café do jeito que você gosta.

Kelly vira num gole só, bate a xícara na mesa e faz um gesto com as mãos para Olavo servir mais.

OLAVO: Deve ter sido um show daqueles, hein? Está cheia de marcas na pele…
KELLY: Foi um show daqueles mesmo… Você sabe como eu fico cansada depois, né? Meus joelhos estão todos machucados e arranhados.
OLAVO: Bom, eu já deixei a cama pronta para você descansar e repor suas energias. Hoje é dia de… você sabe… *sorriso envergonhado*
KELLY: Se eu fosse você não teria muitas esperanças… Estou toda assada.
OLAVO: Hmmm… Tudo bem. Tenho que trabalhar, aquelas crianças não vão aprender matemática sozinhas.
KELLY: Quando é que você vai ter um emprego decente, Olavo?
OLAVO: Nós já discutimos sobre isso, minha pombinha. É só uma fase, logo eu conseguirei minha vaga para lecionar na universidade e todos nossos problemas financeiros ficarão no passado!
KELLY: Você fala isso há mais de um mês… Estou no meu limite, Olavo! Eu não sou mulher de homem qualquer não, viu?
OLAVO: Eu sei disso, você é a mulher mais importante do mundo para mim e eu te prometo que…

O celular de Kelly começa a tocar.

KELLY: Alô? Me conheceu ontem? A gente o quê? Ah… Sei… Você é o moreno da camiseta ver… Loiro? Ah, lembro sim… Hihihihihi…
OLAVO: … Eu estou saindo…
KELLY: Shhhh! Vai… vai!
OLAVO: Até mais, meu amor.

Kelly faz o movimento de enxotar com as mãos. Olavo sai cabisbaixo de casa.

DRAMA! CAPÍTULO 1, CENA 3:

Um chevete caramelo em péssimo estado desce a rua principal da favela Velha Esperança. O som do carro cospe acordes altíssimos e desafinados de uma música que poderia ser chamada de forró se fosse compreensível. Dentro do carro, dois rapazes conversam.

CARLÃO: Vixe! Tamo pagano di gostoso pras mina daqui…
PANTERA: É nóis, saca só aquelas princesa ali olhando pra gente e dano risadinha ó…
CARLÃO: Toso é presença onde nóis vai, Pantera! Todo mundo apontano!
PANTERA: Abre os vidro aí pra gente xavecá as gatinha, mano.
CARLÃO: Num dá.
PANTERA: Purquê?
CARLÃO: Estraga o issufiume.
PANTERA: Só…
CARLÃO: Ow, cê sabe certinho onde quié?
PANTERA: Xá cumigo, mano. Pantera tem os instinto, manja?

Duas horas depois:

PANTERA: Porra, desisto.
CARLÃO: Num é ali não?
PANTERA: Achei!
CARLÃO:

Os dois descem do carro e dirigem-se a uma construção precária.

CARLÃO: Tem certeza?
PANTERA: Diz oi pra nossa casa, mano!
CARLÃO: Num era diferente não na foto?
PANTERA: Tacaro fotochoque. Mais agora já era…
CARLÃO: Num saí da casa da minha vó pra morá aqui, mano…
PANTERA: Porra, relaxa! Tamo na cidade grande agora, depois nóis fica rico e pá…

Carlão olha ao seu redor e visualiza uma jovem lavando roupa na casa vizinha. O mundo parece ficar em câmera lenta enquanto observa a pequena morena do cabelo ensebado espancar uma cueca violentamente contra a base do tanque.

MULHER: Filho da puta! Nojento! Enche o cu de pinga e esvazia na cueca! Minha mamãe não me criou para tirar freada de cueca de malandro! Filho da puta! Filho da puta!

A mulher percebe que está sendo observada e fica sem graça. Solta um risinho tímido e corre para dentro de casa.

CARLÃO: Mano, a gente vai morá aqui e aquela princesa vai sê minha… anota aí…
PANTERA: Princesa?

DRAMA! CAPÍTULO 1, CENA 4:

Sally recebe o aviso do porteiro e vai abrir a porta para o pedreiro.

PEDREIRO: Oi, eu vim para resolver o seu problema com canos…
SALLY:*boquiaberta*

CONTINUA…

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