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#SomosTodosMachistas

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| Desfavor | | 41 comentários em #SomosTodosMachistas

+Apesar de reconhecerem que o Brasil é um país machista, a maioria dos jovens ainda acredita e reforça comportamentos que reprimem as mulheres e as colocam em posição de desigualdade em relação aos homens. Em pesquisa divulgada nesta quarta-feira (3), 48% deles dizem achar errado a mulher sair sozinha com os amigos, sem a companhia do marido, namorado ou “ficante”. Responderam à pergunta garotos e garotas.

Atenção: não foram só homens que responderam nessa pesquisa. Desfavor da semana.

SALLY

Uma pesquisa que foi um show de contradições. Dois pesos e duas medidas. Homens condenando em mulheres comportamentos que eles adotam em larga escala. Opiniões que envergonham um gênero. Pessoas que não parecem perceber o papelão que estão fazendo. Uma ilustração de um panorama assustador para a mulher moderna.

Por exemplo, 68% dos entrevistados acha errado uma mulher fazer sexo no primeiro encontro. Um homem tudo bem, mas uma mulher não pode. 76% criticaram mulheres que tem vários ficantes. Homem tá ok, mulher é vulgar. 80% afirmaram que mulher não deve ficar bêbada em festas ou baladas. Homem pode, mulher não.

Que vergonha. Na terra do “eu posso mas você não pode” as pessoas parecem não ter nem mesmo vergonha de externar opiniões tão babacas. Curioso que na hora de pedir independência das mulheres naquilo que lhes interessa, como a parte financeira, por exemplo, eles pedem. É o machismo seletivo: na hora de imprimir restrições são todos machistões, no resto do tempo não, a mulher que seja independente financeiramente e se banque.

48% acham que é errado a mulher sair sozinha com amigos, sem estar acompanhada por namorado, marido ou um ficante. O que mais me chamou a atenção nessa pesquisa nem foi o machismo galopante, porque disso eu nunca duvidei aqui no Brasil. O que mais me chamou a atenção foi o fato de acharem errado uma mulher sair sem o namorado ou sem o FICANTE.

FICANTE, termo que define um relacionamento sem compromisso. Termo deturpado e esculhambado pela cabecinha de merda do Brasileiro Médio. O que quer dizer FICANTE, se a mulher não pode sair sem ele? Quer dizer o sonho do homem Brasileiro Médio: uma mulher que lhe preste fidelidade e obediência, à qual, em troca, ele não deve prestar nada.

78% das entrevistadas contou que já sofreu algum tipo de assédio ofensivo ou violento, como ser beijada à força. Três em cada dez afirmam já terem sido assediadas FISICAMENTE em transporte público. Provavelmente as outras sete tinham carro. Ou seja, mulher não é respeitada nem pelo seu homem, nem por nenhum homem. Sensacional. Não tá fácil ser mulher, porque o desrespeito sempre existiu, mas agora vem acompanhado de uma série de obrigações que são novidade.

E nos relacionamentos, a coisa não está melhor: 53% já tiveram o celular vasculhado, 40% que o parceiro controla o que fazem, onde e com quem estão. 35% já foram xingadas pelo namorado e 33%, impedidas de usar determinada roupa. 37% contaram que já fizeram sexo sem camisinha porque o parceiro não queria.

Lendo isso, começo a pensar que além do homem brasileiro ser, como regra, o escroto que é, a mulher brasileira é frouxa e burra. Homem tentar ser injusto e babaca eu entendo, mas mulher cedendo a isso, jamais. A mulher brasileira não é vítima, ela é uma acomodada. Ela quer ter um homem do lado a qualquer preço e por isso se sujeita a tudo. Inclusive a violência.

Quase metade dos homens entrevistados disse ter visto a mãe ser agredida e admitiu repetir esta agressão na namorada. Porque isso acontece? Porque fica impune. Se não ficasse impune, não acontecia mais. Mulher está tolerando TUDO, TU-DO para ficar em um relacionamento, por causa dos ganhos secundários que tem, dentre eles se sentir valorizada, por mais merda que seja o parceiro. Mulheres não toleram tudo porque são vítimas, mulheres toleram tudo porque são inseguras mesmo.

Olha, se a mulher brasileira fizesse 10% disso tudo com os homens, ou apanhava, ou ia morrer sozinha. Os rapazes iriam procurar namoradas no Zimbabue, se necessário fosse, e aboliriam as mulheres brasileiras de suas vidas. Mas a mulher brasileira tolera, perdoa, aceita. Não se enganem, não estamos falando da Dona Maria, com onze filhos, que nunca trabalhou e não tem dinheiro para se sustentar se o marido a largar.

Estamos falando da Dona Fulana, que trabalha e ganha seu salário, mas precisa de homem para se sentir valorizada. Estamos falando da Dra. Beltrana, que teria dinheiro para se bancar se largasse o homem mas como isso reduziria seu poder aquisitivo e seu conforto, tolera esse tipo de coisa. Estamos falando de pessoas que tem a escolha mas preferem se convencer de que não tem por pura acomodação ou dependência emocional. “Homem é tudo igual”, elas repetirão. Um mantra que justifica ficar anos com um canalha.

Esses números me causam VERGONHA. Mais das mulheres do que dos homens que os perpetram. Porque as pessoas só fazem conosco o que deixamos que elas façam. Chega, mulher não é mais vítima. Mulher não precisa mais aguentar isso. Vamos começar a responsabilizar as mulheres também, não por apanhar ou serem humilhadas e sim por fazerem a manutenção de um relacionamento que gera isso.

Mulher tem responsabilidade sim. Mulher se coloca e se matem em relacionamentos nocivos, doentios, destrutivos. Obviamente a culpa não é só das mulheres, esses homens são uns tremendos filhos das putas, mas não são os únicos culpados da coisa ter chegado onde chegou. Basta de passar a mão na cabeça das mulheres e trucidar os homens.

A maior vergonha de todas é pensar que somos nós, mulheres, quem criamos esses machistas filhos da puta e essas mulheres emocionalmente dependentes que se sujeitam a tudo para dizer à sociedade que tem um marido. Muito triste.

Resumo da história: não pode destratar nem fazer nenhum desses desrespeitos citados com gays, judeus, lésbicas, deficientes, crianças, idosos, negros ou qualquer outro Intocável. Mas pode fazer com mulher. Em larga escala. E vai se considerado normal. Ser mulher, branca e heterossexual nos dias de hoje é pertencer a uma das categorias que mais se fode.

Para nem se desgastar achando que em uma semana eles desmentem esses dados, para marcar uma cirurgia de mudança de sexo ou ainda para iniciar uma briga sexista nos comentários: sally@desfavor.com

SOMIR

Apesar de ser frequentemente chamado de machista, eu me considero igualitário na questão da relação de poder entre os sexos. Na verdade a confusão se dá porque eu defendo que os direitos E os deveres deveriam ser os mesmos para homens e mulheres.

Evidente que como ser humano dotado de cérebro acredito que a violência contra a mulher seja horrível e que a liberdade sexual seja a mesma em ambos os sexos. Discordo muito da mentalidade média explicitada nessa pesquisa. Mas como Sally já tratou do assunto, fico livre para sugerir uma forma de resolver as coisas. É Desfavor da Semana, mas pode chamar de Dés Potas (ou quem sabe até Flertando com o Desastre).

O problema é que mulher é um alvo muito fácil. Gostamos de acreditar que estamos numa sociedade moderna onde a lei da selva já foi revogada, mas essa não é a realidade. Abusar de mulher é um crime com poucas consequências REAIS. Devemos continuar conscientizando a sociedade que é errado usar a força para subjugá-las, mas precisamos de medidas mais urgentes.

Mulher precisa aprender a ser mais perigosa. Se você passar a mão na bunda de um homem, existe o risco considerável de levar uma porrada para largar de ser folgado. Mulher afina. Mulher é menos agressiva. Eu sei que isso soa perigosamente parecido com culpar a vítima, mas tenham certeza que eu não estou seguindo esse caminho: a culpa é do agressor, é claro.

Mas, não é factível esperar que uma sociedade atrasada como a nossa deixe de agredir pelo bom senso de respeitar a integridade física alheia. Ou mesmo confiar cegamente na capacidade do sistema de reconhecer e punir os transgressores. Algumas coisas precisam ser resolvidas na hora.

Num mundo ideal, mulheres não precisariam aprender a se defender de comportamentos bárbaros do tipo, mas de ideal esse mundo tem quase nada. E se nesse meio tempo entre a selvageria e a civilidade o sexo frágil aprendesse a levar menos desaforo para casa?

Sim, existe um problema nessa ideia: fisicamente, mulheres tendem a não ser páreo para um homem. Eles tem mais capacidade de usar a via da violência (real ou ameaça) para resolver seus problemas, mas a vida moderna está cheia de métodos para equilibrar o jogo. Tenham em vista que não são os homens naturalmente mais fortes que mandam nesse mundo. Entre os homens mesmo não é só uma questão de músculos: os mais preparados e os mais agressivos levam vantagem.

Mulheres deveriam aprender desde cedo como se defender de pessoas mais fortes. Existem artes marciais e armas para tal. O Estado precisa reconhecer que é ineficiente para protegê-las e fornecer meios para que elas ponham um pouco mais de medo em seus agressores. Ensiná-las defesa pessoal e facilitar o acesso a armas (não-letais mesmo) faria mais pelas mulheres do que qualquer lei Maria da Penha da vida.

Cidadão tem que sentir medo de não tratar uma mulher com o devido respeito. Ele ainda vai ter a vantagem natural se ser mais forte, mas vai ter que pensar direito se não quiser levar um golpe devastador no saco ou mesmo milhares de volts corpo adentro. Homem que bate em mulher é covarde, vai no alvo mais fraco pela certeza da impunidade.

É justamente o tipo que leva uma de volta e perde toda a coragem. O cara que bate na esposa em casa quase sempre o faz depois de alterado. Uma mulher bem treinada é capaz de bater em bêbado. Se a mulher se sente indefesa, age de forma indefesa. Mesmo que ele ganhe a briga no final, vai apanhar no processo. Vai deixar de ser o crime perfeito que sempre foi.

Sou favorável até mesmo ao porte facilitado de armas letais para elas. Claro que algumas malucas vão atirar em quem as chamar de gostosas na rua, mas na média vai servir para fazer o cara pensar mil vezes antes de sair agarrando mulher na rua ou na balada. Quem tem, tem medo.

Eu sei que é apelar para o menor denominador comum, mas a humanidade tem o hábito de se adaptar a novos paradigmas sociais. Quando mexer com mulher for algo arriscado, pais vão ensinar para os filhos a serem mais respeitosos. Em algumas gerações teríamos uma redução considerável dos abusos contras as mulheres.

Sempre vai ter o folgado, mas é diferente lidar com uma situação onde se é vítima indefesa e uma onde se tem o poder de se defender. A mulher pode até perdoar e liberar o cara que meteu a mão na bunda dela somente com um xingamento. Quando ela se sentir clemente ao não sentar a pata no safado, a sensação de ser violada vai diminuir consideravelmente.

Concordo com as feministas que as mulheres precisam de mais poder nesse mundo, só não acho que dá para subverter ainda a lógica masculina de que poder é uma coisa agressiva e potencialmente violenta. Se quiserem que os homens escutem mais o que elas dizem, tem que conquistar o respeito mais ‘primal’ deles. Querendo ou não, a gente respeita mais quem pode dar umas porradas na gente.

A solução está aí, basta ter coragem de aplicar.

Para dizer que já enfia a porrada em homem folgado (parabéns!), para dizer que meu texto foi machista, ou mesmo para dizer que minha solução mágica tem defeitos: somir@desfavor.com


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