Desfavor Explica: Falácias. (Parte 3)

Com a parte 3, terminamos essa série sobre argumentos sem sustentação lógica. Talvez eu volte a escrever sobre o assunto, mas por enquanto cobrimos grande parte das mais comuns e repetitivas nesse mundo da retórica furada. Vamos logo às escolhidas!

MEIO TERMO

É comum se dizer que a verdade costuma estar exatamente entre dois pontos de vista discordantes. Que o meio termo é a posição mais racional… Mas nem sempre é assim que a banda toca numa discussão. Procurar um meio termo a qualquer custo pode gerar uma falácia. Apesar de não ser tão virulenta quanto as outras que escolhi para esta série de colunas, seu reconhecimento é muito importante. E por um bom motivo: Normalmente são as pessoas mais bem equipadas para uma discussão que acabam caindo nessa armadilha lógica.

Gente histérica e/ou mal intencionada numa troca de ideias raramente vai pecar pelo excesso de cuidado com o equilíbrio do argumento, mas quem está tentando dirimir um confronto e defender a racionalidade fatalmente vai passar perigosamente perto da falácia meio termo. Na sanha de criar um “terceiro ponto de vista” para avançar a discussão, pode-se criar um monstro ilógico chato de derrubar.

Exemplo: “Somir defende o envio imediato de todas as pessoas que se dizem paranormais para campos de concentração. Zé Ruela rebate dizendo que isso seria um crime contra os direitos humanos, e que muita gente se diz paranormal o faz com boas intenções e não faz mal a ninguém. Zé Bovino, percebendo o impasse, sugere que apenas os ditos paranormais que exploram financeiramente pessoas desesperadas sejam enviados para campos de trabalho forçado…”

Independentemente da sua posição sobre campos de concentração, há de se convir que tem um pouco para os dois lados no argumento de Zé Bovino. Mas é um meio termo? Mesmo se Zé Ruela aceitar a ideia, ainda seria uma violação dos direitos humanos. Mesmo se Somir aceitar, ainda sim não puniria o misticismo em geral… Estelionato já é crime. Os dois pontos originais não fazem mais parte do argumento.

Se ainda sim ficou confuso (essa é complicada mesmo), pense numa mulher se dizendo “ligeiramente grávida”. Gravidez não é um conceito parcial, ou a mulher está, ou não está.

Procurar meio termo onde ele não é possível gera uma ideia ilógica (dentro da discussão), mas muito capaz de agradar as duas partes. Esse é o perigo… E como é de costume que quem cometa essa falácia queira fazer algo positivo, cuidado ao reagir negativamente. O segredo é pegar o “ponto que não pode variar” e ficar nele até essa falácia morrer de morte natural.

NON-SEQUITUR

Non-Sequitur vem do latim “Não Segue”. É uma das, senão a falácia mais usada de forma não intencional por aí. Como o próprio nome diz, a “non-sequitur” ocorre quando a conclusão das premissas não tem porra nenhuma a ver com elas. Num exemplo divertido: “Peixes nadam, aves voam… portanto, macacos andam de bicicleta”.

Sim, isso foi um exagero incrível, mas é excelente para demonstrar a fisiologia de uma falácia tão comum. Você tem premissas lógicas razoáveis, mas conclui algo nada a ver delas. Evidente que não vai ser tão fácil assim reconhecer uma no dia a dia, mas vamos tentar usar mais um exemplo, bem mais sutil:

Exemplo: “Maria Ruela diz que homens tem mais testosterona, e que testosterona aumenta o desejo sexual. Portanto, ela defende que os homens são todos canalhas.

Por mais que eu saiba que 99% das leitoras vão concordar cegamente com essa afirmação, ela é ilógica (talvez por isso…). As premissas, por mais razoáveis que sejam, não sustentam a conclusão. Desejo sexual aumenta a propensão de canalhice? Definiu canalhice? Eliminou causas adicionais? Considerou exceções? Pode até ser uma opinião bacana de soltar numa conversa de “tapinhas nas costas”, onde se sabe que vão concordar com você, mas é uma desgraça para convencer dissidentes. Muitas discussões desabam prematuramente por causa de non-sequitur. Quem solta a falácia acredita estar correto por motivos alheios ao que argumentou, quem rebate tem a sua frente um argumento furado. Conversa de maluco!

Quando a conclusão confirma nossas opiniões, o risco de deixar passar reto uma falácia tão óbvia quanto o non-sequitur aumenta consideravelmente. Essa falácia também costuma aparecer de forma inversa, quando alguém tenta justificar um ponto de vista confrontado. A pessoa acha que está explicando sua ideia, mas na verdade está apenas colocando premissas perdidas no meio de uma discussão.

Non-sequitur é mais comum do que se imagina. Cuidado. Para desarmar, FUJA da conclusão como o diabo foge da cruz e fique só nas premissas. O segredo aqui é descobrir o caminho não mencionado que a outra pessoa fez para chegar até aquela conclusão. Que ela é ilógica está claro PARA VOCÊ.

PRETO E BRANCO

OU você concorda com uma coisa, OU você concorda com o completo inverso dela. É o erro lógico complementar da falácia “meio termo”. É uma das falácias mais abertamente montadas como armadilha, porque provavelmente vai te complicar se você concordar ou discordar.

Perdoem-me o machismo, mas é um clássico feminino: “Se você não me ama do jeito que eu quero, você não me ama”. Sim, o exemplo está bebendo um pouco da fonte da falácia emocional, mas o foco aqui é polarizar as respostas possíveis. Ou é uma coisa, ou é outra. O cidadão aqui fica sem escapatórias, já que qualquer resposta que não confirme uma expectativa de reação obrigatoriamente cai no lado oposto.

Mas nem só de chantagem emocional barata vive essa falácia, na verdade, ela é muito comum na maioria dos assuntos “universalmente polêmicos” como religião, política, sexo, futebol… Se você é ateu, você não segue os preceitos morais religiosos; se você não vota no PT, defende as elites contra os pobres; se você não acha uma mulher bonita, você é viado…

Também parece escorregador, mas atenção à polarização: OU é uma coisa, OU é outra. Essa falácia é colocada de forma clara por quem está aplicando-a. Não se presume nada, apenas te faz escolher. Seguindo os exemplos do parágrafo anterior:

“Você é religioso ou não segue nenhum código de moral?”, “Você vota no PT ou quer mesmo é explorar os pobres?”, “Você acha essa mulher bonita ou gosta mesmo é de macho?”. Se sua resposta é nem uma coisa, nem outra, você está lidando com uma falácia preto e branco.

Fácil de explicar, fácil de perceber, fácil de fazer… Mas e para se livrar disso? Ninguém disse que seria tudo fácil. Para escapar dessa armadilha, você tem que explicar seu ponto sem responder a pergunta. E é aí que a coisa engrossa: Porque a pessoa vai continuar te perguntando a mesma coisa… Dê qualquer munição e a pessoa te encaixa numa das categorias que acabou de inventar.

E no caso (comum) de ser alguém incapaz de seguir uma discussão racional, ela vai usar sua negativa de responder para auto-proclamar vitoriosa. E se o público também não for muito… brilhante, vai parecer que você perdeu mesmo.

Minha dica: Não negocie com terroristas. Gente que argumenta com essa falácia não merece o prazer de avançar uma discussão. Seja firme, não entre no jogo dela.

RED HERRING

Red Herring é uma falácia baseada em distrair o adversário no meio de uma discussão. O nome dessa falácia se refere a um tipo de peixe preparado de forma especial, cujo processo o deixa com um cheiro forte e aspecto avermelhado. Mas ênfase no cheiro forte… O cheiro que mascara outros cheiros ao seu redor. Em português, o nome mais comum para essa falácia é “Olha o avião!”. Vamos usar um exemplo bem didático:

MARIA RUELA: Onde você estava a noite passada?
ZÉ RUELA: Olha o avião!
MARIA RUELA: Onde?
ZÉ RUELA: Perdeu…
MARIA RUELA: Sobre a noite passada…
ZÉ RUELA: Boeing!
MARIA RUELA: O quê?
ZÉ RUELA: Acho que era um Boeing.
MARIA RUELA: Como você sabe que era um Boeing?
ZÉ RUELA: O formato das asas… Você sabia que eu já fui piloto?
MARIA RUELA: Sério?
ZÉ RUELA: Sério. *sorriso falacioso*

O exemplo foi cretino, mas é muito importante que não confundamos Red Herring com Espantalho. Apesar dos dois desviarem o foco da discussão, criando outro argumento, no Red Herring não há a menor necessidade de se desvirtuar algo que a outra pessoa já está dizendo. Imagine um pai distraindo a atenção do filho pequeno com a promessa de sorvete logo após uma incômoda pergunta sobre sexo, ou qualquer desenho do Pernalonga!

Mas é claro que não precisa ser non-sense, Red Herring pode ser escrotamente parecido com uma discussão lógica, desde que se misture discretamente com a argumentação original. Não sou de fazer isso, mas vou transcrever um exemplo perfeito encontrado no ceticismo.net:

“Você pode até dizer que a pena de morte é ineficiente no combate à criminalidade, mas e as vítimas? Como você acha que os pais se sentirão quando virem o assassino de seu filho vivendo às custas dos impostos que eles pagam? É justo que paguem pela comida do assassino de seu filho?”

Se a pessoa ouvindo ou lendo isso entra na discussão sobre as vítimas, o argumento original deixa de ser tocado. No lugar dele, um provável tema mais seguro para quem está usando essa falácia. Existem duas boas formas de lidar com essa falácia:

  1. Ficar no assunto original, ignorando o desvio ou dando um corte seco com uma resposta curta;
  2. Separar a discussão em tópicos. Assim cada um deles é resolvido à parte. Em texto é bem mais simples, mas dá para fazer “ao vivo” também. Basta deixar claro que reconheceu o novo tema e que vai tratar dele assim que terminar a discussão já iniciada. A outra pessoa fica amarrada, porque você pode “cantar vitória” sobre o ponto do qual ela fugiu se ela insistir em ir para o desvio. É meio babaca essa coisa de se pronunciar vencedor, mas tem uma margem de acerto enorme nesses casos.

TU QUOQUE

Ou, “Você também”. Dizer que uma pessoa também faz uma coisa que está criticando não significa necessariamente que a crítica não tem fundamento. No máximo, explicita hipocrisia. Esta falácia vai aparecer muitas vezes no meio de qualquer discussão com uma carga emocional mais pesada.

Tu Quoque é clássico de DRs (Discussões de Relacionamento). Comum que os dois membros do casal troquem acusações sobre o mesmo comportamento, mas que no final das contas não cheguem a conclusão nenhuma. Oras, falácia existe para isso mesmo.

O tema de uma discussão dificilmente é sobre QUEM está fazendo, é sobre O QUE ela está fazendo e suas implicações. A não ser que você seja um detetive, suas argumentações dificilmente passarão pela necessidade de descobrir se alguém faz ou deixa de fazer algo.

Mesmo a pessoa mais hipócrita do mundo pode estar certa. O argumento é soberano, como já tratamos na falácia Ad-Hominem. Dizer “você também” pode até ser agradável numa briga, mas não resolve porra nenhuma. Tu Quoque costuma vir de quem está na defensiva, e se livrar disso tem uma carga extra de cuidado para não deixar a possibilidade de conciliação ainda mais distante… Funciona admitir o erro (se for o caso) e usar a auto-crítica para sentar a pata (mesmo que com carinho) em quem está usando a falácia. Você critica a pessoa se criticando… É perfeito para desarmar situações críticas.

E se você NÃO for culpado do mesmo crime, a outra pessoa está mentindo ou enganada mesmo. Resolva como resolveria normalmente. Às vezes nem vale a pena desmentir…

FALÁCIA DAS FALÁCIAS

E para acabar esse giro pelas falácias, uma das mais divertidas: A falácia das falácias. A ideia é simples: Apontar uma falácia NÃO é um argumento. Você ainda precisa desenvolver sua ideia. Gente que responde numa discussão só apontando as falácias não está exercendo sua retórica e não vai chegar a lugar algum.

Exemplo: “Zé Reaça diz que Somir não pode defender a descriminalização do aborto porque é ateu. Somir responde apontando Ad-Hominem e Non-Sequitur na argumentação de Zé Reaça… Zé Reaça reage explicando por que não são falácias…”

E o argumento? Pra onde foi? Apontar falácia pode ajudar em alguns casos, mas até onde eu já experimentei, responder desarmando-a sem avisar que a percebeu é muito mais produtivo para o assunto. Apontar falácias por apontar é preguiça, desinteresse ou distração.

E por enquanto é só. Se faltou alguma que você acha importante, OLHA O AVIÃO!

Para dizer que agora começou a entender por que todas suas DRs não dão em nada, para reclamar que a “falácia das falácias” cortou seu barato, ou mesmo para perguntar onde diabos está esse avião: somir@desfavor.com

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Comments (82)

  • Acabei de ler as outras duas partes que faltavam sobre as Falácias. Sinceramente, uma das melhores séries do blog. Pena que aplicá-las exigem condicionamento e práticas argumentativas avançadas… resumindo, dá muito trabalho reconhecer e utilizar todas. Melhor gravar as principais e usá-las quando se cansar de argumentar…

  • Bruno Vasconcelos

    Pena que acabou a coluna :\ Agora eu sei que soltava falácias sem nem ter o conhecimento delas.
    Adoro o exercício de discutir e o faço com frequência. Falácias comprometem a argumentação, mas em uma discussão o que mais importa é o meio e não o fim, entro nessa mais pelo exercício de persuasão do que para ser acrescentado em algo, isto vem como consequência da troca de idéias, te deixando mais forte pra próxima.

  • Nesse tempo que acompanho o blog, acho que o meio-termo é disparado a modalidade mais frequente. Foi por temor de cair nele que me abstive de dar um posicionamento quanto à questão de ser gentileza ou obrigação levar a mulher para casa.

    De resto, na veia a descrição do Red Herring. É com o que mais me deparo aqui no trabalho e, pior de tudo, influencia em muito nossa linha de trabalho…

    • Olha, mesmo com essa nossa veia “do contra” aqui no desfavor, dá para perceber que BOA parte dos textos, tanto os meus quanto os da Sally, são um jogo de equilíbrio tênue entre bom senso e falácia meio-termo.

    • Somos duas. Comecei a escrever umas 3 vezes uma resposta para esse texto mas me enrolei mais do que respondi. E desisti.

  • OFF OFF OFF OFF OFF OFF OFF OFF OFF OFF OFF OFF OFF OFF OFF OFF OFF OFF

    Acabo de receber meu prêmio COF COF
    A noite eu posto foto. Até lá fiquem curiosos :)

  • Rorschach, el Pistolero

    Ótima série, Somir. A lição que tiramos é não deixar o cérebro em modo automático numa discussão, ou podemos usar e/ou aceitar uma falácia.

    • E a não ser que você use uma falácia para pentelhar a outra pessoa, nem é tão divertido assim. Discussão falaciosa cansa…

  • Hugo morando na Espanha com alienação quanto ao Brasil

    Fiquei intrigado quanto a falácia do ‘meio termo’, corriqueiramente a uso sem perceber, no anseio de colocar um contraponto razoável.

    No mais, fechou esta série muito bem. Muitos bons todos os 3 textos.

    • Eu vivo tomando bronca de outros seres humanos por tentar relativizar o que consideram “inrelativizável”, e surpresa: às vezes eles estão certos. Quando você se treina para tentar convencer esquimó a comprar geladeira, as áreas cinzas começam a ficar cada vez maiores…

  • Mesmo que eu não participe efetivamente de muitas discussões, porque prefiro evitar a fadiga, conhecendo esses mecanismos pelo menos vejo as discussões dos outros e sinto vergonha alheia de quem fala coisas como “Quem é você pra dar opinião, usando esse avatar de personagem do Dragon Ball?”. Quem sabe um dia eu tome coragem pra me intrometer. :P

  • Somir, tenho dificuldade em rebater uma falácia quando discuto sobre crimes e criminosos:

    “E se a vítima fosse alguém de sua família, você pensaria a mesma coisa”?

    Acabo dizendo que não, que se fosse assim minha visão é completamente diferente porque teria o componente emocional. Mas a pessoa com quem estou debatendo sempre se acha vitoriosa quando dou esta resposta, e eu ODEIO isso!
    Que tipo de falácia é esta?

    • Somir, se não fosse abusar demais da sua boa-vontade, queria uma ajuda personalizada também:
      COMOFAS pra discutir com HOMENS sobre aborto? Porque acho simplesmente patético e tenho vontade de enfiar a mão na cara de quem fica de “bebês são inocentes e não merecem morrer, suas assassinas, mimimi”, embora quando é uma mulher que fala isso eu continuo achando imbecil, mas respeito um pouco mais. Tenho vontade de falar NO UTERUS, NO OPINION, mas acho que não resolve. :(

      • Rorschach, el Pistolero

        Não foi voltado pra mim, mas posso me meter?

        Esse argumento “não é mulher, não se mete” é meio furado. Primeiro porque o problema do aborto é assunto de saúde pública, logo é da sociedade como um todo e não só das mulheres. Há um tempo atrás eu ouvi um amigo provocar uma feminazi com um argumento espinhento: “se a decisão do aborto é exclusivamente da mulher, por que na hora de pedir pensão vocês dizem que ‘não fizeram o filho sozinho’?”.

        Agora, sobre discutir sobre aborto, eu costumo falar o seguinte: a vida não começa até o feto começar a ter atividades cerebrais. Antes disso, o aborto não é pior do que a camisinha, a pílula do dia seguinte e outros métodos anti-concepcionais. Depois disso, já fica mais arriscado pra saúde da mãe também. Fique nesse argumento até alguém surgir com uma resposta que faça sentido. Até hoje funcionou.

          • Rorschach, el Pistolero

            Sally, não discordo. Acho que é fácil pra um homem falar quando não é ele obrigado a carregar um filho na barriga por nove meses, experimentando tantas mudanças fisiológicas. Porém, acho que o argumento que a Daniela citou é algo que provém mais da cultura/conhecimentos/religião da pessoa do que do seu sexo.

        • Sim, eu sei que é furado e o evito, justamente por isso queria sugestões de como contorná-lo. Obrigada. ;D
          Se a vida começasse no primeiro minuto da concepção, usuárias da pílula do dia seguinte e do DIU iam ser criminosas também, veja você.

        • Ah, favor usar o termo “feminazi” apenas para se referir a membros do Femen, já que a sua ~líder~ no Brasil, Sara Winter, realmente é bem simpática ao nazismo, hahaha!

          • Rorschach, el Pistolero

            Ok, vou usar “feministóide” ou similares a partir de agora.

            Ah, espero que não tenha achado que “feminazi” era algum tipo de indireta ou coisa assim.

            • Não, não achei não.
              É que eu sempre fico com um pé atrás, as pessoas tem uma ideia errada do feminismo EM GERAL (porque todo movimento sempre tem um punhado de babacas queima-filme), acham que estão querendo a supremacia feminina, que é “machismo ao contrário”, etc.

        • Rorschach, o seu amigo usou um argumento falacioso, isso sim.
          Não há como comparar o dever de gerar uma criança com o dever de sustentar.

          Aliás, em grande parte dos casos em que o pai é obrigado a pagar pensão alimentícia ao filho, este é o único dever com o qual ele arca (sustento, ainda que parcial), ficando a cargo da mãe o dever de criar e educar…

          Se a responsabilidade quanto à criação de uma criança se resumisse ao dever de sustento, eu não seria favorável ao aborto.

          • Rorschach, el Pistolero

            Thaisa, eu concordo com você. Porém, a perguntinha maldosa levanta um ponto interessante: o filho não é só da mulher. O corpo, sim. Mas o filho não.

            Na verdade verdadeira, a pergunta serve mais para a discussão num ponto pessoal (maridoxesposa) do que num ponto coletivo (aborto na sociedade). Você acha que o marido não deve opinar sobre a decisão de fazer ou não um aborto?

            • Acho que opinar sim, mas querendo ou não, por mais que o homem ajude, tem coisas que só competem à mulher, vide Desfavor Explica: Gravidez.
              Como li em algum lugar esses dias: “o aborto pro homem JÁ existe, ele pode simplesmente sumir e deixar a mulher sozinha com a criança”. Os anti-aborto falam como se todo homem fosse implorar pra mulher ter o filho e ela, um ser maligno, vai lá e aborta essa criança tão desejada pelo ex-futuro pai, e eu fico me perguntando EM QUAL PLANETA, exatamente, esse povo mora.

            • Claro que o marido deve opinar!

              Sinceramente, acho esta situação uma das mais difíceis de resolver quando o marido e a esposa discordam. Em todo caso, vai dar merda, independentemente da decisão.
              * Sally, visualizei o caso da Cristina e do Owen (Grey’s Anatomy)

              • Eu acho que em qualquer caso, se forem pessoas éticas, quando UM não quer não tem que ter. Mas é raro encontrar gente assim.

                Dentre as várias escrotidões que se podem fazer com uma pessoa, uma das mais graves é obrigá-la a ter um filho que ela não quer.

      • Bom, o Rorschach levantou o ponto de que “no uterus, no opinion” não é realmente um argumento válido, e você mesma concorda com isso.

        O resultado disso é que dizer que um homem tem menos subsídios para formar uma opinião sobre o aborto em geral é uma falácia Ad-Hominem. Não é QUEM está falando que muda O QUÊ ela está falando.

        Portanto, a argumentação deve ser sobre o aborto e liberdades pessoais.
        Eu já fiz esse trabalho de responder para alguém sobre o assunto, se encontrar algo que ajude: Fala Desfavor!

        Sally também já escreveu um excelente texto sobre o assunto.

        • Sim, eu sei que isso é Ad Hominem e faço um facepalm interno quando vejo alguma “aliada” usando esse “”””argumento””””, e estou trabalhando mentalmente para nunca usá-lo.
          Eu já tinha lido o Desfavor Explica da Sally (minha vontade foi de sair colando-o nos postes da cidade), mas não lembrava do seu Fala, Desfavor, obrigada. :D

      • Sou da opinião de que o aborto deveria ser permitido até os primeiros meses de gravidez.
        Nesse ponto, não há um feto ainda.
        Se não há um feto, não há um filho ainda.
        Se não há um filho ainda, foda-se a opinião do homem, é apenas uma extensão do corpo da mulher.

        Passou dos primeiros meses, as obrigações e opiniões DEVEM ser divididas.

        • Sim, acho lindo como esse povo acha que um amontoado de células sem sequer cérebro e sistema nervoso é um ser humano. Provavelmente nunca ouviram falar em morte cerebral também.
          E eu fico comovida quando vejo pessoas sensatas e inteligentes como você e os Impopulares em geral, me dá esperança que a ignorância é a exceção, e não a regra.

          • A lei de transplantes no Brasil permite que se MATE (desligue os aparelhos) uma pessoa com morte cerebral. Se pode matar um ser formado com cérebro que não funciona, porque não pode “matar” quem nem cérebro tem?

      • Dá até vontade de jogar um “olha o avião” no sentido humorístico… Tipo “Avatar é do Dragon ball? Pelo visto o amigo aqui não conhece os desenhos.”

      • Manda uma assim: Engraçado que depois que os filhos nascem, os pais não dão atenção nem querem pagar pensão para os pobres inocentes. Quer dizer que morrer não podem, mas ficarem abandonados podem, neah!

        • É, e o povo fala “Deixa nascer e depois dá pra adoção”, porque OBVIAMENTE vivemos dentro do filme Juno, né.

          • Eu não consigo me desfazer nem de filhote de cachorro, quem dirá de um filho que já nasceu… ainda mais depois de suportar meses de hemorroida e tudo mais

    • Não é uma falácia porque não é um argumento, nem mesmo um furado. O argumento está implícito, vai vir logo na sequência, mas ainda não é um…

      É uma pergunta. A falácia mais perto disso é a “pergunta carregada”, a que coloca a resposta no meio da pergunta. Mas nesse caso, é só uma pergunta.

      Parece que eu estou sendo só espertão e desviando do assunto, mas reconhecer essa diferença ajuda a não gastar munição antes da hora.

      Eu, por exemplo, respondo que não. Que se fosse alguém da minha família, EU queria que ela apanhasse/morresse. Mas não queria que ninguém assumisse esse fardo… O ódio é meu, e ele é indivisível.

      Quando aí sim vier o argumento, aí sim vem uma resposta:

      O Estado não é uma pessoa, o Estado não tem emoções, o Estado não se vinga. Se o Estado agir como uma pessoa, mais simples virar ditadura ou monarquia absolutista, que pelo menos é mais honesto.

      • Obrigada. Eu detesto quando me colocam numa posição de dar um argumento emocional numa questão racional. Não é a mesma coisa e receio parecer hipócrita, mesmo não sendo. É como se eu caísse toda vez na mesma armadilha, sabendo que é uma armadilha.

  • Muito legais os textos sobre falácias, não conhecia a maioria e provavelmente não irei lembrar também na hora. Acho uma coisa muito conceitual, teórica.

    O fechamento diz meio que isso, pois se você não for apontar a falácia dando seu nome , pra que saber o nome? E achar que no meio de uma discussão você vai ter clareza pra identificar a falácia, classificá-la e saber como reagir….acho difícil…

    Na prática?
    – Lógica, lógica e mais lógica. Desmonta quase todas as falácias.
    – Estar presente. Significa realmente prestar atenção de maneira honesta na discussão. É muito difícil fazer isso.
    – Se ater obsessivamente ao assunto original, tratar qualquer desvio como falácia até prova em contrário.

    E como discutir logicamente com quem não conhece ou não aceita a lógica? Esse é o maior problema pois a maior parte das pessoas é assim. Se alguém não segue um raciocínio lógico pra tocar sua vida como vai usar lógica numa discussão?

    • Conceitual, teórico? Não se trata de um campo de estudo avançado da matemática, é comunicação humana. Coisa que usamos e abusamos no dia-a-dia.

      O texto fecha com a falácia das falácias justamente porque não é minha sugestão que as pessoas decorem nomes de falácias, e sim que se acostumem aos arquétipos de argumentos furados que existem por aí.

      Comunicação humana não deixa de ser reconhecer e reagir a padrões oriundos dos nossos interlocutores. Direito seu achar que os textos foram mera curiosidade, mas reconhecer padrões como mudança de foco da discussão, fabricação descarada, injeção de elementos estranhos, ataques pessoais e coisas do gênero ajuda a entender mais do que as palavras que a outra pessoa está soltando… ajuda a entender o conjunto da comunicação dela. De onde ela está vindo, como ela está montando suas ideias…

      • Já tinha comentado anteriormente, pessoalmente não consigo usar os conceitos de maneira prática, então pra mim é difícil usar literalmente as falácias que você postou. E uma dificuldade minha, e comentei como tento superá-la na prática.

        A conceituação é importante, eu mesmo uso o tempo todo, mas na hora da prática simplesmente não dá tempo de recorrer a ela. Você tem que ter aquilo meio que introjetado no seu cérebro. E para aprender eu sou mais prático – o que torna as coisas mais lentas – mas fazer o que?

        Quanto mais o tempo passa mais acredito em simplificar. Quanto menos regras confiáveis para seguir melhor. Menos subjetivismo, mais produtividade e assertividade.

        De resto a série foi excelente, das melhores por aqui. Aliás a semana foi bacana…

        • BioniCão pense o seguinte: veja o discurso QUE VOCE PRODUZ como um sistema lógico composto por sujeito + verbo + predicado. Começe a pensar nas possíveis relações que se estabelecem entre sujeito e verbo, verbo e predicado etc. Não to falando só no sentido gramatical da coisa, mas pense no processo, na “maneira” como tu está construindo teu discurso, tua argumentação. Pense também de maneira esquematizada, de como essa sua produção pode talvez se encaixar em alguns dos mecanismos de falácias aqui citados.

          • Putz Ge, eu realmente tenho dificuldades pra fazer esse tipo de análise.

            Às vezes penso que devo ser bem burrinho mesmo pois realmente não consigo entender coisas como processo de construir o discurso, relações que se estabelecem entre sujeito, verbo e predicado e outras assim. Ou talvez eu seja mais inteligente? Vai saber….

      • É, eu acho as falácias muito interessantes pois querendo ou não elas muito tem a ver com a análise do discurso, principalmente da linha francesa. É legal estudar por exemplo de onde vem aquele tal ou tal discurso ou argumento que a pessoa está usando, e como o Somir disse “como ela está montando suas ideias”, o porque de defender tal ou tal posição… enfim! Em certa medida chega talvez a ser um estudo comportamental!

  • Larrisa abre "Eu amo Falacias" no Facebook

    Essa porquera de falacias de novo??!! Coisa chata….

    Hein….essa RED HERRING se refere a quando você conversa com sua namorada falaceeeiinha, verdade??!! :OD

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