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Vamos, Barbie!

Vamos, Barbie!

| Desfavor | | 38 comentários em Vamos, Barbie!

Desde o anúncio, vazamento de fotos do set e divulgação dos trailers, a expectativa para Barbie, filme dirigido por Greta Gerwig e estrelado por Margot Robbie que chegou aos cinemas brasileiros na última quinta, 20, aumentava cada vez – e todo hype correspondeu, e a produção quebrou diversos recordes. LINK


Precisamos do filme da fuckin’ Barbie para dar um choque de realidade na lacração. Desfavor da semana.

SALLY

O filme Barbie é um sucesso avassalador em todo o mundo. Isso poderia levantar diversas discussões interessantes, mas, em vez disso, as pessoas estão polarizadas em “contra” e “a favor” da Barbie, vomitando feminismo e patrulhando quem vai ao cinema vestindo rosa. Por isso hoje tentamos trazer um novo ângulo para falar do assunto.

Vamos contextualizar: cinema não vai bem das pernas já faz um tempo, por uma série de fatores. Além de ser mais prático e barato assistir filmes em casa, também é muito mais agradável não ter que conviver com outros 100 seres humanos randômicos que nem sempre sabem se portar com civilidade. Depois da pandemia a coisa só piorou, mesmo quem ainda ousava uma ida ao cinema, acabou perdendo o hábito.

Portanto, que um filme faça o sucesso que Barbie está fazendo, em escala mundial, é sim um grande feito. Teve muita publicidade envolvida? Sim, mas não é o único filme dos últimos anos com muita publicidade. Já vi filme que gastou uma fortuna em publicidade ser um fracasso de bilheteria. Então, não dá para botar tudo na conta da publicidade (que é o que muitos grupos estão fazendo), tem mais coisa para ser vista e discutida. Só que se você discutir esse assunto “no mundo”, vai ser linchado. Discutamos aqui.

Meus queridos, beleza vende. O belo vende. O belo atrai. E sim, sinto informar, o belo continua sendo pessoas brancas, magras e jovens. Não é a minha opinião, é o que mostra a realidade. As pessoas podem querer mudá-la na marra, podem gritar, xingar, criticar, mas a loirinha vestindo rosa é quem arrasta multidões para o cinema, não a sereia que não é ruiva ou a branca de neve que não tem anões. Um mundo rosa, estético, simétrico, em tons pastéis, alegre e sem lacração. É isso que as pessoas querem.

E isso nos levanta vários desfavores. Em uma análise mais superficial, nos faz pensar que o mundo deu muitas voltas e evoluímos muito pouco nos últimos 50 anos. Desde que a Barbie foi lançada, em 1959, o mundo mudou muito, mas, ao que tudo indica, o que nos atrai continua mais ou menos igual. A Barbie hoje é astronauta em vez de noiva? Que diferença faz, o padrão estético é o mesmo, com uma ou outra recauchutagem para lacrador não gritar tão alto.

Mas, olhando por um ângulo um pouco mais profundo, eu vejo um desfavor maior ainda: as mulheres estão sentido falta de poderem ser “mulherzinha”. O filme Barbie deu autorização para que, em um único dia de suas vidas, elas se vistam como menininhas com o álibi de assistir ao filme a caráter. O lacre vilanizou o comportamento e o layout de “mulherzinha” e muita gente se privou disso para não sentir culpa ou sofrer ataques.

O que o bolsonarismo fez com a camisa da seleção brasileira, o lulismo fez com o layout “mulherzinha”: quem veste ganha presunção de escroto. No discurso, mulher pode ser o que ela quiser, mas, se o que ela quiser não se encaixar na agenda politicamente correta, vai apanhar em público, vai sofrer pressão, vai sofrer humilhação. Não é mais permitido se vestir ou se portar como “mulherzinha” sem sofrer presunção de futilidade, burrice ou até de submissão.

Eu sinceramente acredito que muitas mulheres pelo mundo estão com seu lado “mulherzinha” sufocado, preso, pedindo para sair. A vontade de caprichar na vaidade, de ser cuidada, de ser acolhida, de ser cocotinha, de ser cor de rosa encontrou vazão através do filme, por isso o filme explodiu. Não é bastante ridículo que um movimento que diz querer libertar a mulher a aprisione desta forma?

Podem gritar, podem reclamar, podem esculachar o mundo todo, mas, desculpa: o sucesso desse filme prova que beleza vende, que beleza é magra + branca + jovem e que as mulheres querem ver um mundo de vaidade, de cores fofas, de maquiagem e moda. Chora, puxa as calças pela cabeça, esbraveja o quanto quiser: contra fatos, não há argumentos.

O que nos leva a outro ponto, que já é velho conhecido do leitor do Desfavor: não se muda o mundo na porrada, na marra, na imposição. Não adianta postar foto de obesa de cinta-liga e coagir a dizer que ela é linda. Não adianta postar foto de sovaco de mulher cabeludo e escrotizar quem acha feio. Não adianta fazer nada na marra, pois tudo que você consegue é que as pessoas mintam para não apanhar em público, mas continuem pensando exatamente igual.

Esse feminismo raivoso, impositivo e patrulhador exerce um efeito rebote: afasta as pessoas. Poucos efetivamente criticam de peito aberto, pois minorias berram alto, mas fica bem claro o que as pessoas querem. E não é obesa não depilada de fio dental.

Então, por qual motivo a maioria cede a uma minoria? Só por berrarem alto? Provavelmente não. Assim como as mulheres de 1910 sofreram uma pressão social massificando que se saíssem com vários homens seriam vulgares e nunca arrumariam marido, a mulher atual sofre a massificação de que ser “mulherzinha” é pejorativo, fútil e desdenhável. De alguma forma, talvez até sem ser percebido, isso entrou na cabeça das pessoas e as mulheres acabam negando esse direito a si mesmas.

Ano após ano vem sendo massificado que existem outras prioridades, que tem que ler um livro, plantar uma árvore, fazer um trabalho social, reciclar ou o caralho a quatro em vez de ficar se maquiando e se perfumando. Bem… PAU NO CU DA SOCIEDADE, o mundo deu seu recado: as mulheres querem o maquiando e perfumando. Inclusive a que vos fala. E isso não torna ninguém fútil… apenas bonita e atraente.

Porém, duvido que o sucesso do filme seja interpretado assim. Será resumido a “ain mas também com tanta publicidade…”. É o caralho. Já vi filme/evento com mais gasto em publicidade fracassar. Não foi só a publicidade, foi o apelo mulherzinha. Ou por acaso alguém aqui acha que se fosse um filme com o personagem principal destoando do original, com uma Barbie obesa e cabeluda, com a mesma quantidade de publicidade, teria feito tanto sucesso?

O mundo quer beleza. E quer esse padrão de beleza. Lidem com isso e se permitam ser “mulherzinha”. Errado está quem é mal-amado a ponto de patrulhar a escolha alheia e se incomodar por uma pessoa ter ido ao cinema vestindo uma roupa rosa. Deixem as pessoas serem felizes!

Para dizer que vai compartilhar este texto e sair correndo, para dizer que o filme é produto de um patriarcado opressor (opressor é quem impõe limites a o que uma mulher quer) ou ainda para dizer que essa boneca causou muito dano por criar um padrão de corpo irreal (já viu o shape de um bonequinho do He-Man?): sally@desfavor.com

SOMIR

Eu não vi, não tenho nem curiosidade de ver, mas já é um dos meus filmes preferidos dos últimos anos. O primeiro motivo é o tapa na cara de quem quer fazer o ser humano mudar seus gostos na base da histeria: Barbie é um símbolo de futilidade feminina e estética acima de conteúdo, por mais que durantes as últimas décadas tenham fantasiado a boneca de todas as profissões possíveis, no fundo ela é… bonita e feminina. Esse é o lance da Barbie, isso que atrai crianças para brincar com ela e isso que fica na memória afetiva de quem cresceu ao redor dela.

Faz tempo que eu acho bizarro como numa suposta tentativa de liberar as mulheres da opressão social, resolveram demonizar conceitos como beleza e comportamentos femininos instintivos. É claro que passar a mensagem que a mulher pode ser mais do uma Barbie é positivo, mas daí a achar que mulher que quer ser “mulherzinha” e se enfeitar é um problema passa do ponto. Não é uma escolha entre uma coisa ou outra. Nunca foi.

Mas como vemos na indústria do entretenimento há muito tempo, desenvolveu-se um fetiche por negar esse tipo de “prazer estético” às plateias, com produtores, diretores e até mesmo roteiristas saindo do caminho para incomodar sua audiência em nome de uma mensagem confusa de justiça social. Bom, os seguidos fracassos de bilheteria estão aí para provar como isso não funciona.

Contratam gente que odeia o conteúdo original, que tem raiva de beleza e adequação, que acha que toda a indústria serve apenas a passar mensagens políticas. O produto fica em segundo plano e o público consumidor reage com a carteira. Aliás, vai bem mais longe do que isso: existem vários casos de conteúdos da indústria do entretenimento que fracassaram financeiramente, mas que com o passar de anos e décadas encontrou um público que realmente se importava com o material.

Nessas últimas décadas de remakes que odiavam o original, não vimos nada adentrando a cultura compartilhada da humanidade. Não é só um fracasso de fazer dinheiro, mas também de encantar as pessoas. São fracassos tão terríveis que até esquecemos que filmes, séries, jogos e tudo mais que foi lançado sequer existiu. Isso é resultado de lacração por lacração, afinal, mensagem política em entretenimento é uma combinação de água e óleo. E se você ainda tiver tanta raiva de quem vai assistir ao ponto de deixar tudo feio de propósito, as pessoas vão rejeitar a obra por completo.

Mas tem outro ponto interessante nessa análise do filme Barbie: até mesmo a campanha de divulgação deu um passo atrás na era do lacre. É de praxe que filmes feitos para serem blockbusters gastem mais com publicidade do que até mesmo com a produção do filme. Barbie não foi diferente, no mínimo metade do hype que você viu ao redor do filme foi comprado na cara dura pelo estúdio. Eles literalmente pagam para os meios de comunicação fazerem matérias sobre o filme e ficarem repetindo que é o maior fenômeno cultural dos últimos tempos.

As pessoas acreditaram. O que nem sempre é o caso. Quando os estúdios lançam aqueles remakes lacradores, tem um monte de matéria comprada dizendo que é a coisa mais incrível dos últimos tempos, que as pessoas estão malucas na expectativa… mas como vimos inúmeras vezes, não cola. Eu não sei se foi uma estratégia bem pensada ou se foi só algum velho branco teimando em fazer do jeito antigo, mas perceberam como Barbie não foi divulgada através de influenciadores? Não diretamente.

O filme estava sendo divulgado em todos os canais tradicionais, com matérias em grandes programas de TV, cartazes, outdoors e tudo mais que tem a cara do “mundo antigo”. O material ajudou: as pessoas realmente estavam carentes de mídia sem lacração explícita, mas teve um componente de cima para baixo dessa vez. As pessoas entraram na onda do filme da Barbie porque eles conseguiram dar a cara de assunto do momento.

E assunto do momento não vem do influencer para a grande mídia, é ao contrário. Influencers são macaquinhos que reagem ao que chega para eles, não tem capacidade ou sequer importância o suficiente para criar um hype desse tamanho. O filme da Barbie soube se colocar acima dessa gentalha, a força da marca bem utilizada para não criar nenhuma sensação de poder indevido para os influencers. “Vocês só colocam roupa rosa e falam do filme, vocês não são parte integral da campanha.”

Eu realmente acredito que tem um acerto aí: publicidade que se repete demais vira paisagem. A tara por tentar simular popularidade de um tema pagando por influencers deixou as pessoas meio de saco cheio desse processo, elas aparentemente estavam com saudades de um evento grandioso que não fosse divulgado por um bando de perdedores com milhares de seguidores comprados.

O ser humano não muda tanto assim, ele não sabe exatamente o porquê de fazer algumas de suas escolhas de consumo, mas ele sente a diferença entre algo honesto e algo falsificado. A internet comprou o hype que a mídia tradicional criou (recendo milhões e milhões do estúdio do filme) e as coisas encaixaram na cabeça das pessoas. Barbie era um fenômeno cultural sem muita profundidade, era só rosinha e agradável visualmente. Algo que muita mulher sentia falta de expressar, e francamente, algo que homem também gosta de ver. Mulher não gosta de ver homem sendo macho? Homem gosta de ver mulher sendo fêmea.

Quem entrou em polêmica sobre o filme foi justamente a parcela mais podre da cabeça: lacradorxs e incels. Só quem tem raiva de homem ou mulher que ficou furioso(a) com o sucesso do filme, a gente que não tem essa doença mental não estava nem aí para essa confusão.

Espero que sirva para isolar mais essa gente. Porque o mundo real demonstrou como ele realmente é, sem essa complicação toda de radical de rede social.

Para dizer que não vai ver também, para dizer que ficou com raiva de pessoas vestindo rosa, ou mesmo para dizer que o remake vai ser com uma Barbie negra, gorda, muçulmana e na cadeira de rodas (torço para que seja): somir@desfavor.com


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