Exibicionistas.

Escolhemos duas notícias:

Não foi bem por acaso que Luísa Sonza expôs a traição que sofreu do influenciador Chico Moedas na edição desta quarta-feira (20) do programa Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga na Globo. A participação já havia sido marcada com bastante antecedência, e antes de a atração começar, Ana foi avisada que a cantora faria o desabafo, mas sem saber exatamente como ele seria feito. LINK


Estudantes de medicina da Universidade Santo Amaro realizaram ato de masturbação coletiva durante partida de vôlei feminino válida por um torneio universitário, em São Carlos, no interior de São Paulo. O episódio, apelidado pelos alunos de “punhetaço”, ocorreu em maio deste ano, durante a Copa Calo, mas os vídeos viralizaram só no último fim de semana. A situação provocou revolta nas redes sociais. LINK


Qual a conexão? Nada que valha a pena ver. Desfavor da Semana.

SALLY

Esta semana vimos duas bizarrices, ambas aclamadas por seus pares e criticadas por seus antagonistas. E quando falamos de pares e antagonistas não falamos de amigos, parentes ou pessoas com afinidade, falamos de aqueles que se acham alinhados politicamente com os protagonistas. Sim, no Brasil, atualmente, o que determina se você fez merda ou não deixou de ser o ato e passou a ser em quem você votou.

Estudantes de medicina foram filmados abaixando as calças e fazendo o que parecem ser simulações de cunho sexual direcionadas a mulheres em um evento apelidado de “punhetaço”. Enquanto isso, a “cantora” Luísa Sonza descobriu que seu namoradinho de um relacionamento de um mês e meio a traiu e achou por bem lidar com a questão indo expor os detalhes no programa da Ana Maria Braga. Vamos olhar mais de perto para estas duas abominações?

Em ambos os casos vemos um exibicionismo extremo, desnecessário e idiota, que só depõe contra os envolvidos. E, em ambos os casos, eles não foram os primeiros nem serão os últimos a fazer esse tipo de coisa, pois apesar de serem duramente criticados por quem não está alinhado com eles, são amplamente aplaudidos por sua bolha. E em ambos os casos a aceitação ou não do que fizeram depende mais de ideologia do que dos valores pessoais de quem observa.

Entre as muitas semelhanças entre esses dois grupos, queria falar sobre as três que mais me chamam a atenção: 1) a forma como essas pessoas dão tiro no próprio pé sem constrangimento nem discernimento; 2) a forma como se vitimizam e se eximem de responsabilidade pelos seus atos e 3) a forma como tentam silenciar quem os critica, imputando a elas coisas graves como fascismo e machismo. Vamos lá, vamos por partes.

Luísa Sonza estava namorando há um mês e meio um sujeito conhecido como “Chico Moeda”. O apelido que veio pelo fato dele ter pegado o dinheiro do pai para investir em criptomoedas e ter perdido tudo. Ao que tudo indica, o sujeito é influencer, mas, segundo ele mesmo disse, se recusa a aconselhar as pessoas financeiramente, pois quando o faz, as pessoas perdem dinheiro. Carioca, jovem e esquerdomacho. O que poderia sair daí?

Ela mesma disse em entrevistas públicas que forçou uma barra para esse sujeito ficar com ela e que se questionava se ele estava com ela realmente por gostar dela ou por sua pressão. Com menos de um mês de relacionamento ela fez uma música para ele chamada “Chico”, com uma letra que grita “terapia”. Em aparições públicas ficava visível o quanto ela estava sufocando ele.

Pois bem, na semana passada Chico chamou Luísa para conversar e disse que foi a uma festa na qual estava uma ex dele, que ele bebeu e acabou dando uns pega na mulher no banheiro de um bar. Feio? Feio, muito feio. Mas ele teve a hombridade de admitir o erro e se desculpar, algo que, apesar de não apagar o erro, me surpreendeu.

O que Luisa Sonza fez? Um Chá de Revelação de Traição no programa da Ana Maria Braga. Foi para o estúdio revelar para o Brasil inteiro o que Chico fez, expondo o rapaz a todo tipo de hate e ameaça, em uma carta na qual ela pretensamente posa de forte, mas que está encharcada de vitimização e prestou um tremendo desfavor, reforçando na cabeça das mulheres várias imbecilidades.

Trechos como “quem já foi traída sabe da autoestima destruída, da dúvida, da insegurança que algo assim causa. A traição faz você se invalidar, faz você se sentir idiota, burra, palhaça, trouxa. É uma dor impossível de explicar. É uma quebra da confiança no próximo. É o medo de acreditar nas pessoas. É um sonho destruído. É toda sua entrega, todo seu zelo, cuidado, amor jogado fora.”

Não Luísa. O que faz isso não é a traição, é ser fodida da cabeça mesmo. Uma mulher com autoestima, inteira, não-histérica, adulta, não sente tudo isso por um namoradinho de um mês e meio ter beijado outra em um bar. Na verdade, ela nem se envolveria nesse nível infantil de dizer que ama alguém que mal conhece. Na real, uma pessoa inteira vê nisso um livramento: já vai tarde.

Uma pessoa inteira, adulta, bem-resolvida, não vai lavar roupa suja na Ana Maria Braga. Por sinal, se fosse o inverso, um homem revelando intimidade de uma mulher que o traiu e criticando, ele estaria sendo trucidado, dizendo que incentivou hate contra uma mulher, que é machista e por aí vai. Fora que, é um discurso bem hipócrita, se a gente for lembrar como acabou o casamento dela com o Whindersson.

Sobre os rapazes do curso de medicina, nem preciso me aprofundar na parte do tiro no pé: o que fizeram é proibido por lei. Ainda tiveram a cara de pau de dizer que não foi punhetaço, que “apenas” mostraram o pênis em resposta à provocação da torcida adversária. Avisa que é igualmente crime.

Certamente não fariam isso na presença de suas mães, não é mesmo? Eles sabiam que era errado, sabiam que não era socialmente aceito. E fizeram mesmo assim, escorados no argumento idiota de que ali, naquele contexto, podia. Vão descobrir do pior jeito que a lei vale em todo território nacional, independente do contexto que você ache que exista.

Ambos, Sonza e os punheteiros, se acham vítimas das circunstâncias. Acham que seus atos são justificados, seja por sempre ter sido permitida essa conduta em faculdade, seja por ter sido traída e acreditar que isso dá aval para expor a sua vida privada e a do outro. Ninguém assume a responsabilidade por seus atos. Todo mundo é vítima. O que nos leva ao terceiro ponto: o mecanismo baixo de desmerecer quem os critica, para que a crítica seja desconsiderada.

Criticou Sonza? Machista, misógino, infiel, a favor de traição, canalha, covarde e fascista. Sempre tem fascista. Fascista é o novo coringa das ofensas para desmerecer o argumento de alguém. Pessoas alinhadas ideologicamente com a alegoria que Sonza decidiu abraçar (esquerda, feminismo, etc.) não podem criticá-la, mesmo ela sendo réu confessa em um processo de racismo. Eu queria ver se um Bolso-Filho fosse dar um exposed em uma mulher que o traiu em um programa de TV, se os argumentos valeriam de volta.

Criticou os punheteiros universitários? Puritano, conservador, moralista, velho, desatualizado e fascista, afinal, não pode faltar o coringa das ofensas destinadas a constranger e calar a boca. Também tem versões tratando eles como Bolsonaristas, para a qual os argumentos de defesa são: homem é assim mesmo, ambiente universitário é assim mesmo, nada que alguém ali não tenha visto.

Não importa o lado: pessoas alinhadas ideologicamente com o que esse punhetaço representa vão tentar a todo custo normalizar a situação e fazer parecer que quem se indigna com isso é histérico, fresco, conservador ou… fascista. Eu queria ver se fizessem isso com suas mães ou irmãs, se os argumentos valeriam de volta.

É isso, acabou a privacidade, acabou a autorresponsabilidade, acabou a empatia. Migramos para uma barbárie onde cada um faz o que quer, onde expor a privacidade é bonito, é normal, é coisa de “guerreira”. Onde tudo é protagonizado na frente de câmeras: de Tv, de celular, em redes sociais. Onde se você votar no lado “certo”, pode fazer a bosta que for, que ainda sai como vítima. Parabéns, Brasil!

Para dizer que antes de criticar é preciso saber em quem a pessoa votou, para dizer que não aguenta mais o Brasil ou ainda para dizer que somos fascistas: sally@desfavor.com

SOMIR

Sabe quando criança que tem aquela fase de ver o mesmo filme (ou atualmente o mesmo vídeo de YouTube) mil vezes seguidas? Eu tenho a impressão de que isso continua no ser humano depois de adulto. Muda apenas a exigência de mudar alguns detalhes de uma versão para a outra.

O mundo das celebridades é basicamente o mesmo filme mudando de protagonista, seguidas vezes. Pessoa que recebe mil propostas de sexo de terceiros por dia começa a ter um relacionamento com outra que recebe mil propostas de sexo de terceiros por dia e eventualmente uma ou ambas as pessoas descobrem, chocadas, que foram traídas.

Já o mundo das polêmicas de rede social… bom, também é o mesmo filme mudando de protagonista, seguidas vezes. Pessoa faz alguma coisa que nunca deu repercussão negativa até ser filmada fazendo. A sociedade, que sabia que isso acontecia desde sempre, se diz chocada por isso ter acontecido.

Embora esses filmes repetidos obviamente não sejam a novidade aqui, tem algo mais nefasto acontecendo por trás disso. Eu não sei dizer se estamos ficando mais cínicos como sociedade, mas tem um fator intencional aí que faz as coisas parecerem ainda mais artificiais que o normal. Somos repetitivos, mas a minha impressão é que o ser humano do século XXI já entendeu isso, mesmo que inconscientemente.

É como se já tivesse um ritual para esse tipo de exposição. A celebridade (ou subcelebridade) já tem um caminho mental desenvolvido sobre como evadir sua privacidade, sabendo que isso é eficiente para gerar a tão desejada atenção do povo. Não duvido nem que tenha um impulso inconsciente para se colocar em situações de risco emocional justamente para conseguir os holofotes. Talvez até algo mais intencional, mas aí seria supervalorizar a inteligência desse povo, que raramente passa dos dois dígitos de Q.I., para ser famoso basta ser narcisista, o resto é acessório.

E para não cair na vala comum de discutir vida pessoal de famoso, eu quero usar o exemplo de Sonza para falar sobre o impacto desse tipo de exposição no cidadão comum: a celebridade busca uma montanha-russa emocional para ser sempre motivo de discussão, e vai passando a impressão para os populares que a vida é essa loucura mesmo, que essa overdose de dramas é como se vive a vida plenamente.

E isso contamina de verdade as pessoas. Ser uma pessoa despirocada que sai se envolvendo com qualquer maluco por aí vira empoderamento. Eu nem estou falando da parte sexual, e sim das péssimas escolhas de seres humanos para se ficar por perto. Parece que buscam o caos.

E um aparte: assim como a agressividade masculina precisa de freio social, a passionalidade feminina também. A humanidade está testando como manter ambos os sexos sob controle há milênios, os clichês de comportamento não surgiram no vácuo. Então, sim, mulheres estão ficando mais malucas porque de repente virou “crime” dizer que estão sendo malucas. Mulheres já me ajudaram ao me pedir para ficar mais calmo e não querer resolver as coisas na base da macaquice, e eu já ajudei mulheres ao dizer para elas controlarem a Chernobyl de sentimentos que tem dentro de si. Empoderamento é ter mais poder para lidar com a vida, não ser um núcleo derretido radioativo de emoções.

Dito isso, vamos falar dos imbecis baixando as calças. Qual a dificuldade de analisar o caso pelo que obviamente estava exposto? Por que fazer disso uma questão política? Se estivéssemos numa sociedade onde mostrar o pênis para estranhas fosse normal, vá lá querer analisar o posicionamento político das pessoas, mas eu tenho a impressão de que o centro de recompensas do cérebro das pessoas está tão frito que nem isso mais dá conta de entregar uma dose aceitável de drama.

Tem que politizar o pinto de fora. O pinto de fora é bolsonarista ou lulista, porque não era o suficiente a falta de respeito. Quem já fez faculdade sabe que estudantes de medicina são os piores seres humanos possíveis, e quem estudou em faculdade particular saber que isso é mentira: qualquer pessoa que faz parte de atlética é 100% pior. Some os dois e temos a desgraça em forma de gente: estudante de medicina que faz parte de atlética.

Essa gente é irritante e sem noção no Brasil inteiro, e todo freio que colocarem neles melhora o mundo. Mas quando a sanha de subir o nível de drama fica tão grande ao ponto de elevar o caso a uma discussão sobre visões de mundo, capitalismo, comunismo, autoritarismo, liberalismo… os pequenos pintos na beira da quadra se transformam em gigantes ideológicos. A conexão entre os temas é a necessidade de ritualizar a exposição indevida como se fosse algo importante para a sociedade. Não é. Uma maluca foi chifrada e um bando de cretinos cometeu um crime. Dar alguma aura de complexidade para qualquer um dos casos é alimentar o monstro da problematização moderna. E assim reforçar a ideia estúpida de que devemos viver com nossos sentimentos à flor da pele o tempo todo, que só vive de verdade quem é sem noção e não sabe se resguardar.

O que não é verdade. Gente que se expõe desse jeito acaba doente da cabeça, tomando remédio para dormir e outro para acordar. Simplificar a forma como lidamos com as polêmicas e dramas populares é um ato de amor para com o próximo: é só uma gente descompensada que não merece atenção além da mais básica. O resto é um ritual que cismamos em ficar repetindo porque achamos que é como se deve tocar a vida.

Menos, muito menos.

Para dizer que somos… alguma coisa, para dizer que não é maluca (claro…), ou mesmo para dizer que nós criticamos a sociedade mas mesmo assim vivemos nela: somir@desfavor.com

Se você encontrou algum erro na postagem, selecione o pedaço e digite Ctrl+Enter para nos avisar.

Etiquetas: , , ,

Comments (12)

  • Eu e meu parceiro passamos dias acreditando que Chico Moedas era alguma nova cripto, só percebemos que era o escândalo do dia quando alguém contou. Ia achar muito mais aceitável se a Luísa Sonsa fosse chorar na TV por ter perdido dinheiro com criptomoedas!

    É impressionante a ginástica mental e os debates intermináveis para justificar a falta de civilidade básica das pessoas. Agir como um ser humano civilizado daria muito menos trabalho, mas os céus que proíbam que alguém nos escute dizer isso. Em breve, até o ato de respirar será politizado.

    • Considerando que chico é o nome nada carinhoso que dão pra menstruação, cheguei até a imaginar que fosse a primeira criptomoeda feminista do Brasil.

  • Fico me perguntando em que ponto que a humanidade desandou de vez, que a gente nem sequer percebeu, de normalizar um punhetaço. Mais ainda, fico me perguntando também, como que a sociedade se perdeu, no sentido de se tornar totalmente burra e alheia e não entender o mínimo do básico: de que exposição de órgãos sexuais em público é crime e ponto final.

    • Em momentos como esse eu também me faço essa mesma pergunta, Ge. Simplesmente inacreditável que ainda tenha gente querendo dfender o indefensável. E quando até as noções mais básicas de civilidade e de certo x errado são ignoradas e/ou relativizadas, é um sinal inequívoco de que, como você mesmo disse, a humanidade desandou de vez…

  • por isso sou a favor de relacionamento aberto. Sem traições, sem hipocrisia, só a parte boa, leve e divertida. A vida é curta, vamos aproveitar sem dramas

  • O caso da Sonza não é nada mais do que “calorias vazias”. O que a Sally descreveu foi resumido perfeitamente por um desses tipos do twitter como “desejo por espetáculo”. O cara estava comentando de um outro caso (falta de malicia) de uma outra influencer (Dora Figueiredo) mas se aplica muito bem aqui também.

    O caso do punhetaço, é aquele momento que somos lembrados que os humanos são mais próximos dos bonobos do que gostaríamos que fossem, ao nível de causar desconforto mesmo. Mas eu sou só um puritano “anônimo” na internet que vê pessoas além de máquinas biológicas. Um otimismo barato eu sei, mas eu me sinto bem comigo mesmo pensando assim.

    O caminho que esses assuntos seguiram, ou como eu acredito, como esses assuntos servem de “arrebanhamento” não é nada novo. Pensar nas ações de maneira a ver o que de fato deveria importar não é o que muitos querem fazer. É mais confortável e conveniente seguir esse tipo de coisa (ou qualquer outra coisa, sendo sincero) porque isso reflete como vemos/lidamos com a vida.

    Como resolver isso? Não sei. Nem sei se há solução, ou se querem solução. Meu atalho mental é seguir o que um famoso técnico de consertos de macbooks falou: “Gostaria que o mundo fosse diferente, mas não é. Então tenho que lidar com o mundo como ele é ao invés de lidar com o mundo como eu gostaria que fosse. Posso trabalhar em prol de um mundo que eu gostaria, mas eu tenho que viver no mundo que é”.

  • Dizem que cachorros SRD tem o comportamento mais imprevisível e impulsivo do que cachorros de raça, não é? Se isso também acontece com seres humanos, estamos fodidos.

  • Des Qualificado

    Fico imaginando qual seria o posicionamento dessa gentalha que politiza e problematiza tudo se,num show da traidora que não aceita traição,uma dúzia de babacas com pinto partissem pra um punhetaço na platéia tendo como inspiração a performance nada puritana da moça.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: