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Ele disse, ela disse: Quer que embrulhe?

| Desfavor | | 48 comentários em Ele disse, ela disse: Quer que embrulhe?

eded-embrulhar

Em tese, o casamento é uma declaração de monogamia. Em tese, todos deveriam fazer sexo “recreativo” com camisinha. Na prática, Sally e Somir discutem a relação entre as duas ideias e chegam – surpresa, surpresa – a clímax distintos . Os impopulares vão até o fim com suas opiniões.

Tema de hoje: Um casal casado deve fazer sexo só com camisinha?

SOMIR

Não, e eu nem gosto muito de defender esse lado. Não por insegurança sobre o ponto de vista que vou expor, mas pela facilidade de defendê-lo apostando na preguiça média do ser humano. Gosto mais quando a batalha é morro acima nessas colunas. De qualquer forma, introduzi. Vamos desenvolver… (eu prometi não fazer mais trocadilho com introdução, né?)

De forma alguma vou fazer pouco da importância da camisinha para nossa sociedade. Deve-se usá-la, pelo seu próprio bem e para o bem das pessoas ao seu redor. Evita doenças, e melhor que tudo, evita filhos! Jamais viria aqui para falar mal dela, muito menos pelos motivos irresponsáveis que a maioria das pessoas usa para desprezá-la até mesmo no sexo casual.

Dito isso, tenho enorme dificuldade de entender quem não enxerga claríssima vantagem para a modalidade “na pele” quando se fala de prazer, clima e intimidade. Camisinha é uma excelente invenção, mas compromete um pouco da graça do sexo em troca de maior segurança. Defendo que a troca é extremamente válida em diversas situações de nossas vidas, mas estendê-la ao casamento me parece protecionismo exagerado.

E antes que alguém venha pentelhar, não estamos argumentando se pode, mas sim se se deve. Se o acordo entre o casal for de usar camisinha sempre, força para eles! Errados com certeza não estão. Agora, a escolha de abdicar da “borracha” numa relação com presunção de monogamia não pode ser tratada da mesma forma como qualquer aventura sexual por aí.

Tudo tem a ver com a relação entre risco e recompensa. Se você quiser eliminar o risco, precisa adotar o celibato. Se você quiser recompensa pura, vai acabar pagando o preço mais cedo ou mais tarde. O que mais fazemos na vida é administrar esse equilíbrio. Se você está num casamento, não vai ter 100% de certeza que seu(sua) parceiro(a) vai ser fiel, vai estar sempre saudável ou mesmo que não vai forçar uma gravidez. Esse risco já é seu, com ou sem camisinha.

Não creio em santidade alguma, ainda mais a do casamento; mas há de se considerar que é um contrato bem mais sólido do que um caso qualquer. Há comprometimento, mesmo que tanta gente nesse mundo mude de ideia no meio do caminho. E se você quiser usar a escapatória de que as pessoas são podres e sempre vão trair, lembre-se que você também está afirmando que as escolhe. Foi mal, mas esse problema é seu e não do argumento aqui. E se você não entendeu, pare, releia e pense com calma.

Você decide dividir sua vida com a pessoa, você dá poderes para ela decidir sobre sua vida ou morte, oras! Casamento passa muito por abaixar a guarda e confiar em outro ser humano. Calma, não estou fugindo do tema: Sexo sem camisinha tem seus riscos e recompensas, e numa relação monogâmica estável os riscos ficam menores. Você sabe onde a pessoa dorme, oras! O risco nunca vai deixar de existir, mas se você quer a recompensa de fazer sexo sem camisinha, grandes chances do casamento ser a melhor oportunidade para isso!

Acredito que maioria das pessoas que tenham experimentado ambas as modalidades prefiram a sem camisinha (digo “acredito” por não estar citando dados, mas na verdade eu e quase todos vocês SABEMOS que a maioria das pessoas prefere sem camisinha). O sistema todo foi projetado sem essa camada no meio, o contato da pele e das secreções (eu adoro escrever secreções porque fica mais nojento para quem lê) gera diversas reações no corpo humano para deixar tudo ainda mais agradável.

Sexo com camisinha passa LONGE de ser o problema todo que a turma do “achei no lixo e como até puta sem” vive dizendo, mas a ausência dessa proteção é um plus, com certeza. Ninguém morre se não fizer sem, mas é parte integrante de nossa existência assumir alguns riscos por algo marginalmente mais divertido.

Seja pela sensação mais apurada, pela graça de poder fazer a qualquer hora, pela fluxo mais natural das coisas… ou mesmo pela diversão de vê-la correndo feito um pinguim até o banheiro, evidente que muita gente vai escolher a modalidade mais arriscada! Muito melhor fazer isso num ambiente controlado. Ainda mais porque casamento vem com uma série de problemas e responsabilidades que exigem compensações.

Doenças são um perigo? Sim, até mesmo num casamento sem traição. Mas não tapemos o sol com a peneira: raríssimos são os casos onde a camisinha entra em outra etapa que não a penetração propriamente dita (e às vezes depois de “molhar de pé”). Se o problema é mucosa com mucosa, precisa de um auto-controle quase robótico para evitar totalmente esse contato durante o sexo de um casal casado. Se doenças fossem REALMENTE o problema, não se brincaria com fogo assim. Esse risco já está aceito.

E se for sobre gravidez indesejada… permita-me rir: quem decide gravidez é mulher. Pode se embalar inteiro à vácuo que ela ainda consegue se quiser. Homem só escapa se estiver com o encanamento interditado, e olhe lá. Vai tomar bola nas costas se ela quiser, ponto. Se o casal monogâmico e estável não quer ter filhos, camisinha é uma das opções, mas nem perto de ser a única. E de novo: não quer ter filhos? Desligue definitivamente alguma das partes essenciais ou pare de fazer sexo. Qualquer outra coisa é assumir um risco (mesmo na modalidade camisinha + anticoncepcional).

Tá na chuva é para se molhar. Se você faz parte do time que prefere fazer sexo sem camisinha mas não é maluco(a) de abdicar dela com qualquer um, um casamento minimamente funcional é sua aposta mais segura. Ninguém DEVE ficar preso nessa obrigação de usar camisinha num casamento.

Para dizer que vai fazer uma pose e discordar de mim, para dizer que faz sempre sem para criar resistência, ou mesmo para falar que fica feliz pelo menos porque o BM não vai vir aqui ou mesmo conseguir ler todo o texto: somir@desfavor.com

SALLY

Um casal casado, que se propõe a uma relação monogâmica, deve fazer sexo só com camisinha?

Vamos fazer uma diferenciação aqui. A pergunta não é se VOCÊ coloca isso em prática (francamente, não me interessa saber), a pergunta é sobre o que você ACHA CORRETO. Nem sempre fazemos o que achamos correto, porém nem por isso deixamos de reconhecer qual seria a postura certa.

Dito isto, eu acho que o correto a se fazer é usar camisinha sempre, considerando que os riscos são enormes, desde doenças mortais até coisas piores como filhos. Falando sério, eu não ponho minha mão no fogo pela monogamia de NINGUÉM e não é de hoje que eu digo isso. Ao não confiar 100% na monogamia do parceiro o fato de não usar camisinha se transforma em um risco.

Eu sei que é um assunto incômodo, desconfortável e chato, mas gostaria de informa-los que o ser humano NÃO É monogâmico por natureza. A monogamia é uma construção social que não deu certo, mas a hipocrisia humana impede que decretemos seu fim. Casais verdadeiramente monogâmicos em relacionamentos duradouros são extremamente raros. Vamos combinar que quando, por assim chutar, um em cem são fiéis, as chances de você ter uma pessoa infiel do seu lado são bem maiores.

Certamente você não acha que seu parceiro(a) te é infiel. Spoiler: ninguém acha. Mas você sabe que acontece com frequência, porque vê acontecendo com os outros. Pessoas que não são arrogantes sabem que ser mais um na manada é a tendência e que a exceção é ser exceção. Então, o fato de que acreditemos e até tenhamos dificuldade em ver e perceber não quer dizer que nunca vai acontecer conosco. Até segunda ordem, eu não tenho a arrogância de me achar uma exceção e colocar minha vida em risco por essa crença.

Um extra para os homens: filhos. Porque a escolha de ter ou não um filho é, em última instância, da mulher. Eu sempre soube que se eu engravidasse a decisão seria apenas minha, pois se conflitasse com a do meu parceiro, eu faria a minha valer no final das contas. Então, se você REALMENTE não quer ter um filho com aquela mulher naquele momento, não tem outro jeito: camisinha. É o método anticoncepcional que depende do homem mais seguro dentre todos.

Ela te disse que toma pílula? Bem, as pessoas mentem. E mesmo que não seja de má fé, ela pode até tomar pílula, mas quem te garante que ela toma certinho, respeitando o horário ou que não vai esquecer UM comprimido ao longo do mês? Não usar camisinha é deixar muito ao acaso uma decisão importante demais que é ter um filho. A única forma do homem ter certeza que está se precavendo é usar camisinha e essa precaução não deve ser delegada para terceiros. Desculpa, mas eu só confio em mim, seja por má fé, seja por incompetência de terceiros.

Sem contar que algumas doenças podem ser contraídas independente de contato sexual, ou seja, independente da pessoa estar te traindo. Por exemplo, alguns tipos de hepatite podem ser transmitidos por fluidos corporais, até mesmo pela saliva ou por uma inocente tatuagem. O próprio HIV pode ser transmitido por transfusão de sangue ou uma agulha contaminada. Enfim, o fato da pessoa não te trair não significa que ela nunca terá uma doença que possa ser sexualmente transmissível. E muitas delas são para o resto da vida e não apresentam sintomas em sua fase inicial, ou seja, a pessoa te transmite uma doença sem sequer saber que o está fazendo.

Camisinha é ruim? É chato? Ok. Mas o que é mais chato: um filho para o resto da vida (brinde: pensão) em uma hora indesejada ou camisinha? Uma doença crônica que pode te matar ou camisinha? As pessoas tomam a decisão de não usar camisinha sem pensar no que pode dar errado, uma falsa certeza ou uma forte negação parece protegê-las. “Não vai acontecer comigo, seria muito azar”. Às vezes acontece. Você quer pagar para ver se vai acontecer com você? Não deixa de ser uma forma de roleta-russa sexual. Do Somir eu espero essa negação, já que ele sempre acha que nada vai dar errado, mas de pessoas normais não.

Quando se decide que vale a pena correr um risco é sinal de que a compensação extrapola eventuais consequências negativas. Não vejo como uma noite de sexo possa valer a sua vida, ou 30% do seu salário pelos próximos 20 anos na forma de pensão, ou uma doença para o resto da vida. Ou os três. Impressionante como nessas horas as pessoas ficam inocentes: “Ela tem que fazer teste de HIV todo mês no trabalho, me garantiu que não tem nada”, “Ela toma pílula, ela jurou” ou ainda “Ele parecia limpinho”. Por favor, vamos deixar de ser tão burros/arrogantes e parar com essa certeza de que nunca nada vai dar errado?

Tem também o outro lado da moeda. Quem garante que você não tenha algum problema de saúde que não possa passar para a outra pessoa? A menos que você seja uma pessoa muito certinha que faça checkup anual, que esteja em dia com todos os exames que devem ser feitos regularmente (coisa que quase ninguém faz) você não sabe se tem alguma coisa que possa transmitir para quem está fazendo sexo com você. Não quer se cuidar tudo bem, mas ao menos cuide da pessoa que está com você.

Não custa lembrar que a probabilidade joga contra quem opta por se arriscar achando que nada vai dar errado. A cada vez que a pessoa faz sexo sem camisinha as chances de dar errado aumentam. Será que alguém (além do Alicate) pensa que vai fazer isso a vida inteira impunemente? Quanto mais você faz, mais você se arrisca. E o risco não é o de ter que tomar um remedinho por 10 dias, o risco pode envolver transtornos para a vida toda ou até mesmo a sua vida. Alguma coisa nesse mundo vale a sua vida?

Para desmerecer meus argumentos me chamando de alarmista de modo a não ter que encarar o risco que vem correndo, para concordar em tese e na prática fazer outra coisa ou ainda para dizer que gostaria que o Alicate tivesse escrito o lado do Somir: sally@desfavor.com


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