O que mais me choca é que mesmo depois de ANOS sem honrar os compromissos, eu ainda sou idiota o bastante para acreditar nele quando ele me manda um e-mail dizendo “Não se preocupe com a postagem de hoje, talvez atrase mas vai sair, nem que seja mais tarde. Nem precisa preparar Siago Tomir”. Daí eu usei meu tempo livre do dia para coisas muito produtivas, tipo fazer uma massagem relaxante.
Quando chego em casa, cansada e faminta, vejo que Madame não honrou seu compromisso do dia. Então, em vez de ir dormir, mesmo estando caindo de sono, eu tenho que esperar até meia noite para confirmar o que todo mundo já sabe: mais uma vez, prometeu e não cumpriu. Tá achando que um e-mail me desobrigando de Siago Tomir vai bastar para que eu não escreva? É o caralho. Escrevo merrrrrmo, nem que amanhã fique babando de sono o dia todo (que é o que vai acontecer).

E como hoje a sacanagem foi MUITO GRANDE, a resposta vai ser proporcional.

SIAGO TOMIR NO AVIÃO

Por causa da distância que nos separava, Siago Tomir foi obrigado a fazer diversas viagens de avião para me vez. Até aí, tudo normal. Até que um dia eu fui para lá e depois voltamos juntos para o Rio.
Já no embarque Siago Tomir suava. Não entendi bem o que estava acontecendo. Perguntei se ele se sentia bem e ele apenas fez que sim com a cabeça. Em determinado momento teve um surto de “eu preciso fumar”, ao que eu respondi de forma muito educada (cof!cof!) e muito delicada (cof!cof!) que ele não iria fumar.
Quando entramos no avião foi que eu me dei conta do que estava acontecendo. Siago Tomir tem pavor de avião. PAVOR. Tremia todo e ainda dizia que a culpa era minha por não ter deixado ele fumar. Tremia e suava. Uma Senhorinha ao lado dele começou a consolá-lo “Calma, meu filho, avião é um transporte seguro, vai dar tudo certo…”. Siago Tomir odeia que sintam pena dele. Começou a me culpar em voz alta, para provar que não tinha medo de avião.
Quando eu ouvi isso, ri alto e falei “CAGÃO!”. Siago Tomir ficou um tanto quanto chateado com essa postura. Vamos combinar que medo todo mundo tem direito a ter, mas ficar tentando esconder que tem medo sem sucesso é patético! Ou assume o medo, ou então disfarça bem disfarçado. Ficar negando o que está na cara de todo mundo é uma ofensa.
Pois bem. Siago Tomir começou a discutir comigo, muito nervoso, dizendo que não estava com medo e que era uma síndrome de abstinência por causa do cigarro. Era medo. Certeza. Eu sei reconhecer medo. Olha, eu sou uma boa namorada, eu sou compreensiva. Se ele tivesse dito que estava com medo, e nem precisava ser nessas palavras, eu teria ficado quieta. Mas negar uma coisa tão evidente e ainda jogar a culpa EM MIM me aborreceu. Principalmente em uma hora em que ele me mandou calar a boca. Isso me aborreceu bastante. Ele berrou para que eu cale a boca. Erro. Erro, erro, erro.
Comecei dizendo que ainda bem que não é medo de avião, porque eu acho super viadinho quem tem medo de avião”. Ele começou a suar mais ainda. Fecharam as portas. Lá pelas tantas passou uma aeromoça para ver se nossos assentos estavam na posição correta e perguntar se precisávamos de alguma coisa e eu disse “Meu namorado aqui precisa de uma fralda geriátrica” e fiquei rindo. Ela era meio troll e respondeu “Ele ta com medo? Segura na mão dele! Hahahaha”. Todos riram, inclusive as pessoas da poltrona de trás.
Siago Tomir começou a crescer para cima de mim (e não foi no bom sentido). Disse que eu estava querendo irritar ele e que eu era a culpada daquilo porque agora ele não poderia mais fumar e a tremedeira era um efeito físico da falta de cigarro. Detalhe que ele ficava dias sem fumar e nunca teve nada, mas tudo bem. O avião começou a se movimentar. Siago Tomir levou os dedos à boca. Eu me vinguei de todo o deboche dele sussurrando ao seu ouvido “Tá mais calminhooo?”.
Siago Tomir começou a dar faniquito. Eu falei para ele deixar de ser viadinho e um rapaz na poltrona de trás começou a rir e me disse em tom de voz amistoso que ele era gay e que não tinha medo de avião, que era melhor chamar de frouxo mesmo. Siago Tomir ficou roxo de raiva.
Quando o avião decolou ele já não falava mais comigo. Em compensação, a senhorinha idosa que me mandou pegar na mão dele falava, falava pra caralho. Ficou derramando aquelas palavras de pena humilhantes tipo “Coitadinho do menino! Ele está apavorado!” e eu só via as veias de Siago Tomir saltando no pescoço e na testa. Ele sabia que o avião todo se voltaria contra ele se ele fosse deselegante com a idosa.
Ciente disso, eu comecei a pilhar a idosa. “Isso, ajuda ele, vai fazer bem ouvir uma opinião mais experiente…”. Siago Tomir fez um sinal dando a entender que me mataria quando saíssemos do avião. A comoção foi tanta que um homem levantou de uma poltrona lá de trás e se apresentou, dizendo que era médico, perguntando se ele estava passando mal. As pessoas comentavam “Coitado, ele está tão nervoso que está passando mal“.
Doutor!” – eu me meti – “O Senhor caiu do céu!”. Siago Tomir afundou a cara nas mãos. “Meu namorado está tendo tremores, suando, está vermelho e muito nervoso e está achando que é a falta de cigarro, mas eu acho que não é”. O médico olhou com atenção para Siago Tomir e voltou para a poltrona dele. Retornou com um aparelho de pressão enquanto Somir repetia que estava bem. Nos afastamos para que ele pudesse medir a pressão do Somir, que permitiu muito contrariado, depois que o médico insistiu muito. O médico olhou preocupado e disse que a pressão dele não estava “nada boa”.
Pode ser do cigarro, Doutor?” – Eu perguntei com cara de inocente. O médico disse que não e perguntou se ele estava nervoso. Siago Tomir berrou “EU NÃO ESTOU NERVOSO!!!”. Longo silêncio no avião.
A senhorinha idosa segurou a minha mão e me disse “Você deve ser uma mocinha muito paciente” e eu fiz cara de choro e disse “Se a senhora soubesse, ele me trata tão maaaal”. O avião todo rogava pragas para Siago Tomir nesse momento. “Quer que eu converse com ele?”, a idosa disse. Somir fazia sinais frenéticos de “não” pelas costas da idosa. Eu respondi “Por favor, converse sim, troque de lugar comigo e coloque um pouco de juízo na cabeça desse menino!”. O golpe de misericórdia eu dei antes de colocar meu fone de ouvido com funk proibidão e começar a ler minha revista: “Sabe qual é o problema dele? Falta Jesus no coração dele!”.
A idosa passou a viagem toda pregando valores para Somir e falando da importância de Jesus na vida das pessoas, enquanto eu lia minha revista com fone de ouvido. No momento em que tirei o fone do ouvido para comer um lanchinho que a aeromoça veio me oferecer, pude ouvir um trecho da conversa, quer dizer, do monólogo: “(…) meu filho, Jesus te ama, você precisa rezar mais, olha a sua namorada, uma menina tão boa, tão temente a Deus! Deus deu forças para ela, ela não está com medo de avião”. Fiz um joinha para Siago Tomir enquanto fazia coreografias de funk sentada na poltrona e coloquei meu fone de ouvido de volta.
Quando o avião parou, Siago Tomir não só não falava comigo como também não olhava mais para a minha cara. Fomos pegar as malas ao som de comentários como “Olha lá o rapaz que tem tanto medo de avião que passou mal no vôo!” e similares.
Minha mala apareceu na esteira e eu pedi para Siago Tomir pegar. Ele apenas respondeu “HÁ!” e continuou a me ignorar. Eu disse a ele que ele seria castigado por isso e ele debochou perguntando se Deus lançaria um raio nele por não pegar a minha mala. Tempos depois a mala dele apareceu e quando ele foi pegar, a mala abriu deixando cair no chão cuecas e outros pertences pessoais. Siago Tomir catou tudo roxo de raiva enquanto eu fazia a minha dancinha da vitória e mandava um joinha para o céu dizendo “Mandou bem! Mandou bem!”
Quando estávamos saindo do aeroporto, fiquei parada e disse a Siago Tomir que mais cedo ou mais tarde ele teria que falar comigo, então, que fosse naquela hora para que a gente não passe o pouco tempo juntos brigados. Gente teimosa é foda. O que ele fez? Gritou mais uma vez que não tinha medo de avião.
Peguei meu telefone e liguei para minha sogrinha, um amor de pessoa por sinal, e deu-se a seguinte conversa, no viva-voz:

Sally: Oi Fulana! Tudo bem?
Sogra: Tudo, Querida, chegaram bem?
Sally: Pois é, chegamos, mas seu filho me deu um trabalho…
Sogra: Porque?
Sally: Ficou nervoso, fez malcriação…
Sogra: É mesmo?
Sally: ééééééé!
Sogra: Não sei onde foi que eu errei com o Siago
Sally: Tudo bem, no fundo, lá no fuuundo, ele é uma boa pessoa
Sogra: Sally, releva, ele estava nervoso
Sally: Mas… será que eu fiz alguma coisa que chateou ele?
Sogra: Que nada! Ele sempre fica nervoso assim, ele tem pavor de avião

Eu pulava e fazia dancinha da vitória com o telefone na mão, enquanto Siago Tomir dizia que eu era ridícula e estava fazendo ele passar vergonha. Apesar de estar todo errado, me deu um longo esporro e disse que nunca mais viajava comigo de avião (promessa que ele de fato cumpriu).

E eu dei o telefone de Siago Tomir para a idosa. Mas nunca soube se ela ligou ou não.

Para me dizer que falta Jesus no meu coração também, para dizer que Siago Tomir além de não ter palavra é um cagão e para perguntar porque será que ele nunca escreve um Samy Solir: sally@desfavor.com

Boa noite, Queridos Leitores.

Para quem não sabe, o esquema das postagens conjuntas é o seguinte: Somir escreve o texto dele e eu escrevo o meu, em separado, depois a gente junta. Nosso combinado é que o tema do Desfavor da Semana seja estipulado até, no máximo, SEXTA FEIRA DE MANHÃ, para que tenhamos tempo de pesquisar e escrever um bom texto. Cada um passa e-mail para o outro com sugestões e no final a gente decide o tema.

Na QUINTA FEIRA eu encaminhei um e-mail para o Somir dando minhas sugestões de desfavor da semana. Salvo engano, os temas eram a confusão na embaixada do Brasil em Honduras com o Presidente deposto, uma lei que incentiva funk e lhe confere uma série de privilégios, emenda promulgada pelo Congresso que aumenta o número de vereadores, Amy Drogada cuspindo em uma criança que importunava sua afilhada no colégio, um jornal espanhol dizendo que Ronaldinho deveria aprender a ler, o Ministério Público Federal ajuizando ação idiota para proibir a venda de H2O e Aquarius e, por fim, a briga cheia de ofensas de baixo nível do Governador do Mato Grosso com o Minc.
Até a presente data, não obtive um posicionamento da Madame a respeito do tema. Considerando que o prazo para se manifestar sobre a escolha do tema expirava ontem, acredito que houve todo um desinteresse dele pelo assunto. Como eu tenho um compromisso importante dentro de duas horas, não posso mais aguardar pela boa vontade alheia. Como eu também tenho compromisso com meus leitores, não vou deixar um dia em branco, por isso, deixo aqui minha postagem de hoje.

SIAGO TOMIR FAZENDO DIETA

Quando eu me presto a fazer alguma dieta, regime, reeducação alimentar ou coisa que o valha, estou plenamente ciente de onde estou me metendo: restrições alimentares que me acarretarão algum tipo de privação e sacrifício em troca de um fim a ser alcançado. Infelizmente, na SiagoTomirlândia, não é assim que funciona. Ele acha que ocorrerá um milagre e ele fará dieta sem passar por qualquer sacrifício.
Tudo começou quando eu arrastei Siago Tomir para fazer exames em um clínico geral, em função de um mal estar constante que ele vinha sentindo. Após muitos exames, constatou-se que ele estava realmente com problemas, a ponto de ter que sofrer uma cirurgia. A indicação médica era para que ele seguisse uma dieta rigorosa durante um tempo.
Siago Tomir, sob efeito do susto da cirurgia, se dignou a cuidar um pouco da sua saúde e aceitou fazer a dieta. E quando eu digo que ele aceitou fazer a dieta, quero dizer que ele aceitou COMER a comida, porque quem comprou, cozinhou e serviu foi a palhaça aqui. Sentou para conversar comigo, me pediu ajuda. Disse que estava muito assustado com as possíveis conseqüências de seu estado de saúde e que não tinha capacidade de se disciplinar, por isso precisava da ajuda de alguém disciplinado, como eu. Concordei em ajudá-lo. Quão burra eu sou???
Com uma listinha curta das coisas que ele podia comer, comprei os itens permitidos e tentei cozinhar coisas minimamente agradáveis. Acontece que, quando você não coloca gordura, fritura, sódio e açúcar, a comida tende a não ficar muito apetitosa.
No primeiro dia, eu alertei que a comida não seria propriamente gostosa. Ele sabia que eu cozinhava bem, sempre cozinhei para ele e ele sempre gostou. Eu expliquei que desta vez seria diferente, porque a matéria prima era outra. Gastei saliva para nada. No que ele deu a primeira garfada, soltou a primeira pérola de gratidão: “Puta que pariu, Sally! Desaprendeu a cozinhar?”.
Além de tudo, as quantidades eram restritas. Ele tinha que comer pouco, em intervalos curtos de tempo. E ficou em um tremendo mau humor por causa disso. Ele estava intratável!
Todas nós já fizemos dieta alguma vez na vida e sabemos que não é agradável passar fome, mas porra, a gente atura calada, sofre em troca de um objetivo. Não descontamos em ninguém nem fazemos drama. Siago Tomir GRITAVA comigo o tempo todo: “VOCÊ QUER ME MATAR DE FOME, SALLY! É SÉRIO, EU ESTOU TONTO! SE EU MORRER A CULPA É SUA”.
Em uma noite, eu fiz uma sopa com os ingredientes permitidos e servi para Madame comer. Fui ao banheiro lavar as mãos e quando voltei vi uma montanha branca no prato dele. Madame tinha colocado uns 5kg de queijo parmesão na sopa! Expliquei para ele que não poderia comer queijo parmesão, porque era gorduroso e tal. Ele quase me matou enfiando a colher na minha garganta: “VOCÊ ESTÁ COM RAIVA DE MIM? É ISSO? QUER ME SABOTAR? TÁ AQUI ÓÓÓ! QUEIJO BRANCO PODE!”. Tentei explicar que parmesão não era queijo branco mas ele se descontrolou novamente: “NÃO? NÃO? NAÃÃÃÃÃOOOO ENTÃO QUAL A COR DISSO AQUI? ROSA?”.
Sem contar que ele me chamava de maluca o tempo todo. No meio da tarde, quando ele tinha direito a comer apenas um iogurte natural, ele achava bacana reclamar ME ofendendo: “Você é MALUCA, Sally, MA-LU-CA, não sei como você consegue fazer essas dietas! Você é louca!”. Eu apenas olhava com cara de desprezo.
Teve um dia que ele sentiu uma fraqueza inerente a quem faz dieta e achou que estava morrendo de inanição. Fez um escarcéu. Disse que ia morrer naquela noite e que precisava comer um hambúrguer para sobreviver. Mandei ele calar a boca e comer o pedaço de Tofu que lhe era destinado, e ele fez um trocadilho grosseiro com o nome Tofu.
Passava o dia todo reclamando que aquilo não era vida, que preferia morrer do que viver assim e que eu era uma pessoa sádica que gostava de ver ele sofrendo. Cansei de dizer que estava ajudando ele a seguir as ordens médicas mas parece que na cabecinha dele eu não deixava ele comer nada do que ele queria por pura maldade.
Um dia, estou dormindo em paz quando ouço um barulho no quarto: tssssss Não, ninguém peidou. Era Siago Tomir tentando abrir uma latinha de Coca-Cola que ele havia contrabandeado não sei como para dentro da casa. Liguei a luz, tomei da mão dele e joguei tudo na pia. Ele fez uma cena de novela, gritando e apontando para a mim dizendo que eu ia pagar caro por aquilo. Siago Tomir é uma pessoa difícil de cuidar.
O curioso é que quando a dieta começou, ele jurou que seguiria todas as indicações médicas. Parecia determinado. Três dias depois estava espumando de raiva e me oferecendo bens materiais em troca de uma pizza. Impressionante como Siago Tomir não tem disciplina.
Teve um dia que Siago Tomir estava tão desesperado que estava comendo meus produtinhos para ganho de massa muscular, só porque tem sabor de chocolate. Entrei na sala e vi Madame mordendo uma barra de proteína. Na hora olhei para ele e disse “COS-PE!” e estendi a mão. Madame cuspiu na minha mão e bufou. Dei um “pedala” no pescoço dele e fui dormir.
Tomar conta de Siago Tomir foi mais difícil do que tomar conta de criança. Mais difícil que tomar conta de filhote de cachorro. Siago Tomir reclamava o dia todo, se fazia de vítima o dia todo e tentava roubar comida o dia todo. Tinha que ter colocado uma máscara nele, tipo aquela máscara do canibal do filme “Silêncio dos inocentes”.
E quando ele me acordava no meio da noite para dizer que estava com fome? Eu levantava a cabeça do travesseiro cheia de sono e mandava ele comer uma fruta. Ato contínuo vinha uma sequência indescritível de palavrões. Vou te falar, é muito amor, muito mesmo, porque aturar isso não é para qualquer um.
Um dia ele teve um ataque de “você não manda em mim”. Aliás, by the way, de tempos em tempos ele tem um ataque de “você não manda em mim”. Disse que ia comer o que ele quisesse, porque eu não mandava nele. Fiquei parada olhando para a cara dele, bastante séria. Ele ficou me olhando de volta. Ficamos nos olhando uns cinco minutos até que ele gritou que eu odiava ele, foi para o quarto e bateu a porta.
Uma tarde ele disse que estava passando mal. Perguntei o que ele estava sentindo e ele levou as mãos ao estômago e disse “Aqui! Sinto uma dor, um barulho aqui!”. Fiquei olhando para ele e depois dele descrever um pouco mais sobre o passar mal, respondi “Não, você não está passando mal, está com FOME, que é um leve desconforto. Cala a boca e agüenta!”. Porra, metade das mulheres do mundo vive com fome e nenhuma delas faz esse escândalo todo!
Teve um dia que ele cismou que era eu que não sabia cozinhar. Disse que naquela noite ELE faria o jantar. Pegou os ingredientes permitidos e fez uma gororoba tão sinistra que até mesmo os gatos viraram a cara. Ninguém conseguiu comer. E quando eu joguei no lixo, do lado de fora da casa, nem as moscas se atreveram.
Ele entoava mantras de auto-vitimização o dia todo: “Isso não é vida!”, “Não agüento mais um dia assim” e coisas parecidas. Quem escutava achava que eu estava torturando Siago Tomir. Inclusive teve uma noite, que eu acho que foi um dos piores momentos, que ele disse que me mataria se alguém lhe oferecesse em troca uma batata frita. Completamente transtornado o rapaz.
E os argumentos infantilóides para tentar me convencer que poderia comer determinado alimento? “Mas Sally, você não está raciocinando. Veja bem, aqui diz que eu posso comer arroz integral. Se eu posso comer arroz integral, eu posso comer arroz branco também, afinal, arroz branco é só o arroz integral sem casca! É a mesma coisa…”. Eu apenas levantava meu dedo médio para ele e continuava cozinhando. Daí ele reagia de forma muito madura, gritando que eu era sádica e o odiava.
Teve um dia que ele ameaçou comer um creme para o corpo meu com aroma de chocolate em um ato de desespero. Pura chantagem. Ficou duas horas naquele terrorismo de “Olha que eu como, hein?” e eu nem dando bola. Teve uma hora em que ele me encheu tanto o saco que eu peguei o creme da mão dele, meti o dedo dentro e depois meti na boca de Siago Tomir e perguntei se estava gostoso. Ele ficou passando mal o resto do dia e mais dois dias sem falar comigo.
No final das contas, quando ele voltou no médico sua saúde estava bem melhor e as possíveis conseqüências ruins não aconteceram. Ele perguntou ao médico se podia fazer “vida normal” e o médico lhe disse que sim. Só que ele esqueceu de dizer ao médico que “vida normal” na Somirlândia é comer a gordura da picanha, uma pizza inteira, uma caixa de nuggets por dia e coisas piores.
Quando eu ousava lembrar que o que ele estava comendo poderia ser nocivo para sua saúde, ele enchia a boca para falar que o médico tinha liberado e que eu odiava ele e queria vê-lo sofrer. A Elma Chips voltou a apresentar lucro em seus balancetes mensais quando Siago Tomir saiu da sua dieta. Pergunta se ele alguma vez na vida depois disso voltou ao médico para saber como evoluiu seu estado de saúde? Não volta nem amarrado, afinal, segundo ele, “vai que esse filho da puta me manda fazer dieta de novo?”
Depois vem aqui nos comentários pregar a supremacia da raça masculina como forte, superior e dominante. Manucu Somir!
Para me dizer que Somir é intratável, para me dizer que da próxima vez que Somir fizer dieta tem que chamar o Cesar Millan para discipliná-lo e para me perguntar se eu era namorada ou mãe dele: sally@desfavor.com

Eu conheço bem meu companheiro de blog. Por isso tenho diversos episódios de Siago Tomir escritos, prontinhos para serem copiados e colados aqui: porque sei que ele é incapaz de cumprir metas, horários e qualquer obrigação em determinadas fases de sua vida. Bom, pelo visto, esta é uma delas. Aparentemente ele está sem internet e aparentemente ele não pode usar o horário do almoço dele, como eu faço, para escrever o texto do dia seguinte em uma lan e me enviar por e-mail, porque “nem fodendo que eu vou deixar de comer, você é doente” e blá blá blá.
Por sorte, um de nós é responsável. Com vocês, mais um SIAGO TOMIR.

Hoje conto a vocês como introduzi (ou melhor, como tentei introduzir) Siago Tomir no mundo da musculação.

Não, não foi capricho nem futilidade. Quem conhece meus ex-namorados sabe que eu sou eclética e vou a extremos: tem dos modelos mais lindos até os barangos mais feios. Meus caros, só tem um corpo que eu não abro mão que seja sarado nesse mundo – o meu. O grande estopim que me fez convencê-lo a malhar foi um problema de saúde de Siago Tomir, onde ele realmente precisava de uma atividade física e dentre elas, a musculação era a mais indicada (palavras do médico, juro).

Existe uma peculiaridade sobre Siago Tomir que vocês talvez não saibam: Siago Tomir não dorme. E gosta disso. E tem orgulho disso. E quando você tenta convencê-lo a dormir ele faz um “Tssst!” (numa vibe meio Cesar Millan, visualizaram?) e declama: “Dormir é para os fracos”. Como todo arrogante, egoísta e individualista, ele se acha imortal. Então, na véspera de ir a seu primeiro dia de academia, Siago Tomir estava saracoteando pela casa às duas da manhã, enchendo os cornos de coca-cola e jogando um jogo de guerra no vídeo-game. Recomendei que ele durma e tomei um “Tssst!” no meio dos cornos. Fui dormir sem ele.

Já havia sido uma batalha tremenda convencê-lo a se matricular em uma academia, aquela choradeira, ameaças dizendo que eu não queria estar ao lado de alguém que se destruía, chantagem perguntando se ele queria que seus filhos vejam o pai morrer aos 40 e essas coisas que eu faço. Quando ele sentiu que a coisa ia escaralhar, tanto do ponto de vista do problema de saúde quanto da minha paciência, ele concordou.
O que pessoas como ele não entendem é que não basta se matricular em uma academia. É todo um ritual, é toda uma mudança de estilo de vida. São novos hábitos, nova alimentação, nova rotina. Siago Tomir foi se deitar com o nascer do sol, como de costume. Mais ou menos três horas antes de tocar meu despertador.

Quando o despertador tocou, ele estava praticamente em coma. Sim, porque Siago Tomir não dorme, Siago Tomir entra em mode off. Eu já conhecia a figura, então nem me dei ao trabalho de gritar ou coisas do tipo, isso não resolve. Me arrumei e disse “Estou pronta, você vem?”. Siago Tomir fez um sinal de “joinha” com o dedo sem desenterrar a cara do travesseiro e continuou dormindo. Repeti em voz alta “SIAGO! Estou indo, ta? Pelo menos me dá um beijo…”. Desconfie quando uma mulher te pede beijo. Beijo é o caralho, eu queria é que ele olhe para mim. Siago Tomir se levantou para me dar um beijo no piloto-automático, quando viu as minhas roupas. Acordou que foi uma beleza.

“VOCÊ VAI ASSIM? ASSIM? ASSIIIIIIIM?”. Não, nunca que eu ia daquele jeito que não sou maluca nem nada, mas falei que ia assim. Ele acordou rapidamente e começou a debochar (o deboche dele é o primeiro sentido a acordar) me perguntando se eu iria à praia e etc. Fiz uma proposta: eu colocaria uma calça e uma camiseta se ele fosse. Ele concordou. E dez minutos depois se ofendeu, porque de manhã ele tem esse delay mental, ele demora para entender tudo, inclusive quando foi manipulado).

Chegamos na academia. Um simpático instrutor que atendia por “Jão”, e que Siago Tomir jura de pés juntos que não tem cérebro, conversou conosco. Siago disse que não confiava em Jão e que achava que ele não tinha nem polegares opositores, então, sugeri que ele faça a MINHA série, uma série PARA UMA MENINA de um metro e meio e que tente o instrutor do dia seguinte para ver se lhe inspirava mais confiança.

Siago Tomir riu. Siago Tomir disse, e eu guardei muito bem estas palavras, que estava antevendo briga porque eu era muito competitiva e um novato pegaria mais peso do que eu. Sim, Siago Tomir merece que esta história seja contada por toda a eternidade para deixar de ser babaca arrogante.

No primeiro exercício, eu fiz as minhas repetições e quando ele sentou no aparelho, com o mesmo peso, ele disse “Sally, está quebrado”. Fiquei olhando. “Sally, está quebrado, não mexe”. Mandei ele fazer força e ele me deu uma patada ríspida dizendo “Gênia! Estou dizendo que está quebrado, estou fazendo força mas não mexe!”. Tirei Siago Tomir do aparelho, sentei e fiz mais repetições. Ele ficou olhando de boca aberta. Um marombeiro começou a rir no aparelho do lado. Isso mexeu com a honra de Siago Tomir.

“SAI DAÍ!” e ele me puxou para fora do aparelho. Para falar a verdade, ele me arremessou para fora do aparelho. Sentou com toda a determinação do mundo e começou a fazer força. Começou a ficar vermelho e a veia na sua testa começou a saltar. Tentei intervir dizendo que aquilo não era uma competição (mentira, eu estava competindo com ele, eu sou competitiva) e que ele estava ali atrás de saúde, mas ele me conhece bem e gritou “TÁ COMPETINDO SIM! TÁ COMPETINDO SIM!” e eu fiz a minha dancinha da vitória.

Ok, a dancinha da vitória (uma dancinha que faço sempre que ganho algo) foi um exagero. Siago Tomir ficou tão irritado, mas tão irritado que conseguiu concluir o movimento do aparelho. Só não conseguiu sair dele. Ficou lá uns dez minutos com taquicardia se recuperando. E a manhã toda foi assim. Siago Tomir se matando para acompanhar meu peso sem conseguir, fazendo uma movimentação toda errada, movimentos curtos e roubando descaradamente em vez de diminuir o peso.

Quando acabamos ele nem falava mais. E nem precisava, porque o olhar de ódio falava por si só. Começou a reclamar que estava enjoado e quando eu disse que era normal ele disse que EU não era normal (olha que injustiça…) e que eu era sádica, e que eu queria ver ele morto. Coisas assim. Por sorte o fôlego era pouco e ele não conseguiu se estender no discurso. Na saída, Jão deu um tapa nas costas dele (que quase o fez cair no chão) e disse “Te vejo amanhã”. Eu puxei Siago antes que ele solte um palavrão. Chegando no carro foi que eu vi como a coisa era grave, porque ele me deu as chaves com uma lágrima no canto dos olhos. Minha gente, para Siago Tomir me dar, voluntariamente, sóbrio, as chaves do carro dele, o fim do mundo estava chegando.

Fiquei muda, entrei no carro e olhei para ele. Vi que não havia condições dele dirigir. Ele se jogou no banco feito um saco de batatas. E ficava repetindo o quanto ele me odiava. Foi um momento de romance único em nosso relacionamento.

Chegando na casa dele, tomou um banho quente de umas três horas seguidas, e cada vez que me via deixava bem claro os sentimentos dele por mim (ódio e similares). Saiu do banho e dormiu, no meio da tarde, e só acordou no mesmo horário do dia seguinte, isso porque eu o cutuquei de longe com um canudo para ver se ele estava vivo (porque Siago Tomir bate se você tentar acordá-lo encostando nele, sim, ele é quase um animal selvagem). Quando ele acordou, eu perguntei se ele estava bem e ele continuou imóvel na cama, apenas disse “Não, não estou bem, Sally. Tudo dói” e eu poupei o trabalho dele “E você me odeia, certo?”. E ele: “Sim, Sally, no momento, eu te odeio”.

O engraçado foi quando ele levantou da cama. Já viram o desenho Bambi? Sabe aquela cena depois que o Bambi nasce, onde ele tenta aprender a andar? Esse era Siago Tomir tentando chegar até o banheiro. Fui rir na cozinha para ele não me odiar mais ainda.
Quando ele conseguiu se arrastar até a sala, começou a berrar que estava com fome. Comeu feito um boi e ainda culpou a atividade física por isso “Tá vendo? Tá vendo, Gênia? Malhar engorda! Eu como mais quando eu malho!”. Nem me dei ao trabalho de explicar, porque ele já emendou uma teoria completamente descabida daquelas que ele usa no Flertando com o Desastre, onde não há espaço para questionar, porque se você questiona você é burra e não entendeu os argumentos dele (impossível um ser humano entender e discordar, imagina…)

Passou esse dia todo entrevado. Mas pelo menos dormiu cedo. No dia seguinte, após 48hs de descanso, como manda o figurino, tentei convencê-lo a ir malhar novamente. Me chamou de sádica, maluca, doente mental e até de Hitler (e ainda debocha de quem me chama de RITLER nos comentários). Fez um escândalo e disse que nunca mais na vida dele pisaria em uma academia.

Nunca dá certo ser racional com gente enfurecida. Expliquei para ele que não precisava ser assim, bastava ele respeitar os limites DELE e pegar um peso que fosse tolerável para ELE, pois respeitando o próprio corpo as conseqüências não são tão ruins. Ele me respondeu “E pegar menos que a minha mulher? NEM PENSAR!”. Tem ou não tem que se foder na vida? Porra, tem TANTA coisa que ele faz melhor do que eu… tanta, mas TANTA que não caberiam nessas quatro páginas. E eu nunca tentei me igualar a ele naquilo em que ele é bom. Ele teve a cara de pau de competir comigo em uma das poucas coisas na vida que eu sou bem treinada para fazer!

Começou uma longa discussão sobre quem era mais débil mental que quem. Ele começou a dizer que eu era maluca por ter prazer em sentir dor. Por mais que eu explique que meu pós-treino não é o mesmo que o dele, porque eu treino fazem dez anos, ele não queria entender. Como eu disse, gente enfurecida não responde bem a racionalidade.
Disse que ele estava certo (um dos grandes segredos para um relacionamento dar certo é se desculpar e dar a razão ao outro, mesmo sabendo que ele não tem razão porra nenhuma) e que podíamos aproveitar para passar o dia em casa, fazendo algumas coisas que precisavam ser feitas. Ele topou feliz, todo pavão, porque afinal, eu me desculpei e dei razão a ele.

Assim, bolei pequenas tarefas domésticas nas quais ele tinha que me ajudar com sua força de macho provedor (como guardar caixas no alto do armário ou empurrar ou levantar móveis) que correspondiam aos mesmos exercícios que ele estaria fazendo em cada aparelho. Malhou todos os grupamentos musculares que eu queria, sem saber que estava malhado. Fiz ele fazer o número de séries e repetições que ele queria, com um peso que eu achei adequado para ele, na forma de tarefas domésticas. Não malhou é o caralho, SIAGO TOMIR, naquele dia você malhou sim, só que foi é muito do BURRO de não perceber. Nisso que dá gente que se embriaga com a vitória de uma discussão. Tolinho.

Bom, agora vamos saber DE VERDADE se Siago Tomir está MESMO sem internet, porque até hoje ele não sabia desse meu pequeno Easter Egg e achava que realmente estava me ajudando a organizar a casa. Se eu receber um telefonema me xingando em breve, saberei que ele estava é com PREGUIÇA de escrever, isso sim. E acreditem em mim, se ele ler isso, ele é incapaz de se controlar para sustentar a mentira do “sem internet”.

Para me perguntar se depois dessa vamos ficar brigando como daquela vez que ficamos uma semana falando nisso, para me perguntar como fazer seu marido flácido e preguiçoso malhar sem que ele perceba que está malhando e para dizer que chega, está enjoando de Siago Tomir: sally@desfavor.com

Passa de meia noite e Madame não responde às minhas tentativas de contato. Minha parte do Desfavor da Semana foi devidamente enviada e nada acontece. O que isso significa? SIAAAAAGO TOMIIIIIR!
Lembrando sempre que Siago Tomir é um ex namorado meu, nascido e residente na Suíça. (cof! cof!)

Hoje vou contar uma história que deu início a uma lenda boba, mas que diverte a gente de montão.
Siago Tomir é um ser humano desligado. Ele é desatento por natureza. Eu não ligo (a menos quando ele provoca um incêndio, daí eu solto um monte de palavrões – e já aconteceu três vezes). Mas, normalmente, as pessoas se importam muito com isso. A ira que isso desperta ficou clara em um episódio memorável ocorrido durante uma visita de Siago Tomir à minha cidade. Vale a pena narrar este episódio. E se ele disser que não foi bem assim, não acreditem, ele estava bêbado.

Siago Tomir é, na maior parte do tempo, uma pessoa amável e tranqüila. Mas ele tem uns rompantes raros e quando eles acontecem, o melhor a se fazer é deixar Siago Tomir quieto. Pois bem, nesta visita, não sei porque, Siago Tomir estava em um desses seus rompantes de TPM. Nós já tínhamos um jantar na casa de um casal de amigos meus agendado. Eu sugeri desmarcar, mas Siago Tomir se negou. Insistir com ele nessas condições é problema na certa, então, fomos ao jantar.

O casal anfitrião é formado por um grande amigo meu e sua noiva, que acabou virando amiga por afinidade. Também foram convidados para o jantar a prima da noiva e seu namorado, pessoas que eu conhecia de vista. O jantar transcorria bem, até que o assunto religião surgiu e Siago Tomir expressou sua opinião impopular, que desagradou profundamente meu amigo. Climão. Mas isso era só uma gota de água perto do oceano de vexames daquela noite.
Após o jantar, estávamos conversando sobre uma amiga nossa que estava tentando tirar o Green Card para morar nos EUA. Assunto vai, assunto vem, a conversa foi parar naquelas pessoas que casam para conseguir o visto. A noiva do meu amigo comentou que é muito fácil de fazer isso e enganar o Governo e eu disse que nem tanto, porque ele fazem testes e perguntas aos casais que muito casal casado não saberia responder. Começou um semi-bate-boca sobre ser fácil ou difícil responder às perguntas do teste feito para liberação do Green Card, até que algum infeliz teve a idéia de baixar o teste na internet e submeter o grupo a aquelas perguntas. É preciso dizer que, a esta altura, todos (menos eu que não bebo) haviam tomado generosas doses de bebidas alcoólicas.
Cada um pegou uma folha de papel e as perguntas eram lidas em voz alta. Todos anotavam as respostas, que depois seriam comparadas. Eram perguntas muito pessoais e muito difíceis de responder. Algumas medem mais a memória da pessoa do que o conhecimento sobre a personalidade do seu parceiro. Na hora de colher as respostas, a baixaria começou.
Para começo de conversa, o anfitrião, meu grande amigo, foi para a cozinha pegar mais bebida (como se precisasse, tava todo mundo bêbado). Ato contínuo, a prima da noiva do anfitrião foi à cozinha também pegar água. Siago Tomir decidiu ir à cozinha também, pegar gelo. No que ele entra na cozinha, flagra o meu amigo se agarrando com a prima de sua noiva e volta pálido para a sala, fazendo gestos tentando me contar o que aconteceu. Claro que eu não entendi porra nenhuma (minto, achei que ele queria me dizer que minha calcinha estava aparecendo e passei a noite toda puxando a calça para cima, achando que estava pagando cofrinho). Nesse clima de harmonia começou a leitura dos resultados.
Antes de partir para a apuração, quero fazer uma breve exposição. Eu nunca medi o que um homem sente por mim com cobrança de datas ou de informações a meu respeito. Eu não demando que ele perceba quando eu cortei o cabelo ou qual é a nossa música. Então, quando você não cobra esse tipo de coisa, seu homem não fica adestrado a fazê-lo (sim, ele só fazem quando precisa, para evitar DR). Por isso, e pelo fato de ser desatento, Siago Tomir não sabia e não sabe porra nenhuma a respeito de alguns gostos e preferências minhas, o que não quer dizer que ele não gostasse de mim.
Enfim, Siago Tomir foi errando as respostas sucessivamente. Errando perguntas fáceis como “qual é o seriado de TV favorito dela e a que horas passa?” ou “que tipo de comida ela gosta e que tipo ela não gosta?”. As mulheres me olhavam com cara de pena e os homens comemoravam mentalmente porque afinal, não seriam eles a sair dali com o título de Pior Namorado da Noite. Eu nem ligava. Mas Siago Tomir começou a se irritar com os comentários, e como já estava de TPM e tinha bebido, começou a devolver. Quando Siago Tomir teve que responder de qual animal eu tinha mais medo e errou, meu amigo disse “Vocês namoram mesmo?” e riu.
Siago Tomir não engoliu. Em uma pergunta sobre qual era a obra de arte preferida da pessoa (imagina, Siago Tomir não sabe nem a dele, vai saber a minha?), antes do meu amigo responder, Siago Tomir berrou “Aposto que a dele é uma obra PRIMA!”. Ficou todo mundo olhando em silêncio. Eu achei que fosse coisa de bêbado, mas era algo muito mais profundo. Estava estabelecida a guerra fria.
Perguntados sobre a cor da roupa íntima de cada um, Siago Tomir berrou “Tá vendo! Tinha que ter feito sexo no carro! Ai eu saberia responder!” e ficou climão mais uma vez. Eu sei que ele não estava brincando, mas espero que as pessoas tenham levado na brincadeira. As perguntas continuaram. Quando Siago Tomir disse que meu sanduíche favortio era Big Mac, meu amigo gritou “PUTA QUE PARIU, ELA NEM GOSTA DE BIG MAC, ELA ACHA ENJOATIVO!”. Siago Tomir se aborreceu. A prima vadia perguntou mais uma vez em tom de brincadeira “Vocês tem certeza que vocês namoram MESMO?” e depois soltou um risinho A La Lindamar: hihihihi. Vi um dos olhos de Siago Tomir latejando.

Perguntando sobre qual seria a estação do ano favorita de cada um, Siago Tomir levantou (é sério, ele levantou) e berrou, apontando para o meu amigo: “A SUA EU SEI! A SUA EU SEI! É PRIMAAAAAAA… PRIMAAAAAA. (olhando para a prima vadia) PRIMAAAAAA VERA!”. Foi aí que eu percebi que estava acontecendo alguma coisa, porque a cara da prima vadia de desespero eu conheço muito bem.
Puxei Siago Tomir para um canto a pretexto de pegar mais bebida e ele me explicou o que viu na cozinha. Ele viu sem ser visto. Disse a ele que eu não me importava com nada daquilo que estavam falando, que não ligava para ele não saber porra nenhuma sobre mim e que não havia necessidade dele atacar as pessoas. Ele fez um longo discurso sobre como carioca é cheio de marra.
Voltamos para continuar as perguntas e respostas. A hostilidade estava no ar. Siago Tomir sorria debochadamente. Siago Tomir continuou errando tudo: meu filme favorito, minha cor favorita, o perfume que eu usava, etc. Quando ele errou a minha música favorita (e devo dizer que ele erra com classe, ele berra a resposta errada com uma certeza de fazer inveja) meu amigo falou “Caralho, eu te conheço melhor do que ele!”. Eu não vi grandes problemas nessa frase, não sei se foi porque eu estava sóbria ou porque eu sou mulher, mas aquilo causou um grande transtorno na mente de Siago Tomir. Eu vi que ele estava prestes a explodir então fiz uma brincadeira para aliviar a tensão: “É, Fulano, na verdade a gente não namora não, ele está fingindo ter uma relação comigo para conseguir um Green Card para entrar na Argentina”. Risos. O foco da conversa foi para denegrir os argentinos. Alívio temporário.
A merda explodiu quando Siago Tomir errou meu signo e o namorado da prima vadia também se sentiu no direito de sacanear: “O que é isso, Fera? Até eu sei o signo dela! É só olhar que a gente vê que é de leão! Hahaha”. Siago Tomir, cheio de álcool na mente, respondeu “E o seu é TOURO, né?”. Climão Master.

Nisso eu fazia sinais para meu amigo, mandando ele calar a boca com medo de Siago Tomir dedurar ele. Meu amigo não entendeu que eu estava querendo salvar o pescoço dele e achou que eu estava dando uma de mamãe, querendo proteger Siago Tomir e se achou no direito de gritar “Siago, tua mulé ta brigando comigo, não pode mais mexer com você não!” e Siago respondeu “Comigo pode, o que não pode é MEXER COM A MU-LHER DOS OUTROS, NÉ? OU PODE?”. Climão Master Plus.
Eu tinha que tirar Siago Tomir de lá. A situação estava ficando insustentável. Eu queria alertar o meu amigo, mas estava com medo de deixar Siago Tomir sozinho na sala e dele falar merda. Então, peguei meu celular, fiz parecer que lia uma mensagem recebida quando na verdade mandava um torpedo para meu amigo: “CALA A BOCA, ele te viu beijando a Fulana”. O celular dele apitou acusando o recebimento de uma mensagem e a noiva dele disse “Amor, chegou uma mensagem para você!” e pegou o celular para olhar. Siago Tomir, que viu o que eu estava fazendo, começou a rir e imitar o Silvio Santos dizendo “OEEEEEEE! MAH OEEEEEEEE! AH AH EEEEEE” e rir (sim, ele faz uma imitação péssima do Silvio Santos, principalmente quando bebe). Me joguei em cima da noiva do meu amigo, tomei o telefone da mão dela ao som de mais “OEEEEEEE! VEM PRA CÁ! OEEEEEEEE!” e disse “Desculpa, é minha para ele, é particular”. O namorado da prima vadia olhou para Somir e disse “Cuidado, hein Merrrrmão… tua mulé mandando mensagem secreta pro Fulano, sei não…” e Siago Tomir respondeu “Minha MU-LHER não teria um caso com Fulano, e a sua? Teria? Teria?” olhando para a prima vadia.
Enquanto isso, meu amigo lia a mensagem e sua noiva me olhava com cara de fúria. Falei no ouvido dela “só pedi para ele parar de sacanear meu namorado, estou com pena dele, entende? ele é paulista, sabe como é…” e ela pareceu mais calma. Meu amigo estava branco, suando frio. O namorado da prima vadia estava encarando Siago Tomir, prestes a partir para a porrada. Foi quando a prima vadia vomitou, o que impediu uma desgraça.
Claro que o efeito colateral “vômito solidário” se fez presente. Ela vomitou do meu lado, e eu, por conseqüência, vomitei junto. Era o motivo que eu precisava para ir embora dali. Sabe, existem pessoas que vomitam certo e pessoas que vomitam errado. Eu sou uma pessoa que vomita errado. Vomitar certo = na privada, na pia, no chão, na janela do carro. Vomitar errado = na própria cama, nas próprias roupas, no próprio cabelo, etc. Lá estava eu, toda “vomitada em mim mesma”, com cara de sofrimento, quase chorando, quando Siago Tomir se aproximou.
“Quero ir embora” eu disse em voz baixa. “Eu sei, eu sei, você vai ter um colapso estético” ele respondeu. “Isso mesmo, um colapso estético, me leva daqui” eu respondi quase chorando. Saímos de fininho, dando um tchauzinho de longe para os presentes, comigo resmungando “você nunca mais vai conseguir me beijar depois de me ver vomitar!” e ele respondendo “relaxa, você já me viu mijando na pia”. Sim, eramos um casal estranho.
Para me dizer que Somir me conhece mais do que eu imagino, para me dizer que medo de não ser beijada por causa de um vômito é contraditório para quem alardeia que vai beber água do vaso sanitário e para me dizer que sem o Somir a formatação fica uma merda: sally@desfavor.com

Eu não queria mudar a rotina do blog. Para mim estava tudo ótimo, cada um com seus dias, os leitores já sabiam o que esperar (ou seja, sexta feira é dia de ler o kibe loco). Mas Madame quis mudar. Disse que a rotina estava tornando o blog muito previsível.

“Pense, Sally, não ter limites, poder escrever sobre o que quiser, quando quiser! O texto sai melhor quando a gente escreve sobre o que tem vontade”

Ok, Somir. Você venceu. A partir de hoje só vou escrever sobre o que tenho vontade. Já que tenho total liberdade criativa, com vocês… mais um SIAAAAAGO TOMIIIIIIR!

SIAGO TOMIR NÃO USA SUNGA – Eu sei que para muitos de vocês sunga é uma visão do inferno, mas aqui no Rio de Janeiro, é quase que obrigatório ir à praia de sunga. Você não vê homens usando qualquer outro traje de banho que não seja uma sunga. Em Roma, faça como os romanos. Quando eu visitava Madame lá na putaquepariudofimdomundo, seguia os conselhos dele: “Sally, não saia com esse vestido aqui, todo mundo vai ficar olhando”, “Sally, isso que você chama de short, a gente chama de calcinha”. Quando Madame vinha para cá, queria levar a mesma vida que leva no rancho fundo. Da primeira vez que fomos à praia, o que já foi um parto por si só, porque Madame odeio calor, praia, areia e cia, Madame me apareceu com um bermudão abaixo do joelho. Falando sério aqui, parecia o Chaves. Não quis ficar cutucando, até porque no calor os loucos costumam ficar agressivos, então falei com jeito: “Tomir, aqui ninguém usa essas bermudas, se você quiser ir assim tudo bem, só estou avisando que você vai ser o único a estar assim, só quero evitar um possível constrangimento e…” Não deu tempo de concluir a frase. Um comentário malcriado sobre os cariocas foi cuspido. Fiquei na minha e fomos à praia. Chegando lá, evidente que todos os homens estavam de sunga. Madame continuou destilando seu veneno com comentários de baixíssimo nível dos quais vou poupá-los. Estava visivelmente incomodado. Ficamos no máximo uns 40 minutos e fomos embora, porque segundo Siago Tomir, o cérebro dele estava derretendo (qual cérebro?). Quando eu ia visitá-lo (não é nem o cu do mundo aquilo lá, é a hemorróida do mundo) e ficava morrendo de frio, Madame debochava de mim com uma camiseta de manga curta enquanto eu me tremia debaixo de um sobretudo e botas. Me chamava de “faixa-branca”. Quando comecei a debochar dele no calor e chamá-lo de faixa branca, ele não gostou. Tivemos que ir embora, porque o calor dos trópicos faz mal à cútis de Madame (e ao humor, quase arrumou briga na praia com usuários de sunga). Durante a tarde, fomos almoçar e depois fomos a um shopping. Eu fique insistindo para ele comprar uma sunga e ele dizendo que não compraria nem morto. Então, eu insisti para que ele ao menos experimente, porque, quem sabe? Poderia nem ficar tão ruim assim, só por curiosidade. Madame continuou se negando. No final, ele se negava até a falar no assunto e me proibiu de pronunciar a palavra “sunga”. Foi quando surgiu uma coisa de seu interesse que demandaria um pouco de boa vontade da minha parte. Disse a ele que não estava merecendo porque ele era intransigente comigo e eu seria de volta com ele. Foi então que ele se vendeu. Topou, muito contrariado, experimentar UMA sunga em UMA loja e depois disso eu atenderia ao pedido dele. Gostei da idéia, estava curiosa para ver ele de sunga. Fomos a uma loja, escolhi uma sunga para ele e ele foi experimentar. Fingi que falava ao telefone quando ele saiu da cabine (na verdade estava tirando fotos do momento inesquecível com meu celular). Eu gostei, mas Madame disse que não usaria aquilo “nem fodendo, está me ouvindo?”. O mais engraçado veio no final, quando um casal de paulistas saiu de uma cabine ao lado e ele comentou, alto o suficiente para a gente ouvir “Não disse? Esses cariocas são tudo viado! Olha a sunguinha do cara!”. Eu achei que o Somir ia me matar. Juro que achei que ia apanhar, lá mesmo. Ficou puto, as veias do pescoço saltando. Bateu a porta da cabine falando um palavrão e me chamando de maluca. Ainda tenho as fotos.

SILENT HILL – É um jogo de PS (Silent Hill IV– The Room), para quem nunca ouviu falar. Um jogo que me deixa apavorada, mas que eu gosto de jogar mesmo assim. Estava eu na casa de Siago Tomir jogando Silent Hill, aos berros. Siago Tomir rindo da minha cara. Eis que Madame resolve se levantar para tomar um banho. Implorei para ele ficar, porque estava apavorada com o jogo, em um momento crucial. Ele riu e me mandou “parar de besteira” e foi tomar o banho mesmo assim, dizendo para que eu deixe o jogo no pause e só volte a jogar quando ele sair do banho. Deixei o jogo no pause. Madame foi tomar seu banho. Ocorre que os banhos de Madame são demorados. Eu estava entediada e me bateu um surto de pseudo-macheza e decidi jogar sem ele. Estava eu jogando o jogo, apavorada, em uma cena de suspense, em pânico, quando Madame, percebendo que eu tinha voltado a jogar, tem a brilhante idéia de me dar um susto. Sim, Madame faz essas brincadeiras sem graça, ele é Joselito. Saiu do banheiro sorrateiramente com uma toalha nas mãos e se aproveitando do meu momento de concentração jogou a toalha em mim berrando. Eu, que estava de costas, em um momento de suspense, só senti uma coisa caindo em mim e tampando minha visão seguido de gritos. Desmaiei na hora. Segundo relatos de Madame “Caiu feito uma jaca podre no chão” (muito sensível como sempre). Quando acordei e abri os olhos, já fui recebida com esporro “Puta merda, Sally! Que susto! Achei que você estivesse morta!”. Desculpa, ta, Madame, se meu desmaio lhe foi inconveniente. Eu não tenho educação, saio desmaiando na casa dos outros… aff

MAMÃE TÔ NA GLOBO – Faz pouco tempo, correram diversos vídeos na internet e na TV, de torcedores do Corinthians que promoveram um quebra-quebra durante a venda de ingressos para a final do Campeonato Paulista. Adivinha quem eu vejo no meio da baderna dando porrada? Sim, Madame. Ele jura que não começou confusão nenhuma e que só estava se defendendo. Me mata de vergonha…

Para me perguntar o que Siago Tomir queria em troca de vestir uma sunga, para me perguntar se depois dessa postagem vai ter aquele DRAMA todo que ele fez depois que eu postei Siago Tomir II e para me pedir para começar a escrever o Siago Tomir IV: sally@desfavor.com