Criatividade Inteligente.

Criatividade é um grande trunfo humano e uma habilidade poderosíssima, seja para a vida, seja para o mercado de trabalho. Na última década, a criatividade entrou em alta e virou moda ser criativo (ou dizer que é criativo), mas, de nada adianta criatividade se ela não partir do ponto certo e for bem direcionada.

Por isso escolhemos este nome “Criatividade Inteligente” para tentar dar algumas diretrizes que podem melhorar sua criatividade. Poderia ser um curso, poderia ser um livro, poderia ser uma palestra. Mas é apenas um texto gratuito. Des Aprende: Criatividade Inteligente.

Se tem algo que define o Brasil, o brasileiro e a forma como ele se porta no mercado de trabalho é o improviso. Mesmo as pessoas que se acham muito preparadas e estudiosas, geralmente não o são. Jeitinho, postura, formalidade e tantos outros recursos escondem o despreparo técnico de um povo que, em sua maioria, não sabe como estudar e, em sua minoria, simplesmente não gosta de estudar.

E isso é um grande problema quando falamos de criatividade, pois, sem um profundo conhecimento técnico da área na qual você vai fazer uma sugestão criativa, a sua criatividade é apenas macaquice. É apenas algo inusitado, às vezes até louco e inútil.

Parece que as pessoas não compreendem que a criatividade não existe por ela só. Não somos criativos pelo prazer da criatividade, a criatividade, sobretudo quando aplicada ao mercado de trabalho, se propõe a melhorar um processo, um produto, uma atividade ou a solucionar um problema de uma forma até então impensada. Simplesmente fazer algo de um jeito diferente não é ser criativo.

Se todos os dias você tem que regar um jardim e um dia decide regar o jardim pendurando a mangueira de cabeça para baixo, com os mesmos resultados, você está sendo apenas um idiota. Fazer as coisas de uma forma diferente só por fazer diferente não te faz criativo, te faz uma pessoa entediada, com excesso de energia e sem boas ideias ou prioridades certas.

Criativo seria você desenvolver uma nova forma de regar o jardim mais rápido, de forma mais eficiente ou gastando menos água. Por exemplo, colocando um direcionador da calha da sua casa para o meio do quintal, assim, em dias de chuva, a água do teto vai toda para as plantas.

Então, não basta ser criativo por ser criativo. A criatividade não é um fim em si mesma. Ela tem que gerar algo que melhore um produto, um processo, uma atividade ou solucione um problema. E, para isso, querido leitor, ter muito conhecimento técnico é um primeiro passo fundamental. Não sai um output bom se você não botar muito input correto para dentro.

Continuemos neste exemplo do jardim. Se você quer se meter a fazer coisas no jardim, qualquer coisa que seja, o primeiro que tem que fazer é conhecer bem o jardim: o tipo de solo que tem, o tipo de plantas, suas demandas, como reagem a cada estação do ano e muitas outras coisas. E isso você não aprende olhando (até aprende, mas demoraria décadas). Tem que estudar. Tem que sentar o popozinho na cadeira e ler, ter bons curadores de conteúdo para seguir (afinal, hoje qualquer imbecil que dá dicas erradas tem voz), fazer cursos com pessoas que realmente sejam competentes nessa área.

Só depois de se nutrir com muito conhecimento técnico é que você vai começar a pensar em partir para a prática. Não em ser criativo, e sim em partir para a prática: vai começar a regar as plantinhas da forma como te dizem que tem que regar e com a quantidade de água que te dizem que tem que colocar. Não importa a ninguém o que você pensa, você é um feto nessa área, está começando a aprender. Você não tem subsídios para ter opinião ou questionar quem sabe.

Sim, é duro começar qualquer atividade nova. Você é apenas um executor que tem que seguir comandos de terceiros. Se a pessoa tiver um ego mais frágil, não aguenta e sai improvisando da sua cabecinha ignorante apenas para saciar o ego e fazer as coisas do seu jeito. Eu mesma, confesso, odeio começar atividades novas: é frustrante ser um merdinha sem autonomia nem condições de decisão. Mas é necessário. Enfiemos nossos egos em uma gaveta e prossigamos.

Depois de bastante tempo (no mínimo meses) se nutrindo de informação e também colocando em prática a informação que recebeu e observando cada passo nesse processo é que você pode começar a pensar em ser criativo. Antes disso, você está sendo apenas patético, ansioso e descompensado. Essa coisa de mal chegar na empresa e, na segunda semana já querer mostrar trabalho, sugerir mudanças, opinar… olha, na minha mão, isso gera demissão. Vai ter ejaculação precoce lá na sua casa, não no meu ganha-pão.

Então, a primeira grande premissa é: para ser criativo de verdade, Criatividade Inteligente, é preciso muito conhecimento teórico sobre aquilo. De diferentes fontes, de pessoas notoriamente avalizadas para falar sobre aquilo. E, vejam bem, pessoa avalizada não é a que vendeu best seller ou a que você acha legal, é a pessoa com formação para isso. Coach, influencer, o primo do seu amigo e um chimpanzé são o mesmo. Busquem curadores de conteúdo sérios, não palhaços que falam o que você quer escutar.

A segunda premissa é: além do conhecimento técnico, tenha bastante prática. Coloque em prática todo o conhecimento técnico que você aprendeu. Novamente: prática não é duas semanas, prática demanda meses. E uma prática consciente, com presença, com observação. Fazer algo enquanto olha rede social do celular não é prática, é enganar a si mesmo e aos outros.

Vamos para um segundo exemplo: você está aprendendo a cozinhar. Você vai ler a respeito (cozinha é química, tem que entender como as substâncias interagem entre si e com o calor). Vai ler bons livros, coisas como “O que Einstein disse ao seu cozinheiro”. Vai fazer cursos com bons chefs, vai assistir a programas de culinária em que pessoas sérias participem. Só aí vai começar a cozinhar.

E quando começar, vai seguir exatamente as receitas que te foram dadas. Para correr, é preciso aprender a andar primeiro. Mas o brasileiro sabe tudo, não é mesmo? É árbitro de futebol, é jurista, é especialista em vacinas. Ele sabe tudo, basta receber um whatsapp falando (errada e superficialmente) sobre um assunto que ele já fala com autoridade de doutor. Então, ele já se sente apto para “inovar” logo que começa a colocar a mão na massa, ainda bate no peito e diz “essa receita é muito básica, isso não é para mim, eu sou muito criativo”- e faz merda.

No começo, tem que seguir ordens. É fase de aprendizado, não de inovação. E fase de aprendizado dura meses, às vezes anos. Qual é a dificuldade de aceitar uma condição temporária de engessamento? Não sei qual é, mas parece que a maior parte das pessoas precisa estar o tempo todo tomando decisões sobre tudo.

Essas são as pessoas que se metem a fazer uma plástica e deformam o paciente, que quebram uma empresa e deixam na merda seus investidores, que questionam a NASA publicamente em rede social: pessoas que se metem a fazer diferente sem ter nem a teoria nem a prática necessárias.

Então, se você está começando hoje qualquer coisa, me escute, pois isso será o diferencial que vai te jogar no topo do mercado de trabalho: muito estudo teórico e muita prática antes de ser criativo. Não se sobre na carreira em um ano, os primeiros anos são de construção. Se você não tiver essa base sólida, vai crescer e vai cair.

Sem muito estudo teórico e sem muita prática, você vai fazer merda, você vai passar vergonha, você vai se estrepar, não importa quão confiante seja ou quão bem venda o seu peixe. Um dia a casa cai. Então, segura a ansiedade e faz as coisas do jeito certo: primeiro muito estudo, depois muito estudo e muita prática (o estudo nunca termina, sempre se pode aprender mais) e só depois começar a pensar em inovar.

Mas, além de tudo isso, existe mais um ingrediente fundamental para que a sua criatividade seja de fato útil e valorizada: a pergunta “para que isso serve?”. Se você teve uma ideia diferente, quer fazer uma mudança em um processo, quer inverter a ordem de algo, quer ser criativo, antes de mais nada, pergunte-se “para que isso serve?”.

Essa sua sugestão vai gerar algum impacto positivo para o todo? “Não, fica mais fácil para mim”. Desculpa, então você não é criativo, você é preguiçoso. Qual é o objetivo final daquilo que você faz? No exemplo do jardim, é ter plantas bonitas e saudáveis. No exemplo da cozinha é servir pratos gostosos. Como essa sua mudança contribuí para ter um jardim mais bonito ou para servir um prato mais gostoso ou para o resultado final do projeto no qual você está atuando?

E, além de pensar em como contribui, pese os prós e os contras. “Vai deixar tudo mais rápido”. Ok, mas e o resto? Vai gastar mais dinheiro? Vai aumentar os riscos? Vai gerar algum impacto negativo? Criatividade Inteligente é quando todo mundo ganha: se ganha em tempo, ou em economia, ou em produtividade e nada nem ninguém sai perdendo.

Sua fórmula é: conhecimento teórico + muita prática + avaliação racional dos benefícios x impactos negativos = criatividade inteligente. Se enfeitar bem o pavão dá um curso de coaching, né? Mas, felizmente, nós temos caráter e vergonha e dignidade.

O grande problema é que empresa, no Brasil, salvo honrosas exceções, são geridas por idiotas, ególatras e despreparados que ou herdaram o negócio ou tiveram um golpe de sorte. Então, vemos gestores que aplaudem um funcionário por ele ter resolvido trabalhar de cabeça para baixo dizendo “Nouuuussaaa, olha o Fulano, como ele é criativooouuu!”.

É o caralho que é criativo, ele é um símio. “Para que isso serve?” Para que trabalhar de cabeça para baixo serve? Para impressionar gestor mongolóide, pois na prática, não serve para nada.

Então, leve esta lição para a sua vida: apenas fazer diferente do que os outros fazem não é criativo, não é especial, não é digno de aplausos. Pode ser que te aplaudam mesmo assim, mas você é melhor do que isso, você pode fazer melhor. E aproveito para te deixar um conselho bônus: se você está nas mãos de um gestor idiota, saia daí. Talvez não hoje, mas comece a fazer por onde sair daí. Um negócio tocado por um idiota acaba em falência ou na promoção de outros idiotas. Portanto, se você não for um idiota, não vai acabar bem.

Ser criativo é ótimo, recomendo. Mas seja do jeito certo, do jeito útil, do jeito digno. Tenha conhecimento técnico e conhecimento prático de sobra e pense em formas de melhorar o que quer que seja, de modo a que fique melhor para todos. Eu sei que muita gente tem esse comichão nervoso, esse excesso de energia, essa ansiedade por mostrar serviço, participar, ser relevante, ser reconhecido… mas calma. Antes de correr tem que aprender a andar. Calma. Faça do jeito certo e você vai ver que valerá à pena.

“Mas Sally meu gestor é um idiota, eu faço do jeito certo e ele não reconhece”. Como eu disse, idiotas só reconhecem idiotas. Comece a se mexer para sair daí. Não tem coisa mais frustrante na vida do que se esforçar para obter o reconhecimento de um idiota e, spoiler, quando um idiota te aplaude, é sinal de que você fez algo de muito errado.

Entretanto, apesar do seu gestor ser um idiota, desenvolver a sua Criatividade Inteligente é um patrimônio seu, algo que te aprimora como pessoa e como profissional e que ninguém te tira, por mais que o gestor idiota não te reconheça. Você pode oferecer essa sua capacidade a outros gestores, você pode usar para empreender, você pode fazer o que você quiser com essa habilidade, portanto, não é uma perda de tempo. E, você nunca sabe quem está te vendo, em algum momento alguém vai ver e valorizar.

Então, o fato de você, temporariamente ter um gestor bosta que não reconhece, não tira o valor da sua Criatividade Inteligente. “Para que isso serve?” Para melhorar sua produtividade, resolução de problemas e atuação, de modo a encontrar caminhos, respostas e soluções que ninguém havia pensado. Percebe que a resposta não é “isso serve para impressionar meu gestor?”. Gestor bom ou gestor bosta, faz o seu, aprimora sua Criatividade Inteligente, um dia você vai colher os frutos.

“Mas Sally, e a parte de ser proativo?”. Não há nenhuma contradição. Ser proativo não é ser kamikaze, sair correndo para frente feito um porquinho da índia nem sair fazendo coisas da sua cabeça. Novamente, isso é ser um idiota, um ansioso, um descompensado.

Você pode ser proativo, inclusive, procurando sem que ninguém te mande bons cursos para desenvolver a parte teórica, procurando bons profissionais para observar como desenvolvem a parte prática, correndo atrás das ferramentas para estar apto a uma Criatividade Inteligente.

Proatividade não significa sair fazendo (merda). Pelo dicionário, proatividade significa “a competência que impulsiona uma busca por mudanças de maneira espontânea, sem precisar de estímulos externos”. Então, seguir o passo a passo deste texto sem que ninguém te mande fazê-lo é ser proativo.

Tem que derrubar esse mito de que a única coisa válida é meter a mão na massa e desempenhar sua atividade fim. Toda a preparação para fazer isso bem-feito também é meter a mão na massa, toda observação e prática também – e são um puta diferencial, já que quase ninguém faz.

“Mas Sally, ninguém faz e a pessoa se dá bem mesmo assim”. Sim, se tiver um gestor bosta. E, acredite, não tem castigo pior do que um gestor bosta. Por mais reconhecimento que a pessoa estelionatária que desconhece teoria e prática receba, ela vendeu a alma ao diabo e uma hora pagará muito caro por isso. Quem já teve gestor bosta sabe o dreno de qualidade de vida que isso representa. Ninguém que tenha um gestor bosta “se dá bem”, vai por mim.

A conclusão é: no Brasil, dá para subir sem Criatividade Inteligente, com jeitinho, sabendo se vender muito bem, fazendo malabarismo. Parece esperto, parece mais fácil, parece um atalho. Mas não é. Não compensa, pois só gestor bosta compra isso.

Melhor fazer as coisas direito, ser respeitado e ser valorizado por pessoas com mais de dois neurônios. Faz o seu. Faz direito. Fodam-se os outros, o que eles pensam ou o que eles conseguiram.

Criatividade Inteligente será um dos grandes diferenciais do mercado de trabalho e vale à pena investir nisso.

Para dizer que dá muito trabalho e você prefere no jeitinho, para dizer que está tão desiludido que nem sabe se existem bons gestores no Brasil (sim, ainda existem) ou ainda para vir perguntar ao Somir se eu tenho Criatividade Inteligente: sally@desfavor.com

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