Des Contos: LEC VII – Conchavo.

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wat: A LEC é a Liga de Extermínio dos Crentes, entidade milenar sem fins positivos que já perseguia os cristãos antes mesmo deles serem denominados cristãos.

Já é noite em Roma, em meio a uma multidão de pessoas na plataforma de desembarque do Aeroporto Leonardo da Vinci, um homem checa insistentemente seu celular.

SOMIR: Porra! Duas horas? Não é possível…

Poucos minutos depois, um carro esporte vermelho faz uma manobra arriscada costurando por entre os outros veículos e avança sobre as pessoas esperando por ali. Com uma freada barulhenta, posta-se a milímetros de distância do que parecia ser uma certa vítima de atropelamento.

SOMIR: PUTA QUE PARIU! MALUCO!!!

O vidro dianteiro do carona começa a baixar, exibindo a curiosa figura de um homem de complexão mirrada, nariz avantajado, olhos escondidos por espalhafatosamente grandes óculos escuros.

HOMEM: Somir?
SOMIR: Carona?
HOMEM: Pode me chamar de Caio César.
MOTORISTA: Calígula!
C. CÉSAR: CALÍGULA É A CADELA DA TUA MÃE!
MOTORISTA: Hahahaha! Entra logo que o povo está encarando demais…

Devidamente embarcado no acanhadíssimo banco traseiro, Somir finalmente reconhece o homem ao volante.

SOMIR: Nero!
NERO: A gente se conhece?
SOMIR: Você me contou a história do Dia do Regresso…
NERO: Ah, sim… Bom, você já conheceu o Calí…
C. CÉSAR: Ahem.
NERO: Caio César. E me perdoe o atraso, a gente sempre se perde nessas ruas novas. Eu conhecia isso aqui com a palma da minha mão.
C. CÉSAR: Claro, você queimou tudo para refazer do seu jeito!
NERO: Ainda nessa? Você já estava morto! E ficou bem melhor…
SOMIR: Só uma coisa… Por que eu fui chamado com tanta urgência?
C. CÉSAR: O patrão que quis te chamar. Parecia importante.
SOMIR: Uau! O Patrão?
NERO: Calí… Caio… Daqui pro meu circo… Reto, né?
C. CÉSAR: O circo é MEU! Eu mandei fazer, você só deu o nome!
NERO: Novato, se um circo se chama Circo do Nero, quem você acha que é o dono? O Calígula?
C. CÉSAR: PARA COM ISSO!
NERO: Porque aí ia se chamar Circo do Calígula. Não Nero, mas CA-LÍ-GU-LA!

Caio César se joga sobre Nero, fazendo o carro quase bater num poste.

NERO: Maluco!
C. CÉSAR: Olha quem fala!
SOMIR: Oi… gente… oi?

Nero e Caio continuam discutindo acentuadamente o resto do caminho. Depois de quase uma hora de desvios e enganos, finalmente chegam ao destino. A cidade do Vaticano.

SOMIR: Aqui?
NERO: Aqui.
SOMIR: Mas você disse que era um circo!
NERO: Quando eu construí, era.
C. CÉSAR: Era… *fazendo aspas com as mãos*
TODOS: Hahahaha!
NERO: Novato, desce aqui que a gente vai parar o carro lá do outro lado, o Mica está te esperando ali, ó… *apontando*

Somir sai do carro e é logo abordado por um homem de estatura mediana, mas com braços enormes. Sua face era pontuada por uma frondosa barba divida ao meio.

SOMIR: Michelangelo?
MICHELANGELO: Somir?
SOMIR: Sim. Queria dizer que é uma honra te conhecer e… que eu nunca te imaginei na LEC.
MICHELANGELO: Tenta pintar a Capela Sistina sem fazer um acordo com o Diabo, tenta…
SOMIR: Justo. Desculpa o atraso, minha carona demorou mais do que o planejado.
MICHELANGELO: Que seja, vamos logo que o Patrão está doido te esperando!
SOMIR: Sério? Vamos, vamos!

Michelangelo vai passando pela forte segurança do Vaticano, ganhando acesso à parte interna da capela cujo teto decorou. Somir acompanha. Lá dentro, percebe uma grande reunião de membros da LEC, assim como um ainda mais numeroso grupo de cardeais vindos dos quatro cantos do mundo.

MICHELANGELO: Patrão, chegou!
SOMIR: Opa! Vim assim que pude.
PATRÃO: Finalmente! Eu preciso de sua ajuda!
SOMIR: Com todo o prazer, sempre me deixam de fora das reuniões mais impor…
PATRÃO: Hm-hum, claro! Dá um jeito naquele computador lá, travou.
SOMIR: Você me chamou… para… o… seu… laptop?
PATRÃO: Isso. Eu sei lá o que o Bum-Bum instalou, mas está tudo estranho, não consigo fazer mais nada. Resolve logo que eu preciso dele para contabilizar os votos.
SOMIR: Diabos!
PATRÃO: Pois não?
SOMIR: Nada…

Após Somir resolver o problema do computador com três cliques, o Patrão começa seu discurso:

PATRÃO: O novato já resolveu o problema. Podemos começar… Estamos aqui para começar a eleição do novo Papa. Já que alguém aqui não soube manter a saia abaixada…
P. BENTO XVI: É batina! O nome certo é batina!
PATRÃO: Quando a gente fundou isso aqui, os sacerdotes usavam CALÇAS!
P. BENTO XVI: Os tempos são outros!
PATRÃO: Eu mereço… De qualquer forma, segundo as regras definidas desde a fundação da Igreja, o Partido da LEC nomeou seus seis candidatos. O Partido dos Pedófilos deseja nomear seus candidatos agora?

Somir parece chocado. Um homem de feições delicadas e longos cabelos castanhos se aproxima:

HOMEM: Primeira vez numa votação papal?
SOMIR: Ele disse… Partido dos Pedófilos? Ah, desculpa… Somir. *cumprimentando*
HOMEM: Rafael, e sim, foi isso mesmo que ele disse.
SOMIR: O pintor?
RAFAEL: Que o Mica não me escute, mas quem pinta parede é pintor, eu sou um artista.
SOMIR: Ok, ok… Mas… mesmo ignorando o elefante na sala, desde quando a Igreja Católica tem partidos? Achei que ela era 100% nossa.
RAFAEL: E durante muito tempo, foi. Quando a gente mandava aqui, era orgia e bebedeira o tempo todo. Isso aqui já foi um pedaço do paraíso, sabe? Mas aí… eles chegaram.
SOMIR: O Partido Pedófilo?
RAFAEL: No começo era só um ou outro. Mas como a instituição era muito poderosa e a LEC ainda estava bem menos seletiva com seus membros, vários deles começaram a se enfurnar por essas bandas.
SOMIR: Certeza da impunidade?
RAFAEL: Exato. Quando percebemos, isso aqui estava tomado por pedófilos. Sabe como é, um conta para o outro… O resto do pessoal não gostou muito, começou a debandar.
SOMIR: Gente que usa religião para currar criancinha é maldade demais até para a LEC?
RAFAEL: É. Eca… Opa, minha vez de votar. Ô Doni, continua explicando aqui para o novato!

Um homem careca se aproxima.

DONATELLO: Opa!
SOMIR: Uau, a LEC leva arte a sério mesmo!
DONATELLO: Se dependesse dos crentes, não ia ter uma obra de arte que prestasse nesse mundo. Já viu o que eles chamam de música?
SOMIR: Verdade. Mas o Rafael estava contando sobre o Partido dos Pedófilos.
DONATELLO: Sim, eu estava ouvindo. Acontece que um belo dia percebemos que eles tinham tomado conta de tudo! Se expulsássemos os pedófilos, não sobraria quase ninguém para manter o projeto. De onde você acha que sai o dinheiro para financiar nossa operação? Sem contar que nada ajuda mais a difamar a imagem do Estraga-Prazeres…
SOMIR: Vocês superestimaram os fiéis. Mas… imagino que eles perceberam sua vantagem numérica.
DONATELLO: Pois é. Não demorou até ameaçarem entrar em greve a não ser que pudessem votar na escolha dos Papas. Os nossos indicados não eram muito fãs de acobertar essa baixaria toda.
SOMIR: E o Patrão topou?
DONATELLO: Ele achou que seria fácil manipulá-los. Mas essa gente aí está fora do alcance até mesmo do capeta! Adianta oferecer dinheiro e mulheres para eles?
SOMIR: Não me diga que…
DONATELLO: Digo! Eles ganharam TODAS as eleições até hoje. O Partido dos Pedófilos manda na Igreja Católica há séculos! Nem sei por que a gente ainda se dá ao trabalho de votar. Aliás, sei… orgulho é um pecado. Até parece que o chefe vai dar o braço a torcer.

Donatello parece perceber um conhecido na multidão.

DONATELLO: Léo! LÉO!

Um homem idoso, com cabelos e barba brancas se aproxima, sorridente.

LEONARDO: Doni!
SOMIR: Leonardo da Vinci?
LEONARDO: Sim. Você é novo por aqui?
SOMIR: Primeira vez no Vaticano.
LEONARDO: Isso aqui já foi tão bom… Pena que você esteja vendo agora que a turma das saias que dá as cartas.
SOMIR: Ah, uma dúvida… qual é a da fumacinha?
LEONARDO: Química. O Patrão tem um ritual para demonstrar seu desgosto pelas inevitáveis derrotas nas eleições. Ele joga todas as cédulas na lareira e… urina sobre elas. Carvão, enxofre e nitrato de potássio… fumaça branca.
SOMIR: Podia ficar sem saber disso. Mas e a roxa?
LEONARDO: Viadagem mesmo. Opa… Mica?
MICHELANGELO: Léo!
LEONARDO: Quanto tempo!
MICHELANGELO: Desde a última votação! Viram o Rafa por aí?
RAFAEL: E aí, gente?
SOMIR: *risada contida*
LEONARDO: O que foi?
SOMIR: Nada. Vocês formam um grupo muito interessante. A gente devia pedir uma pizza… *segurando o riso*
MICHELANGELO: Eu adoro pizza!
SOMIR: HAHAHAHAHA….

Os quatro se entreolham, confusos. O Patrão, visivelmente alterado, volta sua atenção para Somir.

PATRÃO: Você acha essa votação uma piada, mortal?
SOMIR: Não! *assustado*
PATRÃO: Isto aqui é um grande circo para você? HEIN?
NERO: Na verdade…

Para dizer que agora tudo faz sentido, para reclamar que foi muito texto para fazer uma piada tosca, ou mesmo para especular qual era a marca do laptop do Diabo: somir@desfavor.com

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