Doação de órgãos.

Já falamos sobre o assunto antes, mas agora que ele se popularizou, achamos produtivo retomar o tema. O apresentador Faustão está entre a vida e a morte esperando um transplante de coração e esta é a situação de muita gente atualmente no Brasil: vidas que poderiam ser salvas, mas que se vão por não receberem um órgão a tempo.

O motivo? O brasileiro não quer doar órgãos, com base em argumentos sem qualquer fundamento. E estamos aqui justamente para tentar desmistificar as principais causas de recusa na doação de órgãos. Então, este é um dos poucos textos nossos que eu desejaria que tenha algum alcance: se este texto convencer uma pessoa que seja, já terá alguma utilidade.

E não estamos falando apenas do medo de ser doador em vida, mesmo após a morte, ainda existe muita resistência. Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), 43% das famílias recusaram a doação de órgãos de seus parentes após morte encefálica comprovada.

Tem muito mito, mentira e burrice permeando as falas sobre doação de órgãos no Brasil. Por isso, resolvemos aprofundar o assunto e rebater os principais argumentos que as pessoas utilizam para não doar ou para não autorizar a doação.

E não pensem que é uma questão de escolaridade, cultura ou classe social. A resistência vem de cima, de políticos, do Judiciário, de pessoas que detém algum poder.

Nos distantes tempos em que eu ainda acreditava no Brasil, morava no país e trabalhava para o Poder Público, apresentei a redação de dois projetos de lei envolvendo doação. Obviamente ignoraram solenemente, mas, os compartilho aqui com vocês, pois vai que a sociedade melhora, muda, evoluí e isso pode ser debatido? Lembrando que qualquer pessoa do povo pode pleitear mudanças na lei, portanto, vocês têm esse poder.

Em um dos projetos, todas as pessoas seriam doadoras automaticamente e, apenas quem não quisesse doar, teria que fazer um trâmite em cartório (similar ao que se fazia quando se escolhia ser cremado) especificando que não seria doador. Eu parti do princípio que muita gente não doava por não saber como se fazia essa autorização, por preguiça de fazer ou pelo eterno protelar (por ser uma coisa sem prazo, a pessoa vai deixando para depois).

Assim, colocando a todos automaticamente como doadores, você não obriga todo mundo a doar, quem não quiser doar que faça essa ressalva, mas certamente incentiva todo mundo a doar órgãos ao não dificultar o processo.

Algum tempo depois, um tanto mais revoltada, após anos no funcionalismo público vendo coisas das quais até o diabo duvida, apresentei outro com uma redação mais pesada: terá prioridade na fila para receber órgãos, em casos de igual urgência, quem for doador.

Receber todo mundo quer, né? Então tá, vai receber primeiro quem doa. Na verdade, minha vontade era escrever que só recebe quem for doador, mas isso seria tão inconstitucional que tive que me controlar.

Se o primeiro projeto, que era muito mais light, foi jogado na lixeira, esse deve ter sido incinerado.

O que me foi dito à época é que esse assunto era “delicado” e o brasileiro tinha “medo” de doar órgãos. Medo pelos mais diferentes motivos, mas os principais eram: 1) que atentem contra sua vida para pegar órgãos; 2) questões religiosas; 3) por apego; 4) que desliguem aparelhos com a pessoa ainda viva na pressa de pegar os órgãos e 5) que surja um mercado paralelo no qual se venderiam órgãos. Vamos falar um pouco sobre cada um desses?

O medo mais comum do brasileiro é que ele, tão importante, seja morto para retirarem seus órgãos caso seja um doador.

Veja bem, eu sou a primeira a te dizer que o Brasil não é um país seguro e que não existe justiça, tanto é que abandonei minha profissão (advogada) e abandonei o país. Porém, contudo, entretanto, não podemos defecar na lógica. Pense comigo: se alguém quer tanto um órgão a ponto de estar disposto a cometer um dos crimes mais graves do Código Penal (homicídio, matar você para roubar os seus órgãos), essa pessoa certamente não vai se importar em violar a lei e tirar órgãos de quem não é doador.

Quem está disposto a matar, e nesse caso específico, poderia pegar a pena máxima que um ser humano pode cumprir no Brasil (30 anos), não está se importando nem um pouquinho e tomar órgãos de quem não é doador: vai pegar de quem for compatível, seja a pessoa doadora ou não.

E, queira você ou não, seu tipo sanguíneo (um dos fatores para avaliar a compatibilidade) está em bancos de dados públicos, portanto, quem tem todo o aparato para perseguir e matar alguém também pode conseguir essa informação.

Não é minha intenção te assustar, tanto é que não existem relatos (verdadeiros) recorrentes de pessoas mortas para remoção de seus órgãos no Brasil. Isso simplesmente não acontece por um motivo: não adianta nada ter um órgão.

O órgão é uma pequena fração do que é necessário para se realizar um transplante. É preciso preparar o paciente (às vezes com meses de antecedência), é preciso um centro cirúrgico muito bem equipado, é preciso uma equipe altamente qualificada para realizar o transplante e fazer um longo acompanhamento rigoroso do paciente pelo resto da vida.

Um órgão não é uma bolsa, que você arranca de alguém e revende. Um órgão precisa ser acondicionado de forma muito precisa e tem vida útil muito curta. É praticamente impossível que um “ladrão de órgãos” consiga preencher todos os requisitos e ainda consiga um hospital e uma equipe médica que tope realizar um transplante nessas condições. Quase que certeza que o órgão vai perecer em suas mãos e se tornar inviável.

É impossível que roubem um órgão? Não. É muito, mas muito difícil, mas não é impossível. O ponto é: alguém que move montanhas e consegue viabilizar um transplante de um órgão roubado certamente não vai se preocupar se a pessoa da qual roubou o órgão é ou não doador, ela simplesmente vai fazer a morte parecer um desaparecimento e sumir com o corpo, sem que nunca saibam que ele teve um órgão removido. Ou vocês acham que bandido vai procurar no seu RG e dizer “ok, este é doador, podemos roubar os órgãos dele!”?

Então, esse pensamento de que se você for doador pode virar vítima de um roubo de órgãos e que, por ser doador, podem atentar contra a sua vida, é uma lenda urbana que, de tão repetida, acabou entrando na cabeça das pessoas. Se você realmente pensar sobre o assunto de forma racional, verá que não faz o menor sentido.

Provavelmente não vamos conseguir desfazer essa “certeza” na cabeça dos mais idosos, mas, por tudo que há de mais sagrado, se você é jovem e acredita em uma coisa dessas, desculpa, mas você está se comportando como um idiota. Por favor, não se comporte como um idiota. Não se valha de uma mentira que é nociva para a sociedade para se sentir especial, detentor de um conhecimento/percepção que a maioria não tem.

Outra justificativa seriam questões religiosas. Temos as mais diferentes alegorias para a ideia de que doar seus órgãos e salvar a vida de outra pessoa deixaria Deus triste e te mandaria para o inferno ou algo equivalente.

Meus amigos, vamos ser muito sinceros aqui: é sério que você acredita em um Deus que não quer que você salve outra vida e prefere que seus órgãos sejam enterrados e comidos por vermes a sete palmos do chão?

Isso não faz o menor sentido. Eu entendo buscar algum conforto em religião, mas, convenhamos, não é para aceitar cegamente tudo que te empurram. Sacerdotes religiosos são seres humanos e, como tal, falhos. Podem interpretar mal, pode se enganar, podem errar. Além disso, vamos combinar, ninguém aqui casa virgem, deixa de usar anticoncepcional ou segue qualquer religião ao pé da letra, certo?

Mas mesmo que siga… Você acha mesmo que um Deus que, em qualquer religião que se estude, é amor, é compaixão e quer o melhor para seus filhos iria impedir que uma pessoa que já morreu doe seus órgãos e salve várias vidas? Jura que você acha que existe alguma hipótese de um ser magnânimo, onisciente, onipresente, onipotente dizer: “Não, não, Jefferson, deixe aquela criança morrer, você não pode doar seus órgãos para ela”?

Vou repetir aqui o que já disse um milhão de vezes: você não precisa de intermediários para falar com Deus. Você tem uma bússola interna que te guia para o melhor caminho. Joga no lixo todas as crenças, todos os dogmas, todas as doutrinas do “mundo” e faz uma reflexão interior, silenciosa sobre se faz sentido Deus ficar chateado com uma pessoa que não precisa mais dos seus órgãos salvar outras vidas doando.

Consulte você mesmo a Deus, em silêncio, em oração, em meditação e peça uma resposta. Eu duvido que o seu Deus, seja ele qual for, se oponha a um gesto nobre como esse.

Outro fator, que influencia muito as famílias que recusam doação: a questão do apego. Vivemos em uma sociedade na qual o corpo é muito importante. O corpo recebe mais importância do que merece, inclusive depois de morto.

E não estou fazendo um discurso Body Positive, vocês sabem, eu acho que tem sim que cuidar do corpo. Não é sobre isso. É sobre a função do corpo. O corpo não é um fim em si mesmo, é um meio. É um meio para você viver, realizar, criar. Você não é seu corpo. Sua essência transcende o seu corpo. Você é aquilo que deixa para o mundo, a forma como marca as pessoas, o impacto que gera.

É como se o corpo fosse um carro e você o motorista. Você precisa do seu carro para ir trabalhar, para fazer tarefas importantes como comprar comida, remédios, etc. Não dá para deixar seu carro todo cacarecado, disfuncional, pois ele é o seu meio de transporte para realizar suas tarefas, seus propósitos e ter uma vida funcional. Tem que cuidar bem do carro, pois ele te transportará pelo resto da sua vida.

Mas também não dá para dizer que você é o seu carro. Não. Você é você, e seu carro é o seu carro. Ter um apego doentio ao carro ao ponto de se misturar com ele é uma grande confusão mental que precisa ser desfeita.

Se uma pessoa morre, teria algum problema em deixar o carro para quem precise dele? Os filhos, a esposa, o marido, os pais? Não. Não teria qualquer problema e provavelmente a pessoa falecida ficaria bem feliz de ver que seu carro está ajudando alguém. Faria sentido enterrar o carro e deixá-lo oxidar debaixo da terra? Não, né? Pois é, o mesmo vale para o corpo.

Eu entendo a dor da perda, eu perdi a pessoa que mais amava no mundo, minha mãe, minha parceira de vida, minha primeira e talvez última experiência com amor incondicional, minha mais leal companheira e amiga. A gente fica muito mal mesmo, é normal. E, quando a gente fica muito mal, a gente fica transtornado, confuso, irracional. Por isso eu quero ter essa conversa com você agora, enquanto você ainda está racional, já que no Brasil o consentimento da família exerce um papel crucial na doação de órgãos.

Quando uma pessoa amada falece a gente tende a se apegar ao corpo dela, como se o corpo fosse a pessoa. Não é. A pessoa se foi. Como tudo que resta é o corpo, dói se desapegar dele. É a única/última lembrança da pessoa amada. Muitas vezes quando uma pessoa amada se vai não estamos prontos para dizer adeus, por isso nos apegamos a um corpo sem vida. Se apegar ao corpo é negação, é não querer deixar ir, é não aceitar o que aconteceu.

Eu entendo o processo, eu vivi o processo. Mas também entendo que é possível tomar consciência dele e transcendê-lo, ao compreender que o dano que você causa se apegando ao corpo (uma escolha inútil que só gera sofrimento) é enorme: graças a esse mecanismo pouco saudável e traiçoeiro você pode deixar de salvar várias vidas. Eu sei que fica bem difícil se importar com isso em um momento de dor, por isso te peço que reflita sobre isso agora, que você está “sóbrio” e não embriagado pela dor.

Eu não sei quantos de vocês viram uma morte, em tempo real. É claro, é cristalino o momento em que a vida deixa o corpo, se você conseguir alguma sanidade mental na hora, percebe claramente o segundo em que a pessoa deixou de estar ali. O corpo inerte causa até estranhamento. Parece um boneco, parece irreal. Por mais que a gente ame absurdamente quem habitava aquele corpo, ele está vazio agora, a pessoa não está mais ali. Não se apegue a esse corpo e permita que outras pessoas não tenham que passar pela dor profunda que você está experienciando com essa perda: concorde com a doação de órgão para salvar outras vidas.

Tenha essa grandeza, eu tenho certeza de que a pessoa que se foi gostaria de poder salvar outras vidas. Acredite, qualquer perda é menos sofrida quando você consegue gerar algo de bom com ela.

Outra preocupação comum é achar que se um dia você ficar “ligado em aparelhos” podem desligá-los e apressar/forçar a sua morte para pegar os seus órgãos. Falando assim parece fácil, mas isso é algo extremamente difícil de acontecer. Não é só puxar uma tomada, é bem mais complexo.

Todos os protocolos necessários para que se constate a morte encefálica de alguém, para que se desliguem os aparelhos e se faça a doação de órgãos (processo no qual a família do falecido tem participação) são excessivamente burocráticos e controlados por diversas pessoas, portanto, seria altamente improvável que se “desplugue” alguém que tem uma chance real de acordar.

E aqui vale o mesmo raciocínio que usamos para o roubo de órgãos (afinal, não deixa de ser um homicídio também): quem tem poder para cometer um abuso de tal tamanho pode fazê-lo contra qualquer um, doador ou não doador. Pode perfeitamente abrir a pessoa que não é doadora, remover o órgão e família nunca vai saber – e se souber, podem arrumar uma justificativa médica no prontuário para uma eventual “cirurgia” na região.

Então, saiba: via de regra não acontece, pois existe um controle enorme e muitas pessoas envolvidas. Mas, se você acha que meia dúzia de médicos, meia dúzia de enfermeiras, sua família e médicos legistas todos juntos em conluio fariam isso com você, sinto lhe informar que quem tem poder suficiente para tal, o faz com qualquer pessoa, doadora ou não.

Sobre o último temor, que isso cause o surgimento de um mercado paralelo de órgãos, é justamente o contrário: se mais gente doar, todo mundo que precisa receber, a necessidade de um mercado paralelo desaparece ou reduz significativamente. Como já explicamos, o órgão em si é só uma pequena parte do processo, e, sozinho, não resolve nada.

Eu sei que em diversos aspectos o Brasil é terra de ninguém, sem lei e sem fiscalização, mas no caso de transplante de órgãos, a complexidade do procedimento e tudo que é necessário para que ele se realize acaba funcionando como uma regulação: é tão difícil, tão complexo, envolve tantas pessoas e tantos fatores que é quase impossível de fraudar.

Não vamos esquecer que, antes de ser um país corrupto, o Brasil é povoado por incompetentes – e incompetentes não conseguem equacionar um transplante de órgão. Então, fiquem tranquilos e desencanem de teorias da conspiração. Pode doar sem medo. Eu, que sou a pessoa mais desconfiada e cautelosa, estou assinando embaixo: pode doar sem medo.

E, sem querer pisar no calo de ninguém, não sei até que ponto esses motivos são realmente os motivos reais, ou são respostas prontas que se propagam no tempo e são repetidas sem pensar.

É que quando a gente pensa em doação de medula, por exemplo, que pode ser feita em vida sem qualquer prejuízo ao doador (e pode salvar vidas), os números também são baixíssimos.

É um procedimento muito mais simples do que doar um órgão e sua medula fica em um banco de informações, disponível, caso um dia alguém compatível com você precise. Ainda assim, as pessoas não o fazem. Será que é mesmo o medo de ser vítima de criminosos que freia a doação de órgão no Brasil?

Então, o objetivo deste texto, além de desmentir esse bando de informação falsa, ridícula e conspiratória, é relembrar a todos vocês que vocês podem evitar mortes, inclusive em vida. Não precisa morrer para salvar a vida de alguém, seja doando medula, seja autorizando a doação de órgãos de um parente falecido.

Faça, não apenas por ser bom para todos nós (em algum momento todos podemos precisar) mas também por ser bom fazer o bem.

Para dizer que eu não conheço “a verdade” (vai pro inferno maluco do caralho), para dizer que se o Faustão tiver morrido este texto vai parecer um tremendo bait (quando eu escrevi, ele estava vivo) ou ainda para dizer que quer um texto ensinando como doar seu corpo para a ciência: sally@desfavor.com

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Comments (48)

  • Já vi muito crente se dizendo contra a doação de órgãos porque seria um pecado terrível, no sepultamento, “devolver a Deus” um corpo que Ele criou com partes faltando…

  • Incrível como que a ignorância e a religião misturadas ainda estão tão presentes na cabeça do brasileiro a ponto de isso atrapalhar a doação de órgãos.

  • Acho que agregaria um motivo mais a lista que é: mau agouro. Sempre que eu falava com minha mãe sobre esse assunto era sempre “pra que falar sobre isso? parece que quer chamar a morte”. E dificilmente o assunto seguia no ambito da seriedade. Talvez tenha até uma raiz religiosa essa resposta, no caso da minha mãe.
    Seguindo um pouco a analogia da Sally sobre o carro… eu lembro que se não me engano em 2017 o Chiquinho Scarpa se envolveu em uma “polêmica” quando anunciou que enterraria um dos seus carros Bentley e chamou a imprensa para cobrir o “evento”. No fim das contas era uma campanha que ele fez sobre a doação de órgãos, e ele disse que foi criticado por enterrar um item de grande valor, quando na opinião dele as pessoas enterravam órgãos que são itens muito mais valiososo que podem salvar vidas.

    • Verdade, tem essa ideia de que “falar atrai”, acho até que já fizemos um texto sobre isso em algum momento (não tenho certeza). É realmente uma pena que as pessoas acreditem que as palavras que saem das suas bocas e não seus sentimento e ações sejam os determinantes para os eventos que irão acontecer.

    • “Atrair a morte”, no contexto da doação de órgãos, não faz o menor sentido. Ok, tiram os órgãos com você morto, mas uma parte sua continua vivendo no corpo de outra pessoa. Literalmente. Chega a ser quase poético.

      Eu não sirvo para argumentar com pessoas que são contra doar órgãos, acho isso tão sem sentido que sou incapaz de me obrigar a ter empatia para entender o que as leva a pensar assim.

  • Tem tanta coisa pra se expor ai, como por exemplo o fato de durante anos o Faustão ter mantido uma obesidade mórbida que provavelmente contribuiu muito pra que a essa altura da vida ele apresentasse insuficiência cardíaca e se encontre agora na fila de um possível transplante.
    Não custa lembrar que o Datena, 7 anos mais jovem, já teve infarto do miocárdio.
    Ainda assim, temos que lidar com os negacionistas da obesidade, como os Caio Revela, Beta Boechat e Thais Carla da vida que são um belo exemplo da positividade tóxica em torno da onda body positive, healty negative.

    • Sim, e a cirurgia que ele fez para “emagrecer” também pode ter causado o problema.
      Infelizmente o povo insiste em romantizar obesidade, sobretudo as mulheres. Parece que fazem da obesidade sua identidade, é isso o que elas são, e, por isso não querem perder.

      Problemas de coração acontecem com pessoas magras? Acontecem. Mas as chances de um organismo sobrecarregado pela obesidade adoecer (por este e por outros problemas) é bem maior.

      • Essa turma do body positive, healty negative é um dos maiores cânceres do meio identitário de nossa esquerda vira-lata. Em termos de toxicidade só perde pros apologistas daquela PSEUDOCIÊNCIA chamada Teoria Queer, que mais recentemente foi redenominada pra “identidade de gênero” pra engambelar os mais incautos.

        Qualquer semelhança com criacionista com aquela esparrela de Design Inteligente NÃO é mera coincidência.

          • Exatamente.
            E pra expor que essa questão de problemas cardiovasculares não é coisa só de gordo, fica o caso do meu pai, que faleceu aos 60 anos, depois de anos às voltas com problemas cardíacos.
            Ele se aposentou aos 44 anos, sendo que na época, ele ficou dias internado no Hospital do Coração e durante bem uns 3 ou 4 anos ele ficou tomando digoxina até se recuperar e ter condições de levar uma vida mais ou menos normal, ainda que continuasse como aposentado por invalidez, coisa que se fosse hoje, ele não conseguiria com a facilidade que conseguiu na época.
            Meu pai era magro, tendo um IMC em torno de 20, mas tinha a questão do tabagismo que detonou com a saúde dele. Passou alguns anos levando uma vida mais ou menos bem, mas na faixa dos 58 anos teve um infarto e de lá não conseguiu se recuperar.
            No meu caso, bem… Meu caso era bem pior. Autista e consequentemente com problemas de seletividade alimentar, cheguei em meu pior momento da vida adulta a ter IMC abaixo da linha dos 15, chegando em certos momentos a passar o dia inteiro com um pacotinho de bolacha. Só fui entrar nos eixos depois que passei a tomar as rédeas da minha vida com minha mãe se mandando pra outra cidade, sendo que só aí eu ultrapassei a linha do IMC de 18,5. Hoje, pouco depois dos 40 anos, estou com um IMC próximo a linha dos 25 e o ideal seria me exercitar mais, mas ando sentindo umas dores complicadas, sendo que estou suspeitando fortemente de ter a Síndrome de Ehlers-Danlos.
            Fui aplicar o Beighton Score e na medição preliminar indicou um score entre 6 e 8 de 9 (a variação aqui é porque não sei se a inclinação dos cotovelos dobrando na direção contrária a usual ultrapassou os 10 graus). E sim, eu sei que é algo congênito com influência da hereditariedade. Minha mãe dobrava os joelhos de forma anormal quando de pé e meu pai a chamava de “perna torta” por conta disso.
            E é bom eu dar uma olhada nisso porque posso ter uma série de problemas de saúde ocultos por trás disso, sendo que uma das possibilidades é o famigerado “sopro” no coração.

            • Vocês sabem que Sr. Desfavor é o Marciel, né?

              Inconveniente, prolixo e nunca entende bem o tema do texto, leva sempre o assunto para ele e, só para variar, falando mal da própria mãe.

              Tá permitido banido voltar?

              • Não, em tese não está permitido banido voltar não, mas… quando voltam para passar vergonha às vezes a gente cai na tentação de aprovar o comentário, pois achamos graça que fique registrada toda a incoerência, inadequação e evasão de privacidade. É quase que uma “Ei, Você” ao vivaço, com uma mensagem clara ao leitor: cuidem da sua saúde mental, se não, isso pode acontecer com vocês.

                Mas, se está incomodando, não aprovaremos mais.

  • Vc complica muito as coisas. Brasileiro funciona na base do toma lá dá cá. Lembra quando teve aquela campanha de ingressos grátis no soe da Ludmila pra quem fosse doar sangue e deu até fila? É assim que funciona, tem que ofertar algum benefício, BR não faz nada na base da empatia. O povo lá do meu trabalho mesmo fala que doação que se foda, eles querem é um dia de folga por ano. BR se vende fácil e por pouco, então bastava oferecer alguma vantagem que geral iria fazer fila pra doar os órgãos.

    • Mas, justamente, uma das minhas propostas era isso: só recebe quem doa, quem não doa, só recebe quando todo mundo que doa tiver recebido.

      • Parece que “fazer um bem” e “ajudar a salvar uma vida” ainda não são “contrapartidas” boas o suficiente pra muita gente. E isso é muito triste…

        • É o país do Eu, Eu, Eu

          Depois sentem um vazio do caralho, se entopem de ansiolítico, antidepressivo, remédio para dormir e não entendem de onde vem.

          • Realmente um dos meus remédios é para dormir (há quase década), mesmo que isso me pareça tão alheio a acreditar que tento várias vezes algum “nós, nós, nós”…

  • 4) que desliguem aparelhos com a pessoa ainda viva na pressa de pegar os órgãos

    Infelizmente isso já aconteceu e deu muito ruim, com processo interminável que no frigir dos ovos acabou em pizza.

      • Felizmente são casos antigos, mas não dá pra negar que deu ruim.

        Além do caso citado aqui nos comentários, tem alguns bem tensos remontando aos anos 80. Sim, estou me referindo a aquela época “maravilhosa” relatada aqui, onde menina menor de idade posava nua pra Playboy (sim, estou falando de você, Luciana Vendramini) e onde não se tinha o menor pudor de se expor criança pelada tomando banho em programa de TV “educativa” (sim, estou falando do Rá-Tim-Bum da TV Cultura).

        Pelo menos creio que os erros passados agora servem de aprendizado e espero que isso conscientize as pessoas da importância da doação seja de sangue, seja de órgãos.

  • Eu queria poder doar medula e sangue, mas infelizmente não tenho peso adequado para isso.

    Até fico com medo porque ainda tenho familiares com comorbidades que possam precisar de um doador compatível e mesmo eu sendo relativamente saudável (no sentido de não ter comorbidades, nunca ter usado drogas, etc), não poder ajudar porque nunca alcanço um peso ideal. Mas já doei cabelo, pelo menos.

    E eu passei por duas grandes cirurgias enquanto estive, tipo, morrendo. Essas cirurgias que salvaram minha vida, ambas ocorrendo comigo sendo bem jovem. Então, tiveram duas vezes a chance de me matarem e levarem tudo no auge da minha saúde, mas… Tô aqui…

    • Posso estar enganada, pois não sou profissional da área (se algum leitor que esteja lendo isso for, por favor, esclareça), mas acho que para doar medula não existe peso mínimo.

    • Já doei sangue e se não doei mais vezes do que a vez que doei em 2014, foi pela questão de ter tido piora de saúde e ter que começado a tomar alguns medicamentos, sendo que por conta deles, não posso fazer doação de sangue.

  • Diante dos motivos para a recusa (de mesquinhos a esdrúxulos), a pensar se poderia haver um incentivo positivo para “ser bom para todos nós”, tal qual sugeri naquele texto sobre a pena de morte: isenção de taxas e de tarifas (desde o pagamento do enterro até despesas relacionadas com inventário do doador) como incentivo para as famílias deixarem a doação prosseguir.

    Se considerarmos que um doador pode salvar a vida de dezenas de pessoas, de forma pragmática, conceder um subsídio aqui para manter dezenas contribuintes vivos por mais algumas décadas não pareceria ruim (ainda mais se algum deles tiver uma fortuna similar ao do Faustão).

    • Sim, seria útil. Me dói pensar em pessoas fazendo isso para obter um benefício financeiro, mas é melhor do que deixar pessoas morrendo.

      • O comentário do anônimo lá em cima foi certeiro nesse sentido: “Brasileiro funciona na base do toma lá dá cá. (…) É assim que funciona, tem que ofertar algum benefício, BR não faz nada na base da empatia”. Enfim, acha que o Estado está sempre tirando dele, aí quando vem o Estado pedir algo, mesmo em benefício de terceiros, se acha no direito a exigir uma contrapartida…(até chegar a vez dele, claro).

  • Tem um cadastro nacional de doadores, se não me engano. Ou talvez este órgão (no pun intended) tenha outro nome. Fiz um cadastro lá assim que completei 18 anos e me deram uma carteirinha. Precisa de autorização da família de qualquer maneira, então é bom conversar a respeito enquanto a possibilidade de morte cerebral nos parece remota e não existe luto envolvido.

    Essas histórias de roubos de órgãos já não fazem muito sentido no contexto atual, imagina quando/se a disponibilidade de órgãos doados aumentar. Tem tantos critérios rigorosos para a doação ser viável, duvido muito que alguém que tenha competência e capacidade de planejamento para tal esteja disposto a fazer.
    E sobre a questão de “desligarem os aparelhos antes da hora”… dependendo do grau da lesão, a maioria das pessoas que eu conheço até pagaria para que isso acontecesse. Nós deveríamos ter o direito de escolher deixar escrito que não queremos viver em estado vegetativo ou lesões incapacitantes permanentes, mas isso já é outro mérito.

    • Salvo engano, no documento de identidade do brasileiro (RG ou carteira de motorista) deve constar a informação sobre ser doador ou não. De qualquer forma, acho um absurdo que seja necessário fazer um procedimento para isso, o certo seria todo mundo ser doador e quem se opuser que faça um procedimento para retirar seu nome da lista.

      E já que você tocou no assunto, acho um absurdo que o Brasil não permita que as pessoas escolham como e quando querem morrer. É indigno. Isso força milhares de mortes indignas todos os dias. Nem tenho estômago para escrever sobre isso de tão triste que é…

  • Eu sou doadora de órgãos e medula. Tenho até carteirinha (esse texto veio em boa hora pq tenho que ver se preciso atualizar algo).
    Minha família infelizmente é totalmente contra. Por motivos religiosos e por medo de serem enterrados “vazios”. Eu nem discuto mais. Já falei para o meu marido inúmeras vezes que eu sou doadora, pode abrir e tirar tudo que sirva!

    • Mas… o que poderia acontecer se eles fossem enterrados “vazios”?
      Os vermes teriam menos comida?
      Quero muito entender qual é o medo das pessoas, até para aprender como argumentar e remover esse medo.

      • Não sei viu. Acho que é uma mistura de não entender a importância da doação para salvar vidas (incluindo a nossa caso a gente precise), com religião (Deus me fez assim e acabou), com apego (É meu e vai apodrecer comigo!!!) e com o medo de falar da morte.
        Mas já ouvi também que se você recebe orgãos de outra pessoa os traumas e problemas dessa pessoa vem junto. Tem ainda muito preconceito e crendices a respeito da doação.
        Acho que falta mais campanhas e programas para informar as pessoas. Falar mais do cadastro de doadores com gente jovem, inserir o tema no coditiano da população.

        • Essa dos “traumas e problemas” eu já ouvi também e fiquei me perguntando: o que é melhor, ficar vivo com alguns problemas herdados do seu doador ou morrer?

          Damos muita importância ao corpo na cultura ocidental. Corpo não é nada, é um mero meio. Não somos nosso corpo.

      • Se não me engano, em algumas religiões o corpo precisa estar inteiro porque é daquele jeito que a pessoa vai pro céu ou seja lá onde for. Agora imagina quem nasceu com algum problema congênito ou adoeceu, sofreu um acidente durante a vida e vai ter que passar o pós-vida sem um braço ou com alguma deformação, que merda hein

      • O caso desmascarou uma rede de tráfico de órgãos em Minas, então a desconfiança do cidadão médio não é infundada.

        Eu também poderia que seu medo de lagartixas é ignorante e burro

        • Mas gente… Nunca falha: os que vem aqui insinuar que somos burros sempre são os que passam a maior vergonha cognitiva! Vou explicar uma última vez (apesar de ter explicado exaustivamente no texto) e depois desisto: nosso argumento não é que não exista tráfico de órgãos. Nosso argumento é: quem faz tráfico de órgãos, rouba órgãos de qualquer um, seja doador ou não, portanto, ser doador não te coloca em risco.

          Sobre “medo” de lagartixa, estamos falando de fobia, algo irracional. Não que eu espere que todos tenham esse conhecimento e compreensão das sutilezas, mas deixo aqui para os outros que lerão e entenderão.

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