Eu sempre tiro onda aqui que detesto barraco em locais públicos, que acho deselegante, cafona, etc. Hoje venho contar sobre uma noite muito triste onde eu fiz um barraco em público por causa do meu ex-namorado Siago Tomir. Juro que não sei se isto é um Eu, Desfavor ou um Siago Tomir. Decidam vocês. Deliciem-se com a minha história loser.

Era aniversário de uma amiga muito querida. Essa minha amiga muito querida é uma pessoa descolada, moderninha. Escolheu comemorar em uma boate que… bem, não vou dizer que era GLS, porque não é bem isso. Vamos dizer que era uma boate onde tinha muitos GLSs. Porque aqui no Rio tem disso. Tem gradações. Tem lugares que só da GLS, tem lugares onde tem maioria GLS tem lugares onde tem minoria GLS. Mas que tem, tem.

Eu gosto. Na verdade, eu gosto muito. Costumo brincar que eu sou um traveco em um corpo de mulher (e o Somir briga comigo quando eu digo isso, já contei essa história, né?). Acho melhor, porque não ficam aqueles machos no cio te abordando. Na verdade, se eu puder escolher, nem vou a boate, mas se for GLS, dos males o menor.

Já Madame… Não que ele tenha preconceito, propriamente dito. Ele não está familiarizado. Na ChitãozinhoeXororolândia em que ele vive não tem disso não, ao menos não com a naturalidade que vemos aqui, de forma ostensiva. Porque eles não tem o menor problema de assumir sua iniciação sexual com uma cabra ou algum outro animal rural, mas vai um casal homossexual se beijar no meio do shopping para você ver se neguinho não olha torto. Olha sim.

Tudo fica pior se a gente pensar que Madame não gosta se sair de casa. Ponto. Para nada. Então, a primeira batalha era tirar Madame do Hotel. Depois, convencer Madame a sair com meus amigos do mundo da dança, que sofrem altíssimo nível de rejeição. Pior ainda seria convencer ele a sair de casa, com meus amigos e ir para uma boate. Se eu tivesse que citar uma certa predominância GLS, a coisa ficaria inviável.

Deixei para contar na hora: “Se veste que hoje tem aniversário da Fulana”. Madame, deitado na cama, apenas me olhou. Repeti a frase e Siago respondeu: “Está calor, eu não vou sair daqui, muito menos se for para ver homem dando em cima de você”. Sério. TUDO com ele é difícil. Ele tem um prazer quase sexual em dificultar qualquer coisa. Falei que se ele não fosse eu ia sem ele. Siago me olhou, meio que com desprezo e sacudiu os ombros como quem não se importa. A essa altura ele já me conhecia bem o suficiente para saber que não era verdade.

“Ok, vamos encurtar isso. O que você quer para me acompanhar?”. Gente vendida é uma merda. Siago começou a listar algumas exigências. Tinha de tudo um pouco: desde a minha roupa, até não dançar na festa. E tinha o tempo de duração: duas horas. Madame se acha um BBB. Cobra caro para comparecer duas horas no evento. E claro, havia coisas de cunho sexual também. Faltou pouco para ele pedir dinheiro também. Duvido que ele não tenha pensado em um valor em dinheiro.

Negocia daqui, negocia dali, Madame acabou topando. Numa boa? O karma de ex-marido é MEU, mesmo a outra lá tendo ficado casada com ele três ou quatro meses. Eu passei bem mais tempo com ele e tive que passar por coisas que só mulher com vinte anos de casada passa! Ele é MEU ex-marido, certeza!

Enfim, Siago foi se arrumar, resmungando entre os dentes. A cada cinco minutos repetia: “Duas horas, hein? Só duas horas!”. Eu deveria ter feito a seguinte proposta: “Ficaremos lá o tempo que você demorar para se arrumar”, porque puta que pariu, que noiva!

Chegamos ao local. A entrada já era meio moderinha. Siago estranhou. Do lado de dentro, os meus amigos da dança estava na pista, dançando de forma… próxima. Madame já começou com o terrorismo “Se você for para lá, eu abaixo as calças e mostro a bunda”. Ele sabia que me envergonhar surtia mais efeito do que me intimidar.

Sentamos na mesa da aniversariante. Estou eu de papo com a minha amiga, enquanto Siago Tomir, muito simpático, olha para seu relógio. Conversei uns quinze minutos com ela, quando vejo Siago Tomir de cara fechada. Estranhei. Ele é doido, mas nunca tinha implicado com conversa entre amigas. Perguntei qual era o problema dele e a resposta não podia ser outra: “Nada”.

Siago e eu sempre fomos um casal muito discreto. Mesmo quando éramos um casal com outras pessoas (entenda-se, ele com outra, eu com outro, antes da gente se conhecer). Detestamos essas demonstrações de afeto em público. Nada contra quem faz, mas a gente não se sente bem. Por isso, nem sempre percebem que somos um casal quando vamos aos lugares.

Estou vendo a tromba da Madame aumentar. Foi quando ele bufou. Quando Siago Tomir bufa, sai de perto! Perguntei para a minha amiga se ela estava percebendo o que estava acontecendo, e ela, que já o conhecia mais ou menos bem, disse “Amiga, acho que vamos ter problemas…”

Um rapaz muito, muito, muito sarado olhava para a nossa mesa insistentemente. Siago Tomir, abusado que é, olhava de volta. E Siago Tomir sofre de uma cegueira de amor perigosa: ele tende a achar que a mulher que está ao seu lado é tão maravilhosa, que todo homem do mundo vai dar em cima.

Siago Tomir achou que o rapaz muito, muito, muito sarado estava olhando para mim e começou a encarar o rapaz muito, muito, muito sarado. O rapaz muito, muito, muito sarado, por sua vez, continuou olhando. Vocês já devem ter percebido o tamanho da merda, né?

Minha amiga me perguntou se eu havia explicado a ele o lugar onde ele estava. Eu fiz que “não” com a cabeça. Por um segundo, cheguei a torcer para que o rapaz muito, muito, muito sarado estivesse mesmo dando em cima de mim. “É gay?” e minha amiga disse: “Não sei, Sally, não ta parecendo não…” Podia não ser, tinha muito homem hetero no local. E estava escuro. Falei para a minha amiga “Tomara que ele esteja dando em cima de mim” e ela “Tá maluca? Já já o Siago vai tomar satisfações com ele e vai apanhar”, ao que eu repondi “Amiga, se ele estiver dando em cima do Siago, quem vai apanhar SOU EU!”.

Tentei distrair Siago de diversas formas. Mas como o rapaz muito, muito, muito sarado não parava de olhar, Siago, em seu orgulho infinito (e em seu ódio de pessoas marombadas) também resolveu que ele não ia parar de olhar. Eles ficaram se olhando, ambos com caras indecifráveis por algum tempo. Me pareceu uma eternidade. Eu estava até enjoada de nervoso.

“Vai pra pista dançar, assim você chama uma briga e vai embora” – minha amiga sugeriu. Mas fiquei com medo de ser comigo, levantar e o sujeito me abordar. Siago ia partir pra cima dele (ou de mim). “Se joga no chão e finge uma convulsão!” eu falei para a minha amiga. Ela disse “Se joga você! É meu aniversário!”, e eu respondi “Eu não, tô de branco, vou me sujar…” e começamos a confabular. Nisso, o rapaz muito, muito, muito sarado levantou. Siago levantou também. Continuaram se olhando. Minha amiga juntou as mãos como quem reza e ficou repetindo “Não seja gay! Não seja gay! Não seja gay!”.

O rapaz muito, muito, muito sarado veio vindo na direção de Siago. Me bateu todo um desespero. Pulei no pescoço de Siago e disse “Quero fazer sexo com você A-GO-RA! Vamos para o banheiro!”. Ok, foi falta de finesse, até porque eu falei alto (pô, o som tava alto, foi necessário). Em minha defesa, só fiz isso porque fiquei com medo do cara matar o Siago de pancada. O que Siago fez? Percebeu o golpe e ME AFASTOU dele. Falou “Você! Você FICA AQUI, porque agora eu vou resolver uma coisa” e começou a dar a volta na mesa e esperar o sujeito, que vinha na direção dele.

Se eu soubesse rezar, eu tinha rezado naquele momento. Minha amiga, desesperada, puxou Siago gritando “Você nem me deu um abraço de parabéééééns!”. Corri para interceptar o rapaz muito, muito, muito sarado antes que ele chegasse em Siago: “Dá em cima de mim!” eu disse. Ele me olhou com cara de pena. Naquela hora eu soube como deve ser doloroso ser uma baranga, deve ser uma bosta homem te olhando assim sempre. “Por favor, DÁ EM CIMA DE MIM!”. Foi quando, para o meu desespero, ele soltou um “saaaaeeeee forrrrraaaahhh” completamente afetado. Virei para minha amiga, que abraçava Siago sem parar e fiz sinal de “fudeu” com as mãos.

Minha amiga me olhava com cara de desespero. Eu disse “Beija ele!”, apontando para o Somir. Ela me olhou em pânico. “BEI-JA! BEIJA NA BOCA!” – Eu repetia isso e simulava um beijo para ver se ela entendia. Se ela beijasse Siago, o rapaz muito, muito, muito sarado ia desistir dele e voltar para sua mesa. Ela fez que não com a mão. Eu gritei “PUTA QUE TE PARIU, FULANA! BEIJA ELE MASQUEMEEEERDA!”. Todo mundo me olhou estranho.

Não teve jeito. O rapaz muito, muito, muito sarado chegou no Somir. Corri para o lado dele. Começou o diálogo:

Rapaz muito, muito, muito sarado: “Percebi que você estava me olhando…”

Siago Tomir: “Eu que percebi você olhando” *estufando o peito

Minha amiga disse no meu ouvido “O cara vai beijar seu namorado na boca! Faz alguma coisa!”

Rapaz muito, muito, muito sarado: “Entaaaaaaoooouuuummm, a gentchi tava se olhaaaaandooo…”

Nesse momento caiu a ficha em Siago Tomir. Um dos seus olhos começou a latejar, coisa que sempre acontece quando ele está muito puto da vida. Quando o rapaz muito, muito, muito sarado deu pinta falando, Somir entendeu. Além do olho latejando, a veia na sua testa começou a saltar. Vi ele fechando o punho. E minha amiga me cutucando “Faz alguma coisa! Faz alguma coisa!”

Foi então que tudo aconteceu:

Sally: “Tu ta olhando pro MEU HOMEM, MERRRRMÃO?”

Somir fez uma cara de espanto como poucas vezes eu vi na vida. O rapaz muito, muito, muito sarado também.

Sally: “PERDEU A NOÇÃO DO PERIGO FOOOOI?” (detalhe que eu batia na cintura dele)

O rapaz muito, muito, muito sarado não sabia o que fazer. Acho que ele ficou paralisado em estado de choque. As pessoas do local começaram a parar para assistir.

Sally: “TE ENFIO A PORRADA, HEIN? TE METO A PORRADA!”

Minha amiga deu um tapa na própria testa

Sally: “LÁ FORA! EU E VOCÊ! VAMOS RESOLVER ISSO LÁ FORA SEU MERDA!”

Minha amiga começou a pedir que chamem os seguranças

O rapaz muito, muito, muito sarado começou meio que a rir de mim.

Sally: QUE QUE ÉÉÉÉÉ? TÁ ACHANDO GRAÇA Ô PALHAÇO!”

Minha amiga gritava pelos seguranças dizendo coisas como “Rápido, Sally vai morrer!”

Somir olhava com cara de “eu vou te matar assim que minha mulher parar de surtar”

Sally: “VEM! VEM NA MÃO!” e empurrei o rapaz muito, muito, muito sarado

Nessa hora surgiu um segurança não sei de onde e se meteu no meio. Comecei a me debater mais ainda e fui arrastada para fora do local pelo segurança. Quando estava sendo retirada, gritei “SIAAAAAAGOOOOO! Vão me bateeeeer” e ele veio correndo junto. Só me colocaram para fora ( e hoje eu estou na lista das pessoas que não são mais bem vindas no local).

Fomos para o carro. Silêncio ensurdecedor. Chegando no Hotel, um típico diálogo azedo do casal Sally e Tomir:

Siago: Se você tivesse me dito…

Sally: Você não ia, você sabe que você ia se recusar!

Siago: Não estou mais falando com você

Sally: O que eu te falei sobre usar essa barba no Rio de Janeiro?

Siago: Eu não estou mais falando com você…

Sally: Eu devia ter deixado aquele viado te enfiar a porrada!

Somir: Eu é que ia enfiar a porrada nele!

Sally: Tá bom Siago…

Somir: Não estou mais falando com você

Sally: Três dias?

Somir: A confirmar


SIAGO TOMIR – PIORES FRASES

Por incrível que pareça, todas estas frases foram ditas por Siago Tomir. Para não ser acusada de leviana ou manipuladora, quando necessário para a total compreensão da magnitude da frase, coloquei o contexto no qual ela foi dita.

“Mulheres cariocas parecem mulheres das cavernas: pouca roupa e cabelos enormes” (ao ir a uma festa comigo, em pleno verão)

“Gatos podem se virar sozinhos, gatos sabem caçar, você mima muito o Goiaba” (defendendo-se do esporro que estava levando por vir ao Rio de Janeiro e esquecer de deixar comida para o gato)

“Não me interessa, você também tem cu” (tentando me convencer que um amigo meu dava em cima de mim, depois que eu disse que ele era assumidamente gay)

“Eu não ronco, no máximo tenho uma respiração forte” (alguém por favor avisa para a OMS o novo nome da doença?)

“Você é maluca se pensa que o Corinthians vai cair, mulher realmente não entende nada sobre futebol!” (sobre um possível rebaixamento do Timão para a série B)

“Não quero falar sobre isso” (quando o Timão efetivamente caiu para a série B)

“Depende do que você chama de ter alguma coisa” (quando perguntei se ele já teve alguma coisa com uma amiga dele)

“Não sei” (respondendo quando eu disse que achava que ter alguma coisa era já ter beijado a boca da pessoa)

“Minha memória é ruim, você sabe disso” (quando eu falei meia dúzia de palavrões após ele dizer a frase anterior)

“Que eu me lembre, não” (dando uma de Rafael Pilha, em um ultimato para responder a pergunta)

“Só é nojento se tiver alguém vendo” (sobre as porcarias nojentas que ele faz)

“Não me interessa se o fax está com problemas, construa um fax compre um fax, cague um fax, amarre na pata de um pombo-correio ou manda por telepatia, sua função é fazer isso chegar HO-JE” (fazendo a estagiária chorar)

“Gordo tem obrigação de ser simpático, burro de ser esforçado e pobre de ser limpinho” (filosofando)

“Quando as pessoas estão em grupos invariavelmente se comportam como macacos” (no Maracanã, na torcida do Flamengo, segundos antes de ter que sair correndo de lá para não apanhar)

“ISSO acontece sempre aqui?” (apontando de forma nada discreta para um casal de homens que se beijava de forma ostensivamente de língua em um cinema carioca, na cadeira ao lado da nossa)

“Eu gosto da minha esposa, estou recém casado, não vou terminar meu casamento” (poucas semanas depois de conversar comigo no MSN pela primeira vez)

“Campinas é uma cidade tão moderna que tem até shopping” (ATÉ shopping! Uau! Em breve a NASA abre uma filial por lá…)

“Pede pro seu personal” (resposta que recebi quando pedi que ele instale um anti-virus no meu computador)

“Mudou de personal? Me diz o nome da pessoa que eu vou odiar daqui para frente…” (informado sobre mudança do personal que ele tinha cisma)

“Atriz é tudo puta. Se beija vários homens pelo dinheiro, é puta. Se faz porque gosta, também é puta. Tudo puta!” (em uma mesa de bar, mostrando como tem a mente aberta)
“Eu não lavo louça, eu sou o Rei da casa” (se recusando a lavar um único garfo que estava na pia)

“Isso não é coisa de macho, hoje é isso, amanhã vai estar pintando a unha de vermelho” (sobre homens que se depilam)

“A parte de cima está ótima, agora vai vestir a calça” (sobre um vestido que usei no aniversário dele)

“Mudou o cabelo? Cortou?” (quando pintei o cabelo de loiro para preto profundo e perguntei se ele notava algo diferente no meu cabelo)

“Um dia desses seu cu vai explodir” (me vendo malhar)

“Digno mesmo é rebolar a bunda para viver, não é mesmo?” (rebatendo as críticas de um amigo meu professor de dança sobre uma campanha publicitária que fez de um produto duvidoso)

“Porque estão soltando fogos às três da manhã?” (sobre os ruídos de metralhadoras que ouvia do quarto do hotel)

“Se a gente tiver um filho, vai nascer o anticristo” (após me ouvir discorrer sobre o que penso das Paraolimpíadas)

“Quem disse que fui eu?” (indignado, com um pedaço de chocolate no canto da boca, quando eu o acusei de comer o último pedaço do meu bolo)

“Foi ele” (apontando para o gato quando eu perguntei quem havia sido, se não havia sido ele)

“É mais macho que eu” (Sobre a Lindamar)

“Até seus cremes são complicados… não pode ser Seda não?” (quando pedi que ele traga um creme para cabelo da marca Schwarzkopf em uma viagem que ele fez)

“Gatos não precisam de banho, meus gatos nunca tomaram banho, você é uma fresca” (menosprezando minha preocupação com um gato que entrava enlameado pela casa depois de passar uma noite rolando na bosta e no lixo do lado de fora)

“Os homens do mundo se dividem em duas categorias, os que já te comeram e os que querem te comer” (em Campinas)

“Pensando bem, os homens do mundo se dividem em três categorias: os que já te comeram, os que querem te comer e os que querem me comer” (no Rio de Janeiro)
“Tsssst! O Papai aqui sabe o que faz!” (censurando minhas advertências, segundos antes de levar um choque que o atirou a três metros de distância ao mexer em uma tomada)

“Eu fumo para o seu bem. Eu durmo pouco para o seu bem. Eu me alimento mal para o seu bem. Quanto mais detonada estiver minha saúde, menos aparente vai ficar a nossa diferença de idade, pense nisso” (tentando me convencer a ser conivente com seu estilo de vida autodestrutivo)

“Alguma coisa deu errado, acho que eles gostam de mim. Onde foi que eu errei?” (deprimido porque, apesar dos seus esforços para ser repulsivo, encontrou admiradores no blog)

“Com a pele da tua mãe” (respondendo a eco-chato com a pele de que animal era feita a gola do casaco dele)

“Massageia meus pés que eu massageio o seu ego, a vida é uma troca” (pedindo massagens em troca de responder se eu estava bonita com um vestido novo)

Para dizer que me despreza por ter namorado Siago Tomir, para dizer que concorda com a maior parte das frases dele e para dizer que paulistas e cariocas são o grande desfavor do Brasil: sally@desfavor.com

O que mais me choca é que mesmo depois de ANOS sem honrar os compromissos, eu ainda sou idiota o bastante para acreditar nele quando ele me manda um e-mail dizendo “Não se preocupe com a postagem de hoje, talvez atrase mas vai sair, nem que seja mais tarde. Nem precisa preparar Siago Tomir”. Daí eu usei meu tempo livre do dia para coisas muito produtivas, tipo fazer uma massagem relaxante.
Quando chego em casa, cansada e faminta, vejo que Madame não honrou seu compromisso do dia. Então, em vez de ir dormir, mesmo estando caindo de sono, eu tenho que esperar até meia noite para confirmar o que todo mundo já sabe: mais uma vez, prometeu e não cumpriu. Tá achando que um e-mail me desobrigando de Siago Tomir vai bastar para que eu não escreva? É o caralho. Escrevo merrrrrmo, nem que amanhã fique babando de sono o dia todo (que é o que vai acontecer).

E como hoje a sacanagem foi MUITO GRANDE, a resposta vai ser proporcional.

SIAGO TOMIR NO AVIÃO

Por causa da distância que nos separava, Siago Tomir foi obrigado a fazer diversas viagens de avião para me vez. Até aí, tudo normal. Até que um dia eu fui para lá e depois voltamos juntos para o Rio.
Já no embarque Siago Tomir suava. Não entendi bem o que estava acontecendo. Perguntei se ele se sentia bem e ele apenas fez que sim com a cabeça. Em determinado momento teve um surto de “eu preciso fumar”, ao que eu respondi de forma muito educada (cof!cof!) e muito delicada (cof!cof!) que ele não iria fumar.
Quando entramos no avião foi que eu me dei conta do que estava acontecendo. Siago Tomir tem pavor de avião. PAVOR. Tremia todo e ainda dizia que a culpa era minha por não ter deixado ele fumar. Tremia e suava. Uma Senhorinha ao lado dele começou a consolá-lo “Calma, meu filho, avião é um transporte seguro, vai dar tudo certo…”. Siago Tomir odeia que sintam pena dele. Começou a me culpar em voz alta, para provar que não tinha medo de avião.
Quando eu ouvi isso, ri alto e falei “CAGÃO!”. Siago Tomir ficou um tanto quanto chateado com essa postura. Vamos combinar que medo todo mundo tem direito a ter, mas ficar tentando esconder que tem medo sem sucesso é patético! Ou assume o medo, ou então disfarça bem disfarçado. Ficar negando o que está na cara de todo mundo é uma ofensa.
Pois bem. Siago Tomir começou a discutir comigo, muito nervoso, dizendo que não estava com medo e que era uma síndrome de abstinência por causa do cigarro. Era medo. Certeza. Eu sei reconhecer medo. Olha, eu sou uma boa namorada, eu sou compreensiva. Se ele tivesse dito que estava com medo, e nem precisava ser nessas palavras, eu teria ficado quieta. Mas negar uma coisa tão evidente e ainda jogar a culpa EM MIM me aborreceu. Principalmente em uma hora em que ele me mandou calar a boca. Isso me aborreceu bastante. Ele berrou para que eu cale a boca. Erro. Erro, erro, erro.
Comecei dizendo que ainda bem que não é medo de avião, porque eu acho super viadinho quem tem medo de avião”. Ele começou a suar mais ainda. Fecharam as portas. Lá pelas tantas passou uma aeromoça para ver se nossos assentos estavam na posição correta e perguntar se precisávamos de alguma coisa e eu disse “Meu namorado aqui precisa de uma fralda geriátrica” e fiquei rindo. Ela era meio troll e respondeu “Ele ta com medo? Segura na mão dele! Hahahaha”. Todos riram, inclusive as pessoas da poltrona de trás.
Siago Tomir começou a crescer para cima de mim (e não foi no bom sentido). Disse que eu estava querendo irritar ele e que eu era a culpada daquilo porque agora ele não poderia mais fumar e a tremedeira era um efeito físico da falta de cigarro. Detalhe que ele ficava dias sem fumar e nunca teve nada, mas tudo bem. O avião começou a se movimentar. Siago Tomir levou os dedos à boca. Eu me vinguei de todo o deboche dele sussurrando ao seu ouvido “Tá mais calminhooo?”.
Siago Tomir começou a dar faniquito. Eu falei para ele deixar de ser viadinho e um rapaz na poltrona de trás começou a rir e me disse em tom de voz amistoso que ele era gay e que não tinha medo de avião, que era melhor chamar de frouxo mesmo. Siago Tomir ficou roxo de raiva.
Quando o avião decolou ele já não falava mais comigo. Em compensação, a senhorinha idosa que me mandou pegar na mão dele falava, falava pra caralho. Ficou derramando aquelas palavras de pena humilhantes tipo “Coitadinho do menino! Ele está apavorado!” e eu só via as veias de Siago Tomir saltando no pescoço e na testa. Ele sabia que o avião todo se voltaria contra ele se ele fosse deselegante com a idosa.
Ciente disso, eu comecei a pilhar a idosa. “Isso, ajuda ele, vai fazer bem ouvir uma opinião mais experiente…”. Siago Tomir fez um sinal dando a entender que me mataria quando saíssemos do avião. A comoção foi tanta que um homem levantou de uma poltrona lá de trás e se apresentou, dizendo que era médico, perguntando se ele estava passando mal. As pessoas comentavam “Coitado, ele está tão nervoso que está passando mal“.
Doutor!” – eu me meti – “O Senhor caiu do céu!”. Siago Tomir afundou a cara nas mãos. “Meu namorado está tendo tremores, suando, está vermelho e muito nervoso e está achando que é a falta de cigarro, mas eu acho que não é”. O médico olhou com atenção para Siago Tomir e voltou para a poltrona dele. Retornou com um aparelho de pressão enquanto Somir repetia que estava bem. Nos afastamos para que ele pudesse medir a pressão do Somir, que permitiu muito contrariado, depois que o médico insistiu muito. O médico olhou preocupado e disse que a pressão dele não estava “nada boa”.
Pode ser do cigarro, Doutor?” – Eu perguntei com cara de inocente. O médico disse que não e perguntou se ele estava nervoso. Siago Tomir berrou “EU NÃO ESTOU NERVOSO!!!”. Longo silêncio no avião.
A senhorinha idosa segurou a minha mão e me disse “Você deve ser uma mocinha muito paciente” e eu fiz cara de choro e disse “Se a senhora soubesse, ele me trata tão maaaal”. O avião todo rogava pragas para Siago Tomir nesse momento. “Quer que eu converse com ele?”, a idosa disse. Somir fazia sinais frenéticos de “não” pelas costas da idosa. Eu respondi “Por favor, converse sim, troque de lugar comigo e coloque um pouco de juízo na cabeça desse menino!”. O golpe de misericórdia eu dei antes de colocar meu fone de ouvido com funk proibidão e começar a ler minha revista: “Sabe qual é o problema dele? Falta Jesus no coração dele!”.
A idosa passou a viagem toda pregando valores para Somir e falando da importância de Jesus na vida das pessoas, enquanto eu lia minha revista com fone de ouvido. No momento em que tirei o fone do ouvido para comer um lanchinho que a aeromoça veio me oferecer, pude ouvir um trecho da conversa, quer dizer, do monólogo: “(…) meu filho, Jesus te ama, você precisa rezar mais, olha a sua namorada, uma menina tão boa, tão temente a Deus! Deus deu forças para ela, ela não está com medo de avião”. Fiz um joinha para Siago Tomir enquanto fazia coreografias de funk sentada na poltrona e coloquei meu fone de ouvido de volta.
Quando o avião parou, Siago Tomir não só não falava comigo como também não olhava mais para a minha cara. Fomos pegar as malas ao som de comentários como “Olha lá o rapaz que tem tanto medo de avião que passou mal no vôo!” e similares.
Minha mala apareceu na esteira e eu pedi para Siago Tomir pegar. Ele apenas respondeu “HÁ!” e continuou a me ignorar. Eu disse a ele que ele seria castigado por isso e ele debochou perguntando se Deus lançaria um raio nele por não pegar a minha mala. Tempos depois a mala dele apareceu e quando ele foi pegar, a mala abriu deixando cair no chão cuecas e outros pertences pessoais. Siago Tomir catou tudo roxo de raiva enquanto eu fazia a minha dancinha da vitória e mandava um joinha para o céu dizendo “Mandou bem! Mandou bem!”
Quando estávamos saindo do aeroporto, fiquei parada e disse a Siago Tomir que mais cedo ou mais tarde ele teria que falar comigo, então, que fosse naquela hora para que a gente não passe o pouco tempo juntos brigados. Gente teimosa é foda. O que ele fez? Gritou mais uma vez que não tinha medo de avião.
Peguei meu telefone e liguei para minha sogrinha, um amor de pessoa por sinal, e deu-se a seguinte conversa, no viva-voz:

Sally: Oi Fulana! Tudo bem?
Sogra: Tudo, Querida, chegaram bem?
Sally: Pois é, chegamos, mas seu filho me deu um trabalho…
Sogra: Porque?
Sally: Ficou nervoso, fez malcriação…
Sogra: É mesmo?
Sally: ééééééé!
Sogra: Não sei onde foi que eu errei com o Siago
Sally: Tudo bem, no fundo, lá no fuuundo, ele é uma boa pessoa
Sogra: Sally, releva, ele estava nervoso
Sally: Mas… será que eu fiz alguma coisa que chateou ele?
Sogra: Que nada! Ele sempre fica nervoso assim, ele tem pavor de avião

Eu pulava e fazia dancinha da vitória com o telefone na mão, enquanto Siago Tomir dizia que eu era ridícula e estava fazendo ele passar vergonha. Apesar de estar todo errado, me deu um longo esporro e disse que nunca mais viajava comigo de avião (promessa que ele de fato cumpriu).

E eu dei o telefone de Siago Tomir para a idosa. Mas nunca soube se ela ligou ou não.

Para me dizer que falta Jesus no meu coração também, para dizer que Siago Tomir além de não ter palavra é um cagão e para perguntar porque será que ele nunca escreve um Samy Solir: sally@desfavor.com

Boa noite, Queridos Leitores.

Para quem não sabe, o esquema das postagens conjuntas é o seguinte: Somir escreve o texto dele e eu escrevo o meu, em separado, depois a gente junta. Nosso combinado é que o tema do Desfavor da Semana seja estipulado até, no máximo, SEXTA FEIRA DE MANHÃ, para que tenhamos tempo de pesquisar e escrever um bom texto. Cada um passa e-mail para o outro com sugestões e no final a gente decide o tema.

Na QUINTA FEIRA eu encaminhei um e-mail para o Somir dando minhas sugestões de desfavor da semana. Salvo engano, os temas eram a confusão na embaixada do Brasil em Honduras com o Presidente deposto, uma lei que incentiva funk e lhe confere uma série de privilégios, emenda promulgada pelo Congresso que aumenta o número de vereadores, Amy Drogada cuspindo em uma criança que importunava sua afilhada no colégio, um jornal espanhol dizendo que Ronaldinho deveria aprender a ler, o Ministério Público Federal ajuizando ação idiota para proibir a venda de H2O e Aquarius e, por fim, a briga cheia de ofensas de baixo nível do Governador do Mato Grosso com o Minc.
Até a presente data, não obtive um posicionamento da Madame a respeito do tema. Considerando que o prazo para se manifestar sobre a escolha do tema expirava ontem, acredito que houve todo um desinteresse dele pelo assunto. Como eu tenho um compromisso importante dentro de duas horas, não posso mais aguardar pela boa vontade alheia. Como eu também tenho compromisso com meus leitores, não vou deixar um dia em branco, por isso, deixo aqui minha postagem de hoje.

SIAGO TOMIR FAZENDO DIETA

Quando eu me presto a fazer alguma dieta, regime, reeducação alimentar ou coisa que o valha, estou plenamente ciente de onde estou me metendo: restrições alimentares que me acarretarão algum tipo de privação e sacrifício em troca de um fim a ser alcançado. Infelizmente, na SiagoTomirlândia, não é assim que funciona. Ele acha que ocorrerá um milagre e ele fará dieta sem passar por qualquer sacrifício.
Tudo começou quando eu arrastei Siago Tomir para fazer exames em um clínico geral, em função de um mal estar constante que ele vinha sentindo. Após muitos exames, constatou-se que ele estava realmente com problemas, a ponto de ter que sofrer uma cirurgia. A indicação médica era para que ele seguisse uma dieta rigorosa durante um tempo.
Siago Tomir, sob efeito do susto da cirurgia, se dignou a cuidar um pouco da sua saúde e aceitou fazer a dieta. E quando eu digo que ele aceitou fazer a dieta, quero dizer que ele aceitou COMER a comida, porque quem comprou, cozinhou e serviu foi a palhaça aqui. Sentou para conversar comigo, me pediu ajuda. Disse que estava muito assustado com as possíveis conseqüências de seu estado de saúde e que não tinha capacidade de se disciplinar, por isso precisava da ajuda de alguém disciplinado, como eu. Concordei em ajudá-lo. Quão burra eu sou???
Com uma listinha curta das coisas que ele podia comer, comprei os itens permitidos e tentei cozinhar coisas minimamente agradáveis. Acontece que, quando você não coloca gordura, fritura, sódio e açúcar, a comida tende a não ficar muito apetitosa.
No primeiro dia, eu alertei que a comida não seria propriamente gostosa. Ele sabia que eu cozinhava bem, sempre cozinhei para ele e ele sempre gostou. Eu expliquei que desta vez seria diferente, porque a matéria prima era outra. Gastei saliva para nada. No que ele deu a primeira garfada, soltou a primeira pérola de gratidão: “Puta que pariu, Sally! Desaprendeu a cozinhar?”.
Além de tudo, as quantidades eram restritas. Ele tinha que comer pouco, em intervalos curtos de tempo. E ficou em um tremendo mau humor por causa disso. Ele estava intratável!
Todas nós já fizemos dieta alguma vez na vida e sabemos que não é agradável passar fome, mas porra, a gente atura calada, sofre em troca de um objetivo. Não descontamos em ninguém nem fazemos drama. Siago Tomir GRITAVA comigo o tempo todo: “VOCÊ QUER ME MATAR DE FOME, SALLY! É SÉRIO, EU ESTOU TONTO! SE EU MORRER A CULPA É SUA”.
Em uma noite, eu fiz uma sopa com os ingredientes permitidos e servi para Madame comer. Fui ao banheiro lavar as mãos e quando voltei vi uma montanha branca no prato dele. Madame tinha colocado uns 5kg de queijo parmesão na sopa! Expliquei para ele que não poderia comer queijo parmesão, porque era gorduroso e tal. Ele quase me matou enfiando a colher na minha garganta: “VOCÊ ESTÁ COM RAIVA DE MIM? É ISSO? QUER ME SABOTAR? TÁ AQUI ÓÓÓ! QUEIJO BRANCO PODE!”. Tentei explicar que parmesão não era queijo branco mas ele se descontrolou novamente: “NÃO? NÃO? NAÃÃÃÃÃOOOO ENTÃO QUAL A COR DISSO AQUI? ROSA?”.
Sem contar que ele me chamava de maluca o tempo todo. No meio da tarde, quando ele tinha direito a comer apenas um iogurte natural, ele achava bacana reclamar ME ofendendo: “Você é MALUCA, Sally, MA-LU-CA, não sei como você consegue fazer essas dietas! Você é louca!”. Eu apenas olhava com cara de desprezo.
Teve um dia que ele sentiu uma fraqueza inerente a quem faz dieta e achou que estava morrendo de inanição. Fez um escarcéu. Disse que ia morrer naquela noite e que precisava comer um hambúrguer para sobreviver. Mandei ele calar a boca e comer o pedaço de Tofu que lhe era destinado, e ele fez um trocadilho grosseiro com o nome Tofu.
Passava o dia todo reclamando que aquilo não era vida, que preferia morrer do que viver assim e que eu era uma pessoa sádica que gostava de ver ele sofrendo. Cansei de dizer que estava ajudando ele a seguir as ordens médicas mas parece que na cabecinha dele eu não deixava ele comer nada do que ele queria por pura maldade.
Um dia, estou dormindo em paz quando ouço um barulho no quarto: tssssss Não, ninguém peidou. Era Siago Tomir tentando abrir uma latinha de Coca-Cola que ele havia contrabandeado não sei como para dentro da casa. Liguei a luz, tomei da mão dele e joguei tudo na pia. Ele fez uma cena de novela, gritando e apontando para a mim dizendo que eu ia pagar caro por aquilo. Siago Tomir é uma pessoa difícil de cuidar.
O curioso é que quando a dieta começou, ele jurou que seguiria todas as indicações médicas. Parecia determinado. Três dias depois estava espumando de raiva e me oferecendo bens materiais em troca de uma pizza. Impressionante como Siago Tomir não tem disciplina.
Teve um dia que Siago Tomir estava tão desesperado que estava comendo meus produtinhos para ganho de massa muscular, só porque tem sabor de chocolate. Entrei na sala e vi Madame mordendo uma barra de proteína. Na hora olhei para ele e disse “COS-PE!” e estendi a mão. Madame cuspiu na minha mão e bufou. Dei um “pedala” no pescoço dele e fui dormir.
Tomar conta de Siago Tomir foi mais difícil do que tomar conta de criança. Mais difícil que tomar conta de filhote de cachorro. Siago Tomir reclamava o dia todo, se fazia de vítima o dia todo e tentava roubar comida o dia todo. Tinha que ter colocado uma máscara nele, tipo aquela máscara do canibal do filme “Silêncio dos inocentes”.
E quando ele me acordava no meio da noite para dizer que estava com fome? Eu levantava a cabeça do travesseiro cheia de sono e mandava ele comer uma fruta. Ato contínuo vinha uma sequência indescritível de palavrões. Vou te falar, é muito amor, muito mesmo, porque aturar isso não é para qualquer um.
Um dia ele teve um ataque de “você não manda em mim”. Aliás, by the way, de tempos em tempos ele tem um ataque de “você não manda em mim”. Disse que ia comer o que ele quisesse, porque eu não mandava nele. Fiquei parada olhando para a cara dele, bastante séria. Ele ficou me olhando de volta. Ficamos nos olhando uns cinco minutos até que ele gritou que eu odiava ele, foi para o quarto e bateu a porta.
Uma tarde ele disse que estava passando mal. Perguntei o que ele estava sentindo e ele levou as mãos ao estômago e disse “Aqui! Sinto uma dor, um barulho aqui!”. Fiquei olhando para ele e depois dele descrever um pouco mais sobre o passar mal, respondi “Não, você não está passando mal, está com FOME, que é um leve desconforto. Cala a boca e agüenta!”. Porra, metade das mulheres do mundo vive com fome e nenhuma delas faz esse escândalo todo!
Teve um dia que ele cismou que era eu que não sabia cozinhar. Disse que naquela noite ELE faria o jantar. Pegou os ingredientes permitidos e fez uma gororoba tão sinistra que até mesmo os gatos viraram a cara. Ninguém conseguiu comer. E quando eu joguei no lixo, do lado de fora da casa, nem as moscas se atreveram.
Ele entoava mantras de auto-vitimização o dia todo: “Isso não é vida!”, “Não agüento mais um dia assim” e coisas parecidas. Quem escutava achava que eu estava torturando Siago Tomir. Inclusive teve uma noite, que eu acho que foi um dos piores momentos, que ele disse que me mataria se alguém lhe oferecesse em troca uma batata frita. Completamente transtornado o rapaz.
E os argumentos infantilóides para tentar me convencer que poderia comer determinado alimento? “Mas Sally, você não está raciocinando. Veja bem, aqui diz que eu posso comer arroz integral. Se eu posso comer arroz integral, eu posso comer arroz branco também, afinal, arroz branco é só o arroz integral sem casca! É a mesma coisa…”. Eu apenas levantava meu dedo médio para ele e continuava cozinhando. Daí ele reagia de forma muito madura, gritando que eu era sádica e o odiava.
Teve um dia que ele ameaçou comer um creme para o corpo meu com aroma de chocolate em um ato de desespero. Pura chantagem. Ficou duas horas naquele terrorismo de “Olha que eu como, hein?” e eu nem dando bola. Teve uma hora em que ele me encheu tanto o saco que eu peguei o creme da mão dele, meti o dedo dentro e depois meti na boca de Siago Tomir e perguntei se estava gostoso. Ele ficou passando mal o resto do dia e mais dois dias sem falar comigo.
No final das contas, quando ele voltou no médico sua saúde estava bem melhor e as possíveis conseqüências ruins não aconteceram. Ele perguntou ao médico se podia fazer “vida normal” e o médico lhe disse que sim. Só que ele esqueceu de dizer ao médico que “vida normal” na Somirlândia é comer a gordura da picanha, uma pizza inteira, uma caixa de nuggets por dia e coisas piores.
Quando eu ousava lembrar que o que ele estava comendo poderia ser nocivo para sua saúde, ele enchia a boca para falar que o médico tinha liberado e que eu odiava ele e queria vê-lo sofrer. A Elma Chips voltou a apresentar lucro em seus balancetes mensais quando Siago Tomir saiu da sua dieta. Pergunta se ele alguma vez na vida depois disso voltou ao médico para saber como evoluiu seu estado de saúde? Não volta nem amarrado, afinal, segundo ele, “vai que esse filho da puta me manda fazer dieta de novo?”
Depois vem aqui nos comentários pregar a supremacia da raça masculina como forte, superior e dominante. Manucu Somir!
Para me dizer que Somir é intratável, para me dizer que da próxima vez que Somir fizer dieta tem que chamar o Cesar Millan para discipliná-lo e para me perguntar se eu era namorada ou mãe dele: sally@desfavor.com

Eu conheço bem meu companheiro de blog. Por isso tenho diversos episódios de Siago Tomir escritos, prontinhos para serem copiados e colados aqui: porque sei que ele é incapaz de cumprir metas, horários e qualquer obrigação em determinadas fases de sua vida. Bom, pelo visto, esta é uma delas. Aparentemente ele está sem internet e aparentemente ele não pode usar o horário do almoço dele, como eu faço, para escrever o texto do dia seguinte em uma lan e me enviar por e-mail, porque “nem fodendo que eu vou deixar de comer, você é doente” e blá blá blá.
Por sorte, um de nós é responsável. Com vocês, mais um SIAGO TOMIR.

Hoje conto a vocês como introduzi (ou melhor, como tentei introduzir) Siago Tomir no mundo da musculação.

Não, não foi capricho nem futilidade. Quem conhece meus ex-namorados sabe que eu sou eclética e vou a extremos: tem dos modelos mais lindos até os barangos mais feios. Meus caros, só tem um corpo que eu não abro mão que seja sarado nesse mundo – o meu. O grande estopim que me fez convencê-lo a malhar foi um problema de saúde de Siago Tomir, onde ele realmente precisava de uma atividade física e dentre elas, a musculação era a mais indicada (palavras do médico, juro).

Existe uma peculiaridade sobre Siago Tomir que vocês talvez não saibam: Siago Tomir não dorme. E gosta disso. E tem orgulho disso. E quando você tenta convencê-lo a dormir ele faz um “Tssst!” (numa vibe meio Cesar Millan, visualizaram?) e declama: “Dormir é para os fracos”. Como todo arrogante, egoísta e individualista, ele se acha imortal. Então, na véspera de ir a seu primeiro dia de academia, Siago Tomir estava saracoteando pela casa às duas da manhã, enchendo os cornos de coca-cola e jogando um jogo de guerra no vídeo-game. Recomendei que ele durma e tomei um “Tssst!” no meio dos cornos. Fui dormir sem ele.

Já havia sido uma batalha tremenda convencê-lo a se matricular em uma academia, aquela choradeira, ameaças dizendo que eu não queria estar ao lado de alguém que se destruía, chantagem perguntando se ele queria que seus filhos vejam o pai morrer aos 40 e essas coisas que eu faço. Quando ele sentiu que a coisa ia escaralhar, tanto do ponto de vista do problema de saúde quanto da minha paciência, ele concordou.
O que pessoas como ele não entendem é que não basta se matricular em uma academia. É todo um ritual, é toda uma mudança de estilo de vida. São novos hábitos, nova alimentação, nova rotina. Siago Tomir foi se deitar com o nascer do sol, como de costume. Mais ou menos três horas antes de tocar meu despertador.

Quando o despertador tocou, ele estava praticamente em coma. Sim, porque Siago Tomir não dorme, Siago Tomir entra em mode off. Eu já conhecia a figura, então nem me dei ao trabalho de gritar ou coisas do tipo, isso não resolve. Me arrumei e disse “Estou pronta, você vem?”. Siago Tomir fez um sinal de “joinha” com o dedo sem desenterrar a cara do travesseiro e continuou dormindo. Repeti em voz alta “SIAGO! Estou indo, ta? Pelo menos me dá um beijo…”. Desconfie quando uma mulher te pede beijo. Beijo é o caralho, eu queria é que ele olhe para mim. Siago Tomir se levantou para me dar um beijo no piloto-automático, quando viu as minhas roupas. Acordou que foi uma beleza.

“VOCÊ VAI ASSIM? ASSIM? ASSIIIIIIIM?”. Não, nunca que eu ia daquele jeito que não sou maluca nem nada, mas falei que ia assim. Ele acordou rapidamente e começou a debochar (o deboche dele é o primeiro sentido a acordar) me perguntando se eu iria à praia e etc. Fiz uma proposta: eu colocaria uma calça e uma camiseta se ele fosse. Ele concordou. E dez minutos depois se ofendeu, porque de manhã ele tem esse delay mental, ele demora para entender tudo, inclusive quando foi manipulado).

Chegamos na academia. Um simpático instrutor que atendia por “Jão”, e que Siago Tomir jura de pés juntos que não tem cérebro, conversou conosco. Siago disse que não confiava em Jão e que achava que ele não tinha nem polegares opositores, então, sugeri que ele faça a MINHA série, uma série PARA UMA MENINA de um metro e meio e que tente o instrutor do dia seguinte para ver se lhe inspirava mais confiança.

Siago Tomir riu. Siago Tomir disse, e eu guardei muito bem estas palavras, que estava antevendo briga porque eu era muito competitiva e um novato pegaria mais peso do que eu. Sim, Siago Tomir merece que esta história seja contada por toda a eternidade para deixar de ser babaca arrogante.

No primeiro exercício, eu fiz as minhas repetições e quando ele sentou no aparelho, com o mesmo peso, ele disse “Sally, está quebrado”. Fiquei olhando. “Sally, está quebrado, não mexe”. Mandei ele fazer força e ele me deu uma patada ríspida dizendo “Gênia! Estou dizendo que está quebrado, estou fazendo força mas não mexe!”. Tirei Siago Tomir do aparelho, sentei e fiz mais repetições. Ele ficou olhando de boca aberta. Um marombeiro começou a rir no aparelho do lado. Isso mexeu com a honra de Siago Tomir.

“SAI DAÍ!” e ele me puxou para fora do aparelho. Para falar a verdade, ele me arremessou para fora do aparelho. Sentou com toda a determinação do mundo e começou a fazer força. Começou a ficar vermelho e a veia na sua testa começou a saltar. Tentei intervir dizendo que aquilo não era uma competição (mentira, eu estava competindo com ele, eu sou competitiva) e que ele estava ali atrás de saúde, mas ele me conhece bem e gritou “TÁ COMPETINDO SIM! TÁ COMPETINDO SIM!” e eu fiz a minha dancinha da vitória.

Ok, a dancinha da vitória (uma dancinha que faço sempre que ganho algo) foi um exagero. Siago Tomir ficou tão irritado, mas tão irritado que conseguiu concluir o movimento do aparelho. Só não conseguiu sair dele. Ficou lá uns dez minutos com taquicardia se recuperando. E a manhã toda foi assim. Siago Tomir se matando para acompanhar meu peso sem conseguir, fazendo uma movimentação toda errada, movimentos curtos e roubando descaradamente em vez de diminuir o peso.

Quando acabamos ele nem falava mais. E nem precisava, porque o olhar de ódio falava por si só. Começou a reclamar que estava enjoado e quando eu disse que era normal ele disse que EU não era normal (olha que injustiça…) e que eu era sádica, e que eu queria ver ele morto. Coisas assim. Por sorte o fôlego era pouco e ele não conseguiu se estender no discurso. Na saída, Jão deu um tapa nas costas dele (que quase o fez cair no chão) e disse “Te vejo amanhã”. Eu puxei Siago antes que ele solte um palavrão. Chegando no carro foi que eu vi como a coisa era grave, porque ele me deu as chaves com uma lágrima no canto dos olhos. Minha gente, para Siago Tomir me dar, voluntariamente, sóbrio, as chaves do carro dele, o fim do mundo estava chegando.

Fiquei muda, entrei no carro e olhei para ele. Vi que não havia condições dele dirigir. Ele se jogou no banco feito um saco de batatas. E ficava repetindo o quanto ele me odiava. Foi um momento de romance único em nosso relacionamento.

Chegando na casa dele, tomou um banho quente de umas três horas seguidas, e cada vez que me via deixava bem claro os sentimentos dele por mim (ódio e similares). Saiu do banho e dormiu, no meio da tarde, e só acordou no mesmo horário do dia seguinte, isso porque eu o cutuquei de longe com um canudo para ver se ele estava vivo (porque Siago Tomir bate se você tentar acordá-lo encostando nele, sim, ele é quase um animal selvagem). Quando ele acordou, eu perguntei se ele estava bem e ele continuou imóvel na cama, apenas disse “Não, não estou bem, Sally. Tudo dói” e eu poupei o trabalho dele “E você me odeia, certo?”. E ele: “Sim, Sally, no momento, eu te odeio”.

O engraçado foi quando ele levantou da cama. Já viram o desenho Bambi? Sabe aquela cena depois que o Bambi nasce, onde ele tenta aprender a andar? Esse era Siago Tomir tentando chegar até o banheiro. Fui rir na cozinha para ele não me odiar mais ainda.
Quando ele conseguiu se arrastar até a sala, começou a berrar que estava com fome. Comeu feito um boi e ainda culpou a atividade física por isso “Tá vendo? Tá vendo, Gênia? Malhar engorda! Eu como mais quando eu malho!”. Nem me dei ao trabalho de explicar, porque ele já emendou uma teoria completamente descabida daquelas que ele usa no Flertando com o Desastre, onde não há espaço para questionar, porque se você questiona você é burra e não entendeu os argumentos dele (impossível um ser humano entender e discordar, imagina…)

Passou esse dia todo entrevado. Mas pelo menos dormiu cedo. No dia seguinte, após 48hs de descanso, como manda o figurino, tentei convencê-lo a ir malhar novamente. Me chamou de sádica, maluca, doente mental e até de Hitler (e ainda debocha de quem me chama de RITLER nos comentários). Fez um escândalo e disse que nunca mais na vida dele pisaria em uma academia.

Nunca dá certo ser racional com gente enfurecida. Expliquei para ele que não precisava ser assim, bastava ele respeitar os limites DELE e pegar um peso que fosse tolerável para ELE, pois respeitando o próprio corpo as conseqüências não são tão ruins. Ele me respondeu “E pegar menos que a minha mulher? NEM PENSAR!”. Tem ou não tem que se foder na vida? Porra, tem TANTA coisa que ele faz melhor do que eu… tanta, mas TANTA que não caberiam nessas quatro páginas. E eu nunca tentei me igualar a ele naquilo em que ele é bom. Ele teve a cara de pau de competir comigo em uma das poucas coisas na vida que eu sou bem treinada para fazer!

Começou uma longa discussão sobre quem era mais débil mental que quem. Ele começou a dizer que eu era maluca por ter prazer em sentir dor. Por mais que eu explique que meu pós-treino não é o mesmo que o dele, porque eu treino fazem dez anos, ele não queria entender. Como eu disse, gente enfurecida não responde bem a racionalidade.
Disse que ele estava certo (um dos grandes segredos para um relacionamento dar certo é se desculpar e dar a razão ao outro, mesmo sabendo que ele não tem razão porra nenhuma) e que podíamos aproveitar para passar o dia em casa, fazendo algumas coisas que precisavam ser feitas. Ele topou feliz, todo pavão, porque afinal, eu me desculpei e dei razão a ele.

Assim, bolei pequenas tarefas domésticas nas quais ele tinha que me ajudar com sua força de macho provedor (como guardar caixas no alto do armário ou empurrar ou levantar móveis) que correspondiam aos mesmos exercícios que ele estaria fazendo em cada aparelho. Malhou todos os grupamentos musculares que eu queria, sem saber que estava malhado. Fiz ele fazer o número de séries e repetições que ele queria, com um peso que eu achei adequado para ele, na forma de tarefas domésticas. Não malhou é o caralho, SIAGO TOMIR, naquele dia você malhou sim, só que foi é muito do BURRO de não perceber. Nisso que dá gente que se embriaga com a vitória de uma discussão. Tolinho.

Bom, agora vamos saber DE VERDADE se Siago Tomir está MESMO sem internet, porque até hoje ele não sabia desse meu pequeno Easter Egg e achava que realmente estava me ajudando a organizar a casa. Se eu receber um telefonema me xingando em breve, saberei que ele estava é com PREGUIÇA de escrever, isso sim. E acreditem em mim, se ele ler isso, ele é incapaz de se controlar para sustentar a mentira do “sem internet”.

Para me perguntar se depois dessa vamos ficar brigando como daquela vez que ficamos uma semana falando nisso, para me perguntar como fazer seu marido flácido e preguiçoso malhar sem que ele perceba que está malhando e para dizer que chega, está enjoando de Siago Tomir: sally@desfavor.com