A voz das ruas.

Mais de 30 milhões de visualizações, 120 mil comentários no Youtube, algumas centenas de respostas e paródias em vídeo… Não sei o quanto fez sucesso no Brasil, mas lá fora foi algo de considerável impacto. Antes de ler o texto, vejam o vídeo a seguir:

Tenho a política de relativizar minhas opiniões quando o assunto não me afeta diretamente. Se minha reação natural foi de achar essa mulher uma fresca sem problemas de verdade na vida, de achar que se depois de 10 horas andando numa cidade como Nova York foi só isso que ela conseguiu é porque o problema que ela relata é desprezível; bom, eu tenho direito à minha opinião.

Mas não é o meu calo sendo apertado. Por maior que seja a capacidade de abstração, não é um problema que eu vá vivenciar na prática. De onde eu enxergo a situação, escutar alguns bons-dias aleatórios não parece merecer a mínima preocupação. Talvez para quem lide com esse tipo de assédio diariamente a coisa vá acumulando ao ponto de se tornar insuportável.

Talvez. Que as mulheres lendo este texto me ajudem a ter uma visão mais abrangente do caso: é mesmo tão horrível? Lembrando que a moça do vídeo pode editar o que achou pior e conseguiu no máximo um cara estranho a seguindo em silêncio (e em plena vista) por cinco minutos. Por mais que seja sim bizarro e obviamente incômodo, na escala geral das coisas parece tão pouco… mas, novamente, não é o meu calo.

O que me deixou mais incomodado no vídeo foi a forma como o seguidor maluco e os caras que falaram meros “ois” acabaram num mesmo pacote de assediadores. Sem distinção. Aparentemente dirigir-se à uma mulher estranha já é o suficiente para considerarem uma invasão imperdoável à sua liberdade pessoal.

Peraí… menos. Num mundo ideal só seríamos interpelados por pessoas interessantes e atraentes, mas o mundo ideal não existe. Algumas mulheres mais corajosas assumem que o grau de ofensa é inversamente proporcional à beleza do assediador, mas a maioria prefere manter a presunção de assédio é ruim independentemente de quem o faz. A verdade é quem passa a cantada pode ser nojento ou apenas ‘muito espontâneo’ de acordo com o quão atraente é. As mulheres provavelmente mentem sobre isso por medo de serem vistas como superficiais ou mesmo promíscuas…

E sim, mais uma vez, não é o meu calo: eu posso ser visto como superficial e/ou promíscuo sem medo de represálias sociais. Entendo por que as mulheres se utilizam desse artifício, mas é importante ressaltar como na sanha de manter as aparências, aberrações como o vídeo acima podem surgir. É quando se mistura algo chato como levar cantada de homem feio/estranho/sem noção com algo aberrante como ser vítima de assédio sexual.

Não é a mesma coisa. O “oi” de estranhos não merece resposta ou sorriso automáticos, é claro, mas há algo de errado com quem se sente violado por isso. Vivemos em sociedade e interação com outros seres humanos é algo esperado. Ainda mais quando se tem (ou se é) algo desejável. Acredito que mulheres nunca gostaram de homem escroto que fala obscenidades para elas nas ruas, mas quando o ser humano não colocava ‘rede’ na frente de ‘social’, havia uma diferença bem mais acentuada entre quem buscava atenção de forma educada e quem gritava impropérios.

Gerações de pessoas cada vez mais acostumadas a bloquear os outros no seu meio principal de interação social parecem cada vez mais ariscas ao conceito de interação. Se não estiver na sua lista, nem oi pode falar! Impressionante que quanto mais amigos na internet, mais estranhos nas ruas. Pessoas se comunicam pela primeira vez de várias formas diferentes, e algumas delas não são tão ruins assim.

Falta o bom senso de pensar que o cidadão poderia ter dito todo tipo de barbaridade, mas escolheu desejar um bom dia. Repito que mulher nenhuma é obrigada a responder de forma positiva ao contato de um estranho, mas saber traçar a linha entre incômodo e abuso é muito importante! Até para viver uma vida mais tranquila, sem ficar desconfiando da própria sombra a cada esquina.

Estamos ficando mimados com tantas ferramentas para aproximar e afastar pessoas pela internet. E some-se a isso a cultura das minorias que se alastra descontroladamente pela sociedade, temos cada vez mais gente acreditando ser intocável, achando que o mundo real deveria ver com o botão ‘bloquear’ para tudo que as incomoda. Na racionalização desse comportamento infantilóide surge o exagero sobre a intenção do outro.

Os outros são machistas, racistas, intolerantes… tudo o que corrobore com o desejo de se cercar apenas de quem lhe traz conforto. Desafiar a auto-imagem doentia dessa gente com um ‘bom dia’ é equivalente a uma estupro! “Como ousam não me permitir na vida real as mesmas facilidades da vida virtual?”

Eu sei que na prática é bem infrutífero tentar se aproximar de uma mulher que não está aberta a conhecer novas pessoas e acho que quem fica pentelhando mulher na rua é um ser sem noção, mas a vida real é muito mais complexa do que curtir ou não uma postagem: existem graus. Acredito que o comportamento do cara que a seguiu deva ser corrigido, mas dos que tentaram em vão atrair sua atenção? Oras, isso realmente torna a vida de uma mulher insuportável?

E não, a resposta dessa pergunta não cabe só na dicotomia entre curtir e descurtir. A internet nos deixa viciados em ‘sim’ e ‘não’ como respostas válidas para qualquer questão. É como se a linguagem de programação usada em sites e aplicativos estivesse vazando lentamente para dentro dos cérebros humanos. Zeros ou uns, amei ou odiei.

Mas não é só disso que eu quero falar hoje: tem a cereja do bolo. Sabem o que está causando a maior confusão nesse vídeo? A maioria esmagadora dos homens que a assediaram eram negros ou latinos! A guerra para ser mais vítima é tão disputada que agora a mulher do vídeo e sua entidade estão sendo atacadas por perpetuar estereótipos racistas.

Lembram que não tem mais relativização? Que o único calo que existe é o próprio? Sabe-se lá se era a intenção dela criticar negros e latinos, mas é isso que a turma ‘sou mais vítima que você’ enxergou. E é isso que colou… não tem a opção “foi uma coincidência” ou “na verdade os homens mais pobres que fazem isso”, só tem a opção de vítima ou opressor.

E ela passou de vítima a opressora. Adoro quando isso acontece. Provam do próprio veneno. Queria fazer todos os homens parecerem monstros tarados e sem controle, acabou com presunção de racista! Na verdade ela mesmo se colocou nessa armadilha: foi filmar em bairro pobre para aumentar a probabilidade de escutar barbaridades, acabou filmando a população mais comum nesses bairros.

Gente menos educada é mais abusada, mulheres nessas comunidades são menos intolerantes a cantadas de rua… Ela foi lá justamente para conseguir material para o vídeo. E é justamente aqui que nem o argumento do ‘calo alheio’ pode protegê-la: sabia o que estava fazendo e enlameou sim mais ainda a imagem de outras minorias só para tentar se provar mais vítima que os outros.

É muito bom quando o mundo dá um jeito de se corrigir. Eu começo a ver uma luz no fim do túnel, e não porque a humanidade está ficando mais inteligente. Quando os intocáveis se tocam, é acusação para todo o lado e gente desesperada para não perder o apoio de seus defensores. Com o meio-termo tornando-se obsoleto, a indústria do politicamente correto começa a andar sobre um fio cada vez mais fino.

Não basta ser vítima, tem que ser MAIS vítima que o outro. E o espaço disponível sob os holofotes é cada vez mais disputado. Argumentos progressivamente mais apelativos e exagerados, pessoas mais e mais dispostas a pegar pesado para garantir seus quinze minutos de fama oprimida!

Eles vão se pegar! E nós vamos assistir de camarote. Isso é emblemático e já está virando tática para quem não aguenta mais essa cultura de vitimização. Encontrar o opressor no oprimido tem resultados frequentemente hilários. Não duvide que o primeiro a mencionar que só homens negros e latinos apareciam no vídeo era um troll.

A donzela em perigo do vídeo tentou passar a perna na parcela mais pobre da população de sua cidade e acabou caindo de bunda no chão ela mesma. Aliás, essa frase explica basicamente tudo o que eu acabei de escrever… vitimização é passar a perna em si mesmo.

Para dizer que o seu calo dói muito com essas cantadas, para dizer que esse povo de Nova Iorque é fraquinho, ou mesmo para dizer qual público eu oprimi dessa vez: somir@desfavor.com

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas: , ,

Comments (61)

  • A parte POLITICAMENTE incorreta que ninguém notou aqui é que a maioria dos don juan do vídeo são de afroamericanos.

    • Eu não entendi onde isso é politicamente incorreto. A galera confunde “fato incomodo” (os negros tem escolaridade menor em média) com “politicamente incorreto”.

      • O que???

        Maldito LAMARCKISMO, maldita ”educação”.

        Então qualquer um ”com” baixa ”escolaridade” será desrespeitoso com mulheres e qualquer um ”com” alta ”escolaridade” será respeitoso…

        Sim, no mundo totalitário ”de hoje”, mostrar um padrão óbvio que possa ferir ”almas muito sensíveis” é ”politicamente incorreto”.

        Eu constatei que grande parte da humanidade é completamente imbecil para separar o que é causal e o que correlativo. E isso é tão importante…..

        Se as pessoas não fossem analfabetas de nascença para entender isso, não teriam queimado inocentes na fogueira.

  • Eu não tenho distinção entre o “oi”, o “gostosa” e o “vou te chupar todinha”. Todos me incomodam igual (talvez eu sinta mais medo dos mais chulos), porque invadem um espaço que eu não permiti.

    Geralmente ando na rua rápido, de cara fechada, e com a roupa mais “séria” possível… Nao quero conhecer ninguém nesse momento. Então até o “oi” é invasivo. Me distrai dos meus pensamentos, da minha atividade.

    E não acho que vou perder grandes oportunidades de conhecer pessoas porque pessoas que abordam mulheres na rua não me interessam…

    Concordo que é um saco. Mas quando você não sabe se a pessoa que está “só dando oi” vai reagir de uma forma agressiva ou não, tudo fica TAMBÉM assustador (isso vindo de alguém que foi perseguida por olhar de cara feia pra um cara que “só” disse “oi, boneca”).

    A maioria dos homens não é estuprador. Mas quando você não pode diferenciar só de olhar, melhor pecar pelo excesso.

  • Vi várias pessoas comentando sobre esse vídeo coisas que me deixaram bastante curiosa (homens, por exemplo, falando “caramba, pesado mesmo, agora entendo”). Achei que rolasse uma certa violência, um contato mínimo, uma passada de mão, um encoxamento, uma segurada de braço. Quando assisti, não achei nada demais. Achei, na verdade, a maioria dos comentários muito positivos, muito educados. Tirando os dois homens que a seguiram (o que gera um medo ENORME, porque né, você já fica mil vezes mais preocupada com o que o cara vai fazer, já que ele já foi além do normal), nada nesse vídeo foi assédio pra mim.
    Bom dia eu dou pro cobrador do ônibus e ele me responde dessa forma e nesse tom: é assédio assim também? Ou só é assédio se a outra parte que começa? As pessoas ficaram tão vitimizadas nesses últimos tempos, que se alguém oferecesse uma flor a ela no vídeo aposto que entrava pro lado do assédio.
    Os homens de NY tão bem fraquinhos mesmo, queria ver um vídeo desses gravado aqui no centro do Rio. Aí sim a discussão de assédio seria compreensível.

    • Bianca, você nao preisa levar uma passada de mão para se sentir coagida ou constrangida. É claro que não é para generalizar e falar que todo bom dia, toda cantada é assédio, mas como ja falaram ai embaixo, prefiro pecar pelo excesso.

    • Bianca, você vê homens dando “oi”, “bom dia”, etc para outros homens na rua? Não, né?
      Aí você percebe o que é cordialidade e o que é assédio.

  • Eu parei de ler em ” Que as mulheres lendo este texto me ajudem a ter uma visão mais abrangente do caso: é mesmo tão horrível? ”
    Somir fazendo texto em que pergunta opinião, e respondendo comentários?
    Algo não está no prumo…

    • Some-se a isso a Sally furando postagem hahaha O eixo da Terra está trocado!
      To zuando…
      O Somir tem várias facetas além da nerd e a titia Sally postou ontem.

  • Eu gostaria de entender o que passa na cabeça desses homens ao fazerem tais cantadas? O que eles esperam conseguir com isso?

    E sim, é nojento e irritante você passar pela rua e um mané achar que pode te seguir ou dizer uma obscenidade qualquer – além do medo de você ser violentada ou coisa do tipo. Se fosse só bom dia, até vai, seria menos ofensivo. Mas como normalmente não é assim, é muito chato sim e não é só mimimi feminista.

    • Eu gostaria de entender o que passa na cabeça desses homens ao fazerem tais cantadas? O que eles esperam conseguir com isso?

      Se passasse alguma coisa, não o fariam.

  • É realmente difícil para um homem entender o incomodo que isso causa, um pouco de empatia e as coisas ficariam mais fáceis pra todos. Penso também que um ´oi´ou um ´bom dia´ (quando não acompanhados daquele olhar que diz ´quero te comer´) não são problema e sim uma tentativa de interagir, o problema começa quando insistem é invasivo, e sim dá medo.

  • Homens que passam cantadas nas ruas são os premiados da semana na categoria de “Piores Pessoas do Mundo” nas redes sociais!

  • Eu não me iludo: Qualquer país de qualquer uma das américas a barbárie contra as mulheres é presente – talvez com a exceção do Canadá, mas dos EUA pra baixo – como se vê no vídeo – as mulheres são tratadas como lixo. Onde tem América, tem problema deste naipe. E se nos EUA é assim, na América Latrina então é pior ainda. Os homens latino americanos costumam ser muito incivilizados com a mulherada. E não, Somir, não é vitimização não. Quem passa por isso sabe muito bem. Eeste vídeo simplesmente é um grandíssimo tapa na cara daqueles que vivem achando que garotas “vulgares” que vestem vestidinhos são os maiores alvos. QUALQUER mulher está sujeita a isto. O foco sempre deve ser na educação dos meninos, para que desde pequenos respeitem as mulheres e o próximo.

    • Quando o ‘bom dia’ é sinônimo de ser tratada como lixo, o problema está internalizado. Seja lá o que te disseram, você acreditou.

      • Somir, sem essa: A questão não é sobre “bons dias” com segundas intenções. Quase sempre as cantadas são invasivas. O problema não é “internalizado” não, é bem externo mesmo. Eu poderia até dizer: Se existir uma próxima encarnação, nasça mulher, cresça mulher e experimente a sensação.

        Mas não, vou simplesmente incentivar a boa e velha empatia.

  • Pros homens que não entendem ou acham exagero eu vou propor imaginar assim: Visualizem-se heteros andando pela rua e a todo momento tem olhares de bibas e bofes insistentes em vcs. Como se não bastasse ainda toda hora um glsbtasdfg ainda te abordando e te seguindo. Olá, tenha um ótimo dia! Não quer conversar comigo? E agora, não me venham dizer que vão ignorar porque todo que excede o limite deixa a pessoa emputecida! É assim que nos sentimos, com nojo de sermos abordadas na rua. Desconhecido pentelhando é igual a gay abordando hetero = Nunca será! Dá nojo!

    • Visualizem-se heteros andando pela rua e a todo momento tem olhares de bibas e bofes insistentes em vcs. Como se não bastasse ainda toda hora um glsbtasdfg ainda te abordando e te seguindo.

      Eu acharia um saco, mas não ficaria aterrorizado. Como eu já disse, o calo não é meu.

      • Talvez você ficaria aterrorizado se estas mesmas bibas fossem mais fortes do que você e se quisessem poderiam comer o teu rabinho facilmente.

        A questão não é ser abordada por um desconhecido a questão é como diferenciar um estuprador de um cara que só quer dar bom dia para as pessoas?

  • Pra ela fazer vídeo foi pq ja tava de saco cheio. Parece vira lata no cio. E dai se for latino? Não duvido se tiver BM q vai pro exterior fazer vergonha. Pensa q não chateia cantada de rua q não leva a nada? Homem bom não fica se oferecendo, se oferece cara feio e pobre. Ja fui seguida várias vezes na rua, isso eh ridículo eu ter q mudar minha rota pra despistar um vira lata no cio. Os homens desceram pro fundo do poço. Não eh a toa q muita mulher ta virando lesbica.

  • A maioria das pessoas não tem sensibilidade em relação a esse assunto. Mesmo entre as mulheres não é difícil encontrar as que tratam assédio de rua como “situações chatas pelas quais todo mundo passa”. Só que homens não passam por isso, né? E se calha de um gay ou uma travesti mexer ou resolver “dar bom dia” a um cara hétero? Ah, aí rola a maior encrenca. Engraçado também que nunca vejo homens “dando oi” ou desejando “um simples bom dia” a outros homens aleatórios que passam na rua. Então não é gentileza, é invasão. Inacreditável alguém considerar que haja algum “elogio” nisso! É só ver a cara de deboche, ironia ou “ponha-se no seu lugar, pedaço de carne ambulante” dos assediadores.
    Pura demonstração de poder.

    Quando alguém te elogia, há sempre um sorriso franco, uma expressão de simpatia. Não é o que se vê. O que se vê claramente no vídeo – e quem é mulher conhece perfeitamente – é uma atitude invasiva, desrespeitosa, quando não ameaçadora. Parem de criar uma “lógica” ou uma explicação para este comportamento grotesco e tipicamente masculino. Não é aceitável, não é tolerável. E, além de tudo, não é necessário. Me deem uma razão pela qual alguém PRECISE dar cantadas. Dói ter que ficar de boca fechada?
    Das mulheres é cobrado motivo para tudo, temos que ter mil e uma razões para cada volta que damos: mas por que foi por aquele caminho? Mas precisava usar essa roupa? Mas não podia pegar uma carona? Mas não podia deixar pra sair de dia?
    Agora homem pode ser incapaz de ficar de boca fechada, e nem tem que justificar a falta de autocontrole. Caramba, crianças de 5 anos podem ser ensinadas a ficar em silêncio, e os homens barbados na rua não conseguem essa proeza.
    E NÃO. Eu não quero nem “elogios simples”. É invasivo do mesmo jeito. Pessoas – homens e mulheres – andam nas ruas para se locomoverem de um lugar para outro.
    Não estão desfilando.
    Não estão interessadas na opinião de um desconhecido sobre seus atributos físicos e/ou supostas habilidades. Se estivessem, pediriam a opinião deles.
    Nenhum desconhecido tem o direito de me avaliar. Nem de se dirigir a mim (muito menos em linguajar grosseiro) tomando uma liberdade que eu não dei.

    Não tem diferença prática entre o “você é linda” e o “quero te chupar todinha”. É tudo constrangedor e não é bem-vindo. E quem faz isso não quer resposta, quer? Ou você acha que a mulher vai tirar a roupa e gritar “ME POSSUA” ?

    E claro, tem sempre o papinho do “mas como é que eu vou me aproximar de uma mulher então?”. Quem não sabe a diferença e não tem tato pra tratar uma mulher como igual ao invés de agir como um animal babão e num timing completamente errado tem mais é que ficar sozinho, mesmo.

    • Pura demonstração de poder.

      Não estou mexendo tanto no vespeiro como vai parecer, espere eu desenvolver antes de me xingar:

      Esse poder existe. Ser homem é ser mais forte (fisicamente). Espera-se do homem a atitude de chamar a atenção da mulher. Ser homem é ser ativo. Precisaria de uma mudança RADICAL da percepção dos papéis sexuais (e até mesmo da genética) para que um homem não demonstre esse poder no dia-a-dia. O cara do ‘bom dia’ obviamente está interessado na mulher, mas não necessariamente a considera um pedaço de carne. A forma dele lidar com o sexo oposto normalmente presume essa demonstração de poder.

      E entenda que eu defendo a turma do ‘bom dia’, não a do ‘gostosa!’ ou dos que seguem as mulheres na rua. Você está colocando todos no mesmo pacote, transformando todos os homens num mesmo ser bestial fora de controle. Não é assim que funciona. Vocês não detestam quando são generalizadas de forma preguiçosa?

      • A questão é que, ao mesmo tempo em que o cara do ‘bom dia’ não teve essa inocência toda de apenas desejar um dia agradável a uma passante, o do ‘gostosa’ evidentemente também não falou isso com a real intenção de levá-la pra cama. Ambos estão partindo do mesmo pressuposto, que é o de se dirigir à mulher na rua por causa de sua posição de poder, para mostrar quem é que manda ali, portanto, ambas as “abordagens” incomodam, sim. E em relação ao tal “poder”, já passou da hora de desconstruirmos esse conceito cultural de “masculinidade” (assim como o de feminilidade), que deve ser realmente muito frágil, haja vista tanta necessidade de ser demonstrado e reafirmado o tempo todo. Vai demorar? Vai. Dezenas ou até centenas de anos, provavelmente. Vai ser difícil? Óbvio, assim como toda mudança social, mas alguém tem que dar o primeiro passo, ou então ainda estaríamos empacados na Idade Média.

  • “É mesmo tão horrível?”

    Sim e não.

    “Não” quando contamos apenas os “bons dias” não solicitados ou cantadas engraçadinhas ou manjadas para fazer rir. Não acho “tão horrível” ignorar ou responder “bom dia” e seguir seu caminho. Não acho tão chato receber atenção de pessoas não-interessantes.

    “Sim” quando isso acontece trocentas vezes todos os dias em um nível bem mais baixo que o mostrado. E é especialmente horrível quando a outra pessoa representa qualquer tipo de ameaça a você.

    O que deveria estar em jogo é o comportamento, não o portador da notícia. Assim, é horrível se o Josh Duhamel dissesse o mesmo e a reação fosse de repulsa.

    Particularmente, talvez por não escutar tanta besteira assim, eu não me incomodo com “bons dias” aleatórios. Me incomodo um pouco com cantadas mais vulgares. E me incomodo um montão com qualquer tipo de invasão ao meu espaço. No vídeo, por exemplo, me incomoda o cara que anda ao lado da mulher durante cinco minutos. Incomoda porque ele é mais forte (uma representação de poder) e não dá para saber exatamente o que ele quer. Incomoda que ele esteja invadindo o espaço de outra pessoa, roubando dela a tranquilidade. Não é porque é “de dia” e porque “tem outras pessoas olhando” que é menos invasivo ou mesmo menos perigoso. Já VI uma passada de mão no peito em um bairro nobre as sete horas da manhã. Alguém que represente a POSSIBILIDADE disso acontecer é alguém invasivo e inconveniente e sim, isso é muito horrível.

    Então, considerando que a maior parte das mulheres já sofreu ou presenciou algum tipo de violência sexual (desde uma passada de mão ou encoxada até o estupro propriamente dito), uma cantada mais “baixa” pode ser sim ameaçadora e horrível porque coloca a mulher em uma situação de submissão e impotência. Se você sabe que pode dar um soco na cara do cidadão e sair no braço em condições de igualdade, provavelmente sua reação a uma aproximação ou abordagem é mais tranquila.

    Por fim, não acho que foi “bem feito” ela ter virado a “agressora”. Apesar de concordar que esse é uma das consequências (e talvez uma autorregulamentação) ao exagero do politicamente correto, foi uma perda para a discussão de uma questão real, de um problema real. O fato dela ter ido a uma região mais pobre não deixa de ser a faceta da realidade que deveria ser discutida: a violência contra a mulher é mais “consentida” e mais aberta em lugares mais pobres. A mulher é mais vista como “sem direitos” nesses lugares e isso deveria ser um ponto de discussão, não um argumento contra a discussão.

    • Alguém que represente a POSSIBILIDADE disso acontecer é alguém invasivo e inconveniente e sim, isso é muito horrível.

      Para uma mulher, mais da metade da população mundial é um ser potencialmente perigoso (mesmo desarmado). Concordo MUITO que os homens devem ser educados para não continuar constrangendo e ameaçando mulheres nas ruas (e em qualquer lugar), mas não sem evitar o exagero de punir o todo pela parte: a maioria dos homens não são estupradores. Coibir o comportamento masculino de buscar contato com mulheres EM GERAL é deixar o pânico vencer.

  • Somir meio que falou o que penso.
    Eu costumo dizer que não existe estupro, o que existe é homem feio. O mesmo vale para cantadas. Eu me irrito com abordagem de homem feio. Claro que eu queria receber cantadas apenas de homens bonitos, mas como foi dito no texto, não existe um mundo ideal.
    Já viu aquele experimento social do Tinder? Pegaram 2 modelos, um homem e uma mulher. Marcaram encontro no Tinder, na hora do encontro a produção maqueou os 2 e estofou de enchimento para que ficassem obesos. Alguns ficaram emputecidos e foram embora com menos de 2 minutos de conversa.
    Eu queria ver um experimento mais ou menos assim:
    Pega dois homem, um macho-alpha e um nesses estilos que vota no PT. Coloca os 2 na rua chamando as mulheres para fazer sexo e veja o que acontece.

  • Sinceramente não vi nada de anormal. Não sei até onde isso é certo ou errado… mas dependendo de onde vc anda é assim mesmo. Todo mundo sabe que quando a auto estima está baixa pra carái… é só dar uma voltinha perto de alguma construção que vai rolar o mesmo do vídeo. Na balada da galera mais socity vai rola igual só que em outro nível. O cara seguindo a garota por 4 minutos foi demais… eu teria um troço… agora, o resto… normal. Isso de negro e latino é relativo. Tem gente engravata que te olha com uma cara de tarado, que não faz falta nenhuma palavra grotesca. E outra!! Existem sugestões que se pode escutar em uma empresa ou na balada que são muito mais agressivas e desqualificantes. Esses caras sabem que a mulher não quer nada… mas tentam porque acham que tem que tentar… O machismo né! Pra acabar de vez com isso, só castrando. Não tem jeito. Somos metade animais tbm…

    • Esses caras sabem que a mulher não quer nada… mas tentam porque acham que tem que tentar…

      Muito por isso que apesar de eu discordar do drama todo ao redor do assédio nas ruas, acho os homens que fazem babacas. O problema é que coibir babaquice é o mesmo que enxugar gelo.

  • Tal episódio é mais comum do que a gente imagina. No entanto, as cantadas do video foram educadas. Poderia ter sido bem degradante para as mulheres.

    “Vitimização é passar a perna em si mesmo.” Esta frase resume tudo o que voces escreveram sobre o assunto.

  • 1 – Foi bem escroto ela ter ido filmar na parte mais pobre da cidade. Bem feito, vai apanhar da comunidade negra/latina.
    2 – Sim, é uma bosta ficar sendo abordada toda hora com “ois” de desconhecidos. Não é o que eles falam, é a intenção. O “oi” não é um cumprimento, o cara que fala “oi”, não falaria pra uma velhinha ou pra outro homem, ele não quer só interagir. Na minha opinião, o problema é esse.

    • ah, não foi só na parte pobre não. No início está dizendo que foram em todas as partes de manhattan, se quisessem filmar só na parte pobre por que não foram logo no bronx? Tem uma hora que parece que ela está em times square, tem até uma estação de metrô dizendo rua 42, tem outra rua que parecem turistas com um mapa, e turista não iria num lugar pobre, normalmente não tem pontos turísticos e são considerados perigosos.

      • Não sei que vídeo você viu, os próprios americanos estão dizendo que ela passou em partes mais barra-pesada da cidade. Os casos mais sérios inclusive foram nessas ruas.

    • Diana, se ela “apanhar” desta comunidade, só vai provar como eles estão bem alienadinhos a respeito de um problema que acontece debaixo do nariz deles :P

      A cura de uma doença passa por admitir que ela existe.

      • A questão dela apanhar da comunidade latina e negra, não é defendendo a atitude deles, mas a porradaria entre quem é mais minoria.

  • Somir, já tinha visto o vídeo e não acho que ela tenha dado um tiro no pé e muito menos se vitimizado. Realmente você não vive isso diariamente, mas isso também não impede que você entenda o constrangimento que ouvir cantadas, olhares obscenos, pessoas vindo no seu ouvido falar sacanagem, etc, podem implicar.
    Isso que acontece no vídeo é a ponta do iceberg. Por que essas situações não param no vídeo, mas fazem parte de um cenário muito mais amplo. Uma hora a mulher ouve uma cantada, em seguida ela já fica com medo de entrar na rua escura e muda de calçada quando fica sozinha com um homem.
    O problema não é ouvir um bom dia na rua. O problema é o que engloba esse bom dia, toda uma série de atitudes desrespeitosas, constrangedoras e até assédio sexual que a mulher passa diariamente. Claro que a cantada leve e engraçadinha não é assédio grave, mas e quem vai estabelecer o limite disso até ser considerado algo sério e passível de punição?

    • Claro que a cantada leve e engraçadinha não é assédio grave, mas e quem vai estabelecer o limite disso até ser considerado algo sério e passível de punição?

      Ué, o limite existe. Existem leis dizendo o que um ser humano pode ou não fazer com outro. O incômodo não pode ser misturado com o danoso. A turma da vitimização quer LEIS contra ‘bom dia’ de estranhos.

      • Sim, por que eu já ouvi “bom dia” e ja ouvi “chupa meu pau” ao pé do ouvido em pleno centro do Rio de Janeiro no meio da tarde. E aí, quem vai saber se ele realmente falou aquilo além dele próprio e eu???

        Posso reclamar e ser acusada de histérica, “ahh, mas eu nem encostei nela”, como se precisasse do toque para configurar assédio. Por isso concordo com a proibicao de TODAS as cantadas. Infelizmente o ser humano só funciona na base da porrada.

  • Este epísódio é tão comum quanto se imagina. A maioria das cantadas, porém, foram educadas. De fato, poderia ter sido bem pior.

    “Vitimização é passar a perna em si mesmo.” Frase sensacional, que resume tudo o que voces escreveram sobre assunto.

  • A mulherada no BR reclama da falta de atitude masculina e que tem muito viado, agora vcs já sabem o que fazer = Bora viajar pros EUA! Não precisa nem ir pra balada, basta andar pela rua.

    • Neah, o que eu mais reclamo é justamente do contrário: Do excesso de “atitude” que na grande maioria das vezes presume falta de respeito. É a “chegadinha” invasiva com a qual a grande maioria – dos homens brasileiros chegam nas mulheres. Prefeririam que ao menos neste aspecto fossem como os europeus que tava de bom tamanho.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: