+Uma americana cujo filho morreu de leucemia conseguiu incluir uma imagem desbotada do menino em suas fotos de casamento e gerou comoção nas redes sociais. A mulher afirmou que a ideia de excluir o filho, morto aos oito anos, das fotos do casamento era “insuportável”.

Tem mais:

+Inconformados com a morte do único filho, picado por um escorpião, um casal de fazendeiros do interior paulista decidiu tomar veneno. O marido morreu, e a mulher está internada em estado grave.

Longe de nós fazer pouco do sofrimento alheio, mas… o ser humano parece cada vez menos capaz de lidar com ele. As notícias dessa vez são meros exemplos de algo bem maior… desfavor da semana.

SALLY

O ser humano está desaprendendo a sofrer. O que parece bom em um primeiro momento, é assustador ao analisar com mais cuidado.

Várias notícias nesta semana dão indicativos do que vamos discutir hoje, mas, a que mais me chamou a atenção foi uma mãe DEMENTE (não tem outra palavra para definir quem se porta assim) que fez questão de inserir fotos do seu filho morto,via photoshop, em seu álbum de casamento, como se ele ali estivesse.

O ato em si é estranho, mas eu poderia lidar com a excentricidade. O que me embrulhou o estômago foi a justificativa: segundo a mãe, a ideia de excluir o filho das fotos de casamento era “insuportável”. Oi? Ele foi excluído da sua VI-DA e você é obrigada a conviver com isso, mas da foto do casamento não dá para lidar? Foto > vida. Mas, aparentemente, só eu fiquei chocada, o resto das pessoas se comoveu e elogiou a iniciativa.

Outro caso estranho: os pais de um menino que morreu por ter sido picado por um escorpião acharam que a melhor forma de resolver isso era tomando veneno. O pai já morreu, a mãe está internada em estado grave. Longe de mim querer julgar a dor da perda de um filho, é algo que eu, por não tê-lo, jamais saberei mensurar. Mas desde sempre pais perdem filhos e tocam suas vidas para frente, então, convenhamos, deve ser possível.

O que eu vejo desses sucessivos casos (nas semanas anteriores também apareceram alguns) é que, por um conjunto de fatores, as pessoas não conseguem mais lidar com sofrimento.

As redes sociais, que emulam um mundo perfeito criado pelo usuário, cheio bons ângulos, informações felizes e sucessos, contribuem para isso. Todo mundo é feliz em rede social. É perfeitamente possível pintar uma cara de família feliz na mais disfuncional unidade familiar. É possível pintar amor no mais infeliz dos casamentos. É possível escolher a imagem que você quer transparecer. Mas, quando morre um filho, essa possibilidade de mundo falso cor de rosa desaba, não dá para simular que seu filho esteja vivo. Aí surgem demências como a de tentar inseri-lo depois de morto em eventos comemorativos com o recurso do photoshop.

Além de viver mais nesse “mundo de faz de conta” virtual do que no mundo real (rede social como forma de negação chegou para ficar), tem ainda um complemento para suportar as poucas horas de vida real: remédios. Hoje em dia, qualquer ansiedade, qualquer pequeno sofrimento idiota, repito, IDIOTA, como término de relacionamento, é motivo para tomar remedinho controlado. Ninguém se permite ficar triste, vivenciar o sofrimento e superá-lo pelo caminho normal. Não, o brasileiro é esperto, o brasileiro sempre que atalhos. Tome fluoxetina, tome rivotril, tome qualquer merda, mesmo que seja pinga, que aplaque aquele sofrimento e ele não precise ser vivenciado.

Pessoas fracas, covardes e desestruturadas compram uma felicidade química para suportar suas vidas de merda em vez de usar o sofrimento como combustível para melhorar sua realidade. Não. Melhorar não parece uma opção, as pessoas não tem força para dar uma virada na sua vida. Elas cospem uma dezena de justificativas que usam para enganar a si mesmas tentando convencer como uma virada não é possível, sempre por motivos alheios à sua vontade. A pessoa nunca tem culpa, a pessoa nunca é covarde. A pessoa nunca é fraca. São sempre motivos de força maior.

Ao menor desconforto emocional a pessoa simplesmente desaba. Vejam bem, não estou dizendo que a pessoa tome remédio por sentir um pequeno desconforto, o sofrimento é real. O que estou dizendo é que hoje as pessoas parecem sentir sofrimentos monstruosos por pequenas coisas. A falta de estrutura, de capacidade de frustração e de lidar com as adversidades da vida, típicas de adolescentes, acometeu esses adultos infantilizados que hoje são maioria no Brasil.

Ao não conseguir suportar o sofrimento, a pessoa apela para negação, vícios e remédios para aplacar a angústia, a ansiedade e o sofrimento. É remédio para dormir, é remédio para controlar o humor, é remédio para qualquer incômodo. E os médicos prescrevem mesmo, não querem nem saber. Remédio é a solução para transtornos emocionais. Não vamos tratar a fonte, vamos entorpecer o paciente para que ele não sinta, enquanto aquilo continua ali. Fazer terapia? Não, não. Revirar as próprias merdas para resolver ninguém quer. Todo mundo tem um “bom motivo” (geralmente encharcado de ignorância e arrogância) para não fazer terapia e pegar a via fácil, o atalho: o remedinho milagroso.

Pois, adivinha só? De tempos em tempos a vida agracia a todos nós com eventos trágicos. E sofrimento é como musculação: quanto mais você faz, mais preparado está. Quem vivenciou um sofrimento em todas as etapas, de forma saudável, certamente está muito mais fortalecido para passar por novos sofrimentos e elaborar a perda de forma mais serena e centrada, pois aprendeu com as experiências anteriores.

Já esses faniquiteiros, para sempre terão que se entorpecer cada vez que um obstáculo mais doloroso cruzar seu caminho. Desmontam como crianças, não tem a menor estrutura para suportar nada e nem ao menos se dão conta do mal que estão fazendo a si mesmos e à sociedade. E quando o mal estar é permanente, praticamente eterno, como no caso da perda de um filho, se tornam pessoas eternamente disfuncionais movidas a remédio.

Vivenciar o sofrimento em uma experiência ruim faz parte do que nos faz humanos. Não estou pedindo que ninguém viva sofrendo, apenas dizendo que o sofrimento é uma construção do que somos. É necessário passar por períodos de sofrimento e superá-los (ou ao menos tentar superá-los) sozinho, e isso leva tempo. Essa geração imediatista não consegue elaborar uma perda, lidar com uma frustração grande ou se levantar sozinha quando cai. Perdeu o emprego? O casamento acabou? Remédio. E assim estão, sem um pingo de estrutura.

Nada contra quem realmente tenta se reerguer sozinho mas não consegue. Essa é a intenção real desse tipo de medicamento: ajudar quem cai em uma espiral de sofrimento que desencadeia um desequilíbrio bioquímico do qual a pessoa não consegue sair, por independer de força de vontade. Meu máximo respeito a quem toma remédios nessas condições. Mas meu desprezo absoluto pela idiotinha que se enfia em remédios no segundo mês após o fim do casamento, porque se diz “deprimida”. Existe uma imensa diferença entre estar triste e estar deprimido. Tolerem a tristeza, não sejam tão frouxos. Não conseguir passar dois ou três meses triste é muita paumolescência!

Não tem necessidade de sofrer? Se você pensa assim, pense novamente. Tem sim. O sofrimento nos ensina, nos fortalece, nos prepara, nos deixa mais sábios. O que não tem necessidade é de ficar anos afundado em um sofrimento que não passa, pois transcendeu o estado de ânimo e migrou para uma condição bioquímica. Muito diferente de tomar remédio com poucas semanas de sofrimentos, apenas por não querer passar por aquilo.

Muito triste essa geração cuzona que não consegue superar sofrimento de cara limpa! Muito medo do que essa sociedade vai virar. Ainda bem que não deixo herdeiros.

Para distorcer minhas palavras, para se ofender ao perceber que toma remédios por frouxidão ou ainda para dizer que a culpa de tomar remédios é nossa pois A Semana Desfavor te deprime: sally@desfavor.com

SOMIR

Falo com experiência: essa coisa de tentar suprimir ou mesmo ignorar os sentimentos ruins da vida não costuma funcionar. Embora seja muito lógico concentrar-se nas partes boas da vida e tentar eliminar as ruins, é uma lógica capenga… porque ignora o fato de o sofrimento é inevitável. Você pode passar anos e anos mantendo-se resistente às intempéries da vida, mas uma hora ou outra alguma coisa sai do seu controle e você tem de lidar com esse lado ruim da vida. E aí, se você não treinou bem seu plano de ação em emergências, lida especialmente mal com a situação.

O equilíbrio forçado de manter-se “imune” ao sofrimento pelo máximo de tempo possível não compensa o tombo muito maior que se toma quando ele invariavelmente bate à sua porta. Escutem a voz de quem tentou: provavelmente vai dar errado. Lidar com o sofrimento é uma necessidade básica da vida humana que precisa ser exercitada quando a ocasião se apresenta. Ou faz isso, ou lida com uma flacidez nas suas resistências na pior hora possível. Não é uma boa coisa, já adianto.

Pois bem, não é isso que se diz para as pessoas atualmente. O sofrimento é cada vez mais tratado como uma doença antiga prestes a ser erradicada, pelo menos entre quem pertence a um grupo social mais privilegiado. Sofrer é excesso de bagagem! A vida ideal é o melhor dos oitenta selfies que você tirou naquele dia, um momento congelado no tempo manufaturado para expor felicidade e adequação numa sociedade fascinada por aparências. Parecer feliz é o suficiente para se ser feliz.

E é aí que a realidade discorda da fantasia. A vida também é aquela bateria de poses pouco fotogênicas descartadas antes da postagem. Num texto recente, aqui mesmo num Desfavor da Semana, eu falava sobre como a felicidade fabricada estava moldando até mesmo as memórias das pessoas, transformando em fatos os momentos criados estrategicamente para simular uma realidade mais agradável. É muito humano se perder em versões mais aceitáveis da própria existência.

O que eu tentei ativamente suprimindo sentimentos ocorre de forma mais sutil com tantas outras pessoas. Ao invés de tentarem se enganar com a ilusão de controle emocional, começam a acreditar nas próprias mentiras e vagar perdidamente por um mundo idealizado de imagens controladas, distanciando-se da realidade. Mas a realidade pouco se importa com nossos desejos, eventualmente ela encontra seu caminho vida adentro acompanhada por infecções oportunistas, sensações ruins para as quais não se desenvolvem mais anticorpos.

E aí, o desespero toma conta. Gente que perde o controle sobre os próprios rumos pela dificuldade enorme de lidar com o que a incomoda. Aí, qualquer rumo serve. Até mesmo os mais destrutivos, tudo para evitar sentir algo que deveria fazer parte de qualquer vida. O medo de encarar o elefante na sala reduz consideravelmente a habilidade de se mover livremente dentro dela. A pessoa fica restrita a comportamentos destrutivos e sedação, na esperança de que seus problemas simplesmente desapareçam.

O tempo é o melhor dos remédios, mas ele precisa ser administrado. Não existem atalhos para o sofrimento, ele tem seu tempo de inoculação e não vai se dobrar para ninguém. Mesmo a mega indústria das drogas alteradoras de humor acaba não sendo páreo para os problemas mais comuns da vida humana. Acabamos com gente incapaz de lidar com perdas, tentando preencher o vazio com qualquer coisa que caiba ali. Mas não é assim que funciona… o processo precisa ter começo, meio e fim.

Acabamos vivendo numa era onde sofrer é visto como algo curável, um problema pontual para qual existem várias soluções que não passam por “curtir” a dor até ela ser absorvida de volta pela mente. Infelizmente a realidade não aceita esses truques, cobrando sua conta sem nenhum desconto, mais cedo ou mais tarde. Eu adoraria que existisse uma pílula para eliminar um problema de sua vida, mas na verdade o que elas tendem a fazer é te anestesiar. O problema volta assim que puder.

O ser humano acreditou tanto nessa história de vida perfeita que foi empurrada goela abaixo pela indústria da aspiração que considera cada vez menos a possibilidade de simplesmente ficar triste pelo tempo que sua mente julgar necessário. Não, o correto é encontrar atalhos, evadir esse imposto e fazer de conta que tudo está bem.

Mesmo quando não está. E é nessa hora que vemos as consequências dessa negação medrosa: mais pessoas perdendo a habilidade de funcionar no mundo por qualquer tipo de problema. Encarar o que te deixa triste virou sinônimo de não tratar a doença, como se fosse o mesmo grau de irresponsabilidade. A capacidade de reagir às dificuldades da vida é mais do que uma pílula anestésica mágica, é uma capacidade que se exercita até se ter força o suficiente para resistir à dor, independente de seu tamanho.

Sofrimento é um disco antigo que ninguém mais quer escutar, mas que sempre vai ter um disposto a fazer-nos escutar. Você que decide se vai ouvir ou não.

Para dizer que sofrimento é ler este texto, para reclamar que eu não entendo o que você sente (provavelmente entendo), ou mesmo para dizer que essa vida é chata demais sem se estar dopado: somir@desfavor.com

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Comments (31)

  • Não me surpreendo mais com essas coisas, mas com a atitude da maioria em acolher tais insanidades como algo normal. É como se grande parte da humanidade estivesse imbecilizada e cega…

  • Sofrimento é um disco antigo que ninguém mais quer escutar, mas que sempre vai ter um disposto a fazer-nos escutar. Você que decide se vai ouvir ou não.

    Nesse sentido, dos casamentos para os quais fui convidada em que havia a ausência de alguém importante, o que não sai da memória foi aquele em que passaram, antes da cerimonia, uma apresentação de mais de centena de fotos da recém-falecida mãe do noivo, com direito a músicas melosas de fundo, fotos da pobre senhora cercada pelos filhos e netos no leito do hospital, consumida pelo carcinoma, e, ao final, o nome dela, a data de nascimento e de falecimento, como se fosse uma daquelas reportagens especiais que vemos de tempo em tempo na TV quando querem homenagear alguém famoso que tenha causado aquela comoção. Boa parte dos convidados era amigo de décadas do noivo, acompanhou o sofrimento dele, mas, mesmo assim, causou um mal estar pois demoramos demais para aplaudir a apresentação…

    De resto, dentro das possibilidades tecnológicas, incluir o filho morto nas fotos do casamento se tornaria fichinha diante da possibilidade de, por exemplo, incluir, na cerimonia de casamento hologramas de pai, mãe, irmão, avô, avó, pessoas queridas, animais de estimação mortos. Se alguém aqui trabalha com eventos, talvez esse seja um filão a ser bem explorado no futuro, caso já não tenha sido…

  • Esse texto complementa muitos outros escritos antes, desfavor é um blog completo!!!
    A morte é a única certeza que temos em vida. Não sabemos que vida qualquer pessoa terá mas sabemos que todas as pessoas vão morrer um dia. Outra certeza que temos(e muitas vezes não queremos ver) é que as pessoas que amamos também morrem e, em algum momento da vida, cedo ou tarde, vamos perder alguém. Quando isso acontece, as pessoas se sentem traídas, acham a vida injusta etc,insistem acreditar que existe uma ordem natural de morte, que filhos não devem morrer antes dos pais, que quem amamos deve viver pra sempre e o resto tem que morrer de velhice (e quem morreu cedo foi porque aconteceu uma coisa muito errada talvez castigo divino ou qualquer outro plano misterioso indecifrável do altíssimo). A realidade tá aí pra mostrar que não é bem assim. Essa falta de resiliência pra lidar com perdas e sofrimento também é resultado de tentar viver só o lado bom da vida.

    • Uma das poucas coisas que eu vejo ser capaz de fazer a pessoa romper com o seu tão querido Deus, é quando morre alguém próximo. A pessoa se sente muito traída.

  • Excelentes textos de ambos, parabéns!

    Uma abordagem mais racional sobre um tema cada vez mais recorrente: a incapacidade das pessoas de lidar com sofrimento, perdas e frustrações. A constante sintetização de uma “vida-cor-de-rosa” nas redes sociais mostra suas consequências: as pessoas estão esquecendo como lidar com sofrimento. Sofrer é natural, é parte da vida. Lidemos com isso. Mas isso aí de querer “morrer junto” é outro nível…

  • Como não tenho credibilidade nenhuma nesse blog, vou contar a história de uma… amiga, a Maria Cláudia, que, aos 20 e muitos anos e sem nunca ter feito terapia, nem ter tomado nenhum remédio controlado foi, pela primeira vez, a um psiquiatra. Era um bom profissional e a consulta durou quase 2 horas.

    O psiquiatra ficou muito tempo tentando entender Maria Cláudia (o que é difícil, coitado. Tive pena dele!), usou questionários e fez até um exame físico. Mas, por fim, disse, sem bater o martelo, e com um pouco de insegurança, que não havia um diagnóstico a ser feito. Sem prestar atenção direito ao que ele falou, ela riu e fez uma piada: “Sou indiagnosticável. Um caso sem solução.”

    “-Não” – ele disse. “- Você não tem é, aparentemente, nenhum transtorno para usar como desculpa para continuar neste buraco em que está. Faça escolhas melhores.” Em seguida, ele pegou uma folha do receituário e escreveu alguns nomes de psicólogos e psicanalistas, além de repetir que Maria Cláudia tinha que fazer uma atividade física com urgência.

    “- Já vi pessoas com profundas limitações intelectuais e com transtornos graves que, com esforço e ajuda, venceram seus obstáculos. Agora, pessoas muito inteligentes que simplesmente cruzam os braços e tentam arrumar desculpas para a sua incapacidade de lidar com as pequenas frustrações? Não tenho empatia nenhuma. Seu lugar não é aqui.”

    E Maria Cláudia foi fazer terapia? Não foi. O brasileiro médio é uma piada pronta.

    • Sabe o que eles dizem? “Para pagar caro e conversar com um desconhecido, eu prefiro conversar em uma mesa de bar com um amigo”, como se um amigo tivesse a mesma qualificação que um terapeuta.

      Trabalho duro, a longo prazo, ninguém quer. Todo mundo quer o remedinho imediatistas, mesmo sabendo que ele não trata, apenas camufla sintomas.

      • Verdade, Sally. Isso banaliza o problema de quem tem, por exemplo, depressão. Uma coisa é depressão, outra é preguiça de acordar cedo para trabalhar em um subemprego porque não teve capacidade de conseguir um melhor. Usar um antidepressivo não muda a realidade dos fatos.

        Mas quem quer mudar? A maioria só quer desculpas e bengalas….

        • Todo mundo quer justificar suas muletas: se é descompensado se diz bipolar como forma de se eximir de responsabilidade, se é acomodado se diz deprimido…

        • Como uma pessoa que já passou por depressão, digo que essa banalização é prejudicial para quem realmente sofre(u) com isso. Já basta os que diminuem o problema com “é frescura” “falta de surra na infância” etc.

      • Tive uma infância complicada e alguns problemas de estima que me acompanham a vida inteira. Mas ok, convivia com isso. Até que em determinado momento (após o término de um relacionamento tóxico e difícil) me vi não conseguindo nem trabalhar, tamanha a angústia e descontrole emocional. Tive crises de gastrite seríssimas. Perdi 10 quilos. Se alguma vez estive no fundo do poço, foi aí, exatamente nesse momento. Racionalizei: preciso resolver isso. Fiz terapia por dois anos. No começo, tomei remédios pra dormir pois tive crises de ansiedade que me tiravam completamente o sono. Tomei antidepressivo por seis meses. Calma e lentamente, eu encontrei o equilíbrio. A ajuda profissional foi importantíssima, mas a decisão de resolver, tem que ser pessoal. Pra mim, pagar pra alguém me ouvir foi uma das melhores coisas que fiz. Pouquíssimas pessoas sabem que fiz terapia. As pessoas não entendem a importância e te julgam como louca. Um amigo próximo fez isso, com sutileza mas fez rs.

        Os anos seguintes foram cheios de pequenas vitórias. Mudei de emprego, poucos meses depois fui promovida, comecei outra faculdade, terminei um MBA que estava adiando por anos. Sozinha, mas feliz comigo mesma e com minhas escolhas.

        É preciso saber lidar com o sofrimento. Entendê-lo e buscar resolver. O caminho mais fácil nunca é o melhor caminho.

        • E se conhecer é uma grande arma que pouquíssimas pessoas no Brasil dispõe. As pessoas acham que se conhecem, mas não se conhecem e acabam traídas por si mesmas várias vezes, se sabotam, se sujeitam a violências. Terapia ajuda a se conhecer em profundidade. Eu sempre digo que para não se violentar o segredo não está em conhecer bem o parceiro, e sim a si mesmo, pois sabendo de cor o que te faz mal, você escolhe melhor.

  • Hey, certamente essa mulher necessite de medicamentos e um psiquiatra urgentemente. Tem que ter problemas mentais para incluir uma pessoa morta em fotografias. Não acho que isso seja tristeza e somente sofrimento. É doentio demais para para classificar somente como um sentimento ruim. Tô pasma. Não tinha visto isso durante a semana e é difícil acreditar que as pessoas julguem tal comportamento como normal.

  • É um pouco pior do que isso. Não somente estamos desaprendendo a lidar com o sofrimento, mas também com a mera frustração. Como se aprende a lidar com o sofrimento? Aprendendo a lidar com a frustração desde pequeno. É fácil? Não, mas ninguém disse que seria.

    • Não é fácil, mas é necessário. Essa negação, essa fuga do brasileiro médio vai criar uma geração totalmente despreparada e isso vai refletir em muitos outros setores da vida.

      • São pessoas que não estão sabendo lidar com o cenário catastrófico que estamos vivendo no país atualmente. É uma geração de pessoas frustradas por isso.

    • Satori,

      Se estamos “desaprendendo”, você quer dizer que, em algum momento, sabíamos lidar com o sofrimento?
      Você acha que a humanidade já foi realmente mais sábia?
      Será que as gerações passadas eram mesmo mais equilibradas e menos mimadas? Será que se conheciam melhor, se reconheciam melhor e lidavam de forma mais inteligente com as frustrações?

      • Eram vidas bastante duras e as pessoas morriam mais facilmente. De algum modo, lidavam com isso, mesmo que fosse à base de doutrinação religiosa. Mas é difícil comparar, o que nos vem do passado chega por meio das mentes mais educadas da época, os que eram letrados e tinham recursos. Sempre há um viés.

        • Toda geração tende a achar que os mais jovens são menos educados, menos preparados, menos sábios, mais violentos, mais ignorantes…
          Eu não acho que pioramos. Acho é que nunca melhoramos.

  • Eu entendo que o o tema é árido, e concordo com a gravidade do problema, mas seria legal ir além de metáforas e situações cotidianas para explicar o problema. Sentimentos estão ligados à memória e a comportamentos, que desencadeiam novos sentimentos, memória e comportamentos, etc. A base bioquímica disso é um pouco compreendida (nesse caso seria legal discutir a questão de dessensibilização de receptores), mas a questão vai além da bioquímica. Mas é claro que uma compreensão mínima da bioquímica envolvida seria interessante para o público em geral. Na Europa está acontecendo uma coisa interessante, que são programas de divulgação científica baseados no Do It Yourself (DIY). Isso pode ser perigoso em alguns contextos, mas em geral as pessoas se mantem ocupadas e o nivel de babaquice diminui.

  • Realista Cafeína

    Pois é, fico me fazendo pensar em como me afastar “faxinadamente” do máximo de pessoas, mas também fazendo questão da maior “sobriedade anti-bolha” – acho que entendo…

  • Não esperava essa escolha do Desfavor da semana. Interessante a linha de raciocínio que tomaram. Especialmente o da Sally, que aperta, sem piedade, a ferida do nosso imediatismo e da nossa incapacidade de encarar a realidade como ela é.

    A culpa não é apenas das pessoas ou dessa geração mimadinha, mas também do legado da autoajuda e da publicidade “família margarina” que contaminou tudo, até o judiciário e os psiquiatras.

    Sucesso, hoje, tem muito mais a ver com parecer feliz do que ser feliz.

    O politicamente correto não está mais apenas relacionado com não dizermos pensamentos inadequados, mas também com fazermos o impossível para não parecermos inadequados. Parecemos robôs nas redes sociais. E duvido que seríamos capazes de perceber que um robô imitando um ser humano não é real, se conversássemos com um pela Internet.

    As pessoas se interessam menos pela revista Caras e mais pelas possibilidades de transformar suas redes sociais em revistas Caras editadas delas mesmas e de suas famílias.

    Adorei os textos. Desfavor da semana é minha coluna preferida porque vocês, se não me surpreendem pela escolha, surpreendem pela argumentação e pela abordagem.

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