Somir Surtado: Meninos e meninas.

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Por estas bandas o assunto não repercutiu tanto, mas na internet americana o caso do atirador virgem Elliot Rodger disparou mais uma grande rodada de discussões sobre machismo, feminismo e afins. Para quem não sabe, o rapaz matou seis pessoas e se matou após ser abordado pela polícia. Nos vídeos que deixou, Rodger atribuiu suas atitudes à rejeição que sofrera das mulheres durante sua curta vida… esse sim tinha problemas mentais.

E dessa história saiu uma campanha de twitter: #YesAllWomen – dizendo que mesmo que todos os homens não sejam malucos feito Rodger, todas as mulheres tem medo. Razoável. Claro que a coisa descambou e agora não passe de brigas e mais brigas entre feministas malucas e trolls de diferentes graus de habilidade. A internet tende ao caos.

Mas do meio dessa confusão toda surgiu-me um plano infalível para resolver boa parte das tensões entre os sexos, inclusive as que vitimam (e vitimam no senso correto da palavra) as mulheres. Não, isso não é um Dés Potas, até porque faz bem mais sentido do que deveria. Ah sim, não pretendo continuar com o assunto de Elliot Rodger, o cara tinha diversas características problemáticas e poderia ter estourado com qualquer outra obsessão que não sexo. Maluco é maluco.

Pois bem… ao plano! Homens, chegou a hora de passarmos a tocha e entregar o mundo para as mulheres. Mas digo entregar MESMO: parar de atrapalhar causas justíssimas como igualdade de direitos e até mesmo entregar de bandeja tudo o que as mais raivosas feministas da nossa era querem. Ceder vitória completa. Mulheres terão representação política maior que a nossa, ganharão mais pelos mesmos trabalhos, e além de tudo isso vai ser absurdamente reprovável sequer criticar uma delas. Direitos iguais com vantagens específicas. O mundo aos pés delas.

Eu sei que parece um exagero e as mulheres com mais de meio neurônio na cabeça não achariam isso justo ou mesmo agradável, mas não é como se gente razoável apitasse alguma coisa nesse mundo… façam como eu e aproveitem o exercício de imaginação. O que eu quero aqui é que todos os homens batam no peito com orgulho e digam para as futuras gerações que pagamos de volta com juros e correção. E sem armadilha: o poder é cedido para elas e não tentaremos retomá-lo. Eventualmente nem poderemos retomá-lo, quem está no poder acaba ficando bom nisso de mantê-lo.

Imagine todas as posições de poder nas mãos delas. Presidenta, senadora, deputada, governadora, prefeita, vereadora, policial, sacerdotisa, gerenta (se pode presidentA pode tudo!)… Elas criam e mantém a ordem. Segurança, economia, saúde, educação… Tudo problema delas. Nós, homens? Nós obedecemos. Se a lei é usar saia, usaremos saia. Mas não é só uma provocação, aposto que muitas áreas de nossa sociedade melhorariam substancialmente sob a matriarquia. Tem coisa que homem não presta mesmo para fazer, seria um bom complemento.

E, caros colegas de testosterona, aceitaríamos isso numa boa. A maior parte dos problemas da mulher moderna (e da presa em sociedades atrasadas) seriam bem menos… problemáticos… para nós. Seríamos ótimos oprimidos. E caso meu plano seja posto em prática e uma das nossas novas líderes leia este texto, não me prenda, por favor: não estou fazendo pouco dos problemas que a mulher vive, estou apenas dizendo que se fosse para escolher um dos sexos para encará-los, o masculino seria a opção mais humana.

Principalmente na parte da sexualidade. Temos uma casca mais grossa no que tange o assédio sexual, por exemplo. Imagine passar na frente de uma construção e um bando de trabalhadoras braçais começar a te chamar de gostoso? Passamos milênios construindo a ideia de que isso é positivo. Mesmo que você não ache nenhuma dessas assediadoras atraentes, dificilmente mexeria com sua auto-estima de forma negativa. Ei, talvez alguns de nós até colocassem o pau para fora e divertissem-nas fazendo o helicóptero! Pedaço-de-carne pride!

E se fôssemos mal vistos por promiscuidade? Bom, nossos amigos ainda nos cumprimentariam, não teríamos imagem a zelar mesmo. O mundo é delas, mas nunca estaremos isolados com outros homens por perto. O corporativismo masculino não conhece classe social. Demoraria MUITO tempo até estarmos infiltrados por tantos traidores quando o outro lado. Mulheres e homens criam machistas! O poder seria todo das mulheres, mas a nossa rede de proteção é muito resistente. Ninguém quer ser oprimido, mas se é para escolher, que nos oprimam.

E ditadura da beleza? Oras, seria triste perder o direito à barriguinha de cerveja, mas para um homem o peso da beleza constante não seria tão grande assim. Daria trabalho e criaria neuroses? Claro. Mas… já viu homem entrar em parafuso ou ser excessivamente criticado por se esforçar para ficar mais atraente para elas? Não estou falando de papinho mole de intelectual de rede social, e sim daquele olhar assassino que mulher recebe de outras mulheres quando se demonstra claramente mais atraente que elas. Homem no máximo é chamado de viado, e mesmo esses riem enquanto colhem os frutos de seu esforço/sorte. Sou contra excesso de preocupação com beleza, mas… provavelmente temos mais resistência contra a pressão social nesse caso.

Sejamos honestos: entregar o poder não vai nos tirar a vantagem física. O homem médio ainda vai ser muito mais forte, resistente e agressivo que a mulher média. É fácil ter o sistema e o corpo para oprimir o outro, mas se for só o sistema… o buraco é mais embaixo. Não que seja impossível uma mulher matar, espancar ou mesmo estuprar um homem, mas precisa planejamento e um tanto de sorte para conseguir. É muito mais saudável para a sociedade que o oprimido seja capaz de apagar o opressor com um soco quando bem entender.

Ganhar menos pelo mesmo trabalho? Pensemos bem nisso: se as mulheres tiverem todo o poder, nenhuma delas vai se embrenhar pelos trabalhos mais braçais, perigosos e nojentos. Vão querer ser gerentes, capitãs… como faz sentido quererem, oras. Uma das vantagens da força física e da falta de respeito com a própria segurança é que só mesmo um robô consegue te substituir. E para muitas das profissões que existem nesse mundo, robôs não são uma possibilidade real e/ou lucrativa. Homens sairiam de cargos de alto nível e botariam todo seu foco em fazer coisas acontecerem ou continuarem acontecendo. Imaginem, colegas… imaginem o fim da pressão por resultados mais complexos que fazer uma máquina funcionar! Somos orientados por tarefas, o trabalho não vai mais chegar em casa. “Mim apertar parafuso, ela que se vire com lucro, logística e motivação”.

E estando em casa, ajudar a criar os filhos (ou mesmo assumir toda a responsabilidade) passa longe de ser um problema. É mais trabalhoso do que sair e encher os cornos, mas não é como se estivéssemos perdendo algo de valor. Oras, tarefa mais nobre não há! Nós vamos definir como as futuras gerações vão enxergar a vida. Stress e esgotamento? Que pelo menos seja para algo de útil, muito melhor que ficar se matando para outro homem lucrar com seu trabalho. Aqui eu entendo que não somos naturalmente mais aptos a segurar o rojão, mas homem tem orgulho até do que faz na privada! Imagine com um filho! O caminhão de trabalho extra pode sim vir com suas vantagens.

Ah sim, distância emocional do parceiro… Não é bonito, mas convenhamos que homem pode passar anos sem sequer perceber isso, quanto mais se importar. Não precisa nem ser insensibilidade, é que nossas necessidades nessa área são menos complexas. Se ela chega em casa sem vontade de conversar, querendo só dar umazinha e dormir… Há de se perceber que o homem lida mais fácil com a situação. Seja o que for, pelo menos deu umazinha! Toca aqui! AÊ!

Não podemos esquecer o outro lado: elas vão estar no poder. O problema é todo delas e as leis são feitas para garantir que elas façam as coisas como acharem melhor. Homem não poderia interferir. Nem mesmo participar. E é aí que uma possível tolerância e sociabilidade maiores das mulheres poderiam vir a calhar: deveríamos ter muito menos guerras, muito menos diferenças sociais, menos racismo e intolerância… Tudo bem que a política internacional viraria um campo minado sem precedentes, mas as mulheres que resolvam seus problemas. Estamos apertando parafusos e reclamando quando não gostamos das decisões delas. Mesmo que não pudéssemos mudar muita coisa, quando as pessoas que criam os filhos começam a ficar insatisfeitas, fica complicado se manter no poder.

E agora você deve estar pensando que esse é um dos meus textos mais babacas, certo? Não por machismo (se você tem mais do aquele meio neurônio, lembra?), mas por irrelevância de toda a discussão. E você está parcialmente correto. A minha suposta solução é uma merda e não considera uma enormidade de fatores que dificultam a vida da mulher. Parece até que eu estou pregando a superioridade masculina e dizendo que vida de mulher que é fácil, não?

Novamente, parcialmente correto.

A ideia descrita aqui não é sobre os fatos, mas sobre a percepção deles. Evidente que é difícil aplicar empatia plena com os problemas do sexo oposto: grandes chances que você seja capaz de lidar melhor com eles do que a pessoa do outro gênero. Tanto que são problemas do outro, não seus! Aposto que muitas mulheres aqui pensaram em exemplos contrários onde teriam muito mais facilidade para lidar com reclamações comuns masculinas do que os próprios. Eu queria que você formulasse essas ideias.

Ah, e outra mentira, vou voltar nesse assunto sim: eu comecei o texto com o caso de Elliot Rodger porque ele disparou uma série de discussões vazias entre pessoas incapazes de entender essa dissonância entre o que se enxerga como problema tanto para homens como para mulheres. A tendência é que não tenhamos empatia plena pelas agruras da vida tanto de um gênero quanto de outro. Mulheres tendem a achar que fácil mesmo é ser homem, homens tendem a achar que fácil mesmo é ser mulher (desde, é claro, que vivam numa sociedade civilizada). E a grande tendência é que ambos estejam errados.

Vemos cada vez mais homens cagões que querem as vantagens de ser mulher (conseguir sexo só por existir) e cada vez mais mulheres malucas exigindo as benesses da vida masculina (exercer poder só por existir) sem as contrapartidas: Mulheres acabam tendo medo por toda essa atenção, homens acabam virando vilões para garantir o poder. Não que possamos resumir o mundo a mulheres como objetos sexuais e homens a opressores, mas são exemplos tanto dos papéis invertidos de machistas e feministas de hoje.

Desajustados com raiva do mundo por não conseguir sexo, totalitárias com raiva do mundo por não conseguir poder. Foda-se merecer, é claro. Como acham que tudo é fácil do outro lado, não admitem correr atrás. Você pode até achar que não lida com muita gente assim, mas ainda vai lidar. O drama do politicamente correto e das minorias chegou aqui vindo mais ou menos das mesmas fontes. A hashtag de lá ainda pinga cá.

Claro que Rodger tinha uns quinze parafusos faltando, mas há sim toda uma cultura de vitimização masculina ocorrendo em paralelo. Resposta ao exagero da turma de “justiça social” que elegeu o homem branco como o demônio e não consegue mais pensar de forma coerente. No sentido oposto, homens desajustados entraram nessa pilha e começaram a choramingar.

O manifesto de Rodger é uma ode ao patético, mas quem está lendo esse tipo de conteúdo “meninos contra meninas” faz algum tempo sabe quem bateu palmas para esse maluco dançar. Acho excelente que se bata agora nesses crianções que culpam as mulheres por seus problemas, mas que estendamos essa cortesia também para as cretinas que acham que não precisam fazer nada além de reclamar dos homens para conseguir poder nesse mundo.

A guerra dos sexos que fazemos aqui é racional e compreensiva perto do que vai chegar nos próximos anos (e aposto que o BM vai adorar isso – TODO MUNDO pode se fazer de vítima ao mesmo tempo). Não caia nesse papo quando for a hora.

Ou, se cair… pelo menos não atire em ninguém por isso.

Para dizer que não entendeu porra nenhuma de nada, para dizer que homens tem que deixar de ser escrotos e julgar as pessoas pelo seu sexo, ou mesmo para dizer que de propósito ou não achou uma merda: somir@desfavor.com

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Comments (16)

  • Finalmente vejo alguém que enxerga algum ´vitimismo´ nos homens tbm. Sim o homem branco/hétero ainda é o vilão para muitos mas me admira hoje em dia as pessoas não pensarem sobre diferenças e usar um pouco de empatia. Igualdade de direitos não é = igualdade física.
    Argumentos idiotas tipo: mulher quer igualdade quero ver trocar pneu ou a culpa é do homem opressor, da igreja me fazem ver uma discussão séria dessas como um filme tipo Batutinhas, como disse Somir meninosxmeninas.
    Especificamente sobre Elliot homens como ele a meu ver são contraponto do romantismo exagerado feminino, vendem para mulheres a ideia do ´principe encantado´ o cara acredita faz o papel e quando o resultado não é o esperado é essa tragédia pq coitado ´ele bonito, bem nascido, um gentleman´ mas ngm o quer.

  • “Não podemos esquecer o outro lado: elas vão estar no poder”.

    O problema são mulheres poderosas lidando entre si, tendo que comandar legiões de mulheres (tão ou mais) capazes. Francamente, que mulher em sã consciência gostaria de comandar exclusivamente mulheres? Arrisco dizer que essa mulher em posição de comando gostaria mesmo é de ter só homens sob sua direção.

    De resto, fico pensando se apenas mulheres comandassem os países. Certamente nós não entraríamos em guerra, mas tornarmos aliadas seria muito difícil. Uma aliança entre um país ou outro aconteceria, mas um bloco como a OTAN ou a União Europeia duvido que acontecesse se fossem mulheres exclusivamente as líderes. Imaginem se a Thatcher e a Merkel fossem discutir a União Europeia e a introdução do euro hoje…

  • Legal a reflexão no final do texto: todo mundo pode se fazer de vítima ao mesmo tempo. O problema é enxergar o outro lado e minimamente tentar interpretar o “quadro geral” com uma visão diferente das coisas. Mas é tarefa um tanto difícil numa sociedade burra e alienada preocupada só com selfie de rede social.

    E sobre o caso do Rodger em específico, está aí mais uma prova do que a falta de amor próprio causada por uma sociedade doente pode fazer. Deprimente ver que as pessoas chegam a esse ponto de irracionalidade.

    • Não diria apenas falta de amor próprio, mas aquele maldito sentimento de “entitlement”, em que a criação (ou a falta dela) leva as crianças a acharem que nasceram com direito adquirido em qualquer situação sem fazer qualquer força para começar a trilhar o merecimento…

      • É, tem esse lado também, Suellen. É a tal da geração Y, geração anos 90, ou algum termo assim que já ouvi por aí. As crianças são tão mimadas que acham que tem o direito de mandar em tudo e quando crescem acham que não precisarão de ter esforço próprio e força de vontade pra conseguir vencer na vida, como se tudo viesse nas mãos assim, num piscar de olhos. Deprimente também ver os resultados disso, afinal, quando realmente crescerem e verem que a vida não é assim, que a vida é dura, a queda e a transformação costumam ser um tanto brutas e intensas.

  • Gostei da parte que a mulher chega em casa, depois de um longo e cansativo dia de trabalho e nao quer conversar. Só umazinha todo dia. Isto é perfeito!

  • Pelo que me lembro, tem um outro cara de lá que pirou porque não conseguia ppk também: um tal de George Sodini que entrou numa academia e abriu fogo e depois se matou. Ele chegou até a postar uns vídeos, falando da propria vida, mostrando sua casa, esse tipo de coisa. Ele pirou porque apesar de ser um cara de aparência decente e ter uma ótima condição de vida, não conseguia ninguém, e isso levou ele a ter cada vez mais ódio de mulher.

    http://en.wikipedia.org/wiki/2009_Collier_Township_shooting

    Obs: quando eu finalmente lembrei o nome do cara, coloquei o nome dele no Google pra achar algum artigo a respeito e o Google sugeriu, dentre outras coisas, “george sodini hero”…ou seja, deve ter uma galera que concorda com as idéias dele haha

  • Gostei

    Um dos textos mais racionais do Somir.
    é fácil pensar que tudo depende apenas do sexo da pessoa e tão somente disso.

    mas a ideia inicial em si é tão machista quanto o oposto. Pelo pouco que entendo de feminismo, o que elas pedem de verdade é igualdade, não superioridade.

    Mas, acredito que com o tempo o sexo ou a orientação dele não vão mais influir tanto na sociedade e na forma de levar a vida.

  • Cenário 1: As radfem tomariam o poder sob a alegação de já serem um grupo organizado e possuirem aceitação no meio feminino, colocariam todos os homens em campos de concentração, salvando apenas os cavalos reprodutores e os detentores de conhecimento científico (porque enquanto elas estavam gritando com os peitos de fora ninguém se deu ao trabalho de apoiar programas de incentivo à pesquisa). A economia ruiria: Fome, caos, destruição.

    Cenário 2: A civilização perderia sua maior força matriz: Ppk. Desmotivados a alcançar poder e dinheiro, os homens contentariam-se com suas vidas de cerveja/futebol/sofá. A vida perderia o sentido sem caminhonetes, camisas da Lacoste e apetrechos tecnológicos que se tornam obsoletos em 3 meses. A economia ruiria: Fome, caos, destruição.

    • Concordo.
      Tem que apontar as diferenças e aprender a lidar com elas.

      O problema é a falta de maturidade pra lidar com as diferenças, mas deixa quieto porque esse assunto é interminável, vai desde a idade de cada um até o fato de que os homens porcos escrotos foram criados por mulheres.

  • Podem me xingar mas, eu não consigo imaginar um congresso funcionando só com mulheres. Muita mulher junta não dá certo. Só precisa de um equilíbrio, não dessa vingança.
    Porém eu acho que as novas líderes tinham que preder o Somir sim. Prendam e façam de escravo sexual.
    Fiu, fiu! Me diverti imaginando seu plano. Alguém podia divulgar o link para as loucas virem aqui brigar, chega de xingarem só a Sally, né.

    • Também acho. Tá na hora do Somir ser alvo. O problema é que ele não responde e esse tipo de pessoa quer basicamente atenção, então não rende.

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