Skip to main content

Colunas

Arquivos

15 anos de Desfavor!

15 anos de Desfavor!

| Desfavor | | 44 comentários em 15 anos de Desfavor!

Querido Leitor,

Hoje Desfavor completa 15 anos. Foram 15 anos de muito felizes para nós que escrevemos, nos quais aprendemos muito, recebemos inputs valiosos, trocamos ideias com pessoas que nos acrescentaram muito e conhecemos pessoalmente seres humanos maravilhosos. Todo o esforço foi muito bem recompensado, não poderíamos estar mais felizes com o que criamos.

Para celebrar, este ano, queremos fazer mais que uma postagem: queremos iniciar um projeto. Faz muito tempo que desejamos apresentar o Desfavor de três formas diferentes: áudio, vídeo e texto, para que o leitor consuma o que lhe for mais conveniente.

Texto requer tempo e atenção exclusiva. Em contrapartida, um áudio você pode escutar enquanto lava louça e permite entender qual tom de voz estávamos usando. Já um vídeo possuí recursos visuais extras e promove uma diversão maior (não, não aparecemos nos vídeos, não se iluda). Enfim, esse seria, na nossa opinião, o melhor dos mundos: Desfavor em áudio, vídeo e texto.

Não podemos prometer que será sempre assim, é o ponto negativo do Desfavor ser gratuito: não nos sobra tanto tempo para ele quanto gostaríamos. Somir e eu concordamos que é mais importante que continue gratuito e que a nova modalidade 3 em 1 seja implementada quando possível.

É um piloto, e como todo piloto, é algo que ainda estamos aprendendo a fazer. Se nem o piloto de “The Office” foi bom, não será o nosso a atingir grau máximo de qualidade. Tenham paciência, estamos engatinhando.

É um teste para ver se vocês gostam, se vocês querem e o quanto vale a pena a gente apertar nossas agendas para fazer mais postagens assim. Resta saber se vocês aprovaram a ideia…

Feliz aniversário para todos nós, afinal, nós construímos esta porra toda juntos!


Tema de hoje: o Desfavor melhorou ou piorou nesses últimos 15 anos?

SALLY


Quando o Somir me perguntou se o Desfavor melhorou ou piorou depois de 15 anos eu não tive dúvidas: Piorou.

“Mas Sally, quer dizer que você não está satisfeita com seu próprio blog”? Não, muito pelo contrário. Desfavor é hoje exatamente o que eu queria que fosse, continua fiel àquela proposta inicial: um lugar para falar sobre o que ninguém fala ou trazer um novo ponto de vista.

Em 2008 o politicamente correto era tão sufocante que ficava fácil trazer algo novo ou dizer o que mais ninguém estava dizendo.

Só que com o passar do tempo, o mundo foi ficando mais raivoso, mais agressivo, mais polarizado… e aquele nosso discurso de 2008, virou regra, não exceção.

O que o Desfavor teve que fazer para trazer um novo ponto de vista e falar o que mais ninguém fala? Ser ponderado, civilizado e centrado. É simplesmente ridículo!

Aos poucos, temas fascinantes como as falas do Alborghetti perderam o sentido. Hoje em dia qualquer polarizado político é um Alborghetti, quem quer falar sobre algo novo tem que falar de saúde mental.

O Desfavor atual é mais necessário, mais útil e mais maduro, mas isso quer dizer que o Desfavor melhorou? Não. Quer dizer que o mundo piorou. O Desfavor antigo, aquele do lado negro da gravidez, dos objetos mais enfiados no ânus era muito mais divertido.

Além disso, antigamente a gente ainda tinha esperança. A gente pensava em sugestões para deixar o mundo melhor: ontocracia evolutiva? Não, obrigada, hoje eu prefiro postar crianças excepcionais transformadas em um membro do Olodum, em uma Barbie ou na Mulata Globeleza. Nós simplesmente desistimos, e estamos cobertos de razão

Hoje estamos mais calmos, mais ponderados, mais maduros com o que postamos. Sabe quem quer ver isso? Pois é, quase ninguém. O que diverte é tiro porrada e bomba. É baixaria, xingamento, piada, dedo no cu e gritaria.

E o que a gente mostra? Texto sobre como cuidar da saúde mental, texto sobre funcionamento de vacina… ou seja, tudo aquilo que o nosso leitor já sabe e que quem não é leitor não vai acreditar.

“Mas Sally, se o leitor já sabe e se quem não é leitor não liga, não faz sentido falar sobre isso”. Faz sim. É muito fácil se perder no meio dessa espiral de merda. Queremos ajudar uns aos outros (inclusive a nós mesmos) a continuar mantendo o pé no chão.

As pessoas regrediram e desaprenderam a cuidar da sua saúde física, mental e emocional? Lá vamos nós falar sobre isso. As pessoas regrediram e estão questionando vacina? Lá vamos nós falar sobre isso. As pessoas regrediram e estão pendendo para apoiar o extermínio de um povo? Lá vamos nós falar sobre isso.

É necessário? É. Mas é um retrocesso. Antes sobrava tempo para brincar, para falar de fezes, para fazer estatística de quais objetos o brasileiro mais enfia no cu, para contar histórias de Siago Tomir. Hoje é preciso falar o básico: tem que tomar vacina, não é legal matar civis inocentes de nenhuma nacionalidade ou etnia, Lula e Bolsonaro são a mesma merda.

Eu faria hoje aquele Desfavor divertidíssimo de antigamente? Não. Apesar de amar e achar muito legal, está fora de lugar. Quando o mundo muda, ou a gente acompanha, ou fica para trás.

SOMIR


Claro que melhorou. O que vocês acham que eu estou fazendo aqui? Ganhando dinheiro? Ficando famoso? Pegando mulher? Há. O Desfavor tem graça justamente porque eu consigo ver uma evolução constante nele. A vida é dividida entre atividades de construção e atividades de manutenção. Manutenção vai desde escovar os dentes até mesmo aparecer no seu emprego, é tudo o que você faz porque tem que fazer, senão as coisas começam a ficar piores.

Atividades de construção, por sua vez, são aquelas nas quais você usa seus recursos, especialmente tempo, para acumular o seu esforço num resultado cada vez melhor. Fazer um curso é uma atividade de construção, treinar alguma habilidade – de dança até cálculo – é também uma atividade de construção.

O Desfavor é uma das minhas atividades de construção. Os textos que escrevia em 2008 não são mais os textos que escrevo em 2023. Nesses últimos 15 anos a experiência de vida e na mecânica da escrita se acumulou de tal forma que eu enxergo uma melhora imensa na qualidade do material entregue. Não quer dizer que seja uma melhoria universalmente aceita, até porque nosso público muda de tempos em tempos, mas quer dizer que cada vez que eu me sento para escrever, penso em formas de fazer isso um pouco melhor.

Estou trazendo esse foco personalíssimo primeiro porque é comum esquecermos dessa parte básica de treino e evolução quando estamos analisando as coisas que fazemos. Quem está dentro da mudança tende a não a perceber da mesma forma. Os textos estão mais bem escritos, ponto. Os meus e os da Sally. E só essa parte básica já dá uma resposta clara para a pergunta: o Desfavor melhorou em 15 anos porque Sally e eu escrevemos melhor desde que começamos.

E nesse meio tempo o público foi bem filtrado. No começo a gente ficava pensando muito em que tipo de texto e tom teria mais potencial para angariar leitores, tinha muito da nossa personalidade ali, mas não era uma identidade própria. Éramos nós adaptados à ideia de montar um blog com alguma base de leitores. Isso mudou e muito nesses 15 anos.

Agora o Desfavor tem a cara do Desfavor, e os leitores do Desfavor são leitores do Desfavor. Não estamos disputando espaço com outros sites, estamos aqui faça chuva ou faça sol, e tem gente que vai nos acompanhar por dias, meses, anos e alguns de vocês há mais de uma década. De uma certa forma, o fim dos blogs como existiam em 2008 nos ajudou a trilhar um caminho muito próprio. Você compara o Desfavor com o quê na internet moderna?

A atividade de construção criou um objeto único. É algo que ninguém mais consegue fazer, porque não é sobre um talento impossível de replicar, é sobre um projeto em evolução constante por fuckin’ 15 anos! E para mim essa é uma das coisas mais interessantes no projeto todo. Se a gente parar vai ter muita coisa interessante na internet ainda, mas não vai ter outro Desfavor. Nunca mais.

E isso se aplica aos nossos leitores, os que comentam e a grande maioria que acompanha em silêncio: vocês são um grupo de pessoas que eu não vi nenhuma outra comunidade online conseguir reunir. Dos mais insanos que chegam aqui pesquisando baixaria aos mais cultos dispostos a discutir os rumos políticos e sociais da humanidade, pessoas que estão aqui porque querem e pelo tempo que quiserem. Todos anônimos o suficiente para se conversarem por ideias e nunca por pose e imagem como nas redes sociais.

E não posso ignorar os temas: começamos fazendo mais bagunça, tentando chocar e provocar, mas com o passar dos anos fizemos com que o Desfavor fosse um lugar para compartilhar conhecimento sem se levar muito a sério. Em 2008 a Sally achava que tinha que escrever para um público de mulheres que só se importavam com homem. Em 2008 eu achava que tinha que escrever para irritar os outros e só. Hoje podemos fazer isso se quisermos, mas não temos mais nenhuma amarra sobre temas.

E tem algo de muito melhor nessa ideia de falar o que se quer falar, os textos saem mais honestos, e se for para provocar alguém, é uma provocação bem mais honesta. Porque sim, até para falar algo incômodo, vale muito mais se for de verdade do que se for só para “trollar muito”. O mundo mudou ao nosso redor, a gente era criticado por ser de esquerda até a esquerda focar totalmente em pautas identitárias e nossa defesa de direitos humanos básicos virar sinônimo de fascismo. Vai entender…

Agora, não é porque gente maluca está usando argumentos malucos que a culpa vira nossa! Então é claro que melhorou. A gente controla muito pouca coisa nessa vida, e nas que controlamos, eu só vejo avanços.

Para dizer que ainda prefere ler, para dizer que eu gravei meu texto num banheiro, ou mesmo para dizer que agora quer todos os conteúdos nos três formatos (só me pagarem um salário): somir@desfavor.com


Comments (44)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: