Skip to main content

Colunas

Arquivos

Sofredores Patológicos.

Sofredores Patológicos.

| Sally | | 60 comentários em Sofredores Patológicos.

Hoje quero falar sobre um tipo insuportável de pessoa: os Sofredores Patológicos. Suponho que o termo não exista, mas eu os designo assim desde sempre. Gente que pauta sua vida em sofrimento. Gente que é ou se acha sem méritos e encontra no sofrimento um motivo para conseguir admiração ou atenção. Gente que não raro se coloca, ainda que inconscientemente, em situações que geram sofrimento para depois tirar proveito dele se vitimizando. Gente que potencializa e valoriza pequenos dissabores, para estar sempre passando uma imagem de “sacaneado pela vida”. São os Sofredores Patológicos, que cada vez aumentam mais e dificilmente tem seu mecanismo de funcionamento percebido. Tenho pavor de Sofredores Patológicos.

A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional, e, por incrível que pareça, muita gente opta por levar uma vida sofrida. Gente que acredita existir um mérito no sofrimento. Pessoas que se sentem envaidecidas, superiores e até orgulhosas de seu sofrimento. Estas pessoas parecem buscar o sofrimento, de forma direta ou indireta, por aprenderem a funcionar vinculadas a ele. Um Sofredor Patológico não percebe o que está fazendo, não é uma escolha consciente. Ele sempre terá uma ótima desculpa para a inevitabilidade do seu sofrimento e, como em nossa sociedade o sofrimento é sagrado, ninguém os confronta. Não se questiona quem está sofrendo, seria desumano.

Nada contra viver essa vida de merda, cada um estraga a vida como quer. Mas eu acho essas pessoas chatas. Gente constantemente sofrida, queixosa, dramática já seria ruim, mas tudo piora quando nos damos conta que essas pessoas despejam esse modo de vida em todos que estão em volta, contaminando-os. Não conseguem ver que não há mérito no sofrimento e sim em superar o sofrimento e ser feliz apesar das adversidades. Seu modo de funcionar é lamurioso, ostentando suas adversidades e o sofrimento que elas lhe geram. Meu ouvido não é penico, nem a pau que eu fico perto de uma pessoa assim! E se o seu também não é, rebele-se e saia de perto. Não faça parte desse pacto social nefasto de ficar lambendo vítimas.

Talvez seja resultado de uma educação religiosa, já que na maioria delas o sofrimento é sinal de evolução, é mérito. Esse pensamento doentio que relaciona sofrimento a recompensa futura acaba entrando no inconsciente de criancinha que crescem escutando essa besteira dentro de casa. Talvez seja fruto de uma cultura de vítimas que atualmente impera no Brasil, onde sofredores e ofendidos recebem benefícios por isso. Talvez seja apenas gente que não está preparada para ser feliz, que tem medo e se sabota. Mas uma coisa é certa: nós temos o sagrado direito de não querer gente assim por perto. Talvez te achem insensível, mas, francamente, você tem o sagrado direito de romper com gente assim. Não é insensibilidade sua, é sanidade.

Você deve conhecer alguém da espécie: moça sofrida mãe solteira com um filho ou uma mãe doente para cuidar. Ou esposa destratada pelo marido que insiste em ficar no casamento por covardia, encobrindo seu masoquismo sob o manto de boa mãe que está pensando nas crianças. Filho maltratado e abusado pela mãe que tolera e perdoa tudo porque “mãe é mãe”. Estes e muitos outro tipos nos cercam e despejam seus baldes de estrume emocional, esperando afagos e admiração. Não dou, dou tijolada, falo honestamente o que penso dessa postura. Tá ruim? Separa, melhor isso para os filhos do que uma mãe sofrida. A mãe maltrata? Corta relações, não importa se “mãe é mãe”, amar que nos maltrata é doentio e ponto final. Mas não, eles ficam. Ficam e depois fazem nossos ouvidos de penico.

Obviamente, quem escuta um corte não gosta. Além de não gostar, se surpreende, pois esse discurso sofrido sempre funciona e lhe fornece validação, afagos e admiração. Como assim não deu certo? Como ousa não se compadecer e aplaudir? Não aplaudo. Aplaudo gente que, apesar de uma vida sofrida, me conta uma piada, me faz rir ou ri da própria situação. Meu medidor de inteligência para com outro ser humanos é o humor e não sua capacidade de superação. Exemplos de superação são um pé no saco. Por isso, saiba que o Sofredor Patológico vai se indignar quando você não fizer o jogo padrão, dando afagos e palavras de conforto. Quem se importa? Eu, certamente não.

Aparentemente esse tipo de pessoa que se define pelo sofrimento e se envaidece dele leva sua vida sempre norteando-a, consciente ou inconscientemente, para obter cada vez mais sofrimento. Como isto não é socialmente aceitável, camuflam essa condução de vida fazendo-a parecer algo mais nobre. Exemplo: pessoa adota criança com sérias deficiências físicas e mentais e sai de boazinha por ser capaz desse amor incondicional. Não, desculpa mas não. A pessoa tinha centenas de crianças à disposição e escolheu uma com severos problemas que limitarão suas vidas? Tem um ganho secundário muito forte aí. Invejo quem ainda acredita na bondade humana e acha possível um ato assim, desinteressado. Eu, não mais. Essa pessoa que pena, quer olhares para si, que se sentir superior, que aplausos.

O Sofredor Patógico quer ser vítima, quer ter todas as atenções para si, quer ter um constante álibi para o caso de nada na sua vida dar certo: “coitada, ela nunca mantem um relacionamento por muito tempo, mas também, com essa criança que ela adotou, é difícil”. Provavelmente não. Provavelmente a pessoa tem uma personalidade repulsiva e usa essa vida sofrida para encobrir seus defeitos e deficiências. É o plano perfeito, pois explica socialmente seus fracassos sem que para isso ela tenha que se expor. Gente que se esconde atrás do seu sofrimento para não ter que lidar com suas escolhas de vida, é tanto desprezo que não cabe em mim.

Veja bem, com isso eu não quero dizer que eles não sofrem. Sofrem. Sofrem verdadeiramente. Passam uma vida toda sofrendo muito, afinal, procuram isso muitas vezes sem perceber. O fato de uma pessoa estra sofrendo “de verdade” não significa que ela não seja uma sofredora patológica. O que os caracteriza não é a falsidade no sofrimento e sim sua dependência dele.

Algo engraçado de se ver são os períodos mais serenos da vida dos Sofredores Patológicos. Mesmo procurando por sofrimento, existem períodos onde ele não se apresenta. Nestes períodos de calmaria, o sofredor patológico fica extremamente angustiado e acaba por sofrer sem motivo ou por pequenas coisas. Alguns literalmente inventam problemas, pois se sentem perdidos, não sabem o que fazer sem eles: dores, doenças, surtos paranoicos envolvendo aqueles que os cercam (meu filho está usando drogas, meu marido está me traindo, estão me escondendo alguma coisa, etc). É muito triste de se ver. É uma dependência pior do que nicotina.

São chatos, são insuportavelmente chatos,mas geralmente conseguem agrupar um numero de pessoas boas e compassivas a seu redor, que tendem a chamar de amigos. Não por muito tempo, com o passar dos anos percebe-se a vocação para o sofrimento, pois não há azar nessa vida que gere tantos dissabores. Claro que o Brasileiro Médio não entende ou aceita mecanismos inconscientes de sabotagem, seria complexo demais. Por isso, tende a explicar o fenômeno daquela forma simplória e ignorante: “não fala que atrai!”. Culpam o Sofredor Patológico dizendo que ele sofre por “falar e atrair sofrimento”. É, é bem isso, se você fala em uma coisa, a atrai… DÓLAR, DÓLAR, EURO, EURO! Ops, falhou.

Os Sofredores Patológicos de alguma forma precisam desse escudo, de cultivar sempre algum sofrimento para ter um safe place para canalizar todas as suas angústias represadas, para se escusar de uma série de obrigações não cumpridas, para justificar covardias e fracassos pessoais. Como já disse em outro texto sobre escudos, se a pessoa precisa deles, o certo é deixar que os mantenham, se não, se faz uma covardia contra a pessoa, ela se sente atacada e, como reação automática, ataca de volta.

Na teoria é fácil falar. Na prática, quando somos obrigados a conviver com pessoas assim, a “irritância” é tão grande que muitas vezes arrancamos seus escudos. Daí vem o mimimi, você é uma pessoa horrível, grosseira e incompreensiva. Pois é, o ideal é não mexer no escudo dos outros, mas para isso seria bacana que os outros não despejem suas neuroses na gente. Às vezes, para fazê-los parar, acabamos cutucando o escudo alheio. Acho compreensível, pois talvez seja a única forma de colocar uma trava nessas pessoas. Se um dia você o fizer, não se sinta mal depois. Lembre: seu ouvido não é penico.

O fato é que sofredores patológicos são quase que irrecuperáveis. Se você tem algum orbitando à sua volta, livre-se dele. Esta pessoa não vai mudar, pois colocou uma camada de maquiagem em um problema enorme de modo a nem ao menos conseguir ver o problema. Se, quando identificamos e isolamos o problema já é difícil mudar, imagina quando nem conseguimos ver que ele está ali. Também não vai aceitar toques, conselhos ou ajuda, pois está muito bem escorada atrás dessa maquiagem e vai te fazer sair de vilão.

Pessoas assim são vampiros de energia que não gostam genuinamente de você, apenas te usam como plateia para seu grande espetáculo de auto-piedade. Afaste-se, mude-se, peça demissão, divorcie-se. Caso contrário, você começa a ser tão doente quanto eles por se conformar em suportar algo assim. Arrastar uma pessoa para esse mar de lamurias e sofrimento é maltratar, não aceite isso. Afaste-se de Sofredores Patológicos. Sempre há uma saída, porém saídas requerem coragem e sacrifícios. Lembrem-se sempre: amar quem nos maltrata é doentio.

Para me xingar por eu ter mexido no seu escudo, para se libertar da culpa de dar um corte em Sofredores Patológicos ou ainda para contar sua experiência com eles: sally@desfavor.com


Comments (60)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: