Mais ou menos?
Começa a semana de comemoração dos 15 anos do Desfavor. E para fazer algo que realmente converse com a nossa história, vamos focar numa diferença entre Sally e Somir que se repete há uma década e meia: ela tende a ser mais pessimista sobre o mundo, ele mais otimista. 15 anos mais ou menos. Mais ou menos?
Tema de hoje: nos últimos 15 anos o mundo melhorou ou piorou?
SOMIR
Claro que melhorou! Achar que o mundo piorou nos últimos 15 anos é que nem achar que a tecnologia não avançou desde a idade da pedra porque seu celular caiu no chão e está quebrado. Eu critico a Sally por essa visão, e todos vocês também. É uma epidemia aqui no Desfavor! Escrevo sabendo que vou perder, mas não vou deixar de falar o óbvio porque discordam de mim.
A primeira coisa que eu quero estabelecer é que modas políticas e comportamentais são basicamente irrelevantes no quadro geral da humanidade. A gente critica aqui a insanidade da esquerda e da direita contemporânea porque tem muito o que criticar, mas esses são ciclos curtos dentro da nossa história. O surto de fascismo e lacração irrita, mas não é algo sustentável por muito tempo.
Já aconteceu outras vezes, vai acontecer muitas outras ainda. Não é esse tipo de vírus intelectual que derruba a humanidade, é algo que acontece de tempos em tempos para testar nosso sistema imunológico. O século XX teve nazismo e comunismo matando milhões, mas se você olhar para o quadro geral, foi o melhor século da história em avanços tecnológicos e humanitários.
Temos uma tendência natural de olhar para os nossos problemas pontuais e extrapolar isso para todo o futuro. Não funciona desse jeito. Impérios caem, ditadores perdem o poder… as pessoas vão mudando de ideia aos poucos. Se eu não tivesse estudado história e percebido que aos poucos o ser humano vai percebendo seus comportamentos mais tóxicos e evoluindo, não gastaria meu precioso tempo nesse mundo escrevendo sobre os problemas da sociedade.
De 2008 para cá, por mais que 15 anos não sejam tão relevantes assim em escalas de evolução social humana, já dá para perceber alguns avanços consideráveis. O grau de preconceito com minorias diminuiu. O fato de fanáticos e populistas estarem berrando mais sobre gays, negros, mulheres é resultado direto de uma mudança social considerável. Em 2008 a gente nem pensava em falar mal da militância, porque a militância ainda estava num ponto muito fraco.
Nos nossos primeiros anos, precisávamos escrever muito sobre preconceitos e abusos cometidos contra minorias, nos últimos anos estamos escrevendo sobre como atores maliciosos dentro do movimento de justiça social estão subvertendo a lógica de inclusão e igualdade. Eu sei que parece estranho falar sobre mais lacração como um ângulo positivo, mas a lógica é que é melhor ter que discutir excessos de uma mentalidade de justiça social do que não ver nada acontecendo.
É que talvez o excesso de lacração nos últimos anos tenha anuviado nossa percepção sobre o tema, mas em 2008 a gente tinha detratores de direita cristã reclamando sobre nossas posições muito liberais. Hoje nossos críticos reclamam que não somos progressistas o suficiente por não abraçarmos causas como “mulher é quem coloca uma peruca”. É chato, mas presta atenção no quadro geral: a linha de corte sobre o que é considerado uma visão humanista do mundo subiu de tal forma que estamos criticando quem empurrou ela para fora do que é lógico.
É o que eu chamo de dores do crescimento. É um problema, claro que é, mas é o melhor dos problemas nessa situação. A cultura geral do mundo deu um salto de tolerância e igualdade, e os abusos são mais discerníveis. Até por isso, vimos o movimento da direita moderna surgir nesse meio tempo. Se você olhar só para o lado negativo, vai ver a popularidade de gente estúpida como o Bolsonaro, mas basta se afastar um pouco mais para enxergar o que acontece em linhas gerais: conservadores precisaram se radicalizar para não serem engolidos por uma nova visão de mundo que estava colocando religião em segundo plano.
Por um tempo isso vai ser ruim, mas é apenas uma reação alérgica do sistema às mudanças que aconteceram. Alergias passam. Por mais que a direita cristã esteja brigando atualmente, o máximo que ela vai conseguir é uma estabilização uns dez passos além do que realmente queriam. Depois que o povo experimenta uma sociedade um pouco mais liberal, é complicado voltar ao estágio anterior. E eu, como antireligioso, acho excelente como a religião está tendo que rebolar para se manter relevante, ficando mais degenerada a cada iteração, o protestantismo tendo que se vender para gerar mais recursos. É meio como aquela meme de reacionários: em 2050 o conservador vai ser alguém pedindo para casamento gay ser realizado entre maiores de 21 ao invés de maiores de 18.
E é claro, o ambiente tecnológico mudou muito nesse pouco tempo. Em 15 anos o mundo entrou na internet. Maldita inclusão digital? Depende de como você quer enxergar isso: às vezes é irritante pela quantidade de pessoas semianalfabetas infestando a rede com suas visões limitadas e incapacidade de verificar se o que compartilham é verdade, mas é mais e mais gente tendo acesso à informação. A média humana nunca foi muito boa nessa proporção entre gente que quer aprender e gente que não quer. Estamos numa era onde a maioria das pessoas com vontade e capacidade de aprender mais sobre a realidade tem acesso à informação.
É um jogo de números: sim, temos bilhões de pessoas irritantes entrando na rede, mas o número de pessoas que tem capacidade de transformar informação em ação positiva para o mundo cresceu na mesma proporção. É que sempre foram a minoria. Se o preço de fazer mil pessoas esforçadas com vontade de aprender terem acesso ao que precisam é um milhão de cretinos aleatórios na internet, vale a pena. Nesses últimos 15 anos, tivemos um salto absurdo no número de pessoas com acesso à informação de qualidade, que sim, existe na internet. Vamos colher muitos dividendos ainda. Foi num salto de acesso à educação e comunicação entre pessoas mais estudadas que os EUA e a Europa produziram uma leva incrível de cientistas que mudaram o mundo do começo para a metade do século XX. Vai acontecer de novo.
E sim, temos a inteligência artificial, que acelerou de forma absurda nesse meio tempo. É uma mudança de paradigma que ainda está sendo desenvolvida, mas que tende a alcançar mais e mais pessoas, automatizando tarefas intelectuais complexas e/ou maçantes, permitindo mais um avanço de produtividade. Foi no avanço de produtividade da Revolução Industrial que saímos de 99% de miseráveis nesse mundo para mais ou menos um décimo. O começo dessa revolução foi traumático, mas as coisas se assentaram numa riqueza sem paralelos no passado.
Ver o nosso potencial para o futuro não significa dizer que não tem nada de errado acontecendo agora, mas é essencial percebermos que mesmo aos solavancos, melhorarmos constantemente. Vale a pena investir em tecnologia e em justiça social mesmo sabendo que vamos ter problemas com esses avanços. O quadro geral compensa. Não podemos deixar de criticar os problemas e pensar em soluções, mas não faz o menor sentido achar que não tem nada de bom acontecendo. Tem sim. O esforço está pagando dividendos, nem sempre da forma mais explícita, mas o mundo de 2023 é melhor que o mundo de 2008, em linhas gerais.
E se você não vê isso, está sofrendo à toa. Não sofra à toa. Precisamos que você continue tentando fazer o melhor que pode. Está funcionando!
Para dizer que o mundo só melhora quando você está feliz, para dizer que eu sou maluco, ou mesmo para dizer que o ChatGPT escreveu este texto por mim: somir@desfavor.com
SALLY
Esta semana o Desfavor completa 15 anos e para celebrar vamos fazer uma semana temática focada em uma retrospectiva desses últimos 15 anos: nossa e do mundo. E, claro, no dia do aniversário (23 de novembro) teremos uma pequena surpresa.
Começamos a retrospectiva com o tema de hoje: nos últimos 15 anos o mundo melhorou ou piorou?
Piorou. Por dois motivos: por efetivamente piorar e também por não melhorar. Vou explicar melhor.
Quando comparamos o mundo de hoje com a idade média, por exemplo, podemos ver muitas melhoras significativas: antibióticos, saneamento básico e internet e muitos outros. Mas, quando comparamos o mundo de hoje com o de 2008, não vemos nenhuma grande melhora significativa e ainda vemos retrocessos. Deveríamos estar melhor. Não estamos
O intervalo de tempo entre é menor, óbvio. Passou muito mais tempo da Idade Média até agora. Mas, mesmo assim, no estágio em que estamos de crescimento exponencial, um mundo que em 15 anos não faz nenhuma grande descoberta, nenhum grande progresso, não é um mundo melhor. Era esperado um grande passo no intervalo de 15 anos. Não aconteceu.
Para piorar, ainda existem muitos fatores que tornam o mundo de hoje mais desfavorável que o de 2008 e eu tenho certeza de que todo impopular sabe citar ao menos meia dúzia.
Por exemplo, está mais lotado. Tem pelo menos um bilhão de pessoas a mais (provavelmente bem mais do que isso). Outro exemplo: está mais quente, mas acho que eu nem preciso relembrar isso a vocês, que estão no Brasil, né? No momento, temos duas guerras e uma pandemia rolando… não me lembro de nada parecido em 2008. Sabe quem era Presidente do Brasil em 2008? Pois é. Lula. Somos basicamente 2008, mais lotado, mais quente, com pandemia e com guerra.
Qual era o discurso da militância nessa época? O combo racismo + machismo. E hoje? Hoje continua, só que expandido. Agora é machismo até sentar de perna aberta e falar “buraco negro” é racismo). E com direito a novas categorias! Por exemplo, fascismo e nazismo usados frenética e levianamente. Bônus: a acusação de nazismo geralmente vem de quem defende o Hamas. Melhoramos pra caralho, hein? Em breve estaremos batendo com sorvetes em nossas próprias testas!
Os crimes de guerra continuam acontecendo (por parte de todos os lados). A ONU não é capaz de impedir barbáries contra o ser humano. A ciência foi severamente desacreditada na última década e isso terá consequências em breve, pois uma sociedade com baixa cobertura vacinal não escapa de enfrentar sérios problemas. Os índices de agressão a mulheres e estupros cresceram. Os índices de alcoolismo e vício em drogas também. Estamos ótimos! Só vitória!
E as pessoas, como estão? Com sobrepeso! O índice de obesidade disparou, assim como o uso de remédios para se manter funcional. Nunca se consumiram tantos remédios tarja preta para ansiedade, para depressão e para conseguir dormir – e o Brasil é campeão mundial nesse consumo. Nunca se fez tanto uso casado de remédios (um para dormir, um para acordar). Muita gente hoje só funciona no remédio. Ou se recorrer a algum vício. Só melhora. É melhora que não acaba mais!
Descobrimos cura para alguma doença grave? Não. Mas começou uma pandemia. Descobrimos vida em outro planeta? Não. Mas tem gente negando que o homem tenha pisado na lua. Reduzimos a desigualdade? Não. Mas tem gente achando lindo o governo cobrar ainda mais imposto. O Brasil tem saneamento básico para todos os brasileiros? Não. Mas tem gente discutindo pronome. O SUS consegue atender a todos de forma rápida e eficaz? Não. Mas gastam dinheiro com terapias alternativas sem comprovação científica.
O sistema de ensino evoluiu? Não. Está mais atrasado do que nunca e não forma cabeças pensantes, forma máquinas burras de decorar. Temos justiça? Não. Um Judiciário corrupto, moroso e parcial que dá sentença usando chatGPT e consome cada vez mais verba pública com regalias. A ressocialização do sistema penitenciário funciona? Pausa para rir. As pessoas estão melhores? Negativo. Estão mais problemáticas, mais neuróticas, mais agressivas, mais polarizadas.
E não há sequer uma luz no fim do túnel. Crianças expostas a muitas horas de tela estão crescendo em uma geração incapaz de se concentrar e com produtividade baixíssima. Jovens superprotegidos que não estão preparados para performar dignamente uma vida adulta e jovens barbarizados que não tem nenhuma chance de levar uma vida com saúde mental coexistem em um grande zoológico de humanos disfuncionais.
Não é com estatísticas que avaliamos melhoras efetivas. Certamente o índice de analfabetismo caiu e o de escolaridade aumentou. Mas adianta, se terminam o primeiro ou o segundo grau de conseguir ler e interpretar um texto? Pode ser que formalmente, se torturar os dados direitinho, se observe uma melhora. Mas… na prática? Não. Pelas ferramentas disponíveis, por exemplo, internet, a humanidade teria que estar muito à frente de onde está.
Podem citar a estatística que for, eu tenho meu medidor pessoal: a coluna “Ei, Você”. Se antes tínhamos pessoas ignorantes que desconheciam o idioma, ciência, leis da física e as leis do país, agora se somaram a elas idiotas que não entendem como as coisas funcionam (não sabem que precisam de luz para carregar o celular, por exemplo), idiotas cegos pela militância (bolsonarista pedindo intervenção alienígena com lanterna de celular, por exemplo) e negacionistas de toda espécie (até negacionista de neve existe).
Piorou. Piorou pra caralho. Não só não melhorou significativamente, como ainda piorou por cima do que não melhorou. Talvez você tenha melhorado, talvez a sua bolha tenha melhorado (tende a acontecer com quem investe tempo no foco certo), mas no geral, a coisa piorou.
A expectativa eram carros voadores, a realidade é um trânsito cada vez pior. A expectativa era a cura do câncer, a realidade é o aumento significativo dos casos de câncer. A expectativa era pessoas mais compassivas e generosas, a realidade é antissemitismo, islamofobia e diversas outras formas de segregar.
A expectativa era uma nova condução do país com mudanças e a realidade é uma alternância sempre das mesmas merdas. A expectativa era uma nova geração que revolucionaria o mundo e a forma de trabalhar e a realidade é uma geração que chora ao saber que vai ter que trabalhar 8 horas. A expectativa era uma sociedade mais justa, mais igual e mais consciente. A realidade… bem, eu nem preciso falar.
Na vida real, longe das estatísticas, não melhoramos o que deveríamos (o que é uma piora no progresso) e pioramos em muitas questões fundamentais.
Para dizer que opta por ignorar o mundo real e prefere acreditar que o mundo melhorou pois o seu mundo melhorou, para dizer que melhorou pois o Olavo de Carvalho morreu ou ainda para dizer que sempre foi péssimo nós é que não víamos pois não existiam redes sociais: sally@desfavor.com
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Etiquetas: 15 anos, otimismo, pessimismo, sociedade, tecnologia
Djalambi Tuamana
Acho que o mundo melhorou, especialmente em piorar.
Ana
Eu acho que piorou. Antigamente, essas mesmas barbáries existiam, porém genuinamente faltava conhecimento ao acesso da maioria e ferramentas para se tornar tudo menos burocrático. E chegar aos trinta anos já era meia vida.
Então, “melhoramos” no sentido que temos mais conhecimentos disponíveis, mais ferramentas e maior tempo de vida. Mas, uma grande parcela da população mundial está usando dessas melhorias para restabelecer elitismo, porradaria e burocracia.
Sally
É exatamente como eu penso: se antes era ruim, dava para relevar algumas coisas pela falta de acesso a informação. Hoje a informação está disponível, mas as pessoas simplesmente não tem interesse e usam essas ferramentas para fins ignóbeis.
Ela
Creio que melhorou.
Há 15 anos atrás tínhamos uma grande perspectiva que tudo ia melhorar, lá se foram 15 anos,
nos livramos da espectativa e caímos na realidade, nada mudou e nem mudará.
Melhor assim, pé no chão, a realidade é menos cruel quando ela é abraçada amorosamente apesar de…
Sally
Você acha que nada mudou? Eu vejo mudanças para pior, por exemplo, estamos na exata mesma merda, só que mais quente.
Paula
Eu era criança em 2008, não posso opinar com propriedade. No geral, sinto que o mundo que nos foi explicado na época era um mais otimista e parece melhor. Cresci escutando que me formar na faculdade e ter boas notas ia garantir o meu futuro, como garantiu o futuro dos meus pais, mas isso não aconteceu nem para mim e nem para o meu irmão mais velho. Nossas melhores oportunidades financeiras foram e são muito diferentes das áreas em que formamos, e na verdade a maioria delas nem exige graduação. O que tem mais tem é gente formada, com mestrado e muito conhecimento ganhando pouco e trabalhando muito. Dá uma dorzinha especial no coração vendo alguns amigos com pós-doutorado em áreas científicas muito interessantes tendo de sair do BR para ganhar dignamente. O Brasil trata muito mal os seus cientistas.
Mas não coloco minha mão no fogo para dizer que o mundo no geral piorou, porque o fato de estarmos vendo apenas notícias ruins o tempo todo também é instrumentalizado e serve tanto a interesses específicos quanto aos nossos vieses psicológicos. Fora que a minha vida melhorou em relação a vida que eu tinha 15 anos atrás. As coisas não são fáceis, mas também não são nem de longe tão ruins quanto poderiam ter sido. Preciso revisitar essa questão de novo daqui mais uns 15 anos hahahaha
Sally
Sim, a minha vida também melhorou. Mas o mundo… está mais quente, mais lotado, mais desigual, com guerra, com pandemia…
Elis
Eu fiz 15 anos em 2008 e 30 esse ano.
Concordo com partes do que você disse, em relação a questão da promessa universitária. Inclusive é revoltante contestar o quanto a geração anterior era preguiçosa em relação a nossa, pois estudamos e trabalhamos MUITO, com muito menos retorno.
Sobre a questão cientifica discordo em partes pois o que eu conheci da academia nas Universidades Federais não é bem assim, há uma pequena porção de pessoas realmente engajadas em avançar algo, inclusive há um excelente texto aqui no desfavor da época da pandemia que fala um pouco disso.
Sobre sair do Brasil para ter uma vida mais digna, eu tive a oportunidade de estudar fora recentemente e cheguei a conclusão que brasileiro no exterior mente muito, e que as coisas não estão fáceis mundialmente falando, e o que sobra para os brasileiros no exterior é a sobra da sobra.
ps/ eu leio o desfavor desde 2008, cresci com vocês!
Sally
Que emoção, Elis! Você cresceu com o Desfavor!!!
Paula
Que interessante ler sobre sua experiência, Elis! Eu sou um pouco mais nova do que você, e provavelmente minha falta de experiência me faz ter uma visão um pouco mais ingênua. Mas também pode ser por causa do famoso viés de confirmação. Confesso que tive um período de luto quando percebi que não havia muitas portas abertas na minha área de formação, mas o período passou e acabei descobrindo que as oportunidades ainda existem, embora não na forma que fui criada para buscar. O mundo muda muito rápido atualmente, e acho que parte do desafio de nós Millenials e da Geração Z é perceber isso e nos adaptar.
Conheci algumas pessoas que chegaram a passar fome na Europa e no Canadá. Umas voltaram, outras insistiram. Tem alguns dos meus amigos, pesquisadores da área da saúde e biologia de maneira geral, que passaram mais de dez anos lutando pra sobreviver aqui, e conseguiram ao menos pagar as contas e trabalhar na própria área quando foram embora. Quem mais vejo tendo sucesso financeiro é o pessoal de TI. Mas dos que migraram pra começar ou continuar pesquisas, a maioria conseguiu se estabelecer.
Acho que na hora de pesar os prós e contras, o Brasil não vai ser o pior lugar do mundo, mas vai ter contras que serão inaceitáveis para muitas pessoas. Algumas pessoas simplesmente não vão conseguir superar os desafios de ser estrangeiro, sem contatos e pobre em um lugar desconhecido. O mundo pode estar mais difícil que 15 anos atrás, mas alguns lugares estão se adaptando melhor aos novos tempos.
Anônimo
Óbvio que o mundo melhorou. Imagina viver sem a tecnologia? Vai melhorar cada vez mais quando em cada ponto da rua tiver uma câmera com reconhecimento facial e chip implantado mos dedos fazendo o rastreamento. O ser humano piorou, por isso tem que ser controlado pela tecnologia. Nesse ponto eu admiro a China.
Sally
De 2008 para cá, que tecnologia nova surgiu que fez o mundo melhorar? Eu não consigo ver nada significativo
Anônimo
Vcs estão há 15 anos realmente discordando de alguma coisa toda segunda ou é só pra escrever os textos? Se for real, como conseguem manter o casamento desse jeito? Pra mim seria impossível ter uma mulher ao lado sempre pensando o oposto de mim.
Sally
Nós discordamos de verdade na segunda (Ele Disse, Ela Disse) e concordamos de verdade no sábado (Desfavor da Semana) há 15 anos. Não é tão difícil como parece pois, se você reparar, dificilmente tratamos de questões de caráter ou da essência de um ser humano. Pequenas discordâncias são mais do que normais.
Ah… não somos casados. Ao menos não um com o outro.
Suellen
De 15 anos para cá, a tecnologia tem avançado para começar a nos tirar das trevas ou, pelo menos, para dissipar muitas ilusões. Por exemplo, tecnologia para o combate ao crime avançou a largos passos (curiosamente estou nessa área há 15 anos), a pandemia mostrou que foi possível criar uma vacina do nada em um ano ou dois (e a partir daí, novos medicamentos) e, de forma mais geral, nunca antes tivemos acesso tão facilitado a tantas fontes de conhecimento, como foi bem dito aqui.
Enfim, o mundo melhorou. O problema é que boa parte das pessoas que nele vive(ra)m nesse período é que não aproveita(ra)m essa melhoria. Ou não deixa(ra)m outras se beneficiarem.
Sally
Esse é um assunto do qual eu não entendo: tecnologia de combate ao crime. Sempre que vejo algo relacionado é criticando, como por exemplo o reconhecimento facial por IA, que confunde pessoas o tempo todo. O que tem de novo e de bom no combate ao crime?
Suellen
Em relação ao que há de novo e de bom, podemos destacar: (a) a crescente utilização da IA para rastreamento de transações para apurar lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo por iniciativa das instituições financeiras e de mercado de capitais que investem pesado nesse sistema, com troca de informações e de conhecimentos com os órgãos de supervisão e de polícia. Esses sistemas permitem saber de antemão se uma pessoa ou empresa faz movimentações não condizentes com suas características; (b) aparelhamento das polícias civis de todos os Estados da Federação a partir do treinamento e da criação de sistemas informatizados pelo Ministério Público Federal e da Polícia Federal para detectar indícios de lavagem e de terrorismo. Um desses sistemas, chamado SIMBA, permite num clique fazer um mapa de todas as partes envolvidas nas transações realizadas em uma conta, o que em 2008 era ainda feito na unha a partir de DVDs ou mesmo a partir de milhares de páginas de extratos impressos e (c) aparato para grampear conversas telefônicas que permite transcrever automaticamente trechos ou palavras pré-determinadas de interesse para investigação. Lembro de um aparelho do tamanho de um modem, israelense, que era utilizado aqui na Secretaria de Segurança Pública uns 10 anos atrás para monitorar até quase 10000 linhas telefônicas simultaneamente e automaticamente transcrevendo trechos de interesse para investigação.
Agora se fala na utilização de computação quântica para esses propósitos…
S.
Melhorou mais do que piorou, eu diria. Aliás, a escrita de vocês também melhorou :)
O pior problema a meu ver é a questão econômica, economia é tudo. É comida, é educação, é cultura… Se não me engano atualmente é a primeira vez que a geração jovem é mais pobre que a geração mais velha. Isso é péssimo porque pobreza é um círculo vicioso. Como diria aquela música, o rico fica cada vez mais rico e o pobre fica cada vez mais pobre. Bom, xi bom, xi bom, bom bom…
Sally
Eu acho que o principal problema é a saúde mental…
Ge
Lendo teu texto, dá até uma dorzinha aqui no peito, Sally. Triste ver que o mundo piorou e que a sociedade regrediu, as pessoas estão cada vez mais idiotas e disfuncionais. O que me faz sentir um verdadeiro peixe fora d’água as vezes. Isso é perceptível em tudo quanto é lugar, seja em ambiente de trabalho, ou entre colegas, informal, enfim.
Sally
Eu sinto isso também, o nível de tudo caindo
W.O.J.
Mais um aqui. Sinto que a época e o lugar aos quais eu realmente pertenço não são estes. Vivo cercado de gente tacanha cujas falas, pensamentos e ações são tão toscos que me fazem desanimar. Eu sempre fui meio recluso, mas, de uns tempos para cá, estou me isolando ainda mais. Porque, salvo raras exceções, já não me está sendo mais tolerável nem sequer o chamado “small talk” (conversa informal sobre temas genéricos e não muito profundos). Não sei vocês, mas para mim, é bem irritante ter diariamente a desagradável experiência de ver que mesmo coisinhas básicas são pouco e mal compreendidas pela maioria das pessoas com quem convivo. Ao menos tenho o alento de poder ler o Desfavor e, ainda que apenas online e por escrito, poder trocar ideias com cabeças pensantes como Somir, Sally e os Impopulares. Loga vida à RID! E que venham mais 15 anos…
Anônimo
O que adianta ter liberdade pra dar a bunda se você é mais pobre, doente e solitário que seus pais? O que adianta ter mais escolaridade e conhecimento se ninguém te contrata? O que adianta ter mais expectativa de vida e tralhas tecnológicas se a vida é uma merda? A real é que os donos do mundo têm toda essa relutância em liberar suicídio assistido porque sabem que metade do seu gado, chutando baixo, iriam escolher quitar dessa existência miserável, até os que se dizem contra suicídio por motivos religiosos (puro coping, só porque não tem acesso a um suicídio seguro e sem chance de falhas)
Pra mim a única melhoria foi a internet, pelo menos tem alguns conteúdos pra me distrair, porque de resto…
Maya
Refletindo sobre isso do suicídio assistido, concordo com você, Anônimo. Por trás de uma suposta “defesa da vida”, há a necessidade de manter um sistema de merda funcionando