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Paulicéia Desvairada.

Paulicéia Desvairada.

| Desfavor | | 25 comentários em Paulicéia Desvairada.

Conforme as regras do mês Macacos com Navalhas, Diego Pontes escolheu a manutenção do Desfavor da Semana e também sugeriu o tema: antigamente os paulistas eram sacaneados por não saberem fazer carnaval, hoje em dia a cidade está lotada de gente fazendo as mesmas coisas que fazem no Rio ou em Salvador. Numa cidade muito maior e mais populosa. São Paulo não é mais refúgio… desfavor da semana.

SALLY

Qual é a surpresa? Carnaval é uma merda mesmo e todo mundo sabe disso… Tá, sabemos que carnaval é um período do ano complicado, com o qual não nos identificamos, mas há um diferencial: a coisa era mais civilizada em São Paulo e este ano descacetou de vez. Ahhh São Paulo, que triste ver sua riodejaneirização! Minha alma chora.

Rio e Bahia são lugares sujos, repletos de violência, péssimo atendimento e gente oleosa e promíscua. Não é surpresa nem novidade para ninguém. Mas São Paulo estava em outro patamar, nem que fosse pelo fato de todo mundo pegar o carro, encarar 379 horas de congestionamento e fugir da cidade. Infelizmente, meus amigos, isso mudou. Aquelas pessoas alinhadas, mais silenciosas, mais civilizadas, deram lugar a uma massa nefasta.

O carnaval de rua ou os “bloquinhos” invadiram com força a cidade de São Paulo, com tudo de hediondo que tem direito: gente muito bêbada criando confusão, urina, suor, mau cheiro, gente melada, promiscuidade e indignidade em geral. Só que pior, pois em São Paulo tem mais gente. É, galera, a hora chegou. A Bahia migrou até conquistar hegemonia cultural em São Paulo. Parece que agora eles são maioria nesta cidade que era um dos poucos refúgios de dignidade no país. Nesse ponto eu admiro Campinas: lá não tem perdão, os populares não saem da obra para se tornarem formadores de opinião, eles não deixam de jeito nenhum. Mas em São Paulo… algo deu muito errado.

É folião depredando o metrô, tirando selfie nos trilhos, mulher mijando na rua ostensivamente, gente melada e suada se pegando sem qualquer critério. Não, não é moralismo, quando falo “sem qualquer critério” me refiro a ver uma pessoa vomitando e, ato contínuo, agarrando e beijando um transeunte que passava, ainda com resto de vômito na boca. Boa sorte para vocês que frequentam bloquinho em São Paulo, viu? Se a coisa saída do controle no Rio, com menos pessoas, em São Paulo vai ser o inferno na Terra. Está oficializada a mesma tática de guerrilha utilizada no Rio: vai pra casa do crush ver netflix, que carnaval de rua não dá. Mas sai cedo, bem cedo, que o trânsito de São Paulo está bizarro e vai demorar para chegar!

O mais curioso é que, apesar de enormes abusos, como bebedeira, uso de drogas e promiscuidade, este também vem se desenhando como um dos carnavais mais politicamente corretos de todos. E o surgimento desse “pode – não pode” vem, em sua maioria, de formadores de opinião de São Paulo. Uns alternativos barulhentos, que se acham donos da verdade apenas por gritar mais alto.

Assim, São Paulo se tornou a pior combinação: carnaval baiano (porco, sujo, violento, mal educado e fedido) com policiamento de Sudeste. Se na Bahia se portam como animais, a polícia também segue na mesma linha, basta dar uma olhada no vídeo do carnaval de Salvador que comentamos faz pouco tempo: é porrada de cassetete na cara de mulher, idoso e criança, não querem nem saber. A porrada estanca de forma violenta, não tem conversa. Policial de São Paulo tem um preparo um pouquinho melhor, não barbariza assim, ou seja, não consegue parar esses animais.

E aí entra outra contradição: o que pode e o que não pode é esquizofrenizante. Abaixar as calcinhas e urinar na rua na frente de crianças e até de uma câmera, ok. Vomitar e agarrar alguém ainda com a boca vomitada, ok. Fazer sexo sem camisinha com desconhecidos dos quais não se sabe nem o nome, ok. Mas glitter… Não. Glitter é desumano, faz dodói nos peixinhos. Isso mesmo, algum desocupado se deu ao trabalho de pesquisar o que acontece com o glitter que os foliões passam no corpo: aparentemente ele vai parar no mar, é comido pelos peixes e causa algum dano ambiental.

A tinta escrota e tóxica de cabelo colorido, a maquiagem, os óleos corporais, os cílios postiços ou todos os demais acessórios químicos de passar no corpo não causam dano algum, mas o glitter é condenado. Se você passa glitter você não tem consideração e está arriscado a que gritem com você no meio da rua. Proibir bebida alcoólica e evitar a morte de centenas de inocentes é “censura”, é “opressão”, é excesso. Mas proibir o glitter, que faz dodói na barriga do peixe, é super necessário.

Também tá rolando estresse envolvendo fantasias. Carnaval é uma época onde se brinca de ser justamente aquilo que você não é, e, contrariando essa premissa, uma série de fantasias vem sendo endemoniadas. A grande estrela deste ano é a fantasia de índio, com direito a campanha com o slogan “Índio não é fantasia”. Aparentemente, é apropriação cultural e desrespeito se vestir de índio e, se você sair fantasiado com uma das fantasias “proibidas” pela histeria do politicamente correto, você pode ser hostilizado na rua. Manda esses porras tirarem a camiseta da Adidas ou do Flamengo então, pois estão se apropriando da nossa cultura!

Além de não pode usar fantasia de índio, também está decretado que as seguintes fantasias são desrespeitosas: Homem vestido de mulher (a menos que você seja o Pabllo Vittar, nesse caso, é lacre), Muçulmano(a), Cigano(a), Empregada Doméstica, Enfermeira, Iemanjá e qualquer coisa envolvendo negros (a menos que você seja negro, apesar de que, neste caso, não faria o menor sentido se fantasiar de negro). Cada uma delas tem uma explicação histérica e lamentável, que me permito nem explicar. Se eu tivesse um pouco mais de disposição, dava um jeito de sair com todas elas ao mesmo tempo, mas, ainda prefiro aquele plano do Netflix para o meu carnaval.

Então, temos a seguinte esquizofrenia: festa pagã, onde vale tudo, desde que esse “tudo” atenda ao que um grupo que, diga-se de passagem, é minoria, estabeleceu que é correto. Caso não se atenda ao que esse grupo decretou como aceitável, você provavelmente vai ser hostilizado em algum momento. Sensacional. Logo São Paulo, que sempre bancou suas regras próprias, que sempre chamou de piranha mulher carioca, que sempre chamou baiano de preguiçoso, se rendeu ao politicamente correto. Ô tristeza… São Paulo, você estava nos meus planos, mas se continuar se portando feito um viadinho, vou desistir de você!

Gente que passa a porra do ano todo pisando na cabeça alheia, tem um surto de bondade no carnaval e se preocupa com os pobres peixinhos, com o ecossistema e com as minorias. Mas olha… vai tomar no cu, que vontade enorme de lacrar e se dizer boa pessoa! Vão impor as neuroses de vocês para seus filhos e parceiros, não venham encher o saco da pessoa normal que sempre saiu vestida de índio ou com o vestido da esposa no bloco das piranhas.

Tem também a questão do assédio. Eu rio horrores quando vejo grandes portais “ensinando” o que é assédio e o que é cantada. Vamos ser bem sinceros? Mulher pode tudo, homem não pode nada. Boa sorte aí para quem quer se arriscar a abordar uma mulher no carnaval, é uma grande loteria. E se a mulher não quiser nada, pode dar um fora grosseiro, rude ou até violento. Se for o oposto, um homem que tenta se desviar de uma mulher que o agarrou, bem… boa sorte. Francamente, é preciso ter muito complexo na cabeça para achar que um paulistano está te assediando. Homem paulistano é manso e educado. Se essas pessoas passarem um carnaval no Rio morrem do coração.

São Paulo… São Paulo… Não parta meu coração desta forma! Você sempre foi meu “what if guy”, meu eterno projeto futuro, a antítese de tudo que eu desgostava no Rio. Não, São Paulo, ainda temos uma história de amor para viver. Parem com a riodejaneirização de São Paulo!

Para dizer que também está triste por São Paulo, para dizer que carnaval é indigno em qualquer canto do Brasil ou ainda para dizer que está torcendo pela minha “história de amor com São Paulo”: sally@desfavor.com

SOMIR

Podem me chamar de bairrista, mas a verdade é que no Brasil, ninguém faz mais bem feito que São Paulo. Tentaram botar o centro do poder em diversos outros lugares primeiro, tentaram desenvolver o país ao redor de Salvador e do Rio de Janeiro, mas quem acabou dominando a economia e honestamente, o poder do país (dinheiro decide as coisas), foi a capital paulista. E se não fosse o suficiente, o estado ainda desenvolveu o interior mais rico do país. Quem é de fora pode não notar muito claramente, mas as cidades grandes do interior do estado tem uma estrutura muito próxima das capitais dos outros.

A única região que se aproxima disso é o Sul, mas aquele povo não parece tão desesperado por fazer dinheiro como nós aqui de SP. Eu sei que está soando demais como um juízo de valor, mas até aqui eu não estou falando nada sobre o que é melhor ou pior, estou só apontando fatos comprováveis por números. Paulistas historicamente são bons de desenvolvimento. Pegam um conceito e fazem ele virar economicamente viável e duradouro. E como estamos no Brasil, por décadas e décadas isso foi motivo de piada: paulista não sabe se divertir, só pensa em trabalhar, não tem criatividade… blá, blá, blá. E tudo isso elevado ao cubo quando se fala da capital.

A piada recorrente sobre o carnaval paulistano ser depressivo está acabando. A gentalha está nas ruas, fazendo as mesmas merdas pelas quais os outros grandes carnavais de rua do país ficaram famosos. Sim, voltei a fazer juízo de valor… porque temos dois grandes desfavores nisso. O primeiro é que esse povo que consegue fazer as coisas se desenvolverem decidiu que vai entrar de cabeça na baixaria do carnaval. Quando isso acontece no Rio ou em Salvador, a própria mentalidade local se encarrega de segurar as coisas mais ou menos estáveis. A ideia de fazer as coisas no jeitinho, de levar vantagem imediata e tudo mais que vem nesse pacote que tornam os antros mais famosos de carnaval cidades terríveis no resto do ano ajuda a manter as coisas isoladas por lá.

Agora, quando paulista resolve fazer carnaval? Repito, estamos no Brasil, até os supostos seres mais eficientes do país ainda são brasileiros. Não vai ter bom senso ou equilíbrio psicológico suficiente no público de nenhum estado para segurar toda a parte horrível da festa. De alguma forma, o estado estava mais ou menos protegido do carnaval pela fama que tinha conquistado, até mesmo os paulistas querendo fugir de suas cidades nessa época para não perderem oportunidades. Isso tinha um efeito colateral positivo: pelo menos o paulista e o paulistano não cagavam no quintal da própria casa. Iam fazer merda para fora e quando voltavam, tinham a civilização suficientemente intacta para usufruir. Mas, com a guerra entrando em suas fronteiras, a população local não tem mais pra onde correr.

E mais juízo de valor: pessoas que trabalham para deixar o Brasil menos brasileiro e dar uma chance mínima de desenvolvimento à nossa sociedade tendem a detestar carnaval. Esse estupor alcoolizado infestado de fluídos humanos choca e enoja quem tenta se colocar num patamar mais evoluído de existência humana. Num exemplo mais clássico: não foram os vomitórios que fizeram Roma crescer, foram os aquedutos. Sim, somos todos humanos e temos nossas necessidades, mas via de regra precisamos mirar em algo mais alto se quisermos um desenvolvimento social. Tremenda sacanagem com tantas dessas pessoas interessadas em trabalho que se mudaram pra São Paulo cagar dessa forma a casa deles. O carnaval podia ficar contido nos lugares sem salvação, como de costume.

Só que não estamos vendo isso, estamos vendo o carnaval invadir a capital, e temo que logo logo o interior (ainda é relativamente seguro aqui na roça – tem muita merda acontecendo, mas é mais fácil de desviar) vá pelo mesmo caminho. Eu sei que parece muito drama por alguns dias do ano, mas quem garante que a “carnavalização” do país não ficou restrita nesses dias só pela incompetência dos organizadores de outros locais? No Nordeste (e Rio é Nordeste, desculpa a sinceridade) o carnaval já dura fácil fácil um mês contando o antes e o depois. Imagina só se paulista consegue fazer isso ficar economicamente viável por mais e mais tempo? Tem muito mais dinheiro em circulação pra cá, é muito mais fácil se locomover pelo estado (cidade pequena aqui é cidade média no resto do país), o mercado de consumo é gigantesco… e se os poderes paulistas forem usados para o mal?

Sem contar que de alguma forma, o povo desse estado caiu no papo horrível que serem ruins de carnaval era um problema. Era justamente o ponto positivo do estado. Era motivo de orgulho ter uma cidade vazia nessa época do ano, ser sacaneado por não saber sambar, por ser reprimido e viciado em trabalho. Essas são as características dos povos que geraram sociedades ricas e seguras! Ao invés do paulista encher o peito e dizer com orgulho que não sabia fazer essa macaquice de ficar rebolando bêbado por vários dias seguidos, se mordeu e resolveu mostrar que conseguia sim.

Grande vitória. Da mediocridade. Acho que está na hora de começarmos a nos mudar do Paraná para baixo, porque os Orcs já estão nas nossas fronteiras. Parabéns, São Paulo.

Para dizer que ficou mordido(a) com esse papo de superioridade paulista (mesmo vendo que eu não elogiei), para dizer que estamos reclamando cedo demais, ou mesmo para dizer que só veio aqui pra ler a Sally cacetando as pessoas nojentas que mijam na rua: somir@desfavor.com


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