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13 anos de… mercado de trabalho.

13 anos de… mercado de trabalho.

| Sally | | 47 comentários em 13 anos de… mercado de trabalho.

Hoje Desfavor completa 13 anos. Em vez de fazer bagunça e piada, resolvemos aproveitar para fazer uma coisa diferente: refletir sobre esse lapso temporal. O mundo mudou muito nesses últimos 13 anos e é provável que mude 10x mais nos próximos 13 anos. Vocês estão preparados para isso?

Temos alguns (ex)leitores que se doem até hoje pelo que consideram uma “traição” ou “hipocrisia” nossa: o “absurdo” do Desfavor não ser mais o mesmo de 13 anos atrás. Um conselho: se você pensa da exata mesma forma hoje do que pensava 13 anos atrás em qualquer área, hora de rever seus conceitos, pois a vida vai te atropelar.

O mindset (forma como a mente pensa, funciona) de hoje não pode ser o mesmo de 13 anos atrás. As premissas de hoje não podem ser as mesmas de 13 anos atrás. Os caminhos pelos quais você escolheu executar seus objetivos não podem ser o mesmo de 13 anos atrás. O mundo mudou muito, dificilmente uma ferramenta antiga te ajude atualmente.

Escolhi esse tema, o mindset, pois o que mais vejo são pessoas com boas intenções, com objetivos sinceros, válidos e úteis para a humanidade, mas que estão dando com a cabeça na parede, ano após ano, por insistir em usar caminhos antigos que já não levam a lugar algum.

E, ao não conseguir chegar a lugar algum, estas pessoas se frustram e começam a achar que é impossível concluir suas metas ou fazer algo de bom.
Conselho: se você não conseguiu chegar no seu destino e sente que esse ainda é um destino válido, em vez de mudar o destino, tente mudar o caminho.

Em 2008 o mercado de trabalho recompensava o corporativo (executivos de todas as áreas, com roupas caras e muita pose) e certas profissões cujo diploma dava, no mínimo, status (advogado, engenheiro, médico etc.). O antigo “faz um concurso para o Banco do Brasil” virou um “faça uma carreira em uma grande empresa”.

Durante um tempo, funcionou. Talvez às custas da saúde ou da família da pessoa, mas alguém que trabalhava para uma grande empresa era considerado bem-sucedido. Mas, com o passar dos anos, novas formas de trabalho surgiram e, mais importante, novas mentalidades de trabalho surgiram.

A receita escola + faculdade + diploma = carreira que paga suas contas não é mais uma certeza. Hoje vemos gente com doutorado passando dificuldades e pessoa sem formação universitária ganhando muito bem. Então, qual é o determinante hoje, para ser bem-sucedido profissionalmente?

Até aqui (isso muda muito rápido) é o combo criatividade + execução. Criatividade é bom, ajuda, mas o principal é ser um bom executor. Boa ideia todo mundo tem alguma vez na vida, colocá-la em prática é que faz toda a diferença. A boa notícia é: dá para aprender e treinar como ser mais criativo e como ser um bom executor.

Criatividade significa conseguir pensar fora da caixinha, muito mais além de tudo que já existe. Se você focar seus esforços para se encaixar em uma empresa que já existe, em um modelo de negócio que já está sendo explorado, em tentar competir com o que já existe, as chances de nadar e morrer na praia são grandes.

Mas, se você conseguir criar algo novo, ou com um grande diferencial, ainda que seja apenas a combinação de duas coisas que já existem (mas ninguém nunca pensou em juntá-las) aí você tem um caminho promissor. Não precisa descobrir a cura do câncer, os criadores dos emojis estão ricos e tudo que eles fizeram foi sugerir o uso de carinhas para determinar o tom ou a intenção do que estava sendo escrito.

Uma boa ideia é apenas um bom começo. Boa ideia até a gente dá. Temos uma coluna chamada “Plagia Eu” onde damos boas ideias para que qualquer um as use, tudo que a pessoa tem que fazer é saber executar. E executar é grande gargalo onde quase todo mundo entala, pois nem a escola nem o mercado de trabalho nos ensina a executar direito.

Aprendemos a executar apenas mediante comandos, feito cachorros: “faça este dever de casa, da página tal”, “faça um relatório sobre o assunto x”, “converta x clientes para a empresa”. Então, sabemos executar ordens, e traçar estratégias para tarefas, mas nem sempre traçar estratégias mais abrangentes. Felizmente isso pode ser aprendido, com estudo, escutando quem sabe e com tentativa e erro.

Fatalmente tem que ter disciplina, raça e realizar inúmeras tentativas até colocá-la em prática. Não tem dinheiro? Não sabe empreender? Não tem tino comercial? Não consegue traçar uma estratégia? Calma. Uma boa ideia bem apresentada, e apresentada à exaustão, para centenas de investidores, acaba sendo abraçada por alguém.

O que eu vejo: pessoas que tem uma boa ideia e não fazem nada com ela. Parece que esperam que alguém magicamente a descubra e a coloque em prática. Ou pior, que não se dão ao trabalho de tentar executá-la pois já presumem que não vai dar certo. Ou que tentam executá-la duas ou três vezes e depois desistem. Tentar é insistir com muitas pessoas, por muito tempo, sem medo de receber “não”, sem medo de que não dê certo.

O livro “Harry Poter” foi recusado por mais de dez editoras até alguém topar publicar. O seriado “Stranger Things” (o mais visto da Netflix) foi recusado mais de 20 vezes por produtores de televisão. E estamos falando do topo, dos mais vistos, dos mais vendidos. Por qual motivo você, floquinho de neve especial, não seria recusado dezenas de vezes? Só não arrisque tudo que tem enquanto está aprendendo. Voe baixo, aprenda a andar antes de correr. Mas faça.

“Mas Sally, eu não consigo nem ter uma boa ideia”. O que sai é o que entra digerido, seja no corpo humano, seja na mente humana. Se o que está saindo é inútil, é repetitivo ou não está saindo nada, você precisa “se alimentar” melhor, nutrir sua mente melhor. Todo mundo sabe dizer o que faz (ou o que deveria fazer) para cuidar do seu corpo (comer bem, se exercitar, dormir bem etc.), mas ninguém presta atenção à sua mente. Como você anda alimentando a sua mente?

Se tudo que você faz é ficar em redes sociais, conversar sempre com as mesas pessoas, assistir sempre aos mesmos programas, obviamente não vai sair nada de novo. Felizmente existem zilhões de sites, blogs e vídeos disponíveis de forma gratuita que ajudam a aprimorar sua criatividade e fornecem novos “alimentos” para sua mente, permitindo que ela os consuma e te devolva coisas novas.

Então, o primeiro passo é não decretar “eu não sou criativo, não tem jeito”. Ninguém “é criativo”, não tem ser humano que venha ao mundo com o “dom” da criatividade e de cuja cabeça brotem diariamente dezenas de ideias boas aleatoriamente. Assim como não existe ser humano que, sem esforço algum, levante 200kg. Se tem alguém que levanta 200kg, pode ter certeza de que teve um longo trabalho de preparação e fortalecimento para isso. Pois bem, com a mente é a mesma coisa. Nutra melhor a sua mente e as ideias virão.

E não estamos falando de uma ideia revolucionária, de criar um novo produto ou serviço. Com muito menos do que isso você consegue ganhar dinheiro. Anota aí: TUDO pode ser monetizado, basta você 1) identificar a utilidade; 2) identificar o público-alvo e 3) viabilizar a monetização. Lavar a louça, contar histórias, cantar, dar aula de alguma coisa ou apenas conversar com alguém, tudo pode ser monetizado. Eu aposto com você que pelo menos dez coisas que você sabe fazer podem ser monetizadas, você é que não sabe como. É o karma de não saber executar.

Dá trabalho. Por isso muita gente morre abraçada ao trabalho/emprego/função para o qual foi treinada e ainda fica puta da vida, reclamando e achando o mundo um vilão quando não recebe um retorno que lhe permita viver confortavelmente. Não adianta. Se chiar adiantasse, sal de fruta não morria afogado.

Meu anjo, o ser humano está em uma escalada íngreme de crescimento exponencial em tecnologia e mercado de trabalho, não dá mais para ser engessado, para bater o martelo que você é tal coisa (advogado, manicure, camelô ou neurocirurgião) e esperar que o novo modelo de trabalho aceite e respeite a sua decisão.

Não vai demorar muito até que todas as pessoas desempenhem 4 ou 5 trabalhos completamente diferentes ao longo da vida. Não vai demorar muito até que seja completamente inviável se agarrar à sua profissão e se recusar a sair dela. Não vai demorar muito para os que se agarram a rótulos profissionais passem por maus bocados.

Não vai demorar muito até que não existam mais profissões fixas, rígidas, imutáveis, como as conhecemos. Não vai demorar muito até que máquinas consigam fazer quase tudo que nós fazemos, só que melhor, mais rápido e com menor custo, nos obrigando a pensar em coisas novas que possamos monetizar para pagar as contas.

Goste você ou não, está é a realidade atual. E não se luta contra o que é, pois a gente sempre perde. Não se rema contra a maré da realidade, pois cansa e você não consegue sair do lugar. Aproveite a correnteza a seu favor, surfe a onda e use o que esta nova realidade pode te trazer de bom. Reveja suas premissas, seus mindsets, os caminhos que você achou que te levariam a algum lugar e comece a exercitar a flexibilização de ao menos cogitar caminhos novos.

E isso não vale apenas para trabalho, vale para a vida. Acha que a sociedade é injusta, a desigualdade te chateia, acredita que as coisas deveriam ser diferentes? Em vez de gritar “pegaremos em armas”, de pregar revolução ou de querer “combater” o que quer que seja (mindsets ultrapassados que não se aplicam mais à atual realidade e não vão te legar a lugar algum), exercite pensar em novas soluções.

Talvez hoje você não consiga pensar em nada. Consuma mais informação diferente, exercite sua criatividade, procure novos pontos de vista sobre qualquer assunto. Tente novamente. Talvez você não consiga pensar em nada. Mas, se você exercitar a sua mente, um dia o resultado vem. E quem sabe não vem de você um resultado que solucione o problema e mude o curso da humanidade?

E, na hora da execução, entre sabendo que antes de acertar, você vai errar muito. Abandone essa crença imbecil de que erro é fracasso, erro é aprendizado. Observe cada erro, cada coisa que não funcionou, entenda por qual motivo não funcionou e faça diferente da próxima vez. O erro te permite saber aonde não ir, e isso te aproxima cada vez mais de onde ir.

Da mesma forma que ninguém fica sarado com poucos meses de academia, dificilmente alguém tem uma ideia brilhante sem muito tempo de exercício e investimento mental nem a executa perfeitamente na primeira tentativa. Por isso, sempre se proponha, ainda que como mero exercício mental, encontrar novas soluções, encontrar novos pontos de vista, encontrar novas possibilidades de execução, como um “ensaio”, como uma malhação para sua mente.

Se, amanhã, surgisse um robô capaz de fazer o que quer que você faça, muito melhor do que você e por um custo muito menor, o que você faria da sua vida? Como você poderia monetizar alguma habilidade não relacionada com o que te dá seu sustento hoje? O que de novo ou de útil você poderia oferecer à humanidade que ainda não está no mercado?

Perceba que eu não te peço para fazer isso desde um lugar de medo: “vai dar merda, você não vai poder pagar as contas, começa a se virar!”. NÃO. É para fazer como um exercício. E não só com o seu trabalho, mas com tudo que você vê. É um duplo exercício: exercita sua criatividade e o seu poder de desapego, te relembrando diariamente da impermanência. Depois, exercite sua execução: quais seriam as formas de colocar isso em prática?

Frequentemente quando digo esse tipo de coisa, os interlocutores acabam ficando com raiva de mim, de um jeito ou de outro: “você acha que é fácil, né?”. Não, em momento algum eu disse que é fácil. É bastante difícil, por sinal. Mas, se eu estou te falando isso, é por achar que você tem a capacidade de fazê-lo. E se você está em resistência, é sinal de que eu tenho mais fé em você do que você mesmo. Que merda, hein?

Não dá mais para ficar de braços cruzados reclamando disso ou daquilo do mercado de trabalho. O trabalho convencional, como o conhecemos, vai ficar cada vez mais difícil, mais injusto e mais mal remunerado. Os obsoletos apegados a ele vão se afogar reclamando.

A boa notícia é: todo mundo pode pular fora desse barco que está afundando e, bem ou mal, você está recebendo hoje um convite à reflexão sobre o barco estar afundando, coisa que a maioria ainda sequer percebeu e pode só perceber quando já estiver com a água no pescoço.

Não dá mais para culpar “grande empresa que explora o trabalhador” ou a automação que “está roubando nossos empregos”. Todos nós, ricos ou pobres, diplomados ou não diplomados, brasileiros ou estrangeiros, temos a oportunidade de fazer diferente e, o que é mais importante, fazer de forma planejada.

Largar seu trabalho do dia para a noite e esperar que tudo fique bem só é cogitável se você ganhou na loteria. Caso contrário, tem que ser algo gradual e planejado (no meu caso, demorou anos). O problema é: a maioria das pessoas, quando trabalha com algo sem prazo e a longo prazo, protela: “vou começar a pensar em um plano B” e assim passam-se meses e anos e nada do plano B. Se você cai nessa armadilha, estabeleça para si mesmo pequenas metas, exercícios e pequenos passos ao longo da jornada.

Exemplo meramente didático, pois o seu processo quem vai criar é você: uma vez por semana você vai tirar uma hora para ler algo completamente novo que saia da sua zona de conforto e depois tentar aplicar isso de alguma forma útil, ou, até o fim do mês você escreverá ao menos 3 planos B do que você poderia monetizar se a sua profissão/ofício/função fosse extinta hoje. Exercite seu cérebro, o máximo que puder. Sem exercitar nada vai acontecer.

Comece a se preparar para um novo mercado de trabalho onde você terá que ter diversas frentes de monetização, onde você não vai depender de um patrão, onde você terá uma dinâmica de trabalho completamente diferente de tudo que conhece hoje.

Tire esse mindset de que a empresa/o patrão são malvados exploradores e tem que te prover bem-estar. Você tem que se prover bem-estar, e não vai conseguir caso se mantenha no modelo antigo de trabalho. Se em 13 anos o mercado mudou tanto, nos próximos 13 mudará ainda mais. Ninguém pode prever como será, mas podemos prever que quanto mais flexível, criativo e executor você for, melhor se sairá. Tenha a capacidade de, a qualquer momento, recomeçar do zero sem surtar.

Exercite sua criatividade e depois exercite também sua execução. Estabeleça metas, por menores que sejam (consertar o chuveiro, criar uma solução para algum defeito da sua casa, customizar uma roupa) e comece a desenvolver sua execução. Dê passos cada vez maiores, execute planos cada vez mais complexos. Assim como a criatividade, a capacidade de execução precisa ser trabalhada. Comece hoje e me agradeça no final do ano que vem.

E, além de não protelar, não se ache incapaz e não deixe que o medo te paralise. Medo todo mundo sente, só que alguns vão mesmo assim. Dica de ouro: não espere se sentir preparado para fazer nada, caso contrário, você nunca vai fazer ou vai demorar tempo demais para fazer. Acha que está despreparado? Beleza, faça coisas que, se derem errado não provoquem um estrago muito grande na sua vida. Mas faça, pois fazer e errar é parte inevitável do processo de aprendizado. Algumas coisas só se aprendem fazendo – e errando.

Comecem hoje a sair desse modelo de trabalho antigo, que está com os dias contados, e a exercitar as novas habilidades que vão te ajudar a se ajustar à nova realidade de trabalho. Chega de culpar os outros e responsabilizá-los pela sua situação (o mercado, a economia, a empresa exploradora, o patrão injusto, etc.). VOCÊ tem que sair disso com suas próprias pernas. Sim, é possível. Sim, você consegue. Sim, lendo o desfavor você vai ter inúmeros inputs, dicas e textos que vão te ajudar.

Eu tenho certeza de que você consegue, seria ridículo que eu tenha mais fé em você do que você mesmo.

Para dizer que prefere ficar agarrado ao modelo antigo e afundar com ele, para dizer que lê o Desfavor há 13 anos e nunca teve uma boa ideia ou ainda para dizer que prefere um mundo com vilões para culpar: sally@desfavor.com


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