Falar em público.

Tema pedido por leitores do mês. Você tem dificuldades de falar diante de uma plateia? A maioria de nós tem. Muita gente vai te falar sobre trabalhar sua autoestima, sobre imaginar que está todo mundo pelado e tudo mais o que está relacionado com a parte psicológica da coisa. Eu? Eu enxergo a situação de forma completamente diferente. Falar em público é primeiro sobre você e só depois sobre a plateia.

Falar em público é mais do que fazer um discurso diante de uma multidão, na verdade, quase ninguém vai ter essa experiência durante a vida. Na maior parte dos casos, falar em público é apresentar um projeto para um pequeno grupo de pessoas, seja numa sala de reunião ou na versão online. Falar em público pode até ser contar uma história numa mesa de bar para seus amigos. Quem é bom numa das categorias de falar em público costuma ser bom em todas.

E isso porque o elemento básico da coisa é um só: ser o centro das atenções. Numa conversa normal, tem o vai e volta com outra pessoa, mesmo que seja naquela modalidade bizarra de conversa com duas pessoas fazendo monólogos intercalados. A atenção é dividida numa conversa; mas no momento que você tem a responsabilidade de tocar tudo sozinho, é quando a ansiedade e o nervosismo podem atacar com força.

Eu sou uma pessoa terminalmente ansiosa e não sou nem um pouco sociável… e mesmo assim, eu falo muito bem em público. Nem sempre de uma forma compreensível para meu público-alvo, mas sempre com uma confiança inabalável. Eu, uma pessoa que fica sem graça quando puxam conversa comigo numa fila, subo num pedestal feliz e contente quando tenho que falar para muita gente.

É algo que nasceu comigo? É algum truque? Não. Eu simplesmente escolho minhas batalhas e só falo em público quando eu tenho o que dizer. Lembrem-se que falar em público é sobre ser o centro das atenções. Se você não for um narcisista, é normal fazer uma conta mental sobre o que você tem para oferecer para o outro em troca da atenção dele.

O que eu vou dizer é óbvio, mas é um óbvio que muita gente não faz: se você vai falar em público, tem que ter algo para falar em público. O conteúdo é o mais importante. Gente que ganha plateias no carisma é uma raridade nessa vida, a maioria acaba ficando famosa não importa se tem algo para oferecer de verdade ou não. A probabilidade é altíssima que você não seja uma dessas pessoas. Eu não sou uma dessas pessoas.

Não se compare com grandes palestrantes, políticos e celebridades em geral, essa gente costuma ter elementos externos ao conteúdo que fazem com que os outros macacos pelados fiquem hipnotizados. Falar bem em público não é aprender quais os trejeitos certos ou o “nível de energia” que as pessoas gostam, é saber do que diabos está falando e fazer com que as pessoas te vendo tenham seu tempo respeitado.

Porque na vida real, falar em público é sobre passar informações úteis num espaço de tempo razoável. Essa é a parte que você pode desenvolver sem ter amor genuíno por ser o centro das atenções. Não se faz curso de narcisismo.

Então, aqui segue o plano de ação que eu sigo quando tenho que falar para várias pessoas ao mesmo tempo:

1 – Estude o tema

Eu fico puto quando tenho meu tempo desperdiçado por gente que só quer falar sem saber nada sobre o tema. E eu aposto que você também. Todo mundo sabe, mesmo que inconscientemente, que pessoas não gostam de papo furado quando são obrigadas a ouvir papo furado.

E isso vai entrar na sua cabeça na hora de se apresentar. No fundo, você sabe quando está enrolando e seu cérebro começa a te avisar que você está numa ação potencialmente irritante para quem está vendo. E mesmo que você esteja falando sobre um projeto que desenvolveu sozinho, ainda tem o perigo de um ataque de Síndrome do Impostor. Estudar sobre o que vai falar te dá um suporte muito forte contra insegurança.

Não é para enfiar na cabeça que tudo o que você diz é maravilhoso e as pessoas vão gostar de você não importa o que aconteça, é para se preparar e confiar no conteúdo que vai passar. É complicado fingir confiança, mas a versão verdadeira vem muito mais fácil se você se preparou.

Não é dica, é obrigação. Se você estudou o tema, merece falar em público. Confiança se conquista. Estudou? Então o básico está resolvido e você não está desperdiçando o tempo de ninguém. Pronto. Mesmo se você fizer alguma coisa errada ao falar, vai se salvar quando alguém fizer perguntas depois.

Você termina a fase do estudo quando sabe o que tem que falar.

2 – Começo, meio e fim

É impressionante como muita gente falha nisso. Falar em público é parar todo mundo para ouvir e tocar a comunicação sozinho. Por isso, você tem que saber como vai começar e como vai terminar a conversa sem ninguém te ajudar. Se você é uma pessoa com tendências de ansiedade e insegurança, ter esses três blocos definidos com antecedência é a forma mais simples de resolver o problema.

Tem uns espíritos sebosos que vão te dar dicas de boas coisas para começar uma palestra ou apresentação, uma piada, uma história… eu não vou te dizer isso. Eu vou repetir que sua primeira missão é fazer o tempo das pessoas ser valorizado. Você não é ator fazendo monólogo no teatro ou comediante de stand-up. Você é o veículo de entrega de um conteúdo.

Falou a sua parte direitinho sem enrolação? Parabéns, missão cumprida. Minha dica para estruturar sua fala em público é a seguinte: dizer qual é o problema, apresentar a solução e dizer por que a solução está certa. Começo, meio e fim. As pessoas gostam de ter um caminho para seguir, e você vai perceber reações melhores da plateia quando estiver falando algo estruturado.

E digo mais: mesmo que você não esteja se sentindo bem na apresentação, só o fato de saber o que vai acontecer e que ela vai acabar já te alivia demais. Evite o máximo possível começar a falar de algo que não sabe como vai terminar. Sua fala tem que terminar em algum lugar, e você tem que saber que lugar é esse para parar na hora certa.

3 – Brevidade

Você não é ditador comunista para ficar falando seis horas seguidas. Mesmo que a sua plateia não seja um grupo de empresários paulistas, não enrolar é um bônus incrível na qualidade de vida de todo mundo. Se você estudou o tema e já definiu começo, meio e fim da sua apresentação, é hora de começar a cortar tudo o que não for essencial.

Se não está relacionado ao tema, provavelmente não precisa ser dito. É mais fácil achar que merece ser ouvido quando você confia que está entregando só informação útil para os outros. Sério: erre por fazer uma apresentação um pouco mais curta do que por fazer uma um pouco mais longa. Cada coisinha a mais que você coloca pode virar uma pergunta escrota ou uma tangente onde você enfia os pés pelas mãos.

Vai falar em público? Fale só sobre o que está estudado e planejado. Entre e saia enquanto as pessoas ainda têm paciência. Falar em público não é bate-papo, é uma forma de imposição sobre o tempo alheio. Não quer dizer que as pessoas estejam contra você, normalmente não estão nem prestando atenção (brasil-sil-sil), mas quer dizer que todo mundo está esperando você terminar para interagir de novo.

Tem mais? Talvez para quem quiser ganhar a vida fazendo palestras, mas para nós que temos que falar em público basicamente em situações de trabalho, é só isso. É só ter um conteúdo estudado, lógico e conciso. Que se exploda se te acharem simpático ou carismático, isso é bônus. Quando você demonstra que entende do que fala e tem objetividade, já resolve a situação. Não é sobre truques para ser mais popular, é sobre o que você está dizendo.

Eu falo bem em público porque eu só falo em público sobre o que eu sei. E aqui uma parte mais suja: às vezes acontece de sermos colocados contra a vontade na posição de falar na frente de uma plateia, e não dá tempo de estudar e planejar. Aí o meu segredo é sempre puxar o tema para algo que eu já conheça bastante. Alguma coisa relacionada sempre tem na sua memória, e mesmo que não seja muito próximo do tema que te foi pedido, é melhor falar algo mais aleatório com muita confiança do que ficar gaguejando obedecendo as regras.

Não se coloque na posição perdedora de ter que inventar do zero o que falar em público, não confie em truques para “ganhar a plateia”, não confie em nada que não seja o seu conteúdo.

E se você não queria esse tipo de dica sobre o tema, azar, é isso que funciona na maioria das vezes, o resto é basicamente “simpatia business” que coach empurra para gente que não foi ensinada a fazer o simples, o óbvio. Você sempre vai falar melhor sobre o que estudou e planejou.

Para dizer que queria dica infalível fácil (isso é sempre mentira), para dizer que eu devo matar todo mundo de tédio (não, eu sou breve), ou mesmo para dizer que queria mesmo saber falar com o sexo oposto: somir@desfavor.com

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Comments (4)

  • Isso daí de timidez ou medo de falar em público não é coisa de criança ou de jovenzinho? Chega uma altura da vida que vc toca o foda se pra tudo. Já fui muito tímido e hoje em dia falaria até com o diabo se ele existisse.

    • Não posso falar pelo Somir, não sei qual foi a intenção no texto, mas minha opinião é de que sim, na vida adulta, um adulto funcional supera e faz, porém o fato de conseguir fazer não quer dizer que seja com tranquilidade, serenidade e prazer. Muita gente fala bem em público mas por dentro passa um sofrimento terrível, sente um nervoso que faz mal, uma insegurança que corrói. Então, não é só sobre fazer, é sobre se sentir confiante para fazer e fazer sem sofrimento.

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