Você está com sooonoooo...O conceito de hipnose é bem controvertido e tem para todos os gostos. Por isso, não vamos conceituar, vamos apenas tentar explicar como funciona, com a ajuda de profissionais que valorizam demais seu nome para serem citados neste blog de merda.

A hipnose tem por objetivo induzir o hipnotizado a um estado de relaxamento que facilita um canal de comunicação mais profunda e uma ampliação sensorial. Difícil mensurar esta ampliação, porque cada pessoa reage de um jeito à hipnose. Existem pessoas que sequer são hipnotizáveis. Estima-se que cerca de 10% da população mundial não seja hipnotizável. Existem cinco graus de hipnose (alguns classificam como três). A regra geral é que a pessoa fique entre os graus médios (2, 3 e 4). Poucos chegam no profundo (5) (cerca de 10% conseguem). No grau profundo é possível até mesmo que a pessoa abra os olhos e converse sem sair do transe. No grau leve (1) qualquer barulho ou estímulo externo faz a pessoa “acordar”.

Não existe regra absoluta, mas a tendência é que sejam mais suscetíveis à hipnose pessoas que não tem medo do desconhecido, que não tenham resistência a um certo grau de submissão e que consigam ter um bom foco de atenção. Crianças com menos de dez anos dificilmente são hipnotizadas. Deficientes mentais e pessoas alcoolizadas não são hipnotizáveis.

Quem comanda é chamado de hipnotista e quem se deixa comandar é o hipnotizado. A primeira coisa que você tem que saber sobre hipnose é que uma pessoa não pode ser hipnotizada contra sua vontade. Ela tem que querer, consentir e se sentir bem, ter uma relação de confiança com quem a hipnotiza. É o que se chama “rapport”. Mesmo quando o hipnotizado está em trase profundo, ele não fica completamente sujeito ao hipnotista, podendo sair do transe sozinho se quiser.

Por exemplo, se for detectada uma situação de perigo, onde o hipnotizado perceba que o hipnotista vai lhe fazer algum mal físico, ele imediatamente sairá do estado de hipnose. Vamos lá, existe uma linha tênue aqui: eu disse que o paciente não vai fazer nada que ele não queira. Ou seja, se o hipnotista pegar uma faca e disser “eu vou te dar uma facada e proíbo que você se mexa” o hipnotizado não fica rendido como se fosse um sequestrado, ele pode e vai reagir e sair do transe. Repito: ele não pode ser obrigado a fazer algo que ele não queira.

Mas… ele pode ser induzido a querer alguma coisa. Um exemplo clássico seria um hipnotista fazer uma mulher acreditar que ele é seu marido e fazer sexo com ela. Atentem para o fato de que ela não está fazendo nada CONTRA a sua vontade, ela acha que está fazendo sexo com o marido. Ela está sendo enganada. Então, não se pode obrigar um hipnotizado a fazer algo contra sua vontade mas se pode manipular ou induzir a fazer algo que na verdade ele não gostaria. Por isso, não abra o catálogo telefônico e procure o primeiro Zé Ruela que aparecer, hipnose é coisa séria, é preciso ter total confiança.

Ok, vamos presumir que a pessoa queira ser hipnotizada por alguém. Não basta querer, é preciso estabelecer um vínculo de confiança com o hipnotista, se sentir confortável com ele, confiar em seu trabalho. É necessária uma “entrega” por parte do hipnotzado, caso contrário, nada vai acontecer. Pessoas que tem dificuldade em “se entregar” (no aspecto da confiança, do relaxamento, da perda de controle) podem nunca conseguir ser hipnotizadas, ainda que confiem no hipnotista. Sem cooperação do paciente nada acontece.

Supondo que a pessoa tenha estabelecido um vínculo e consiga se entregar, como se inicia a hipnose? Bem, existem vários procedimentos para induzir a este estado de relaxamento. É essencial que o hipnotizado esteja confortável (fisicamente falando, inclusive), preferencialmente em um local calmo e temperatura agradável. O hipnotista pode utilizar diversos métodos que variam desde a fixação do olhar até mesmo a utilização de aparelhos eletrônicos que promovam o estímulo de determinadas ondas cerebrais (ondas cerebrais alfa). É muito comum ver em filmes um hipnotista que usa um pêndulo para hipnotizar e, pasmem, isso não é lenda. Pode ser feito! Não é o pêndulo em si, e sim qualquer estímulo repetitivo, monótono, que pode ser visual ou sonoro. Pode ser até mesmo com um dedo.

Também é comum que se misture qualquer destes estímulos com sugestões verbais. Os estímulos sonoros costumam ser mais eficientes do que os visuais, por isso quase sempre o hipnotista dá preferência a eles ou conjuga ambos. No caso de sons, o ritmo indicado é um que acompanhe os batimentos cardíacos. Os estímulos verbais que se mostram mais eficientes estão ligados a palavras como “sono”, “relaxamento” e similares.

Como estes estímulos repetitivos fazem a pessoa entrar em transe hipnótico, fisicamente falando? Acredita-se que uma estrutura cerebral chamada “formação reticular”, responsável por controlar quais são as informações nas quais devemos nos concentrar) liga as palavras do hipnotista ao cérebro através de uma rede de conexões. Funcionaria mais ou menos assim: as palavras do hipnotizador são processadas pelo nervo auditivo, alcançam o começo dessa rede, localizada na base do cérebro e depois se espalham por ele. Justamente por serem informações repetitivas, quando chegam ao lobo frontal (relacionado à regulação e inibição de comportamentos), acabam provocando a concentração em um único foco inibindo todo o resto a seu redor.

Se tudo der certo, o hipnotizado vai entrando em um estado de relaxamento chamado “transe hipnótico”, que vai aumentando de forma progressiva. Este relaxamento permite acesso a áreas que normalmente poderiam estar bloqueadas e ainda promove um aumento de concentração. Esta concentração pode ser direcionada para determinados objetivos, conduzida pelo hipnotista.

Recentemente foram realizados estudos de mapeamento cerebral com pessoas hipnotizadas para entender exatamente qual era o efeito provocado, pois durante muito tempo se acreditou que fosse uma espécie de “sono”. Descobriu-se que quando uma pessoa está hipnotizada ela não está dormindo nem em estado inconsciente. O que apareceu foram “ondas alfa”, que indicam que a pessoa está em um estado de vigília, aquela coisa meio barro meio tijolo que a gente experimenta quando está em um pré-sono. O hipnotista é responsável por te manter nesse estado de pré-sono, evitando que você durma definitivamente ou que acorde completamente.

Uma vez que a pessoa entra nesse transe hipnótico, sua percepção da realidade pode ser alterada. Alguns destes efeitos podem surgir: alteração na percepção do tempo (tanto para mais como para menos), pode acontecer um aumento na capacidade de lembrar de fatos passados (ainda que ocorridos em um passado remoto), analgesia (entorpecimento da consciência da dor), anestesia (perda completa da consciência da dor) e movimentos involuntários do corpo.

Porque a hipnose diminuí a dor? Bem, ela relaxa a pessoa levando a um aumento na liberação de serotonina e se concentra nas áreas cerebrais que são responsáveis por processar a mensagem química da dor, o que acaba por atenuar sua intensidade. Além disso também diminuí o cortisol, responsável pelo estresse, que intensifica o sinal de dor. Graças a essa diminuição do cortisol, uma série de benefícios podem ser obtidos: células do sistema imunológico podem se tornar mais eficientes.

Não pensem que porque eventualmente a pessoa tem amnésia pós-hipnótica isso quer dizer que ela fique inconsciente no momento da hipnose. Não, ela está consciente. Especula-se que o inconsciente e o consciente atuem em conjunto quando a pessoa está em transe. Por isso, ninguém vai revelar um segredo medonho que queira esconder a sete chaves só por estar em transe. Mesmo no transe mais profundo conservamos uma espécie de vigilância para nos proteger. Ninguém conta o que não quer contar durante o transe.

Um dos meus medos foi a lenda de entrar no transe e não conseguir voltar. Porque é uma sensação muito boa de segurança e relaxamento. É um descanso para a alma. Mas, segundo o hipnoterapeuta que nos atendeu, isso não acontece. Se a pessoa se recusar a voltar do transe, basta deixá-la nesse estado até que ela se canse e queira voltar ou até que o transe se transforme em sono (questão de poucos minutos). Isso mesmo, a pessoa migra do transe para o sono quando é “abandonada” pelo hipnotista e depois acaba acordando.

Ainda não conseguiu visualizar como é o transe hipnótico? Vamos para exemplos concretos. Segundo o hipnoterapeuta que nos atendeu, entramos em pequenos transes várias vezes por dia. Sempre que estamos desempenhando alguma atividade na qual centramos um foco de atenção muito grande (geralmente atividades que nos são prazerosas) entramos em uma espécie de “mini transe”, onde o foco de atenção nas outras coisas vai sumindo ao poucos e acabamos quase que 100% concentrados na atividade principal. Ligou o nome à pessoa? Ler um bom livro, jogar video-game, dirigir por prazer, etc. A hipnose é esse mini transe só que mais aprofundado e duradouro, induzido com a ajuda de um especialista.

Também existe a possibilidade da auto-hipnose, seja pela pessoa completamente sozinha ou pela pessoa com um “tutor” do lado orientando, dando uma forcinha. Caso a pessoa queira trabalhar sozinha, existem exercícios que ela tem que “praticar” para conseguir alcançar o estado de auto-hipnose. É algo muito similar à meditação. Curioso como ninguém e diz exatamente quais são e como fazer, os profissionais da área apenas dizem que é algo que demanda muitas explicações e é muito complexo, um trabalho a longo prazo. Ou seja: ME PAGUE PARA QUE EU FALE.

E foi isso que a gente fez. Somir e eu procuramos, cada um em seu respectivo Estado, um profissional conceituado da área (que evidentemente não querem ser identificados em um blog baixo nível como este). Passei por uma sessão de hipnose e aprendi técnicas de auto-hipnose. Somir fez um inimigo.

Sobre a auto-hipnose, a técnica que mais deu certo comigo foi a seguinte: quando você estiver pronto para dormir, deite na cama de barriga para cima, pernas estendidas (sem cruzar), braços ao longo do corpo. Olhe fixo para um ponto e comece a imaginar que seus pés estão muito pesadas, muito cansadas, tente instigar seu corpo a pensar que seus pés estão exaustos com os recursos que forem necessários. Se você conseguir sentir essa sensação de pés pesadas, faça com que ela suba gratativamente: canela, joelhos, coxa… A reação natural, se você conseguir o relaxamento, será fechar os olhos quase que de forma involuntária. Com o tempo e prática, se pode chegar a esse resultado em poucos minutos. No que fechou o olho, aproveita, porque você está tendo um contato maior com seu subconsciente e pode “reprogramar” algumas coisas (dentro de um certo limite, né?) e usufruir de rompantes criativos e tentar resgatar informações arquivadas.

Supondo que você esteja diante de um problema que não consegue solucionar. Você pode tentar a auto-hipnose e aproveitar esse tempo de vigília, onde sua criatividade fica ampliada e tentar fazer com que uma solução “venha à tona”. Mas não vá pensando que você vai deitar na sua cama HOJE e levitar de pernas cuzadas tipo Dhalsin do Street Fight amanhã. É um procedimento demorado que requer prática e disciplina. Sem prática, muita prática, apenas uns poucos abençoados entram em transe profundo. Conheça-se, aperfeiçoe-se.

O hipnotista que me atendeu me contou histórias fascinantes de pessoas que através de anos de auto-hipnose aproveitaram esses minutinhos de vigília para colocar em sua cabeça coisas como “Organismo, estou falando com você, a partir de hoje eu te ordeno que você acelere meu metabolismo para que eu emagreça com mais facilidade!” ou “a partir de hoje eu não vou mais fumar e não vou mais sentir vontade de fumar, vou sentir nojo de cigarro” e coisas do tipo, obtendo resultados surpreendentes. Você vai ter que testar para saber se funciona (ou o quanto funciona) ou não, pois cada pessoa reage de uma forma.

Foi realizada uma experiência com fumantes, divididos em dois grupos. Um grupo tentou parar utilizando apenas a hipnose, o outro tentou parar utilizando outros métodos convencionais como adestivos de nicotina. O resultado final foi que no grupo da hipnose 50% a mais de pessoas conseguiram parar de fumar. Daí você pode se perguntar se isso não é mera sugestão, indução ou manipulação psicológica das pessoas. E eu te respondo: que diferença faz o que é, se revolver o seu problema?

Não se trata de lavagem cerebral, como muitos acusam. Durante muito tempo se acreditou que no estado hipnótico a pessoa era sugestionada a dizer que sentia certas coisas que seu cérebro na verdade não estava sentindo. Mas, recentemente, exames de imagem (PET) mostraram que o cérebro da pessoa hipnotizada efetivamente é enganado e sente aquilo que se manda sentir. Um teste feito com voluntários provou em definitivo esta teoria: pessoas eram colocadas para olhar figuras coloridas e seu cérebro era monitorado. Depois eram hipnotizados e submetidos às mesmas figuras coloridas, só que desta vez com um hipnotizador dizendo que elas eram cinzas. Resultado? O cérebro ativou uma região que inibe a visão das cores. O cérebro passou a ver em preto e branco. O contrário também foi feito: exibiram imagens em preto e branco e os voluntários induzidos pela hipnose viram as imagens coloridas.

Sabe aqueles shows que a gente costuma vez na TV onde um hipnotista pega alguém da platéia e coloca a pessoa em transe na hora? Segundo os especialistas consultados, na maior parte das vezes é verdade MESMO. Eu jurava que eram truques e gente fingindo! No entanto é bem possível. Porém, não é recomendado usar hipnose para esse tipo de babaquice, isto pode eventualmente causar algum tipo de prejuízo à pessoa (principalmente à dignidade, pqp).

Para que serve a hipnose afinal? Pense na seguinte metáfora: você tem que limpar por dentro uma caixa toda fechada que tem um pequeno furo na parte de cima. Como o furo é pequeno, você não consegue meter a mão e alcançar todos os cantinhos para tirar toda a sujeira. A hipnose te dá um acesso maior, é como se aumentasse o furo da caixa para que você consiga limpá-la e depois o fechasse novamente. Tá precisando de uma faxina interna? Pense na hipnose com carinho. Ela não é uma solução mágica, aliás, pode até mesmo não adiantar de porra nenhuma, mas é MAIS UM recurso. Como diz o Romário, só perde quem bate. Não custa tentar.

Em casos de pessoas que sofreram crimes violentos como estupros e tentativas de homicídio, a taxa de sucesso da hipnose para desbloquear o trauma é de quase 100%. Pessoas submetidas à hipnose quase sempre são capazes de fornecer um retrato falado do agressor com riqueza de detalhes. Entretanto, o mesmo não se aplica para o outro lado da moeda. Criminosos não podem ser compelidos a confessar mediante hipnose, pois eles poderiam mentir ou nem sequer se deixar hipnotizar.

A hipnose pode ser utilizada para melhorar a qualidade de vida da pessoa, trabalhando problemas como vícios, insônia, distúrbios alimentares e tratamento de uma série de doenças. Também pode ser usada para tratar distúrbios psicológicos, para diminuir dores crônicas ou até mesmo para anestesiar um paciente que por algum motivo não possa sofrer anestesia química. Recentemente vem se utilizando a hipnose na obstetrícia para garantir uma gestação mais tranquila e um bom parto. Também vem sendo utilizada no aprendizado, seja para aumentar a capacidade de fixação de conteúdo seja para motivar o aprendizado.

No Brasil, a lei apenas autoriza o uso de hipnose para fins profissionais, ou seja, para complementar a atuação de um profissional, a médicos, dentistas e psicólogos. A hipnose em si é de livre exercício, mas conjugada com a profissão, só nesses três casos.

“Mas Sally, eu não acredito em hipnose!”. Foda-se, hipnose não é religião, onde você “precisa acreditar”. Se entregue, coopere e você vai ver que é verdade.

NOTA DO SOMIR: Estava indo bem até aqui. Discordo MUITO dessa última frase. Hipnose só funciona com quem quer que funcione ou com quem não tem o conhecimento necessário para perceber o que realmente ocorre, o que entrega que é auto-sugestão. Da forma como é feita, hipnose é uma forma cara e ineficiente de simular os efeitos de um remédio sedativo.

Sobre as nossas sessões de hipnose? Bom, isso rende um tremendo Eu Desfavor. Um dia eu conto.

Para dizer que você vai se auto-hipnotizar e tentar intuir os números da Mega-Sena, para dizer que a reportagem da Galileu foi melhor ou ainda para deixar um zzzzzzzz : sally@desfavor.com

Cala a boca e leia!  ATENÇÃO: TEXTO LUNÁTICO. 

Ah, a Lua… sua presença nos céus fascina a humanidade desde tempos imemoriais, enchendo as das pessoas de… textos piegas e pouco informativos sobre o satélite natural do planeta Terra. Frescura que eu não pretendo repetir aqui.

Para começo de conversa: Foda-se o que as civilizações antigas achavam, foda-se o que os cretinos do misticismo dizem, aqui é CIÊNÇA! Ahem…

INTRODUÇÃO

A vida aqui no nosso globo azul dependeu de incontáveis e improváveis fatores para se desenvolver. A famosa história de que se as condições que definem a nossa existência fossem levemente diferentes, nada disso teria sido possível. Se a Terra estivesse um pouco mais perto ou longe do Sol, não teríamos nem a chance de estarmos fodidos, se é que vocês me entendem.

E um dos fatores preponderantes para a Terra ser o que é hoje em dia está nos orbitando a mais ou menos 400 mil quilômetros de distância. O valor místico e emocional da Lua (eu odeio a humanidade) não passa nem perto do valor prático para o desenvolvimento da espécie humana.

Comecemos pelo… começo.

GREAT BALLS OF FIRE

A região do Sistema Solar já foi uma grande nuvem de lixo estelar ejetado de vizinhanças mais elitizadas. Mas como essa história de reciclar parece fazer parte das fundações do universo, depois de alguns poucos (bilhões de) anos essa porcariada toda se juntou e ganhou massa e energia suficientes para começar uma nova estrela. Estrela que conhecemos como Sol.

Mas não é todo mundo que nasce para estrela… Recebemos três “nãos” dos jurados. O Sol não usou todo o lixo ao seu dispor, o que gerou uma outra densa nuvem de matéria orbitando ao seu redor. A nuvem formada de pequenas partículas sólidas começou um processo de solidificação por causa da gravidade. Um grão batia no outro, eles começavam a girar presos pelas suas diminutas gravidades… Outro grão passava por perto e era preso nessa dança…

E foi assim, de grão em grão, leeeentamente, que a Terra assumiu um tamanho parecido com o atual. No começo, isso aqui era uma gigantesca bola de pedra derretida levando asteróides de tudo quanto era lado. Só que esse modelo de formação criava um problema sério: Se somos uma bola agregando material externo, a tendência é que o interior do planeta acabe isolado e frio, enquanto a superfície queima com o bombardeio cósmico.

E acreditem, isso não é um prospecto animador para a formação da vida. A Terra como conhecemos teria “morrido no berço” se não tivesse levado um tapaço na cara de uma recém conhecida amiga…

THEIA

Na certidão está Theia, mas o nome artístico ficou como Lua mesmo. Theia era um planeta mais ou menos do tamanho de Marte que entrou no caminho da jovem Terra. Theia e Terra, dois nomes femininos… Era de se imaginar que ia rolar uma barbeiragem nessa rota.

Ainda não está claro se a Terra estava no celular ou se Theia retocava a maquiagem, mas ambas colidiram numa velocidade impressionante. E uma trombada dessas é uma enormidade em qualquer escala da imaginação humana. Basta dizer que TODA a massa dos dois planetas derreteu na hora.

A nossa sorte é que não foi uma colisão perfeita, em cheio. Theia pegou a Terra num ângulo que evitou que ela entrasse de vez e mandasse toda a matéria acumulada a duras penas voando por todos os lados.

E depois dessa cacetada, três coisas ESSENCIAIS para a vida aqui aconteceram: A primeira foi que aquele monte de energia liberada acendeu de novo o centro do planeta, para chegar na forma como é hoje em dia. E como esquentou de forma uniforme, o frio do espaço sideral se encarregou de criar a casca onde pisamos hoje em dia e de isolar o centro para que ele não esfriasse tão cedo.

Da forma como eu vejo, a Terra ressuscitou bilhões de anos antes do zumbi judeu. Merecia mais cultos em sua homenagem. (Se eu ler a palavra Gaia nos comentários, é bom você estar falando sobre o Capitão Planeta, seu hippie imundo!)

A segunda é que a Terra foi girada em 20 e tantos graus fora do eixo, o que criou as estações do ano e a formação de calotas polares. Sem querer ser repetitivo: Sem isso não estaríamos aqui.

CÍRCULO VICIOSO

O outro resultado do impacto foi a criação da Lua. Muito material expelido voou longe demais da atração gravitacional da Terra para voltar, mas longe de menos para ir embora de vez. Num processo parecido com a formação de nosso planeta, a Lua foi tomando forma.

Nota (meio)útil: Os planetas e luas são redondos por causa da gravidade. Mas de forma simplificada: Eles se formaram quase que em forma líquida e giram bastante. É inevitável.

A Lua já foi muito mais hardcore. No seu começo, também era uma massa de pedra derretida, vermelha e luminosa, o que deveria fazer os primeiros nascimentos da Lua no horizonte terrestre uma experiência de cenário de clipe de Death Metal! Adiciona-se também o fato de que a Lua já esteve MUITO mais perto (e por consequência, MUITO maior) da Terra do que está hoje em dia. *headbang*

Logo depois de Theia e Terra virarem Lua e Terra, nosso planeta estava girando num ritmo alucinado. É só imaginar uma bola de basquete girando sobre o dedo de um exibido qualquer: Se você der um tapa nela na posição certa, ela não só não cai como ainda gira mais rápido. Estudos revelam que naquela época caótica, um dia durava mais ou menos umas seis horas. E no vazio do espaço não tem lá muita coisa para desacelerar um corpo girando… De seis para vinte e quatro horas numa rotação é coisa para bem mais tempo do que os bilhões de anos que se passaram entre a colisão e os dias atuais.

Eis que a Lua entra em campo de novo para salvar o dia. E fazendo algo que me deixou ainda mais fã desse corpo celeste: A Lua é do contra. Ela gira ao redor da Terra no sentido oposto da nossa rotação. Uma bola rochosa daquele tamanho girando ao contrário criou a resistência necessária para o planeta sossegar e esfriar (perder velocidade de rotação ajudou a crosta a esfriar, permitindo… bom, tudo!). Gravidade básica: Cada vez que passa perto da Terra, a Lua dá uma “puxadinha” no sentido oposto. E como cada ação tem sua reação, a Terra devolve a gentileza empurrando a Lua para mais longe.

Sim, a Lua está nos deixando. Talvez tenha previsto o nascimento do Axé e do Funk e tomado medidas preventivas (não a culpo). A cada ano, no ritmo atual, ela se afasta algo em torno de 4 centímetros. Não que isso realmente preocupe, a Terra já vai estar irremediavelmente inabitável quando a Lua se afastar o suficiente para causar problemas. Sempre tem um lado positivo!

LUA-FACTS

Eu preferi me concentrar na parte pouco contada sobre a história da Lua, mas algumas curiosidades não fazem mal a ninguém.

– A Lua e as marés: Gravidade básica novamente… Quando a Lua passa por cima dos oceanos, sua atração cria uma “barriga” na água, que a segue pelo seu caminho natural ao redor do planeta. Em dado momento da trajetória, a água “puxada para cima” recua de um litoral e se deposita em outro. Até que a Lua vá para o outro lado do planeta e as coisas voltem ao normal.

Como a Lua não faz um círculo perfeito ao redor da Terra, eventualmente ela fica mais próxima e aumenta sua força de influência. E sim, precisamos demais das marés para manter o resto do planeta vivo.

– O lado escuro da Lua: Existe um lado da Lua que não pode ser observado da Terra em nenhum momento. Mas isso não quer dizer exatamente que ele nunca seja iluminado. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

A Lua gira sobre o seu próprio eixo numa sincronia quase perfeita com a órbita que faz ao redor da Terra. Isso nega os efeitos da rotação para os observadores daqui. Como é um “ponto cego”, convencionou-se dizer que o outro lado era escuro.

Mas na verdade o que a Lua tem mesmo no máximo é uma marquinha de biquíni num dos seus pólos. O Sol não bate em alguns pontos porque a inclinação dela é muito pequena. Luz permanente em alguns pontos, escuridão (e um frio da porra, pior até que Plutão) em outros. Na média, o “lado escuro” é iluminado pelo menos uma vez por rotação.

Ah sim, o lado escuro da Lua também serve de escudo contra asteróides. Claro, é a Lua como um todo que faz esse papel, mas os impactos, quando acontecem, são sempre “do lado de fora” por questões óbvias.

– Eclipses: O disco visível da Lua e o do Sol são idênticos na maior parte do tempo para os observadores terrestres (O satélite é 400 vezes menor que a estrela, mas está 400 vezes mais perto). A Lua passa na frente do Sol de tempos em tempos. Eclipses são belos espetáculos visuais, mas são de uma banalidade cósmica total.

– Colonização: Até imagino que o turismo ia bombar, mas a Lua pode ser uma excelente plataforma de lançamento para futuras missões espaciais. A maior parte do combustível dos foguetes é queimada apenas para sair da atmosfera terrestre. Problema que não vai ser encontrado por lá. Com a recente descoberta de água congelada sob a superfície, é possível que nem tenhamos que levar material para construir foguetes e produzir combustível in loco. A humanidade já tem tecnologia para conseguir fazer uma dessas, mas falta investimento e interesse. Não custa sonhar, contanto.

– Lua Cheia: Deixei para o final porque aqui as coisas ficam bem menos científicas. Não no sentido de descambar para o misticismo, mas ainda são elementos controversos e pouco estudados.

Já ouvi de muita gente, inclusive médicos e enfermeiros, que a taxa de nascimentos explode na época da Lua Cheia. Eu não vejo muita gente tentar explicar isso, mas costuma passar como fato empírico. Números podem mentir, mas não tem esse hábito. Até o cético-mór aqui não duvida da relação.

Tem um elemento típico da Lua Cheia que pode explicar isso. As noites são mais claras (e enfiem o misticismo no rabo, virtualmente todos os mistérios atribuídos à Lua Cheia podem ser enxergados pela ótica da maior incidência de luz durante a noite). Luz é sinônimo de segurança para a humanidade desde… sempre. E convenhamos que o parto é um momento de muita vulnerabilidade, tanto da mulher quanto das pessoas ao seu redor.

Não é de se estranhar que a capacidade de alinhar o parto com o período de maior luminosidade “geral” seja uma bela característica para levar a frente na evolução da espécie. Luz interage com hormônios o tempo todo, tem sua lógica. Mas, essa eu estou tirando da cartola… Se tiverem explicações melhores, não se acanhem.

O que eu nunca entendi foi essa pataquada das mulheres que acham que cortar cabelo de acordo com a fase da Lua tem algum resultado prático. Não pesquisei sobre isso, mas tem um jeitão de falso positivo… Sim, a Lua consegue interagir com um oceano, mas as forças aplicadas nessa dinâmica fazem sentido.

– Lucas Silva e Silva: Ok, chega!

Para dizer que só eu mesmo para estragar a mítica da Lua, para dizer que duvida de tudo o que eu escrevi porque o homem sequer pousou na Lua, ou mesmo para admitir que aprender coisas novas não é tão horrível assim: somir@desfavor.com

Bem-vindos ao desfavor!Diante do embargo às minhas colunas Sally Surtada e Siago Tomir, tive que cancelar o Sally Surtada de hoje e escrever sobre outra coisa. Quando pensei na postagem de ontem, imediatamente me veio a inspiração para escrever este Desfavor Explica: VÔMITO.

Como regra geral, o vômito é a expulsão do conteúdo gástrico pela boca. Também é conhecido por nomes mais chiques, como êmese. Qual foi minha surpresa quando soube que existem outros tipos de vômito! Aparentemente, a classificação é feita com base no conteúdo que é expelido pela boca. Costuma ser o conteúdo gástrico, ou seja, comida mastigada, mas a coisa pode ficar bem pior do que isso! Pode ocorrer o chamado vômito bilear, com uma coloração amarelo esverdeada ou ainda o vômito fecalóide, entre outros. Sim, é isso aí que você pensou. Vômito fecalóide é vomitar merda pela boca. Mas não se anime, não vou aprofundar.

Como surge a vontade de vomitar? Questão fascinante que intriga a humanidade. Existe uma zona cerebral apelidada de “zona de gatilho”, cheia de receptores para uma série de substâncias e é ali que a bagunça começa. Quando a corrente sanguínea faz chegar nessa área certa quantidade de algumas substâncias como estrógenos,cisplatina, morfina, ergotamina, levodopa, estimulantes dos receptores da dopamina e 5-hidroxitriptamina, desencadeia uma reação que termina no vômito.

Outros fatores podem desencadear o vômito, como por exemplo cheiros fortes ou desagradáveis (para nossa própria proteção), dores fortes, alguns remédios (como morfina) ou até mesmo situações de estresse (lembra do Stan falando com a Wendy no South Park?). Até mesmo memórias desagradáveis podem provocar vômito. E sim, se você treinar muito pesado na musculação, você vai vomitar.

Vomitar é uma merda. Pessoas normais não gostam de vomitar, mesmo sabendo que tem grandes chances de melhora depois de vomitar. É “antinatural” que saia por um buraco onde normalmente deve entar, causa um mal estar (a recíproca também é verdadeira). Uma pesquisa constatou que pessoas costumam lutar contra a sensação de enjôo por cerca de uma hora antes de admitir que só o vômito salva e abraçar a privada. Pessoas que sofrem de medo crônico de vomitar podem lutar contra esta vontade por mais de vinte horas. Se você está sentindo aquele enjôo e quer tentar evitar o vômito, uma dica: beba pequenos goles de água. Pode ser que o enjôo passe. Mas tem que ser pequenos goles. Se a náusea for psicológica, por nervosismo ou estresse, talvez seja possível reverter o processo. Beber um golinho de Coca-Cola também pode ajudar. Última dica: chupe um gelinho. Se nada disso te salvar, aceite o fato de que você vai vomitar e procure relaxar.

Como saber exatamente quando você vai vomitar? Bem, normalmente o vômito é precedido de sinais de enjôo, mas se você quer saber minutos antes da tragédia, para sair do campo de visão de outros seres humanos (vomitar é antiestético, só de deve vomitar sozinho, no banheiro, de porta trancada e no escuro) observe o seguinte sinal: salivação. Você vai começar a salivar de uma forma estranha, é uma saliva mais espessa e com um gosto esquisito. Ela precede o vômito como um mecanismo do nosso organismo para proteger o esmalte dos dentes, uma vez que o vômito costuma ser ácido (suco gástrico, lembra?) e poderia corroer este esmalte. Sentiu aquela salivação estranha? Corre para longe de outros seres humanos e prende o cabelo que lá vem.

Quando vomitamos nossa respiração também muda. Repare que ela fica mais profunda, mais intensa. Não é a toa, nosso organismo é sábio. Isso acontece para nos proteger e evitar que nós aspiremos nosso próprio vômito. Logo depois ocorre o fechamento da glote, para evitar que eventual vômito entre nos pulmões. E mesmo que tudo dê errado, reflexo de tosse nos fará expelir qualquer eventual resíduo que vá parar nos pulmões. Nosso organismo é fantástico. Claro, quando não fodemos com ele. Se a pessoa está sob efeito de alcool ou drogas, todo esse mecanismo de proteção pode falhar. Sabemos o que acontece com os reflexos de uma pessoa entorpecida. Logo, vômito pode matar sim. Pode causar infecções e “pneumonia de aspiração” ou até mesmo asfixia. O vocalista da banda de rock AC/DC, Bon Scott, morreu engasgado com o próprio vômito. Não, Bob Marley não morreu por causa de vômito, morreu por causa de um câncer que surgiu no seu pé (spoiler: em decorrência de um machucado jogando futebol no Brasil com Chico Buarque – quem mandou?), o qual ele se recusou a tratar.

Mas, supondo que você deixe seu organismo fazer o trabalho dele e as coisas decorram como a mãe natureza determinou. O processo seguirá da seguinte forma: a musculatura abdominal se contrai de forma involuntária expelindo o conteúdo do estômago e o esfíncter pilórico relaxa abrindo passagem para o seu ex-almoço. O ato de vomitar desencadeia uma série de reações como aumento dos batimentos cardíacos e sudorese. A sensação de alívio pós-vômito se deve à liberação de endorfinas que nosso organismo solta. Coisa nojenta da porra, alguma compensação tinha que ter, né?

Depois de vomitar, uma série de consequencias afetam nosso organismo. Se for vômito em grande quantidade, pode implicar em perda significativa de líquidos e gerar desidratação. Também pode alterar o balanço de eletrólitos do corpo, pois perdem-se algumas substâncias, como o cloro e postássio, por exemplo e isto acaba gerando um desequilíbrio no organismo. Também sentimos uma moleza em decorrência dos espasmos musculares e da liberação de endorfina.

Ok, você vomitou. O que fazer? Limpar tudo, lógico. Depois descanse. Procure não ingerir nada, nem mesmo líquidos, na primeira hora pós-vômito, pois o estômago ainda está irritado e pode rejeitar até mesmo água. Depois de mais ou menos uma hora, comece bebendo líquidos em pequenas quantidades. Mas coisas leves, como água ou uma canja, nada que irrite ainda mais o estômago como café. Se você continuar a vomitar, fique atento. Os médicos recomendam que após 4 episódios intercalados de vômito se tome remédios, os chamados “antieméticos”. E se você continuar vomitando depois do antiemético, será preciso a aplicação pela via injetável.

Uma vez do lado de fora, o vômito pode ter diversos tons e nuances. Depende muito não só do que a gente comeu como também do quanto mastigou e de quanto tempo ele passou no nosso estômago. Se for pouco tempo após a ingestão, é provável que pedaços reconhecíveis de alimentos sejam detectados, mas se for muitas horas depois pode sair apenas uma pasta homogênea. A cor também varia. Não me obriguem a exemplificar. Aquele cheiro característico decorre da mistura do alimento com o suco gástrico do estômago.

Como o ser humano é bizarro, evidente que também teriamos pessoas utilizando o vômito para fins sexuais. Sim, existem pessoas que se excitam (ou que só se excitam) através do seu vômito e/ou o dos outros, isso se chama emetofilia. Tem também aqueles que tem pavor, verdadeira fobia de vomitar: emetofobia. E existem pessoas idiotas como eu, que vomitam quando tem que ver alguém vomitando. Mais idiota ainda: quando alguém vomita eu tento não olhar mas sinto um misto incontrolável de atração-repulsa e acabo dando uma olhadinha.

O vômito reiterado, a longo prazo, faz um mal danado a nosso organismo. Mas não vou ficar dando lição em bulímicos, Dr. Google pode te dizer muito bem o quanto você vai se foder (e de forma irreversível) se ficar fazendo essa babaquice. Não consegue parar? Procure ajuda. Não procurar ajuda é apenas mais uma forma de se sabotar.

Durante minha pesquisa achei uma tese de mestrado sobre as implicações sociais do vômito. Duzentas páginas para dizer o que a Tia Sally te diz em uma linha: a consequência é o sexo oposto perder o tesão em você. Sem mais. Favor não vomitar na frente do parceiro.

Nem todos os vômitos do mundo são um desfavor. Existe um vômito mega valorizado: o vômito da baleia cachalote, também conhecido como âmbar cinzento. Não, eu não estou te trollando, o vômito da baleia cachalote é tão valioso que é conhecido como “ouro flutuante”. O grama vale cerca de vinte dólares, e vamos combinar que uma baleia vomita em kg. Há relatos de uma mulher que achou um bloquinho boiando na praia e descobriu ser vômito de baleia – valor: R$ 150.000,00. Já pensou ir à praia e trazer para casa 150 mil?

O vômito da baleia cachalote é valorizado por ser muito utilizado na indústria de cosméticos, principalmente na fabricação de perfumes finos, pois não se descobriu nenhum fixador mais eficiente. Ele faz com que o cheiro dos produtos se fixe na pele humana e permaneça por horas. O âmbar cinzento é fabricado no intestino da baleia cachalote, acredita-se, com a intenção de proteger suas paredes de arranhões vindos de esporões que algumas lulas possuem. As baleias comem as lulas e elas poderiam perfurar seu intestino. Como o organismo da baleia nao consegue digerir esta substância, ela acaba vomitando depois da digestão. O vômito, inicialmente, tem um cheiro medonho e fica boiando e, após ANOS boiando nas águas salgadas, endurece e adquire um aroma agradável. Mesmo existindo tentativas de reproduzir esta substância em laboratório, nada se mostrou tão eficaz quanto o original.

Por isso se você estiver na praia e localizar uma substância cerosa boiando, de cor cinza ou branca, tipo esta:

agarre-se a ela e leve-a para casa. Pode ser que ela valha mais de cem mil reais! (se for marrom, nade na direção oposta, é apenas um tolete). Só um especialista vai poder identificar se é mesmo vômito de baleia, mas existem dois testes caseiros que você pode fazer para tentar descobrir, um com uma agulha quente e outro com alcool metílico. Se você achar me pergunta que eu te conto quais são.

Supondo que você tenha bons motivos para vomitar (bons motivos não tem nada a ver com emagrecimento), como por exemplo, descobrir que acaba de comer algo estragado ou fora da validade, qual seria a melhor forma de induzir vômito? Não precisa tomar remédio, um copinho de água quente resolve seu problema. Agora, se você é débil mental e vai usar isso rotineiramente para vomitar sua comida, bem, Desfavor quer mais é que você se foda e morra para que não passe seus genes idiotas adiante. Quem se auto-destrói sem procurar ajuda tem mais é que se foder.

O vomito, por mais nojento que seja, também tem seu valor histórico cultural e já vou usado até mesmo como instrumento probatório. O famoso escritor de fábulas, Esopo, foi acusado injustamente de roubar frutas de seu patrão e comê-las, quando na verdade os que o acusavam eram os verdadeiros ladrões. Ocorre que Esopo era muito feio e gago, então, qualquer acusação colava nele com mais facilidade. O patrão decidiu castigar Esopo, mas ele pediu uma oportunidade de provar sua inocência: bebeu um copo de água quente e vomitou apenas água e sugeriu que o patrão obrigue os demais a fazerem o mesmo. Dito e feito, aqueles que o acusavam vomitaram frutas e Esopo escapou de sua punição.

Nos cinemas o vômito também criou cenas históricas, como por exemplo a cena antológica do filme “O Exorcista” onde Linda Blair vomita verde nos cornos do padre (Somir aplaude essa cena, tá? Ele torce para o demo o filme todo). Este vômito foi feito usando sopa de ervilha e espirrado na cara do padre com uma mangueira escondida no cabelo e na máscara da atriz. Spoiler: O diretor achou que ficaria mais legal se fosse surpresa e disse ao ator que primeiro fariam uma passagem da cena sem o vômito, para só depois gravar para valer. No entanto, mandou ver o vômito de primeira. O ator ficou tão puto, mas tão puto, que você pode ver a raiva na continuação da cena.

Nas artes plasticas o vômito também se faz presente. Uma (porca) artista (PORCA DO CARALHO) belga, chamada Nina (PORCA) Park “pinta” quadros com seu próprio vômito. Não merece mais do que duas linhas.

Quer beber e não vomitar? Bem, se você chegou ao ponto de vomitar é porque seu organismo está intoxicado e não consegue lidar com tanto alcool, portanto, é meu dever sugerir que beba menos. Mas, considerando que as pessoas chegam aqui através de buscas como “José Mayer de sunga”, seguem algumas dicas para beber industrialmente e não vomitar: coma carboidratos (macarrão, pão etc) antes de beber, bem antes. Procure não misturar fermentado com destilado. Se já estiver meio bêbado, não fume, isso aumenta as chances de vomitar. Prefira bebidas puras, essas misturas com frozen, energéticos e cia tem maior potencial vomitório.

Você é do tipo idiota como eu, que viaja e vomita? Isso é conhecido como “mal do viajante”. Pode se manifestar não apenas em viagens de navio, como até mesmo de trem, avião e carro. Ao que tudo indica, o problema é causado por uma sensibilidade maior no centro do equilíbrio, localizado no ouvido. A movimentação faz com que o cérebro fique confuso, pois a informação que o ouvido passa (o corpo está em movimento) não condiz com a informação que a visão passa (tudo à sua volta está parado). Tanto é que quem sofre desse mal pode andar de bicicleta sem problema pois, apesar da movimentação, não há sinais contraditórios pois o ciclista vê tudo à sua volta se mover. Não é algo que tenha “cura”, mas há uma série de coisas que se podem fazer para evitar o bom e velho vômito. Além dos remédios, que devem ser ingeridos antes de entrar no veículo, também ajuda se o ambiente for bem ventilado, se a pessoa puder viajar olhando para o horizonte e se puder viajar comendo alguma coisa, mesmo que seja um inocente chiclete.

Se tudo mais der errado e vomitarem no seu carro, lave imediatamente, caso contrário o cheiro vai se instalar. Caso você não tenha como lavar o carro de imediato, por exemplo, por estar voltando da balada de madrugada sem condições físicas para porra nenhuma, vale um último recurso: antes de sair do carro enxarque panos com alcool e deixe o carro fechado com vários panos espalhados. Melhor do que nada. No dia seguinte é provável que não fique cheiro algum ou ao menos fique um cheiro não tão forte.

Para dizer que falar em vômito e não falar em Aretuza é o mesmo que falar do Vaticano sem falar do Papa, para dizer este mês vai ser duro de engolir ou ainda para dar adeus e dizer que volta em março: sally@desfavor.com

O assunto está na moda, graças à participação de um transexual naquele programa do qual nos recusamos a falar ou sequer citar o nome. Mas a gente não vai falar porque está na moda, muito menos por causa do programa. A gente vai falar porque o assunto é interessante. Já havíamos abordado o tema transexuais em um Flertando com o Desastre em 03 de março de 2010 e voltamos agora para um enfoque mais técnico.

O transexual não se confunde com o homossexual. O homossexual sente atração sexual por pessoas do mesmo sexo. O transexual sente uma sensação de inadequação com o próprio corpo, desconforto psicológico. É classificado como “doença” segundo a CID-10 (10ª Revisão da Classificação Internacional das Doenças), que corresponde ao item F64.0 e se define como: “um desejo de viver e ser aceito como um membro do sexo oposto, usualmente acompanhado por uma sensação de desconforto ou impropriedade de seu próprio sexo anatômico e um desejo de se submeter a tratamento hormonal e cirurgia para seu corpo tão congruente quanto possível com o seu sexo preferido.”

A angústia e infelicidade é tanta que muitos chegam mesmo a amputar seus pênis de forma caseira tamanho o sofrimento. Não se trata de mero capricho ou vaidade, é um sofrimento incalculável e real, a ponto da pessoa se sujeitar a uma cirurgia difícil, dolorosa e cheia de riscos. Estar preso a um corpo que não reflete sua identidade sexual é cruel. E não se trata de um erro de criação, de um desvio de caráter ou de uma fase.

Há relatos impressionantes, como um caso catalogado de um menino que já aos três anos de idade segurava o próprio pênis e chorava dizendo que aquilo não era dele, que ele não queria aquilo no seu corpo e que tinham mandado colocar aquilo nele quando ele estava dormindo. Possuir aquele pênis era um sofrimento absurdo para aquela criança. São almas de um sexo presas a um corpo de outro sexo. Não posso imaginar tortura maior do que viver assim.

E foi justamente para tentar acabar com essa agonia que se desenvolveu a cirurgia de redesignação de sexo, para tentar adequar a mente da pessoa a seu corpo. O que começou como um procedimento digno de um açougue, tosco e esteticamente insatisfatório, hoje evoluiu quase à perfeição. Muito se fala sobre cirurgia de mudança de sexo mas na prática pouco se sabe sobre o procedimento e suas implicações. Não é apenas cortar fora um pênis. Tem conseqüências para o resto da vida e demanda uma série de obrigações paralelas.

No Brasil, para realizar este tipo de cirurgia, é preciso que o paciente tenha mais de 21 anos e que tenha passado por um longo acompanhamento psicológico/médico (pelo menos dois anos). O nome técnico é Cirurgia de Redesignação Sexual mas é mais conhecida como cirurgia “de mudança de sexo”.

A cirurgia mais comum é aquela realizada em pacientes que nasceram biologicamente do sexo masculino e querem passar para o sexo feminino. É realizada com toma anestesia geral e sua duração pode ser relativamente longa (uma média de seis horas).

O médico começa fazendo um corte em forma circular que contorna a base do pênis e a parte onde os testículos se ligam ao corpo, para descolá-los do tronco. Primeiro o médico remove os testículos, o que é de grande ajuda, pois além da parte estética, nele são produzidos hormônios masculinos, que não serão mais bem vindos naquela quantidade. Não apenas porque masculinizam, mas também por causarem calvície, o que em uma mulher é um problema e tanto. Não quer ficar careca? Corte as bolinhas fora. Ficaadica.

Depois remove-se boa parte do chamado tecido cavernoso, que é a responsável pela ereção quando se enche de sangue. Sobram então a glande (vulgo cabecinha) e o nervo que liga a glande ao resto do corpo. Literalmente, o pênis fica por um fio. Daí eles pegam a pele que antes revestia o pênis e a usam para revestir o canal vaginal, de modo que a região tenha sensibilidade. Esta é uma parte especialmente difícil, pois muitos transexuais passam longos períodos de suas vidas prendendo seu pênis com adesivos (o lendário Emplastro Sabiá) para trás, de modo a que não fiquem visíveis, o que pode danificar a pele ou algumas terminações nervosas. Muitas vezes, dependendo do dano, nem mesmo é possível realizar a cirurgia ou então esta dependerá de enxerto, o que complica as coisas. Se o pênis for pequeno, também será necessário enxerto de pele. Se o bilau for pequenininho também gera dificuldades.

O próximo passo é manipular a glande, que é “empurrada para dentro”, criando uma espécie de clitóris um pouco maior que o normal. Como o nervo não foi cortado, se a glande for estimulada é possível atingir um orgasmo. Com o que resta de pele (prepúcio, saco e cia) modela-se um lábio vaginal. Eu não sabia que fazia tanta diferença, mas se a pessoa for circuncidada ou tiver feito cirurgia de fimose, pode haver uma escassez de pele que dificulta a cirurgia. Quem diria que dois dedinhos de pele poderiam fazer tanta falta!

Parece sofrido. E é. Mas isto, que parece o auge, é apenas o começo. É uma mutilação, portanto, o pós operatório é muito dolorido. Sangramentos, infecções, medicação pesada e muita paciência permeiam os dias que se seguem.

Mesmo a longo prazo cuidados são necessários. Considerando que foi aberto um buraco “não natural” (e por “natural” eu quero dizer que é algo que não veio de fábrica), a tendência é que o corpo esteja para sempre em uma luta constante para tentar cicatrizar este buraco, encarado pelo organismo como uma agressão. Para evitar que este buraco feche, existem duas opções: fazer sexo todo santo dia (pelo menos vinte minutos por dia) ou então usar uma espécie de “alargador” para manter o buraco aberto. Sim, da mesma forma que muitas pessoas usam aparelhos nos dentes para dormir com a intenção de evitar que eles saiam do lugar, as pessoas que fazem esta cirurgia tem que usar o alargador para evitar que seu buraco vaginal feche.

Inicialmente se começa com um molde menorzinho, e depois, à medida que a nova vagina for “cedendo”, se aumenta o tamanho do molde. O procedimento padrão é usar o molde por aproximadamente uma hora por dia, várias vezes ao dia. Eu conheço vocês. Depois de anos, eu conheço vocês. Eu sei que vocês querem fotos. Aqui está uma foto de um molde vaginal utilizado para manter o buraco aberto e fotos de uma vaginoplastia bem sucedida. Sinceridade, quantos de vocês diriam que foi feita em uma mesa de cirurgia?

Depois desta cirurgia, também chamada de vaginoplastia, pode ser realizada outra, chamada labioplastia, para dar um aspecto ainda mais real à parte externa da genitália. Alguns cirurgiões mais cuidadosos ainda colocam uma pequena prótese de silicone ou material similar para simular o acúmulo de gordura que existe em algumas partes vagina (vulgo capô de fusca).

Um resultado final bem sucedido criará uma vagina com profundidade que pode variar entre dez e quinze centímetros, o que não difere muito da profundidade de quem veio com uma vagina de fábrica. Dá para fazer sexo numa boa em todas as posições, a menos que seu parceiro seja um tripé. Porque tem esse problema: a vagina artificial não é tão elástica quanto a vagina de fábrica, não dá para forçar muito não. A vagina de fábrica foi pensada pela mãe natureza para esticar ao ponto de passar a cabeça de um bebê se necessário, já a vagina cirúrgica tem mais limitações. Portanto, é possível que ocorra a impossibilidade de fazer sexo com homens muito bem dotados.

O pós operatório requer muita atenção. Muita coisa pode dar errado. Desde infecções simples até total perda de sensibilidade na área. Eventualmente pode ser necessária até mesmo uma colostomia. Poucos médicos são realmente capacitados para realizar esta cirurgia, mas muitos se dizem aptos. É preciso cuidado. Muitos pacientes também sentem vergonha de procurar ajuda em caso de complicações cirúrgicas. Não é fácil chegar no pronto socorro e pedir esse tipo de ajuda. Isso pode causar danos irreparáveis e até mesmo a perda da vagina, sendo necessária nova cirurgia.

Este procedimento, que era considerado o ponto final em outras épocas, hoje é só o básico do básico, o ponto de partida. Quem quer sair 100% tunado tem opções adicionais, como por exemplo fazer uma cirurgia nas cordas vocais para ficar com voz feminina. Já vi uma pessoa com as cordas vocais operadas e lhes digo uma coisa: a voz é perfeita. Uma voz feminina sem qualquer sinal de ter sido masculina um dia. Apesar de que hoje em dia, nem precisa, porque quase todas as mulheres saradas falam com voz de traveco de tanto que tomam bomba, virou normal, os homens não estranham mais.

Podem ainda fazer uma cirurgia de retirada de pomo de adão. Sim, Amigo Cueca, se vocês achavam que seu porto-seguro para identificar um ex-homem era o pomo de adão, se fode ai porque além de retirar, a cicatriz é imperceptível. E a pessoa pode alterar toda sua documentação, inclusive a certidão de nascimento, aniquilando qualquer registro de que nasceu homem. Passa a ser mulher e se tudo correr bem, não tem quem diga que um dia já foi homem. Só fazendo exames de imagem como uma ultrassonografia.

Para arrematar, é feito um tratamento hormonal com intenção de feminilizar ainda mais a paciente. Eventualmente é preciso ministrar também um pouquinho de testosterona, para quem não sabe, grande responsável pela libido feminina. Como cortaram fora os testículos, sua produção pode cair drasticamente a ponto de comprometer a vida sexual da pessoa. Por fim, tratamentos estéticos dão o toque final para que ninguém diga que aquela pessoa foi homem um dia, como por exemplo a depilação definitiva da barba com laser.

Cerca de dois meses após a cirurgia, a área já está razoavelmente recuperada e já é possível sentir sensações prazerosas. Muitos médicos inclusive recomendam que as pacientes se masturbem com freqüência não apenas para aprender o funcionamento do novo corpo como também para estimular a regeneração neural e recuperar a sensibilidade.

FAQB – Perguntas Frequentes e Bizarras dos leitores

“Mas Sally, sem querer ser preconceituoso, a situação é desesperadora! Não tem mais como identificar um transexual de uma mulher! Eu não quero fazer sexo com um transexual!”. Primeiro, um esporrinho para você: se você ama alguém, não deveria se preocupar com isso, amam-se pessoas e não um gênero. E se você sai fazendo sexo com pessoas que mal conhece, bem, é um risco que você corre, se fode ai que eu vou é achar graça se você levar gato pro lebre. Faz tanta diferença assim o passado da pessoa? Mas Desfavor quebra seu galho e te ensina o pulo do gato: a única coisa que ainda não conseguiram fazer foi a lubrificação natural da mulher. Transexuais podem até ter alguma lubrificação, mas geralmente ela não é suficiente e eles tem que recorrer a lubrificantes artificiais. Fique de olho nisso.

“Sally, um transexual mija sentado?”. SentadA. Porque sim, passa a ser considerada legalmente do sexo feminino, goste você ou não. Sim, elas mijam sentadas, apesar de que é um processo de difícil adaptação, no começo há problemas técnicos que só são ultrapassados após muita prática. Os relatos são muito engraçados.

“Sally, para onde vai o esperma?”. Para lugar nenhum, porque o buraco não tem conexão com nenhuma parte interna. É uma rua sem saída. Justamente por isso a higiene depende de um procedimento especial, pois é preciso alcançar o final desta rua sem saída e limpar todos os resíduos que por ventura venham a se depositar ali.

“Faz diferença na sensação que o homem experimenta ao comparar sexo com uma mulher e sexo com uma transexual?”. Sim, e esta resposta vem com base no relato de um homem que teve ambas as experiências. Transexuais são mais “apertadas”, portanto, podem até ser consideradas melhores.

“O que é melhor para um transexual, um orgasmo como homem ou como mulher”. Relatam ser como mulher porque dizem que sem a ejaculação a brincadeira não acaba e pode durar mais tempo.

Pasmem. Já vem sendo feita cirurgia de mudança de sexo em mulheres que querem ser homens. É um procedimento novo, menos comum e mais difícil, mas já está disponível. Consiste no seguinte: a paciente começa a tomar doses massivas de testosterona, o que acaba gerando o crescimento de seu clitóris. Quando ele cresce razoavelmente (em torno de 5 ou 6 cm) ele é descolado do púbis e ganha autonomia de movimento. Nesta cirurgia, pegam um pedaço do tecido da antiga vagina e fazem uma gambiarra aumentando o tamanho da uretra para que a paciente possa mijar de pé.

Com a pele retirada dos grandes lábios são feitas bolsas escrotais que serão recheadas com duas bolinhas de silicone meramente decorativas. O grande problema é o tamanho final do pênis, porque por mais que você force a barra, dificilmente se consegue um tamanho razoável. É mais pela questão estética do que pela funcionalidade. Não entendo porque ainda não fizeram implante de pênis. Se fazem até implante de face, acredito que em breve isto seja possível. Ou então fazer um aumento peniano, como fazem nos homens mal dotados. Fica a sugestão de uma completa leiga.

A transexual mais famosa do Brasil é Roberta Close. Pioneira, fez a cirurgia de redesignação sexual em 1989, na Inglaterra. Para quem estiver curioso, já posou nua. Google it!

Sim, é uma cirurgia invasiva. Sim, é uma mutilação. Mas é a única forma destas pessoas levarem uma vida feliz e não é opção delas ser assim. Assim como aceitamos com tranqüilidade que uma mulher coloque silicone nos seios ou que faça uma lipo, a tendência é que, com o tempo, aceitemos com naturalidade a cirurgia de redesignação sexual.

Nada como se colocar no lugar do outro antes de falar. Você, Homem, imagine se acordasse no corpo de uma mulher e não tivesse pênis. Não faria de tudo para tentar obter um? E você, mulher, imagine se amanhã acordasse em um corpo peludo, barbado e com um pênis enorme, se sentiria feliz? Não faria o que estivesse ao seu alcance para que seu corpo corresponda à sua alma?

Olha, se houvesse outra forma, eu até seria contra uma cirurgia tão invasiva e mutiladora (vide meus argumentos no texto de segunda-feira), mas acreditem, não há. Ninguém deixa de ser o que é. Não me parece ser uma “doença”, tal qual é catalogada. É apenas uma pisada de bola da mãe natureza que colocou o conteúdo no recipiente errado. Quando a mãe natureza pisou na bola comigo e me programou para morrer aos 25 anos, eu fiquei muito feliz por um médico ter realizado um procedimento cirúrgico mutilador e invasivo que me salvou. Seria hipócrita negar este direito a outras pessoas, quando este é o único caminho para uma vida plena.

Para dizer que acha a redução de estômago da segunda-feira mais aceitável do que esta cirurgia, para dizer que está mesmo na hora do Somir voltar ou ainda para dizer que vai passar a pedir uma ultrassonografia das mulheres antes de ficar com elas: sally@desfavor.com

Ainda sou eu que escolho as imagens... Ha!Este é um texto LEIGO. Não deve ser usado para diagnosticar ou tratar ninguém, apenas para avaliar se vale a pena agendar uma consulta com um médico especializado. Cerca de 20% da população mundial já sofreu algum episódio de depressão ao longo da vida e boa parte destas pessoas sofreram além do necessário pela falta de diagnóstico ou tratamento adequado. Não é demérito ter depressão. Não é escolha, não é fraqueza, não é frescura. É uma doença, como outra qualque. Como tal, precisa de tratamento adequado.

Como já discutimos nos comentários do Desfavor Explica sobre DDA, está na moda imputar a si mesmo alguma doença neurológica. Todo mundo acha que tem TOC, todo mundo se acha bipolar e todo mundo se diz deprimido. Um grande desfavor. Depressão não é tristeza. Todos nós passamos por momentos ou fases de tristeza na vida e isso em nada se confunde com o que é uma depressão de verdade. Não passe adiante este desfavor, não seja leviano de dizer que está deprimido quando na verdade está apenas triste. Depressão não é tristeza, depressão não é dor de cotovelo, depressão não é saudade. Depressão é depressão.

Porque tanta confusão de terminologia? Bem, em parte as pessoas gostam de exagerar e valorizar o que sentem e se dizem “deprimidas” para dar ênfase à tristeza que estão sentindo. A palavra tristeza virou pouca coisa, tristeza é para os fracos, os fortes ficam é deprimidos! Uma merda, as pessoas querem ser mais do que as outras até mesmo na hora de se foder. Medonho! Em parte, péssimos profissionais da área também tem culpa, pois transmitem informações equivocadas ou entopem pessoas de remédios sem necessidade. Lidar com a tristeza é necessário, mas hoje ninguém parece mais querer sofrer. Médicos empurram qualquer rivotril garganta abaixo de uma pessoa meramente angustiada e acham que de alguma forma estão ajudando. Lidar com a tristeza é essencial para a construção de um ser humano saudável.

Como diagnosticar uma pessoa deprimida? Bem, existem testes, existem algumas características, alguns padrões de comportamento listados, mas descrevê-los seria chover no molhado, pois isso o Dr. Google te diz com facilidade. O ser humanos não é matemática, existem inúmeras variáveis. É possível que apresente muitos desses sintomas típicos e não esteja deprimido ou ainda que apresente poucos sintomas e esteja em depressão. Qual é o pulo do gato? Desfavor recorre a um psiquiatra: “a tristeza da depressão é diferente, é especial. Não passa e vem acompanhada de uma perda de energia, de um desânimo”

Então, independente de outros sintomas, costuma haver um denominador comum: tristeza, desânimo e redução da energia. Vamos desenvolver. A pessoa deprimida costuma sentir um desinteresse, uma desesperança, sentimentos negativos que insistem em assolar a mente da pessoa, culpa, pensamentos de morte (sua ou de entes queridos), sensação de menos-valia e principalmente uma tristeza inexplicável. Não que ela não tenha causa, muitas vezes tem. O que é inexplicável é porque ela não vai embora, mesmo depois de semana, meses ou anos.

Não é qualquer tristeza. Ela é constante e dominante. A pessoa está triste a maior parte do seu dia, quase todos os dias. Quer dizer, tem muito mais momentos ruins do que bons. O que não quer dizer que os bons não existam, em alguns casos existem, o que leva a pessoa a crer que está melhorando sozinha e retardar a procura por ajuda. Muitas pessoas pensam “Se eu estivesse deprimido, não teria estes bons momentos, deve ser estresse mesmo” . Não. Não é normal passar a maior parte do seu tempo em um estado de desânimo e tristeza. Não é preciso que você esteja 100% do seu tempo emburacado para que seja necessário recorrer a ajuda. Infelizmente as pessoas vão se acostumando a viver assim e tendem a achar que isso é, de alguma forma, normal, o que as faz demorar para pedir ajuda, perdendo muito de sua qualidade de vida por longo período.

Inclusive em alguns casos a doença muda de nome e implica justamente nisso: fases de depressão alternadas com fases de excitação, o famoso transtorno bipolar ou PMD – Psicose Maníaco Depressiva, que também vem sendo muito imputado a pessoas perfeitamente normais. Na fase maníaca a pessoa está a mil, se sente incrível (o estado de excitação física é tamanho que a pessoa dificilmente adoece). Na fase depressiva vai do céu ao inferno e se emburaca. Acredite, dificilmente você vai dizer rindo que é bipolar se você realmente for. Mas isso é assunto para outro Desfavor Explica.

Não tem como mascarar, quando é depressão, é doença. Ou seja, independe da vontade (ou da força de vontade) da pessoa. Nesses casos, ficar “incentivando” a pessoa a retomar suas atividades e reagir é um comportamento sádico e não de ajuda muito. Pelo contrário, faz a pessoa se sentir mais merda e fracassada. É o mesmo que dizer a um paraplégico “Faz uma forcinha, vai! Sai dessa cadeira de rodas! Levanta e anda, tenho certeza que se você se esforçar vai conseguir, é tudo questão de querer!”. Não, não é. É uma DOENÇA que independe da vontade da pessoa. Esta pessoa precisa de medicamento e tratamento e não de cobrança. Se você quer ajudar, leve a pessoa a um médico. Porque sim, é um desequilíbrio bioquímico, não é culpa ou escolha da pessoa. Dependendo do grau da depressão, é impossível obter uma melhora sem o remédio e negar tratamento à pessoa pode culminar no seu suicídio.

“Mas Sally, minha filha ficou deprimida porque o namorado dela deu um fora nela, não tem nada de bioquímico nisso, ela que é otária mesmo!”. NÃO. Não confunda fator desencadeante com a depressão em si. Um fator externo psicológico que aos olhos de muitos pode ser uma besteira pode DESENCADEAR um processo depressivo. Mas uma vez que se instaura o desequilíbrio bioquímico, a coisa sai da esfera do “psicológico” (ou como se queira chamar) e passa a ser uma questão médica. É preciso reequilibrar algumas substâncias no cérebro da pessoa. Vamos comparar com gastrite nervosa. A pessoa fica tensa, fica estressada até que começa a ter uma gastrite. O fato que gerou essa gastrite foi sua tensão, mas agora que ela existe, ela está ali, independente de qualquer estado psicológico. E precisa ser tratada. Depressão é uma doença, uma doença real. Não é frescura, não é forma de chamar a atenção e não é má vontade. Merece o mesmo respeito que qualquer outra doença.

Vamos falar da tristeza que uma pessoa deprimida sente. Inicialmente, pode até ser uma tristeza justificável, como a perda de um ente querido um um grande trauma. Mas com a depressão, esta tristeza que deveria passar, se instaura e fica. Lembro de uma frase que um famoso médico me disse quando tive um tumor. Estava na cama do hospital com muita dor, muito chateada. Ele me disse (*momento Kodac) que eu tinha razão em ficar chateada porque o que tinha acontecido comigo era mesmo horrível mas completou dizendo o seguinte: “O vale da tristeza é para ser cruzado, não para montar acampamento”. É podrinho, eu sei, mas define bem a diferença entre uma pessoa triste e uma pessoa deprimida. Os deprimidos montam acampamento no vale da tristeza, os tristes apenas o cruzam. Joguem pedras, estou sentimental sem o Somir.

“Mas Sally, eventos estressantes todos nós passamos na vida! A tia da prima da cunhada de um amigo meu perdeu a família em um acidente e não ficou deprimida! Minha filha é que é uma fraca mesmo!”. NÃO. Existem mil fatores que combinados podem desencadear a depressão, inclusive a forma como VOCÊ criou sua filha. Algumas pessoas que tem uma propensão genética à depressão. Existem uma série de fatores genéticos e até mesmo ligados à história de vida da pessoa que se combinam de forma a desencadear uma depressão. Não se trata de ser forte ou fraco nem da vontade de ninguém. Genética não é tudo, mas influi. Estudos comprovam que gêmeos idênticos ficam mais deprimidos do que gêmeos não idênticos. É mais um fator a se levar em conta para ser somado a tantos outros. Fique atento à sua família, a hereditariedade é um fator de risco.

O fator genético é o mais badalado. Ele tornaria pessoas propensas a depressão, num resumo muito do sem vergonha por causa do meu limite de quatro páginas, consistiria na alteração dos níveis de alguns neurotransmissores (os mais populares são serotonina, acetilcolina, dopamina, epinefrina e norepinefrina). Também pode ter relação com algumas alterações hormonais ou até mesmo estar relacionada com um tipo de “atrofia” em uma região do cérebro chamada lobo pré-frontal.

Mas também existem outros fatores que se combinam ou não com a genética, como o chamado fator Psico-social como a perda de um ente querido, experiências traumáticas como catástrofes, problemas de relacionamento e até mesmo o grau de amparo e suporte da família quando um destes fatores se apresenta. Podem existir fatores físicos, os chamados Traumatismos, que vão desde uma pancada na cabeça até qualquer outra agressão ao organismo que seja traumática o bastante para desencadear depressão, como por exemplo, uma quimioterapia. Até mesmo alguns medicamentos tem o poder de desencadear depressão. Os mais famosinhos são betabloqueadores, corticosteróides, anti-histamínicos, analgésicos e antiparkinsonianos. Mas existem outros. Mais: as vezes a pessoa toma medicamentos a longo prazo e tira onda de que não ficou deprimida mas é na hora da supressão destes medicamentos que a depressão bate! Existem as causas mais improváveis, até mesmo o tempo pode ser responsável por deprimir uma pessoa, é a chamada “depressão sazonal”, constatada em países onde há diminuição de luminosidade em alguns períodos do ano (inverno e outono). Até parto pode desencadear depressão – em homens! Sério mesmo. Existe depressão pós parto masculina. O ser humano é fascinante.

Tal qual roupas, a depressão também tem medidas. Tal qual roupas, normalmente ela tem três classificações: P, M e G. Lógico que não é este o termo técnico, mas minha intenção aqui é ser didática, e não técnica.

A Depressão P, que é a menorzinha, também é chamada de “leve”, tem sintomas mais discretos. A pessoa se sente incomodada, mais cansada e até mesmo triste, mas continua tocando sua vida. Inclusive, acaba se acostumando a viver assim. A pessoa até vai trabalhar, mas vai com menos energia e vontade do que antes. Rende menos., se sente exausta sem razão aparente. Mas atenção, seu Zé Ruela, se você dormiu mal é normal que esteja com menos energia, não vá se apressando e se classificando como deprimido! Quando falamos em “menos energia” é um “menos energia” sem uma causa externa que justifique! A pessoa com Depressão P ou leve consegue manter seus relacionamentos, porém não parece ser a mesma pessoa que era antes. Há sentimentos ruins sempre rondando, como a falta de esperança, inadequação, perda gradual de prazer em atividades que antes eram prazerosas. Podem ocorrer alterações no apetite e no sono (ou 8 ou 80, come pouco ou come muito, dorme pouco ou dorme muito). Em alguns casos (mais comum em crianças) essa tristeza pode ser substituída por um grau de impaciência e irritabilidade exacerbados. Como não é incapacitante, a pessoa dificilmente procura ajuda. Quem costuma perceber este tipo de depressão são amigos próximos, namorados e familiares, que conhecem a pessoa bem e sabem que este não é o seu normal.

A Depressão M, chamada tecnicamente de “Moderada” a concentração e capacidade de trabalho começa a ficar comprometida. A pessoa já não rende o que deveria e não consegue disfarçar. Não tem energia para trabalhar nem mesmo vontade ou prazer. Também há uma indisponibilidade para manter seus relacionamentos afetivos. Não há mais interesse/paciência para amigos e a pessoa prefere ficar em casa do que sair e ver gente. As alterações de sono e apetite se intensificam. Geralmente o maior indicativo são as relações afetivas. É mais fácil “diagnosticar “a P e a G, aquilo que ficar no meio termo é a M.

A Depressão G, chamada tecnicamente de “Grave” é incapacitante. A pessoa não só não consegue mais trabalhar, como também não consegue desempenhar atividades corriqueiras de seu dia a dia. A pessoa não quer sair de casa. Muitas vezes o desleixo consigo mesma é tamanho que abandona até hábitos básicos de higiene. Evita contato, até mesmo por telefone. Existe risco de suicídio, se a pessoa tiver forças para isso, porque muitas vezes nem para se matar ela consegue sair da cama. É preciso cautela no tratamento da Depressão G, pois muitas vezes se você der um remédio a um paciente que está inerte na cama, ele aproveita esse rompante de energia e o usa para se matar em vez de usar para tomar um banho.

“Mas Sally, eu acho que isso é frescura moderna e falta de um tanque cheio de roupa suja para lavar. Minha avó trabalhava feito um camelo e não tinha depressão nem ninguém naquela época tinha depressão”. Tinham sim, só não tinham o DIAGNÓSTICO. Na época da sua avó a ciência era atrasada, mulheres morriam de câncer de mama, de parto e até de indigestão! DISSO ninguém lembra, né? Diagnóstico é algo que só um MÉDICO pode te dar. Desfavor, Google, um colega, um amigo, sua mãe… são todos curiosos. Está na dúvida? Procure um médico. Aliás, procure MAIS DE UM médico, e de preferência recomendado por pelo menos três pessoas, porque vou te contar, o que tem de médico socando remédio em pessoas que apenas estão tristes… Um horror. É um tal de justificar tudo com “estresse” e sair medicando a pessoa. Não posso com isso!

Aliás, muito se engana quem pensa que um comprimido resolve a vida de um deprimido. É necessário ma maior parte dos casos (até porque, quando as pessoas se mexem, para procurar um médico é porque a coisa está séria), mas também é indispensável um acompanhamento para cuidar do lado psicológico do paciente. E este é um processo demorado, e por demorado, estamos falando de ANOS, ok? A pessoa deprimida costuma ter uma imagem alterada dela mesma (para pior) e costuma ver o mundo com um filtro pessimista, sem conseguir usufruir das coisas boas ou se alegrar com elas. É preciso mudar esse padrão de funcionamento, recuperar a auto-estima e se fortalecer para que na eventualidade de outro fator desencadeante se apresentar, a pessoa não caia mais uma vez em depressão. Não adianta tirar uma criança que está se afogando da piscina e não ensiná-la a nadar e sair sozinha, se ela vai passar o resto da vida correndo em volta da piscina. Fatalmente, um dia ela pode cair novamente.

Um conselho de uma leiga: não importa o que esteja acontecendo com a sua vida, tristeza, desânimo e falta de energia prolongados não são coisas normais e não se justificam. Você não precisa viver assim. Existem pessoas que podem te ajudar. Não se limite a explicar e se justificar seu estado com eventos de sua vida quando o mal estar é duradouro. Se não está passando, é hora de procurar um médico. Que mal pode fazer? Na pior (ou seria melhor?) das hipóteses ele dirá que você não está deprimido. Ótimo! Não se acomode, as pessoas se acomodam nesta situação e aprendem a funcionar assim, com tristeza e falta de energia diários, com desinteresse, desânimo. Não espere que isso se torne incapacitante, pois perder qualidade de vida é perder muito. Se é possível viver melhor, porque não? Admitindo ou não, diagnosticando ou não, o problema vai continuar ali.

Eu queria explicar as alterações que a depressão provoca no cérebro e como atuam os medicamentos, como convencer um deprimido a procurar ajuda, tratamentos alternativos e outras coisas, mas considerando que estou na sexta página, devo parar por aqui.

Para dizer que duvida que eu realmente esteja escrevendo todos esses textos todo santo dia e me acusar de ter ghostwriter, para fazer algum trocadilho loser com o tema e o blog ou ainda para dizer que prefere comentar na postagem de segunda pois o assunto é mais interessante: sally@desfavor.com