Sinais.

O mundo está cheio de transmissões, sons e sinais de todos os tipos. Se algumas não passam de alguém vendendo pamonha cedo demais na sua rua, outros são bem mais inexplicáveis. Hoje eu vou passar por alguns dos meus preferidos, com uma versão divertida e uma chata de cada um deles. Ouvidos atentos? Então vamos lá.

Dizem que para impressionar, tem que começar com um exemplo grandioso. Então, nada melhor do que Bloop. O Bloop é um som de freqüência ultra baixa e extremamente poderoso detectado pelo NOAA (Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera) dos EUA em 1997. O NOAA tem um sistema de hidrofones (microfones aquáticos) no oceano pacífico para uma série de estudos sobre clima, animais marinhos e coisas do tipo, claro, o sistema foi instalado para detectar submarinos russos, mas desde o fim da guerra fria é utilizado para propósitos mais científicos.

O que chama atenção no Bloop é sua potência. Foi detectado a pelo menos 5.000 quilômetros de distância do sistema de microfones, com seu ponto de origem sendo traçado ao Pacífico sul, mais ou menos na direção da América do Sul. As primeiras análises sobre o som o tratavam como algo condizente com um ser vivo, pela variação rápida de freqüências típica de animais marinhos gigantes, feito baleias. O problema era… não podia ser uma baleia pela potência do som. Ou tinha um ser vivo muito maior do que isso emitindo o som, ou quem o produziu tinha uma capacidade desconhecida até então de propagar sua comunicação.

Coincidência ou não, o ponto definido como a origem do Bloop fica estranhamente perto de onde o escritor H. P. Lovecraft disse que ficava a cidade de R’lyeh, onde supostamente o gigantesco monstro Cthulu dorme debaixo das águas.

Chato: Ninguém bateu o martelo ainda, mas a origem mais provável do som vem de terremotos de gelo. Quando placas ou icebergs sofrem fraturas gigantescas e propagam o som pelo mar. O próprio NOAA detectou sons parecidos em icebergs desintegrando-se perto da costa da Antártida.

Outros sons que mexem com a imaginação de muita gente vem de rádios cujo propósito nunca foi explicado oficialmente: rádios de tons e rádios de números. Uma das mais famosas – senão a mais famosa – é chamada de UVB-76, e sua origem foi traçada até a Rússia. Essa rádio transmite em AM, com ondas curtas na freqüência de 4625 kHz. O conteúdo da rádio? Um zumbido intermitente que se repete 25 vezes por minuto, 24 horas por dia. O que poderia ser só um defeito ou um teste, mas a rádio está transmitindo, de uma forma ou de outra, desde 1973.

O nome popular dela é “The Buzzer”, o que pode ser traduzido como “o zumbido” ou mesmo “a campainha”. Ás vezes, no entanto, o padrão monótono dos zunidos é substituído por vozes. Não há horários definidos nem mesmo dias para isso acontecer, a rádio pode ficar anos sem uma dessas mensagens. Mas quando acontece, são códigos em russo. Apenas uma vez foi gravada o que parecia uma conversa entre dois oficiais russos por alguns minutos, e pela intensidade do som, é como se tivessem esquecido o microfone aberto e conversassem num local distante.

Teorias mais divertidas falam sobre essa rádio como se fosse um “detonador pós-morte”, uma forma do exército russo deixar funcionando um sistema de vingança caso fosse atacado por armas atômicas e não tivesse ninguém vivo para responder. Caso o sinal da rádio pare, os sistemas estariam programados para disparar mísseis contra os americanos. Não existem muitas dúvidas sobre a natureza militar da UVB-76, afinal, algumas das vozes mencionavam oficiais e sistemas militares.

Chato: O mais provável é que a UVB-76 seja uma rádio de baixa prioridade para o exército russo, usada basicamente para manter seus oficiais alertas em seus postos. O tom repetitivo é uma excelente defesa contra o uso da mesma freqüência por outras pessoas, sendo preferíveis freqüências onde não tem ninguém buzinando a cada 2 segundos.

Nessa mesma linha, existem as rádios de números. Essas já são mais conhecidas (não do grande público) e são descaradamente militares. A ideia é transmitir sequências de números que só alguém com um decodificador de uso único pode entender. Essas freqüências podem assustar que em está caçando sinais, pois ficam em silêncio por horas, dias, meses… e de repente surge uma voz robótica (modulada para não ser identificável) dizendo apenas números, um após o outro. Do mesmo jeito que começa, termina.

Normalmente são usadas para comunicações com agentes de inteligência fora do país, quando nenhum outro meio de comunicação parece seguro o suficiente.

Mas temos mais sons difíceis de explicar: alguns que não precisam de microfone ou rádio para captar. Há um fenômeno chamado de “The Hum”, que é o relato por várias pessoas numa mesma área de sons de baixa freqüência persistentes, mas que nem todos podem ouvir. As pessoas que reportam esse problema dizem que não adianta nem colocar protetores de ouvido para resolver. E como o som não para, pode ser extremamente desconfortável para aqueles que o escutam. Existem relatos de pelo menos três suicídios supostamente relacionados ao zumbido permanente só no Reino Unido.

O mais famoso “hum” se chama “Taos Hum”, detectado numa cidade mexicana homônima. Algo em torno de 2% da população local ouvia um zumbido parecido com uma máquina funcionando à distância. Som que nenhum microfone era capaz de captar. Em 1991, o governo mexicano lançou uma equipe de especialistas para procurar pela origem do som, mas não encontrou nada. Existem relatos desses zunidos na América do Norte e na Europa, principalmente.

O curioso é que algumas dessas pessoas que dizem ouvir o zunido deixam de ouvi-lo quando se afastam suficientemente do local. O que torna complexa a definição de um problema auditivo recorrente. Existe algo fazendo esse zunido que incomoda tanta gente, e existem ainda mais explicações possíveis. Desde experimentos militares até mesmo o canto de acasalamento de peixes… não há certeza sobre nada ainda.

Chato: o ouvido humano é capaz de produzir sons autônomos, o fenômeno se chama Emissão Otoacústica, e os sons vem do ouvido interno num mecanismo feito para cancelar variações ambientais e melhorar nossa audição média. Algumas pessoas podem ser sensíveis a esse som.

E para terminar, vamos de Wow! O sinal Wow! (vulgo “Uau!”) é um sinal de rádio recebido por um telescópio de rádio da Universidade de Ohio, nos EUA. O sinal aparenta ter vindo da constelação de Sagitário e tem os sinais esperados de uma comunicação inteligente de origem extraterrestre. Ele tem esse nome porque o astrônomo que descobriu o sinal analisando os dados dos dias anteriores marcou a sequência de dados que achou interessante e colocou um “Wow!” do lado.

O sinal durou 72 segundos, enquanto o telescópio estava apontado naquela direção, mas nunca mais foi capturado. O interessante desse sinal é que ele não parece ter origem natural, sendo um salto muito grande em freqüência, saindo completamente dos padrões dos sinais de fundo comumente encontrados na análise das ondas de rádio vindas do espaço. Considerando a rotação da Terra, era esperando que alguém transmitindo naquela direção só seria detectável por esses 72 segundos, com um pico nos 36, metade do trajeto, até desaparecer. E foi exatamente isso que aconteceu.

Chato: Existem várias teorias de origens naturais, outras de origens artificiais, mas aqui da Terra mesmo. Um cientista inclusive tentou provar que na verdade era o sinal vindo de um cometa, e que na época da captura do sinal dois deles estavam na direção captada. Mas nenhuma foi aceita ainda. Dificulta muito o fato de nunca mais terem captado nada nem parecido desde 1977.

Terror: Em 2012, no 35º aniversário da descoberta do sinal, mandaram um sinal de volta naquela direção, com 10.000 mensagens… de Twitter! Se tem alguém inteligente escutando, preparem-se para a destruição.

Para dizer que esse texto é o sinal que você tem tempo a perder, para dizer que preferia sem o bloco chato, ou mesmo para dizer que o som mais estranho é o que toca no Carnaval: somir@desfavor.com

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