Somir Surtado: Se acha.

sosur_seacha

Normalmente eu não escrevo muito sobre relacionamentos, pelo menos não em colunas solo, por achar um assunto meio… plebeu… demais. Mas certos comportamentos repetitivos das pessoas nesse campo realmente merecem a devida atenção. Hoje eu quero falar sobre a maldita ideia de não querer que seu companheiro(a) ou pretendente a tal… “se ache”.

Vamos primeiro traduzir a expressão do “gentinhês” para uma linguagem mais culta: “Se achar”, segundo a gentinha que profere a expressão, significa ter sua autoestima elevada. Essa mesma gentinha botou em sua cabeça, sabe-se lá o motivo, que isso é algo perigoso para o seu próprio bem estar e até mesmo a longevidade das relações afetivas/sexuais que mantém.

Sei que isso vai cutucar muita gente que lê o desfavor, e que esse povo vai tentar explicar a expressão da melhor forma que puder para adicionar os conceitos de abuso e indiferença. Peço para que esperem pelo menos até o final do texto para estarem errados. Sabe como é, ainda tem chão por aqui…

Se você se preocupa com a manutenção da autoestima de seus parceiros num nível mais baixo, você é uma pessoa horrível e seja lá quem está perdendo tempo com você deu um azar dos grandes. Tentar evitar que seu parceiro “se ache” não tem fundamentação lógica, é apenas uma coisa que gentinha insegura faz para infectar mais e mais pessoas com sua mediocridade e talvez se sentir melhor no final do dia.

Vejam bem, não estou fazendo uma crítica a gente mais fechada, com dificuldades de fazer elogios e ser… agradável em geral. Até porque seria atirar no meu próprio pé, estou levantando especificamente o ponto de sair do seu caminho para diminuir a autoconfiança da pessoa com a qual você se relaciona por alguma racionalização cretina sobre possíveis benesses da prática.

Elas não existem. Qualquer tentativa de desestabilizar a segurança e a confiança de seu(sua) parceiro(a) é uma situação lose/lose. Perde você e perde quem está preso na sua teia de insegurança. Você ganha mais convivendo com uma pessoa segura de si, você se valoriza mais quando não diminui artificialmente o mérito da outra pessoa. Se sentir bem e seguro num namoro/casamento não é sinônimo de arrogância e desinteresse. Essas partes ruins surgem por outras razões.

Tem gente tão lesa da cabeça que rejeita pessoas dando em cima dela mesmo estando interessadas… só por causa dessa merda de “se achar”. Mulher tem muito dessa mania: Ao invés de usar um parâmetro próprio para definir quem vai conseguir algo com ela ou não, usa regrinhas cretinas como “número de encontros” ou padrões “Disney” de atitudes do sexo oposto que realmente valem dar prosseguimento ao flerte.

Ignorando completamente todas as vantagens de lidar com uma pessoa com a confiança lá no alto. A pessoa fica mais espontânea, honesta (depois não adianta reclamar que homem é tudo mentiroso) e proativa quando acha que está mandando bem. Fica um momento mais agradável para o casal em prospecção, e ajuda inclusive a perceber furadas possíveis: Uma pessoa insegura evita mencionar qualquer coisa que possa estragar sua imagem, uma pessoa achando que pode mais acaba entregando alguns de seus defeitos. Inflar o ego alheio é uma tática milenar de arrancar informações!

Mas, não… sob o pretexto de valorizar o próprio passe, tentam manter a outra pessoa tensa e desesperada para agradar. Parece até que preferem escutar mentiras… Ou mesmo encarar um possível sexo de pior qualidade. Gente segura de si manda MUITO melhor entre quatro paredes. Não precisa do nerd aqui dizer para vocês, né? E pior: ainda acham que é isso que vai definir se são vistas como fáceis.

Dica do Somir: Mulher fácil não é aquela que dá quando gosta do cara, não é aquela que dá quando quer dar… mulher fácil é aquela que dá porque não tem mais merda nenhuma para oferecer. Ela é fácil porque não exige esforço real de quem quer fazer sexo com ela. Meia dúzia de regras arbitrárias são mero contratempo para um homem, não é esforço de verdade. Se ele percebe que poderia ser substituído por quase qualquer outro homem com basicamente o mesmo resultado, ele vai considerá-la fácil.

E, posso ser honesto? É difícil ser uma mulher difícil… pra isso precisa ter alguma coisa acima da média entre as outras mulheres. Inteligência ou beleza excepcionais tornam mulheres mais difíceis, com grande vantagem para inteligência. Pegar mulher com a profundidade intelectual média é uma tarefa no máximo tediosa, mas não é difícil. “Esteja lá, espere a abertura e ataque”. Quase sempre é só isso. Pra quê fazer pose de difícil se basta ter tomado banho no dia (e olhe lá!), saber falar sobre o tempo e ter um mínimo de paciência para te convencer a fazer sexo? Todo mundo perde… você perde diversão e os homens perdem tempo.

Mas, voltando ao foco: Sabe quando o médico começa a apertar uma parte do seu corpo e te diz para avisar quando doer? Ele quer saber onde está o problema e agir de acordo. Num encontro ou num flerte ocasional, é muito importante que as pessoas indiquem o que dá certo ou não para que a outra possa se adaptar. O cidadão está mandando bem e a “miss não se ache” não indica? Que merda! Parece até que gosta de sofrer…

Tudo para evitar que a outra pessoa se sinta confiante e ache que está te ganhando? Porra, mas esse não era mais ou menos a função de todo o processo do flerte? Se vai em frente, vai em frente. Se não vai, cada um pro seu canto e vida que segue. E olha que aqui eu ainda estou só reclamando por chatice, não é lógico evitar que a outra pessoa “se ache” nessa hora, mas vá lá, cada um se diverte da sua forma (mesmo que seja pentelhando os outros). A outra pessoa no máximo fica frustrada por um curto período de tempo. Loucura relativamente inofensiva.

Mas quando essa mentalidade de sabotagem da estima alheia se encontra com um relacionamento mais estável, começa a escrotice mais danosa: A incitação da insegurança no(a) parceiro(a). Adivinha se algum relacionamento de sucesso se baseia nisso? Pois é. Mas vale tudo desde que a outra pessoa “não se ache”, né? Porque isso que vai impedir abandonos e traições, né?

Né não. Falo por mim e com certeza por vários outros homens: Se a mulher com quem você está sabe puxar seu saco e te fazer se sentir um misto de herói com máquina de sexo, qualquer aposta que possa render o fim do relacionamento fica MUITO menos interessante. E tenho segurança que isso vale para mulheres também… bico doce te leva longe nessa vida. É de uma burrice incrível baixar a bola da pessoa com a qual você se relaciona. Diminui o valor do relacionamento e ainda tem implicações na qualidade de vida/sexo.

Não se valoriza o próprio passe desvalorizando quem quer comprar. Estar com uma pessoa segura que PODE sair do relacionamento a qualquer momento, mas ESCOLHE ficar com você é incomparavelmente melhor do que ficar encanado o tempo todo com a manutenção das amarras sobre outra pessoa. Quem quer ir embora vai, quem quer trair trai. Qualquer resultado que segure a outra pessoa contra sua vontade real é uma derrota daquelas.

Depois não sabe por que os relacionamentos ficam na merda. A outra pessoa TEM que “se achar”! Ela tem que achar que está ganhando no relacionamento, não apenas deixando de perder. O lado negativo, aquele que faz alguém achar que um namoro ou casamento está garantido e pode fazer qualquer merda… isso tem mais a ver com perder o medo da consequência.

E a consequência está intimamente ligada ao valor que se dá ao relacionamento. Estar com alguém que sabe inflar seu ego e te deixar em paz na segurança de que está agradando e tem méritos? Isso agrega valor. Tem muita gente que parece que não entende que as outras pessoas são parecidas com ela, que também pensam e também tem suas necessidades. Não passa pela cabeça que o que funciona com ela deveria funcionar no(na) parceiro(a).

Tudo bem que tem gente por aí que deixa de entender o esforço e os méritos da pessoa com a qual se relaciona, mas isso NÃO é resultado de ego inflado. Isso é egoísmo, incapacidade de perceber as necessidades de outras pessoas. Tem gente que é mais egoísta mesmo, e precisa levar umas chamadas de vez em quando, não depende da autoestima do momento. Nunca vai depender da pessoa estar “se achando”.

Em questão de ego, muito ajuda quem não atrapalha. É o tipo da coisa que não precisa ser derrubada a não ser que você queira mesmo foder (no mau sentido) com a pessoa. Muito mais fácil resolver problemas quando se lida com alguém que está confiante. Embora o meu ponto de vista considere mais mulheres com essa mentalidade cretina por motivos óbvios, homem também costuma ser uma merda tão fedida para derrubar a segurança da parceira num relacionamento de longo prazo. E é a mesma base nefasta em ambos os casos: A insegurança pessoal usada como combustível para queimar a qualidade de vida da outra pessoa. Sem utilidade, sem função. Só pela escrotice de ver alguém por baixo para se sentir melhor com sua vidinha de merda. Pena que gente assim não vem com aviso tatuado na testa…

E só para fechar: A pessoa que “não se acha” tem os mesmos problemas da que “se acha”, mas é pior de cama.

Para dizer que eu estou me achando demais, para tentar relativizar a falta de lógica do comportamento usando exemplos que nada tem a ver com autoconfiança, ou mesmo para dizer que para eu escrever sobre algo que entenda melhor do que mulher (como teoria das cordas): somir@desfavor.com

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Comments (22)

  • Se acha quem é mal resolvido e precisa da máscara do orgulho e da vaidade que é apenas uma pseudo superioridade pseudo compensatória de uma inferioridade latente e patente.
    A verdadeira auto aceitação não precisa se achar. A auto estima saudável simplesmente se sente. E assim não sente falta de relacionamento algum, com seachismo ou não.

  • Olha, eu concordo que não querer manter a autoestima de seu companheiro em um nível saudável é jogar contra o relacionamento, e não a favor dele.

    Porém, eu creio que o excesso de elogios e demonstração de admiração não fazem bem. Algumas vezes quando você demonstra se importar demais, a pessoa cansa justamente por isso: ela inconscientemente conclui que todo esse excesso de zelo é insegurança sua, e pessoas inseguras não costumam ser muito atraentes e a coisa pode acabar desmoronando dependendo da personalidade do companheiro.

    Eu acho que o melhor é equilibrar: elogiar, demonstrar bastante afeição, admirar… Mas se preocupar se a quantidade desses atos de carinho guiam positivamente o seu parceiro na relação ao fazê-lo se sentir bem, ou se eles acabam por se transformar em meras necessidades tuas de paparicar o parceiro o tempo inteiro.

    Mas bem, é só minha opinião.

  • Assisto Esquenta na Globo; logo, tenho humildade saindo pelos poros! (Mentira, não quero pegar câncer no cérebro. Vão tomar no centro da pupila do olho do cu com essa forçação)

    Se a outra pessoa “se acha saudavelmente” em consequência do relacionamento que tem comigo, por que iria censurar essa atitude? Daí eu “me acho saudavelmente” também e isso resulta num bem estar mútuo… Sei lá, entende?

  • Rorschach, Eu Não Me Acho, Eu Sou

    O cidadão médio considera crime a falta de humildade. Assim, “se achar” é visto como pecado mortal pela humanidade.

  • Professor de Gentinhês

    SE ACHA não é uma gíria, é uma maneira de falar meio abreviada que todo mundo entende
    – Essa mina tá FAZENDO (cu) DOCE
    – Mas NEM (fodendo) que eu vou naquele lugar
    – PELO AMOR (de deus), não faça isso
    – Fulano SE ACHA (o melhor, o mais inteligente, etc…)

  • “É de uma burrice incrível baixar a bola da pessoa com a qual você se relaciona. Diminui o valor do relacionamento e ainda tem implicações na qualidade de vida/sexo”

    Penso em uma variação dessa burrice, em que a própria pessoa acaba baixando a própria bola em (um duvidoso) prol do relacionamento. Burrice da qual já fiz parte, confesso.

  • Acontece que o contato com alguém autoconfiante faz esse tipo de pessoa lembrar o quanto é medíocre – no pior sentido, pois sente o incômodo e não faz nada por si – e, num arroubo de “jenialidade”, prefere piorar o outro que se melhorar.

  • Larrisa Se Achando na Zooropa

    Eu tenho um sério problema com isso… principalmente aqui.
    Sempre que conheço uma pessoa que parece ser interessante, a mesma se mostra cheia de inseguranças e pior, quer me fazer sentir insegura também para que Ele possa se sentir superior e necessário.

    Eu sou do seguinte caso: Se o cara manda muito na cama: Eu elogio, faço suas vontades, trato como príncipe… Se não é: Eu desapareço.
    Não consigo fingir e nem me dou ao trabalho de ficar me achando pro outro.

    Se o cara é bacana comigo… eu confio. Se vejo que o cara tá de malandragem já coloco pra correr e pronto.

    Tenho tantas coisas na cabeça como trabalho, estudos, compras, aluguel, contas, familia… que pé no saco ainda ficar nessa de quem pode mais e todo o tempo competindo com quem deveria ser seu maior confidente e amigo.

  • Se a pessoa “se acha” nesse sentido de autoconfiança, concordo plenamente. Já fui idiota o suficiente para achar que gente segura demais é quem apronta, é difícil, blablabla (falta de autoconfiança minha) e percebi logo que isso é uma baita roubada. Vc acaba caindo no tipinho ameba (não tem vida própia, quer saber onde vc está 24 horas por dia, não consegue decidir o que quer jantar e que não acrescenta nada ao relacionamento). Horrível. MUITO melhor um relacionamento que os dois tenham o que dar e o que receber (sem trocadilhos).

    Só acho que nesses casos a pessoa não “se acha”, ela “é” mesmo. Para mim a classificação do cara que “se acha” é aquele tipinho chato que, na verdade, é super inseguro. Puta que pariu… a pessoa conta um monte de mentirada para parecer “O cara”, fica se comparando com outros, põe a culpa de tudo em alguém.

  • Esse tipo de relacionamento é doentio. Quem gosta e respeita uma pessoa quer que ela “se ache”, ressalta suas qualidades e a confiança em si mesmo é uma maravilha para a vida sexual de ambos.
    Mas temos exemplos diários de gente de merda que no fundo se sente um(a) bosta e tenta diminuir todos ao seu redor, não apenas em relacionamentos afetivos.

    Concordo com o Somir que isso ocorre muito com mulheres, principalmente as inseguras e frustradas.
    Mas o exemplo mais radical que tive desse comportamento foi de um homem, namorado da minha amiga (que agora é ex).

  • Somir, bem legal o seu texto tratando da questão do “se achar”.

    Tenho notado que o pessoal fica com essa pro meu lado, se projetando achando que eu me acho por fazer as minhas colocações, enquanto que nisso apenas me dou ao trabalho de sair da zona de conforto, questionando as colocações feitas naquela linha “advogado do diabo” que me é bem peculiar.

    E mudando de assunto, você concorda comigo que aquela parada do Canal do Otário tem cara de marketing viral. Parece coisa de quem é profissional na área publicitária.

    • Verdade. Não tinha pensado nesse lado.
      Quando se expõe uma ideia diferente, ou um questionamento, as pessoas ao redor não se dão ao trabalho de pensar junto. Pra elas é muito mais fácil dizer que tu ‘se acha’ por pensar algo ou por acrescentar alguma informação à conversa.

  • Perfeita sua conclusão. Realmente quem coloca o parceiro pra baixo tem ”baixa -estima” (acredite Somir ,a mesma corja que fala se sente,jura que o correto é baixa estima), afinal tirando a auto confiança do parceiro o mesmo não se verá em condições de sair do lugar onde se encontra , ou seja preso a esse relacionamento.

  • Está aí um exemplo de que pessoas muito controladoras e que sempre estabelecem relações de poder com os outros nunca me convenceram de que são bem resolvidas.

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