O cheiro da verdade.

Classe. Muita classe.

Tema de hoje: Assumir peido na frente de amigos?

SOMIR

Fez? Assume. Apesar de alguns vídeos que já vi na internet se provarem exceções à regra, ninguém gosta de cheirar peido; peidar no meio de um grupo de amigos passa longe de ser um crime sem vítimas. Vamos entender bem o objetivo da discussão importante de hoje: o peido já está dado, o gás vazou, o ar está poluído e não tem mais volta. Portanto, com o flato já estabelecido no ambiente, só nos resta lidar com ele.

E é aí que eu cobro coerência com um modelo de caráter positivo: o de quem não foge das responsabilidades. Podia ter saído do lugar, poderia ter peidado na privacidade de um banheiro, mas não… soltou o perfume de estrume ao direto alcance dos pobres narizes presentes. O ideal teria sido não peidar, mas peidou!

E se peidou, assume. Já vivemos numa sociedade dominada por irresponsáveis fazendo merda e se eximindo da culpa o tempo todo, vamos permitir que a impunidade se instaure até mesmo nas nossas funções biológicas mais básicas? Seres humanos peidam muito, é um fato da vida. Não precisa se matar porque peidou na frente dos outros, mas faz bem exercitar a própria honra admitindo o que fez. Disfarçar peido é a porta de entrada para mentiras maiores.

Fala mal de quem comete crimes muito mais severos e não tem coragem de admitir um mero peido? Estou falando de coerência: quem acredita em impunidade em qualquer meio acredita em impunidade geral. As pessoas sempre tentam racionalizar os próprios crimes para achar que o delas pode ser perdoado, que não causou mal a ninguém, etc. Típico de quem fala uma coisa e faz outra. O mundo não seria muito melhor se as pessoas assumissem as besteiras que fazem?

Mas não, a regra é ser esperto. E esperto daquele jeito brasileiro de ser: faz a merda, esconde mal e acaba se fodendo do mesmo jeito. Porque caso vocês não saibam, é muito fácil descobrir quem peidou. Todo mundo sabe quem empesteou o ambiente: o peidorrento faz uma cara muito específica e sua linguagem corporal sempre entrega.

Quem peida fica com a expressão facial congelada e tem algum delay na hora de participar da conversa. Sem contar o corpo duro e as pernas coladas. E essa ‘bandeira’ toda dura pelos intermináveis segundos da famosa esperança inodora: isso é, quando você acaba de peidar e fica na expectativa para saber se vai feder ou não. Às vezes você escapa ileso, mas quando o cheiro de esgoto sobe no ambiente, todo mundo está nesse estado de nervosismo facilmente identificável.

Seus amigos acabam percebendo que você peidou. Daí você tem duas escolhas: ser taxado de peidorreiro ou ser taxado de peidorreiro e desonesto. Essa coisa de peido ninja é fantasia na mente de pessoas obcecadas pela aparência como a Sally: ela realmente acredita que ninguém percebeu e isso a deixa mais tranquila. Peido deixa rastro e é, na maioria das vezes, identificável.

Muito mais digno assumir a (quase) cagada e permitir as pessoas ao seu redor agir de acordo. Porque tem isso: quem peidou fica na ilusão de que ninguém percebeu e as outras pessoas ficam sem graça de sair de perto ou pelo menos darem risada (mais sobre isso depois). Se você admite o peido, as pessoas tem a liberdade de correr dali e não sentirem o cheiro pútrido das suas entranhas. Se você não assume, muitas se sentem socialmente obrigadas a ficar por perto.

Eu aceito que todo mundo peida, de verdade. Só não aceito ter que ficar cheirando esse peido. Até porque os peidos que mais fedem costumam vir em grupos: peidos casuais não costumam ter tanto cheiro quanto aqueles que saem em intervalos regulares quando algo não está bem no seu sistema excretor. A pessoa que peidou fedido tende a peidar tão fedido quanto nos próximos minutos. Se o(a) safado(a) não admitir e dar carta branca para os amigos saírem de perto, vai continuar o festival de gás metano nariz adentro de todos. E ninguém merece isso.

Sem contar que… peido é engraçado. Parabéns para as pessoas que não sentem vontade de rir quando escutam um, vocês são mais evoluídos que eu. Peido não assumido é engraçado, mas fica um clima chato para dar risada. Mas se há alguém para levar a culpa, todo mundo fica livre para achar aquele um momento engraçado. Peidos são piadas contadas pelo cu! Que tal transformar um momento constrangedor em algo divertido?

Não entendo esse drama todo com a natural flatulência humana. Até ter motivos para pensar o contrário, eu sempre acho que foi um acidente e a pessoa não tentou me sufocar com gases anais de propósito. Princípio da inocência retal. Como eu já disse, cheirar peido não é bacana, mas não é o fim do mundo.

Gosto de recompensar honestidade, por isso jamais seria excessivamente crítico com quem peidou perto de mim e admitiu. Me deu a possibilidade de rir e sair de perto. Não precisa ser uma pessoa perfeita que não peida, só precisa ser alguém com a consideração suficiente para me poupar dos malefícios de um escapado. É pedir demais?

Para dizer que estamos tirando leite de pei… pedra com este texto, para dizer que seu advogado disse para negar até o fim, ou mesmo para dizer que volta quando melhorar o nível por aqui: somir@desfavor.com

SALLY

Hoje estamos profundos e eruditos. Assumir o peido na frente dos amigos? NÃO. Não, não, mil vezes não! Peido é como mensalão: não se assume pois por mais evidente que seja, sempre tem um bando de idiotas que acreditam se você disser que não existiu.

Peido é uma das raras oportunidades de anonimato nessa sociedade moderna nefasta onde tudo é visto, filmado, fotografado e colocado em rede social. Peido é o seu sagrado direito a privacidade. É uma das poucas coisas que ainda podemos fazer de forma solitária e não palpável. Não devemos permitir que a evasão de privacidade chegue a nossos cus. Pelo sagrado direito ao anonimato anal eu imploro: peido não se notifica.

Os americanos tem um termo ótimo para minha teoria: Oversharing. Em uma tradução literal seria “excesso de compartilhamento”. Em uma tradução livre seria algo como “falar demais”, “informação desnecessária”. Assumir peido na frente de quem quer que seja é Oversharing. Uma informação que não acrescenta nada a ninguém. Você não é tão importante, seu cu não é tão importante, ninguém quer saber dos seus peidos, poupe a sociedade disso.

Não é apenas por ser uma informação desnecessária que não acrescenta nada a ninguém. É uma informação que pode voltar para te morder na bunda mais para frente. Não raro amigos descambam para relações amorosas. Onde fica sua dignidade ao se relacionar com uma pessoa para a qual você admitiu um peido? É uma porta que não se fecha depois de aberta. Sempre será mais difícil conseguir fazer sexo com alguém que te viu peidando. Nunca se sabe o dia de amanhã, não vamos nos queimar por nada.

Mesmo que você esteja entre pessoas com as quais nunca terá um relacionamento afetivo, amigos às vezes falam demais. Vai peidando e assumindo que um dia, quando você menos esperar, essa sua inadequação anal será exposta em um bate papo numa mesa de bar com seu par presente. Peido não é sexy, peido é falta de educação. Não se ostenta falta de educação. Ostentar falta de educação é coisa de gente sem noção.

Abstraindo os argumentos anteriores, apelo para a simplicidade: se você é realmente amigo dessas pessoas, não peida nos narizes delas. Levanta, vai ao banheiro e poupa esse seleto grupo que você quer bem de cheirar suas entranhas. Amigo não obriga amigo a cheirar peido. Se você fez essa canalhice com seus amigos, deve se envergonhar e não ostentar o feito. Se um peido furtivo escapou das profundezas do seu sistema excretor, tenha a reação adequada, que é sentir vergonha e omitir o fato. Peidos são como filhos, a gente só atura os nossos, e olhe lá.

Mas parece que essa febre de compartilhar tudo chegou às funções fisiológicas. As redes sociais fizeram as pessoas perderem a noção de compostura. Compartilhar que está com diarreia, compartilhar que está menstruada, compartilhar que peidou… Olha, ninguém quer saber o que se passa com seu organismo e seus fluidos corporais. Poupe o mundo disso e poupe como dobro de empenho seus amigos.

Com amigos compartilhamos coisas importantes, significativas, que não compartilhamos com desconhecidos ou colegas. Se você não assume um peido para um mero desconhecido, não vejo razão para sujeitar amigos a essa afronta olfativa. Seria tratar estranhos com mais consideração do que você trata seus próprios amigos. Não confundir intimidade com abuso.

Amizade não é carta branca para fazer qualquer merda. Amizade deve ser cultivada, respeitada, valorizada. Acho abuso peidar e dizer nos cornos dos outros que sim, você peidou. Você escolheu sujeitar seus amigos a cheirarem partículas dos seus coliformes fecais e ainda os afronta com uma confirmação da sua canalhice.

Sim, existe uma grande diferença entre fazer e assumir que fez. Negar até a morte mostra que você tem consciência do erro cometido, que você se envergonha ou até se arrepende do ato. Assumir é mostrar ignorância da indignidade do ato cometido. Peido em si pode não ser motivo para se envergonhar, mas forçar pessoas queridas a cheirar seu peido certamente o é. Recolha-se à sua condição de vacilão e não assuma o peido, caso contrário o erro será dobrado.

O que uma pessoa que admite o peido espera? Uma medalha? Se depender de mim, periga ganhar uma porrada, que meu nariz não é penico para ficar sendo exposto a isso. Vai levar um esporro, vou ficar chateada. Esse desgaste é realmente necessário? Acho que ficaria mais puta pela cara de pau de assumir a autoria do que pelo mal estar olfativo em si. Mostra que a pessoa encara a sujeição de terceiros a seu peido com naturalidade.

Se você não se envergonha de sujeitar seus amigos ao cheiro dos seus peidos, bem, você precisa refletir um pouco e se tornar um ser humano melhor. Não há necessidade de compartilhar nem os peidos, nem a autoria deles.

Para criticar a escolha do tema, para me encher o saco com um discurso babaca pró-peido ou ainda para se omitir em função do baixo nível da postagem de hoje: sally@desfavor.com

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Comments (24)

  • Considerando que voce foi sincera nesta resposta (sei que nao vai se ofender com esta frase), vou continuar com minhas leituras costumeiras;
    mas, levando em conta que voce foi apenas educada nesta resposta, me consola lembrar que voce cutiva a empatia e, consequentemente, entende que é dificil parar para ler diante de minha rotina atual. Mesmo assim, decidi estudar pelo menos umas tres ou quatro paginas e envia-la finalmente para o seu devido lugar. Sally, releve o fato de eu ficar tocando nesse assunto ocasionalmente. Encare isto como uma empolgacao que nos rendera divertidos resultados.

  • Que post fedido!
    Parabens pela bem escrita analise flatulente sobre queima de gases putridos e fetidos, com aroma de enxofre. É obvio que o mais educado é evitar soltar pum em publico, mas atendo-se ao tema:

    Ora, assumir peido? Que importa saber quem foi, se isso nao fara diferença ao tentar sair do local?
    Qual seria entao o objetivo? O que faz com que as pessoas evitem sentir o mau cheiro e sair do local? O mero e desnecessario ato de assumir o mal feito, ou o proprio mau cheiro? É por isso que acho que nao se deve assumi-lo.

    Um adendo aqui: posso estar errado, mas parece que as mulheres nao fazem barulho quando soltam peido, portanto, para nós nao é necessario assumir, simplesmente porque o flato, quero dizer, o fato em si ja é uma confissao. Creio que apenas as mulheres podem ter a privilegiada escolha de assumir ou nao esta “culpa”.

  • Concordo com a Sally, mas nasci numa família de Somires que ri quando peida, e ainda dão gargalhadas se o peido sair com barulho.
    Desde criança achava um desfavor eles rirem de seus peidos e me chamarem de fresca por não achar graça.

  • Desfavor falando sobre utilidade pública, isso é que é site!

    Minhas ações quanto a esses acontecimentos (raros) pendem para o lado da Sally, mas acho o argumento do Somir bem interessante.
    Somir, pergunta: o que fazer se algo assim acontece sem querer perto daquela loira, alta e gata que você está afim?

    Off topic: Sally, mandei um e-mail para você há algum tempo, você ainda responde os e-mails?

    • Somir, pergunta: o que fazer se algo assim acontece sem querer perto daquela loira, alta e gata que você está afim?

      Eu assumo. Se ela dar risada, é para casar. Se fizer cara de nojo, é só mais uma.

      • Hahaha, melhor resposta, nunca iria imaginar isso, pena que ela namora um daqueles playboys “jogadores” de várzea, senão até tentava….

    • Desde novembro vivencio um inferno profissional abarrotada de tarefas que diariamente não dou conta, por isso estou sem abrir e-mail.Se for urgente, fala por aqui, sem dar detalhes que te comprometam.

      • Ok, Sally, entao la vou eu me encaixando nesta sua sugestao:

        Tenho feito alguns estudos, descartando alguns, revendo e adotando outros…

        Deixa eu te perguntar uma coisa: Voce ja leu Manga? Em caso afirmativo, gostou? O que acha de eu utiliza-los como fonte de “pesquisa”?

        Este foi o comentario mais estranho que ja fiz. Mas fazer o que? Nao ha outra alternativa…
        Imagina! A Sally ter que determinar o que devo ler.

        E ai, Sally? Mangá?

      • Sally, não é algo pessoal, só uma pergunta jurídica-política sobre nossa presidente, por isso segue abaixo e-mail na integra:

        “Olá Sally, tudo bem?

        Sou um leitor ávido do Desfavor, e muito grato por vocês enviarem textos diariamente para pessoas totalmente desconhecidas sem cobrar nada. Entre um texto e outro, vi que você é advogada, e antigamente postava textos sobre isso. Já li o texto que você escreveu sobre a Veja, e entendo plenamente o seu lado. Mas gostaria de saber, você já assistiu o TVeja? Não me parece que eles falem coisas totalmente falsas lá…. Enfim, uma coisa que eles vivem falando (sim, eu acho legal o que eles falam, porque é o único local onde tenho fontes “confiáveis” sobre política, aceito sugestões sobre outros sites, jornais, etc) é que, como a nossa querida presidente não cumpriu o que disse na campanha, ela cometeu um crime ao enganar seus eleitores. Isso é verdade? Ela poderia ser processada por isso, com as devidas provas? Quais as chances de ganhar, que seja por apelo popular, se isso ocorresse?
        Desculpa te incomodar, mas fiquei bem curioso e sei que você é uma das poucas pessoas que podem me responder sem firulas.

        Obrigado”

  • Lendo esse texto, me senti como se estivesse vendo um episódio de Terrence & Philip… Eu não peido perto de ninguém – nem falo publicamente a respeito, apesar de saber ser verdade a tal linguagem corporal denunciadora do ‘alguém peidei, não sei quem fui’ de que o Somir fala – e cuido minimamente da minha alimentação pra não soltar gases TÃO fedidos. Sempre escapa um, claro, mas falar, jamais. Como a Sally, também não gosto de “oversharing”…

    • Não gera nada de bom. Não se “despeida” ao contar, é uma verdade que não gera NADA de bom, apenas humilhação e indignidade.

  • Tem gente que parece que tem um gato morto no intestino, e desculpe falar isso, mas o usual ou são obesos mórbidos ou a turma da maromba… Eu tenho muito medo de gente que come muita carne e toma as albuminas… é um inferno.

    Mas respondendo a pergunta, assumir peido é algo que não se assume. E sempre falo para quem te cu frouxo que precisa reavaliar sua alimentação. Normalmente quem peida muito é pq sempre mete o pé na jaca.

    • Vou falar uma coisa polêmica aqui: eu acho cufrouxismo falta de força de vontade. Falta de empenho em trancar o cu. A pessoa não se importa, ela paga o preço, salvo raras exceções. Eu queria ver se cada peidão desses tivesse uma proposta de um milhão de dólares para não peidar fora do banheiro se esses acidentes realmente aconteciam! Não aconteciam, aposto! O que falta na sociedade moderna é falta de senso de sacrifício.

  • Falando em peido… sabe uma das piores coisas que acontecem no transporte público aqui??!!

    Quando vou pegar o trem para trabalhar… pela manhã e está lotado!!
    A primeira coisa que sinto é o olor fetido de todo tipo de peido reunido no vagão!!
    Puero enxofre!! Horrível!!!
    Nessa horas eu sempre tenho vontade de fugir, sair correndo e gritando por uma mascara de oxigenio!!

    Pior que um peido amigo é vários peidos de desconhecidos…

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