Janja vs. Michelle

Em homenagem ao Dia de Sísifo, elaboramos esta sofrida pergunta, que nos remete à essência do mito de Sísifo: não importa o que se faça, o que se escolha, o que se tente, o desfecho é frustrante, inútil e um completo desperdício sem qualquer esperança. Os impopulares sofrem juntos.

Tema de hoje: quem seria pior presidente para o Brasil, Janja ou Michelle Bolsonaro?

SOMIR

Na dúvida, eu sempre temo mais o evangélico. E não se sintam especificamente atacados, evangélicos, se eu estivesse no Egito, diria que na dúvida, sempre temo mais o muçulmano. O que importa é qual é a religião com maior potencial de exploração política e econômica de um país. Michelle Bolsonaro é pior porque está intimamente conectada com esse mix de fanatismo e estelionato que é o neopentecostalismo tupiniquim.

Claro, não quer dizer que Janja seria uma boa escolha para assumir a presidência do país, mas estamos no contexto do nosso feriado nacional, então uma das opções tem que ser escolhida. Eu prefiro a religiosidade raiz do brasileiro, a de mentirinha: esse papo de sincretismo é só um nome bonito que damos para um povo que finge que se importa com religião, mas faz só o que dá na telha.

Gosto de quem se diz cristão mas bate um tambor, ou mesmo quem diz que é “espiritual”, já consigo perceber que é uma pessoa mais utilitarista em relação às suas crenças. O ideal seria não cair nesse papo furado de seres mágicos, mas se vai cair, que seja nessa salada incoerente de fés e divindades.

Aliás, eu só acredito que a sociedade humana funciona de forma minimamente decente porque a maioria das pessoas é muito ruim nisso de seguir uma religião. Misturam tanto que as coisas perdem o significado. E considerando que boa parte dos significados das religiões passa por intolerância e crença inabalável em achismos, que bom que o cidadão médio desse mundo é tão ruim nessa coisa de fé.

Sociedades regridem quando uma religião ganha muitos adeptos mais ou menos coerentes. Isso vai centralizando poder na figura de alguns sacerdotes, incentivando autoritarismo e classes privilegiadas. Janja é a imagem da religiosidade descentralizada, Michelle é o oposto, mesmo que seja só pose (eu nem acho que é, ela parece maluca de verdade).

Mas não é só religião, eu também acho que Michelle é pior na questão de personalidade. Sim. Motivo: ela não tem uma. Janja pode ter todo tipo de papo chato, mas me parece uma pessoa com ego suficiente para tomar decisões por conta própria e se preocupar um pouco com sua imagem. Michelle Bolsonaro tem todo jeitão de fantoche da figura masculina da vez. Pode ser do marido, pode ser do pastor… não vai ter filtro ou vergonha de fazer o que foi mandada fazer.

Janja tem que manter a pose de mulher empoderada e defensora dos fracos e oprimidos, mais ou menos como o marido, ela ainda pode ser apertada para agir de forma decente numa situação ou outra. Michelle, assim como seu marido, não tem limites. Jair defendeu cloroquina e brigou contra vacina no meio de uma pandemia global, é gente sem limite e sem vergonha nenhuma.

Eu sempre digo que entre o inferno conservador e o inferno lacrador, eu escolho o segundo todas as vezes. Eu não quero viver num mundo controlado por nenhuma dessas vertentes, mas é melhor estar num exagero de direitos humanos (criando novos que não fazem sentido) do que na falta deles. Nenhuma das duas me parece capaz de tomar o poder de uma vez, até porque a sociedade brasileira nunca que ia tolerar uma ditadora.

Seria um governo fraco e confuso de ambos os lados, nenhuma delas têm experiência e sequer noção do que fazer, mas no mínimo Janja entregaria tudo para o Centrão antes de entregar para os conservadores religiosos. Michelle eu já não sei. Na hora que a coisa apertasse, ou ia entregar tudo para o marido ou para um ou mais pastores. Continuo achando os conservadores brasileiros toscos demais para conquistar poder absoluto, mas como vimos no governo Bolsonaro, eles ainda passam podem atrapalhar bastante com seu desdém por educação dos mais diversos níveis.

Eu prefiro a corruptocracia com ilusão de decência dos progressistas à corruptocracia deslavada dos conservadores religiosos. Não fazem nada que preste, não são influenciáveis por escândalos, não estão nem aí porque sua base eleitoral é fanática e nunca muda de ideia. Entram no cargo público para aumentar sua renda, aumentam sua renda, dizem que todas as críticas são comunismo satânico e tentam repetir o ciclo.

A gente tem que saber separar quem a gente acha mais chato de quem é mais perigoso. Janja parece bem mais chata, mas não me parece ter potencial de perigo para as instituições brasileiras. Ambas tem aquele jeitão de “autoritarismo comigo no poder pode”, então nem por esse ângulo podemos achar algum diferencial.

Uma é uma empoderada genérica do século XXI, outra é um fantoche genérico do século XX. Se é para sofrer, vamos sofrer com algo novo, só para variar?

Para me chamar de comunista, para dizer que evangélico nunca mais, ou mesmo para dizer que prefere anarquia mesmo: somir@desfavor.com

SALLY

Pois bem, como Presidente do Brasil, qual das duas figuras nefastas você considera a menos pior?

É com muito pesar que eu considero Michelle Bolsonaro menos pior do que Janja. Não por ter menos defeitos do que ela e sim por ter defeitos que me afrontam menos. Olha, não tem muito tempo, nesta mesma coluna, eu preferi até o Lula à Janja, então, Michelle Bolsonaro nem vai ser tão difícil de defender.

Eu não vou decidir uma coisa essa importância apenas com base em religião, e, francamente, eu ando cada vez mais inclinada a pensar que a religião que a pessoa escolheu nem importa tanto, o que importa é o uso que ela faz dessa religião. Sim, Michelle é evangélica desinibida, dessas que fala outra língua, rola no chão e se ajoelha perante o pastor. Humilhante e presunção de burrice, mas, veja bem, ela é casada com Jair Bolsonaro. Alguém esperava diferente?

E não é como se Janja fosse agnóstica ou coisa do tipo. Janja é, nas suas palavras, “ligada a uma religião de matiz africana”, ou, nos termos que o brasileiro trata: macumbeira. Pelo que pude ver, parece estar mais para Candomblé, mas não saberia precisar. Mesma ignorância, alegorias diferentes. Por um lado melhor, já que julgam menos que o evangélicos, por outro lado pior pois sacrificam animais de uma forma que eu vejo como cruel.

O ponto é: a religião por si não basta para julgar alguém, é preciso entender o uso que a pessoa faz dela. Então, eu vou ultrapassar esse critério. Assim como não se deveria excluir um candidato por ele ser ateu, não se deveria excluir por ele ser religioso. Uma pessoa é muito mais do que isso.

“Mas Sally, se a Michelle granhar o governo vai beneficiar as igrejas, você quer isso?”. Meu anjo, qualquer governo faz isso. No Brasil igreja não paga imposto. No atual governo, recebeu até isenção de luz e gás. Recebeu perdão de dívida. Não se iluda: qualquer governo no Brasil vai abrir as pernas para empresário, bandido e igreja. É assim que as coisas são.

O que mais me incomoda na Janja é o ego gigante. A forma como quer aparecer, como se mete em tudo, como é inconveniente. É uma deslumbrada com um projeto de poder egóico. É uma oportunista que aproveita qualquer fresta para aparecer, se promover e se meter em tudo. Sendo primeira dama ela já está causando transtornos ao país, imagina se tiver poder de Presidente.

Janja tem aquela aura barraqueira, aquela vibe problemática, aquele cheiro de encrenqueira. Gente assim transtorna onde passa. Eu prefiro pessoas mais tranquilas, mais serenas, mesmo que sejam igualmente burras. O mínimo que eu peço é adequação. Michelle pode protagonizar seus vexames, mas nunca com o orgulho e publicidade de Janja. Janja me dá vergonha só de olhar. Michelle me dá vergonha quando fico sabendo um pouco mais sobre ela.

Imagina o grau de lacração e politicamente correto com Janja no poder. Ela gasta cem salários-mínimos com um sapato, mas sabemos muito bem qual é a alegoria que ela veste. Imagina o inferno dos pronomes neutros, do feminismo, do body positive, vindo de uma filha da puta que tira remédio da prateleira da farmácia, de quem precisa (diabéticos), para tentar ser menos gorda. E pior: ainda é incompetente, está cheinha feito uma leitoa, nem com a porra do ozempic emagrece. Ainda é burra e faz photoshop tosco nas fotos.

“Mas Sally, você está desmerecendo uma mulher por ser gorda?”. Não. Estou desmerecendo uma pessoa que declaradamente queria emagrecer e, em vez de fazê-lo com esforço e dedicação, se uma forma saudável, resolveu pegar um atalho não indicado por médicos e… nem assim conseguiu. Ser gordo quando você está ok com isso é escolha, ser gordo quando você tenta de tudo para emagrecer é fracasso. Sem nem o próprio corpo consegue administrar, imagina um país.

“Mas Sally, você está focando no físico para escolher?”. Também. São duas malucas do caralho, você quer que eu use qual critério? Nada se aproveita em nenhuma das duas, então, se você me permite, eu vou optar pela que parece saber cuidar melhor de si mesma, ter mais equilíbrio emocional de não sair comendo feito uma porca, basicamente, quem consegue cuidar melhor de si.

A presença da Janja é uma vergonha. A presença da Michelle quando ela abre a boca é uma vergonha. Pequenas vitórias. Michelle parece ser mais introspectiva, mais calma, mais ponderada. Janja tem essa qualidade de desempoderada que precisa de atenção, que precisa ser admirada, que precisa se provar.

Michelle pode ser a maluca que for, mas ao menos é discreta. Imagina a quantidade de barbaridas que essa coitada já teve que aturar dos filhos do Bolsonaro e nunca veio a público se queixar, se fazer de vítima ou falar nada. Eu gosto de gente assim. Dentro de casa pode até deitar os bolso-filhos na porrada, mas sabe manter uma postura minimamente adequada em público.

E também acho Michelle coerente: um comportamento bosta seguido por um discurso bosta, diferente de Janja, que discursa politicamente correto e depois se comporta de forma totalmente oposta ao seu discurso, fazendo a maluca, fingindo que não está se contradizendo.

A cara de pau dessa gente me afronta. A hipocrisia. Caguei para qual igreja Michelle frequenta, ela nunca veio a público constranger o brasileiro por não agir como ela. Já a virtuosa Janja… ahhh… a companheira Janja, socialistona, esquerdona, quem compra móvel de 300 mil, essa vive julgando e condenando a forma como cada um de nós se porta.

Michelle nunca foi às redes sociais se meter em lei ou projeto de lei do Bolsonaro. A anta da Janja foi ao Twitter passar informação errada sobre tributação, causou um esmerdeio tão grande que obrigou o governo a recusar com a lei. Percebem a falta de noção? É um perigo dar holofote para desempoderado, egóico e sem noção.

Além disso, sempre importante lembrar: Presidente da República, no Brasil, é uma figura mais decorativa. Ele não pode criar uma lei e aprová-la, ele não pode mudar radicalmente as coisas. É apenas um articulador e a cara do país internacionalmente. Acho que o país já tem sofrimento bastante para ter como imagem símbolo essa balofa cafona com cabeça de Hello Kitty e roupas de cores berrantes.

Para me chamar de gordofóbica (gordofóbico é quem topa fazer mal ao próprio corpo com medicamentos por não suportar gordura), para dizer que pior do que está fica ou ainda para dizer que não quer nem pensar nessa hipótese: sally@desfavor.com

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Comments (18)

  • Creio que a Janja caricata e deslumbrada seria pior para o país.
    Até agora suas aparições só tiveram críticas, desde sua vestimenta deselegante e espalhafatosa até seu comportamento inadequado se colocando em primeiro plano em todo evento que participou, ela ainda não conseguiu gerar simpatia em sermos por ela representados, além do seu sorriso falso sempre me causar uma certa repulsa.
    Se como “mulher do presidente” ela ainda não descobriu que deve ser mais discreta pra não nos embaraçar com sua visão do inferno, fico imaginando como presidente a vergonha que vai ser.
    Michelle é discreta, segurou a onda da família Bolsonaro sem oba oba, no fundo ela sabe que presidente
    manda nada nesse país.

    • “Se como “mulher do presidente” ela ainda não descobriu que deve ser mais discreta pra não nos embaraçar com sua visão do inferno, fico imaginando como presidente a vergonha que vai ser.”. Seria uma merda. Mas a maior merda mesmo é que já teve um monte de lulista me dizendo que, se a Janja realmente se candidatasse, votaria nela sem pensar duas vezes…

  • Não quero rolo, então vou de Anômino

    Nessa eu fico com o Somir. Crente é a pior coisa que existe em termos de humanidade.

  • Uma pergunta: há nos comentários não aprovados chorumes ditos pelos gados das duas que eventualmente já tenham vindo aqui pra defendê-las?

  • Essa é dificílima, mas concordo com o Somir: crente com poder é sempre um perigo…

    (Em tempo: Janja consegue a proeza de causar irritação até dentro do PT, segundo me contaram fontes. Imagina como não deve ser conviver com essa criatura pqp)

  • Kenny McCormick

    A discussão aqui é quanto a babaca inútil e a sanduíche de merda?
    Acho as duas opções horríveis, mas está na cara que com o debacle da turma dos babacas inúteis da direita, a turma do sanduíche de merda deve levar a melhor.
    E não é sobre direitos humanos e sim sobre privilégios pra alguns “iluminados” que usam e abusam da questão identitária pra tirar vantagem do status quo.

  • Janja.

    Michelle só ia querer dinheiro na conta dela e dar umas lacradas reversas de vez em quando para não perder a imagem de conservadora. Não é como se aquele cérebro de esquilo fosse capaz de se concentrar em algo mais complexo que manter status quo.

    Agora Janja? Tem cara de que vai atrás de você até no inferno se ela se sentir ofendida meramente com algo que você disser.

  • Frase de Winston Churchill: “A diferença entre os humanos e o animais é que os últimos nunca permitem que um estúpido lidere a manada”. E pedir pra escolher entre uma ou outra é como pedir pra escolher entre merda ou bosta..

  • O Brasil sempre foi o país da esculhambação geral, mas se a Janja realmente virar presidente um dia isto aqui não vai ter mais esperança mesmo. Essa coisa se formou numa faculdade inútil de sociologia, entrou pra trabalhar em estatal sem concurso, fez visita pro Lula na cadeia que nem mulher de malandro, só fala e faz merda, se mete em tudo e quer sempre estar com a razão. Conheço muitas mulheres que são as “Janjas” em suas respectivas famílias e vejo bem de perto a merda que é e como nem os próprios parentes aguentam. Brigas e xingamentos todo santo dia, bateção de cabeça até com as coisas simples, acúmulo de problemas, fofocas e acusações pra todo lado… Imaginem isso em grande escala, no comando do país.

  • A crentelha X a lacradora? A crentelha é pior. Sempre entre crente e pessoas eu acho crente pior. O deus deles é uma merda, Tem vários deuses, mas o dos crentes é pior que o dos católicos. Agora imagina alguém segue uma entidade tão merda!

  • Questão difícil essa, hein? Bem difícil… Mas eu fico com a Sally. Janja é barraqueira, deslumbrada, boquirrota, intrometida, hipócrita e exige atenção e aprovação o tempo todo em cada ínfima coisia que faz. É um desfavor ambulante tão grande que em menos de seis meses já conseguiu a proeza de ser detestada por esquerdistas da imprensa e até por gente do próprio núcleo do atual governo Lula. Se, como primeira dama ela já vem fazendo todo esse estrago, imaginem a catástrofe que seria se ela, com esse Toque de Merdas, assumisse a presidência!

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