Estamos criando uma geração de pessoas mimadas com baixíssima capacidade de frustração. Adultos que se comportam como crianças ou adolescentes: imediatistas, reagem mal a um “não” e perdem as estribeiras quando algo não sai como querem. De onde vem esse despreparo todo? Não sei ao certo, mas tenho algumas teorias. A de hoje é: boa parte da culpa é dos smartphones. Smartphones são aqueles celulares que funcionam como computadores. Neles se pode ouvir música, assistir vídeos, filmes, acessar a internet, tirar fotos, gravar vídeos e fazer quase tudo nessa vida.

Sim, o Smartphone me parece um forte componente dessa babaquização do brasileiro. Acho que posso falar de camarote, pois eu sou daquela que eu apelidei de Geração F (aquela que só de fode), eu vi o mundo com e sem internet, com e sem a maioria dos avanços de uso ostensivo nos dias de hoje. Eu estava lá na hora da transição. Convivi de perto com pessoas da geração AI (antes da internet) e DI. E a diferença é gritante, nem tanto pela internet, mas pelo acesso a qualquer tempo à internet que o Smartphone proporciona. Vamos a um rápido retrospecto.

Eu lembro do tempo em que, quando se queria falar com alguém, era preciso marcar uma hora para ligar para a casa da pessoa. Era assim: você dizia que ligaria entre tal e tal hora, para que a pessoa se programe para estar em casa. Não havia telefones móveis. Na verdade, nem mesmo sem fio. Você tinha que conversar sentado ao lado do aparelho. A pessoa ficava plantada ao lado do aparelho esperando ele tocar.

E ligar não era uma tarefa fácil. Muitas vezes o telefone não dava linha assim que você levantava o gancho, então, você tinha que esperar pela boa vontade do serviço precário. Quando finalmente o sinal sonoro da linha se fazia ouvir, tinha que discar o número, não em botões, mas naqueles discos com buraquinhos mesmo. E rezar para a ligação completar, porque muitas vezes ela não completava. Ao final desse processo tumultuado, era bem possível que a hora marcada para ligar já tivesse passado e a pessoa já tivesse saído de casa. Paciência, você era obrigado a passar pelo constrangimento de falar com a mãe da pessoa, ou com qualquer um. Era randômico, nunca se sabia quem ia atender ao telefone.

E quando você marcava um cinema com uma pessoa, marcava o horário e ponto final. Em caso de atraso, só era possível avisar com sinais de fumaça. Não havia celular, não havia como contatar a pessoa. Passei por um período onde não era possível ter controle algum da situação, a pessoa simplesmente ficava indisponível. Era você e seu improviso.

Venho de uma geração que, quando queria escutar uma música que gostava, tinha que ficar horas ouvindo rádio para, com sorte, quem sabe, conseguir gravar essa música (cortada e cheia de vinhetas) em uma fita cassete. Discos eram caros e não estavam disponíveis de imediato. Havia um delay entre o lançamento de uma música e o disco. E, ainda assim, o disco continha poucas músicas e todas do mesmo artista. Isso quando algumas faixas não vinham riscadas da fábrica por conta da censura.

Eu sou de um tempo que, quando você precisava de uma informação, tinha que ir a uma biblioteca pesquisar nos livros. Se sua família tivesse alguma condição financeira, você poderia ter em casa a maldita enciclopédia Barsa, que era uma compilação dos principais temas em dez ou doze livros, distribuídos por ordem alfabética. Uma espécie de Desfavor Explica encadernado, só que sério, sem humor.

Se precisasse falar com alguém em outro país, tinha aquele processo sofrido do telefone, e falava-se correndo, contando os minutos, porque era muito caro. Muito caro mesmo. A opção era escrever uma carta, à mão, e torcer para que ela chegue ao seu destinatário, processo este que poderia durar mais de um mês. Daí o destinatário respondia e demorava mais um mês para a resposta chegar.

Estes são apenas alguns exemplos, um pincelada por alto do que me veio à cabeça agora, de como era minha realidade nos anos 80 e princípio dos anos 90. Sobrevivi e vi o mundo mudar. Por conta da minha idade, não pude me dar ao luxo de não me adaptar às mudanças. Quem precisa trabalhar tem que se adaptar ao que vier. Tive que aprender como funcionava tudo novamente: tecnologia, sociedade, o novo ser humano. E, vou te falar, desprezo esse novo ser humano pós internet e pós Smartphone!

Hoje, décadas depois, a realidade é outra. Se você quer ouvir uma música, elas estão todas, TODAS disponíveis de forma imediata e gratuita na internet. Podem ser acessadas de imediato. Você pode montar sua lista de músicas, pegando uma de cada cantor. Podem ser ouvidas de imediato, em qualquer lugar: do seu celular, do carro, do computador. Pode manter ela salva e ouvir quantas vezes quiser, mudar, editar, acrescentar. Tudo a um clique, em poucos segundos. Sou grata, é um tremendo benefício. Mas sou grata porque vivenciei o que existia antes. Quem já nasceu com este benefício tem uma visão diferente.

Hoje, quando preciso falar com alguém, ligo para o celular da pessoa. É dela, só dela, sei que ela vai atender. E se não puder atender, fica registrado ali que eu liguei, ela retorna quando puder. E se, por um acaso, esta forma de comunicação não der certo, tem os SMS ou o Whatsapp, que inclusive me indica quando a pessoa efetivamente leu a minha mensagem. Na pior das hipóteses, mando um e-mail, que a pessoa pode acessar a qualquer momento do seu celular. Não apenas isso, como o celular dá um alerta de que chegou um e-mail. As pessoas estão umas ao alcance das outras de imediato.

Se antes eu marcava um cinema às 14h e, se a pessoa só aparecesse às 18h, era um infortúnio inevitável, agora as pessoas se emputecem se tentam falar no celular com você e você não retorna em meia hora: “que falta de respeito! Estou tentando falar com você faz um tempão!”. Eu sorrio e penso o quanto essas pessoas são mimadas. Tudo tem que ser na hora, tudo tem que ser imediato. Pobres coitados, não tem capacidade nem sabedoria para esperar. Se um dia, por um desses twists da vida que depois viram tema de filme, essas pessoas tiverem que se virar sem internet e smartphones se tornarão retardados sociais, totalmente improdutivos.

As bibliotecas estão em extinção. A Barsa provavelmente já está extinta. Não que eu ache isso ruim, o acesso à informação deveria ser um sinal de progresso. O grande problema é como esse acesso é usado. O Brasileiro Médio usa da pior forma possível: em vez de fazer um curso de inglês online gratuito, fica vendo fofoca, rede social e outras babaquices – e depois reclama que ganha mal, mesmo sem falar mais de um idioma. Hoje, se você quer uma informação, puxa seu smartphone e procura no Google, onde estiver. Desde o endereço de um restaurante até o nome daquele ator que você não consegue lembrar.

O que você não sabe é que isso está gerando consequências cerebrais. Cada vez que esquecemos temporariamente de uma informação (aquela sensação de que ela está na ponta da língua mas não conseguimos lembrar, sabe?) e corremos para o Google para colar, deixamos de exercitar nosso cérebro. O cérebro, tal qual como os músculos, precisa de exercício para não se atrofiar. E ultimamente o ser humano não tem dado muito exercício ou desafio a seus cérebros. Os resultados já se fazem sentir em algumas pesquisas científicas. Sim, Meus Amores, é oficial, estamos emburrecendo. Da próxima vez que você não lembrar de algo, force seu cérebro em vez de correr para o Google. Para o seu bem.

E não é apenas o cérebro quem sai perdendo. Retomando a linha de raciocínio do primeiro parágrafo do texto, estes “facilitadores” trazidos em uma primeira geração pela internet e, em uma segunda geração pelos smartphones, estão criando uma geração mimadinha, imediatista, incapaz de lidar de forma decente com frustrações. Tudo tem que estar disponível, tudo tem que ser imediato, ao tempo de um toque na tela. O que sai disso causa indignação.

Vejo no dia a dia, em lojas ou lanchonetes, crianças que não conseguem sequer compreender o conceito de indisponibilidade: não tem a roupa que você quer, não tem o sabor de sorvete que você quer, não tem o numero de sapato que você pediu. Crianças confusas olham para os pais, com um olhar indignado e confuso. Como assim “não tem”? O que significa “não ter”? Algo indisponível? Que merda de loja, que merda de lugar, que merda de vida. Um absurdo algo não ter. Crises de choro, crises de raiva, pequenos seres humanos desconcertados.Xinga a vendedora, xinga a atendente, xinga a garçonete, alguém tem que pagar pela angústia que estão sentindo, pois eles simplesmente não sabem o que fazer com essa novidade.

Alguns adultos com a cabecinha mais fraca também estão sucumbindo. Querem algo e querem agora, não sabem esperar. Claro que na vida invariavelmente se apresentam situações onde somos obrigados a esperar, e eles, como qualquer outro ser humano, são obrigados a esperar. Esperam. Mas esperam contrariados, putos, revoltados, xingando, de mau humor, transtornando a si próprios e a aqueles que os cercam com uma revolta desmedida. Enquanto políticos roubam dinheiro que deveria ser destinado a comida, escolas e hospitais, estes seres humanos se descontrolam porque não tiveram seus desejos individuais desimportantes atendidos de imediato.

Lembro de uma experiência que fizeram com crianças em um desses documentários do Discovery Channel, para avaliar sua capacidade de abstração de acordo com sua idade. Pegavam crianças bem pequenas e davam a elas duas opções: receber uma bala no momento, de imediato, ou cem balas meia hora depois. As crianças bem pequenas, que não tinham noção de abstração, preferiam uma bala naquele momento. Coitadas, não conseguiam ver mais longe e perceber que o ganho de UMA bala de imediato gerava um enorme prejuízo mais para frente. Por causa do seu imediatismo deixavam de ganhar tanta coisa que nem conseguiam entender… Pois é, tem adulto que anda agindo assim.

O homem é uma criatura de hábitos. Aprendemos a lidar com as situações à medida que passamos por elas. Atualmente, estamos sendo expostos cada vez a menos frustrações no dia a dia. A vida como um todo nos dá centenas de frustrações, mas na nossa rotina diária, elas estão rareando. E, no geral, as pessoas estão reagindo muito mal a isso. Estão desaprendendo a lidar com frustrações. Apresentam reações exacerbadas quando não são atendidas ou quando são contrariadas. Mobilizam o Judiciário para processar quem emitiu uma opinião negativa a seu respeito, porque discordar ofende. Processam pizzaria porque a pizza não chegou em meia hora. Processam o condomínio porque os funcionários não o chamaram de “Doutor”. O ser humano está se tornando um pau no cu.

Tire alguns minutos do dia de hoje para refletir como você anda se comportando quando as coisas não saem como você quer. Reflita poucos minutos sobre a sua postura diante de pequenas frustrações do dia a dia. Pequenas mesmo, coisas como o motorista da frente demorar para acelerar quando o sinal abre ou sua encomenda não ter chegado. Faça uma análise à luz do bom senso e veja se sua reação é proporcional.

Minha geração F passou por muita coisa. Vimos mudanças grandes, fomos forçados a nos adaptar a elas diversas vezes. Não tivemos direito a acomodação. Nossa realidade mudou radicalmente diversas vezes e tivemos que nos adaptar. Cansa, mas é bom, porque temos perspectiva. Para quem, assim como eu, nasceu em um tempo onde seu futuro era determinado por quanto você estudava e, de uma década para a outra, viu estudo valer muito pouco e contatos/social valerem quase tudo, a flexibilidade é questão de sobrevivência.

Fica a dica: seja mais flexível. Não seja mimadinho. A vida não é um smartphone onde você sempre consegue tudo que quer de imediato. Saber ajustar suas expectativas quando as coisas saem do script, na minha opinião, vai ser o grande diferencial dos novos tempos. Pratique sua capacidade de adaptação. Pratiquem a resiliência, em breve ela, como qualquer coisa que é rara, será muito valorizada.

Para me chamar de velha, para me chamar de bunda mole ou ainda para reclamar que este texto não era o que você queria ler: sally@desfavor.com

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Comments (52)

  • Essa dependência é realmente preocupante tenho um amigo que quando saímos juntos confisco o celular dele, e quando digo ´passa o celular´ ele sempre responde `vou só fazer check-in e não é um celular é um Iphone`. Concordo absolutamente o BM faz o pior uso possível da tecnologia. E 3.0 que sou brigo com qlq um que enfie uma câmera na minha cara sem meu consentimento, a coisa que mais detesto atualmente é essa mania de selfie.
    Não tenho saudade nenhuma de ficar fazendo manuscritos para trabalhos da escola, mas ir com os amigos até a biblioteca, paquerar no caminho, ouvir ´silêncio´ da bibliotecária quando nos empolgavamos é o tipo de interação que fez minha vida boa nesse período.

  • Tem uma amiga aqui que me comentou que certo apresentador (que dispensa comentários aqui), sempre que dava uma pausa na gravação do programa, ficava dependurado no smartphone, bem como toda a banda que lhe servia de apoio, sendo que o mesmo só se aproximou da plateia para bater uma foto para enviar lá pra rede social. Ela me disse inclusive que foi uma experiência da qual ela se arrependeu de ter participado, até porque lá tinha hora pra rir e hora para ficar quieto, faltando pouco pra ter claque pra marcar o tempo de cada coisa.

  • Segundo uma amiga minha, o maior arrependimento da vida dela foi ir no “Agora É Tarde” nos tempos do Danilo, dado que tanto ele quanto Roger e sua banda só ficavam em seus smarts nas pausas que se tinha no programa e que o Danilo só se aproximou do público na hora de tirar foto pro FACEBOOK.

    Ela disse ainda que tinha hora pra rir e hora pra não rir, faltando pouco pra ter aquelas claques típicas de programas sem graça.

  • Schandelly Thompson

    Li todos os comentários antes de responder para ter certeza que não me repetiria. Gostaria de mencionar uma nuance desta geração depois da Internet.
    Quando não tinha nada disso, quem era solteiro e queria conhecer alguém ou mesmo dar uma foda aleatória, tinha que SAIR de casa. Ir a bares, danceterias, casas noturnas, sex clubs,/casas de swing(no caso de quem queria foda aleatória, sexo casual). Você tinha a chance de ver a pessoa ali, na sua frente, em carne osso, com as gorduras localizadas no culote e pés de galinha. Você podia dizer com certeza se estava afim, se queria ou não. Se aquela pessoa era o que vc queria, se ela atraente para vc ou não.
    Hoje vc conhece as pessoas por redes socias, (muitos Apps só pra isso, até mesmo para sexo casual). Tem vantagem? Sim, tem. Te abre uma gama de opções que jamais se teria em um mundo real. Quem nunca voltou frustrado de uma balada flopada com meia dúzia de gatos pingados ou de uma festa estranha com gente esquisita onde nenhum deles era o que você queria exatamente? Muita vezes quem você procura estava alí do lado, debaixo do seu nariz e vc nunca teve a chance de encontrar ao acaso pelo fato de vc não ser “Deus”(onipresente) e não poder estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Imagine que a pessoa que vc procura ficou em casa sexta-feira à noite no mesmo dia que vc saiu para a balada e vice-versa. As pessoas D.I. podem encontrar o tipo de pessoa que elas procuram através de um clique, colocando filtro nos apps(Exemplo, quero uma morena de cabelo cacheado, com olhos verdes , entre 1,60m e 1,70m, que goste de música clássica, animais de estimação e filmes de Ficção Científica.) e ele te mostra os resultados da sua busca em um raio de 50, 100 KM
    No entanto, o lado péssimo disso transformou as pessoas em lanche do McDonald´s(nunca é igual a foto). Você gosta do que viu na foto. Na hora de encontrar pessoalmente. BUM! É tanto photoshop que vc quase não reconhece! Isso quando a foto é de 3 anos atrás. Gente, se nem a Madonna, com todo o dinheiro do mundo tem a mesma cara que ela tinha ano passado(sério, vc pode ver a mudança dela através dos anos, existem até videos que mostram isso), pq diabos uma pessoa comum acha que pode colocar uma foto antiga no que se refere ao fato de estar ali pra conhecer alguém. Eu quero conhecer voce hoje. Não a pessoa que vc era em 2007.
    Isso sem contar a falta de comprometindo. Não se assume nada. Se coloca as pessoas em hold, afinal, com essa palheta de opções, a qualquer momento pode aparecer alguém melhor. Fica esse “ou goza ou sai de cima” generalizado.

  • Eu sou dessa geração e meus pais fizeram um esforço enorme para eu e meu irmão não crescermos bitolados em internet e smartphone. Deu mais ou menos certo. Meu irmão faz um escândalo infernal quando fica sem computador, de jogar coisas nos outros e gritar até perder a voz. Tem 24 anos na cara.
    Eu não faço tanto drama assim, mas confesso que sou sim imediatista e tenho um pouco de dificuldade pra me virar sem internet. Uso muito pra aprender idiomas e baixar livros, fico perdida se não tenho um google para pesquisar…
    Mas não ligo tanto assim pra celular. Comprei um smartphone por necessidade (alguns professores meus andam passando matéria pelo Whatsapp), mas fiquei anos sem celular e nem senti falta. Mas não posso negar que mexer no celular enquanto converso com alguém é uma ótima indireta pra dizer que esse alguém é chato pra caramba.

  • filho da geração F

    tenho 18 anos e peguei um pouco essa fase de transição entre a popularização da internet banda larga e o inicio dos smartphones eu não acredito que a tecnologia em si seja prejudicial as pessoas que fazem um péssimo uso delas e passam o tempo todo nas redes sociais, a internet pode ser muito útil para estudar e ter acesso a vários conteúdos, filmes,livros,musicas dá pra adquirir cultura e conhecimento de forma mais fácil do que nunca e a maioria das pessoas está ocupada demais inflando o ego em redes sociais

  • Apenas para constar, eu tinha em casa o ¨Thesouro da Juventude¨. Mais alguém? E depois que percebi que checava o email 50 vezes entre casa e trabalho, em vez de cantar ou brincar com minhas filhas, cancelei o 3G.

  • Eu fico receosa pensando no futuro das gerações mais novas, incluindo a minha. Como eu já cresci mexendo em computadores (jogos e digitação no Word com aquele mascote clip besta), não vi essa época A.I.. Apesar disso, percebo as mudanças desde minha infância pra cá. Hoje em dia nem sempre há longos diálogos quando eu e alguns colegas nos encontramos. Em suma, todos sentados à mesa mexendo em seus celulares, de vez em quando um mostra algo em seu celular, risadinhas, cochichos e fim. As pessoas que eu conheço que não fazem isso dá pra contar nos dedos da mão. Estou começando a usar o vício em celular como um filtro de amizades.

    Nem mexo tanto assim no meu celular (nenhum jogo baixado e poucos amigos que valem a pena trocar mais que 3 mensagens) e acho um saco ficar mais que 2 horas no computador. Sério, como conseguem?
    Esses dias eu li uma piadinha assim: “A internet caiu e resolvi dar uma volta pela casa. Tem uma mulher estranha aqui dizendo que é minha mãe”. Penso se isso é profético. Se a tecnologia estará tão presente que vai definitivamente dispensar interação humana.

    Ninguém mais tem paciência pra nada. Nadinha. Nada satisfaz as pessoas, pelo menos da minha faixa etária. Se antes ficávamos satisfeitos com um celular tijolo com a tela minúscula, com internet discada (aquele barulhinho ainda volta na minha mente de vez em quando) ou com um jogo lerdo com gráficos péssimos e bugados, atualmente esses imediatistas já ficam de birra se o jogo não é em 3D ou veio com um erro que passou despercebido pelos programadores. Só faltam quebrar o computador se um download deu erro. Poxa, vai morrer se não baixar o whatever agora? A hora em que a pessoa responder a mensagem vai definir o futuro da humanidade? Não dá pra ficar uns minutinhos sem ver o Whatsapp em troca de sua própria segurança no trânsito (e a dos outros)?

    Eu fico mentalizando um dia em que todos os eletrônicos do mundo parassem de funcionar ao mesmo tempo por um dia ou uma semana, e as pessoas precisassem se virar sozinhas.

  • Essa geração está um pau no cu… mas é criada e educada pela minha, pela sua geração… Não entendo!!!

    Por mais moderna que seja a situação, vou criar meus filhos com o pé na realidade. Não quero filho babaca e acomodado.

  • Sally,
    Muito obrigado por exprimir tudo o que também penso sobre esse assunto. Estou conseguindo manter o meu filho não dependente de tanta facilidade.

    E cada dia mais o filme Idiocracia faz mais sentido. Se não viu, assista. É profético.

  • Confesso: sou geração F e sou viciada potência máxima em smartphone! E consigo perceber já os efeitos deletérios disso: falta de atenção, esquecimentos, crises de ansiedade quando me percebo sem sinal. Praticamente, mexer no celular é a primeira e última coisa que faço todos os dias. Já cheguei a acessar o Twitter 100 vezes no mesmo dia! Percebido isso, estou tentando diminuir o uso me forçando a ficar sem mexer por tempos progressivos. Sem dúvidas é o maior vício de todos os tempos… mas… entendo que estamos diante daquelas importantes mudanças históricas de comportamento… a propagação das informações e as relações inter pessoais mudaram. Nós temos a escolha de só observar ou entender esse momento e vivê-lo. Esse é o fluxo agora. .. e o interessante é que ninguém que pensava o futuro conseguiu interpretar que a mudança viria através da comunicação escrita…
    Ps- ainda tenho Barsa… Como era viver com informações tão antigas? Lembro quando teve o acidente de Chernobyl que esperei 1 ano e pouco para me inteirar sobre o assunto! Agora isso seria impensável.

  • Se vc morasse num lugar sem água encanada, tomasse banho de balde e de repente conseguisse se mudar, nunca nunquinha mais vc nem lembraria do balde! Mesma coisa com as facilidades, juro que nem me imagino mais sem minha internet e meu computador de bolso pra ter tudo a minha disposição de imediato. Senti até angústia de vc me fazer lembrar daqueles tempos…

    • Discordo de você. Acho que quem passa por um perrengue enorme nunca mais esquece.

      Internet é ótimo, de forma alguma acho melhor os velhos tempos. O que é ruim é ser escravo de internet…

  • Certa vez li por aí que um autor (salvo engano) americano (não lembro o nome agora, e veja, não saí correndo pro Google haha) escreveu um livro para descrever/analisar essa atual geração de acéfalos despreparados que entram em parafuso diante de frustrações. O título da obra é “The Me Me Me Generation”. Foi a primeira coisa da qual lembrei quando li esse texto, que por sinal retratou em alta definição essa atual geração pateticamente mimada, que não consegue abstrair o conceito de indisponibilidade.

  • Revelando a idade, Sally? Já tá começando o discurso de 3ª idade, viu? “Lembro do tempo em que blábláblá…” (Brinqs, :D)

    Mas, fora de brincadeiras, esse imediatismo predominante na sociedade atual, no meu olhar, é por causa da crescente velocidade com que as coisas evoluem hoje em dia; a tecnologia e a crescente comodidade que proporciona, tem muita influência nisso. Do alto dos meus 22 anos, não tenho tantas recordações assim, mas vou partilhar uma pincelada das minhas experiências de infância e adolescência.

    Lembro sim do tempo dos telefones em que se tinha que rodar o disco para discar o número, que, no entanto resistiram apenas em poucas casas, pois na maioria já havia telefones de teclas, ou celulares do tipo “tijolão”. Ligações internacionais estavam fora de questão, até porque não tinha amigo nenhum fora do Brasil.

    Sim, já havia internet, mas era aquele troço discado que era mais barato tarde da noite e aos fins de semana, fazia aqueles barulhos esquisitos na hora de conectar e caía toda vez que alguém precisava usar o telefone. Naquela época tinha paciência suficiente para aguardar dois minutos até que as páginas carregassem. Agora já reclamo mentalmente se passarem 15 segundos para a página abrir…

    Acesso à informação: biblioteca, livros didáticos, revista e jornal. Trabalhos em grupo na escola eram rodeados de livros, cartolina e outras bagaças totalmente não-tecnológicas em todas as etapas do trabalho.

    A grande lição que eu aprendi, e que parece perdida hoje em dia é: “nem sempre se tem tudo o que se quer”. Quando não tem, pela razão que for, não tem, paciência, você que espere, ou como você diz, aceita que dói menos. Confesso que essa lição se perdeu um pouco nas pequenas coisas (aquelas que envolvem download de algum lugar), mas ainda assim não vou morrer se não tiver AGORA qualquer coisa que desejar.

  • A maneira que Tia Sally vê o mundo é beeem interessante!
    Outro dia tava eu fuçando no site de anúncios procurando uma diarista e eis que me deparo com uma descrição curiosa: A candidata diz que não tem vícios, pois não fuma, não bebe e nem tem VÍCIO DE CELULAR. Caramba! Eu fiquei passada como agora celular tá no mesmo patamar de cigarro e bebida.

    • Já tem um texto meu sobre esse assunto: como a internet e smartphone são o câncer da produtividade moderna. As pessoas simplesmente não conseguem ficar oito horas sem acessar a internet de alguma forma pelo celular.

  • Sim, os telefones fixos com botoes giratorios…e os vini’s, a TV que demorava alguns minutos pra dar imagem depois d ligada, a cansativa maquina de escrever, as geladeiras nao tinha botao de degelo…hahahaha…e as antenas externas que tinham de ser rodadas prta pegar o sinal…Fico imaginando como devia ser para a geracao…como se chamava a geracao anterior mesmo? Bem, eles tinham que esperar a telefonista discar (exercitando a paciencia), e visualizar as Radionovelas e os Campeonatos (exercitando a imaginacao) apenas para dar alguns exemplos. Realmente, a tecnologia é bônus, em sua praticidade e rapidez de informacao, mas nos trouxe o ânus de quem ja nasceu com tudo pronto. Sim, é um cú mesmo!

    • Tudo depende da criação que se dê a essa geração. Não é porque tem tudo pronto que tem que virar um ansioso faniquiteiro egoísta. O grande problema é a criação que recebem, os valores, os exemplos dentro de casa.

  • Confesso que fiz isso ontem. Acordei com um trecho pequeno de uma música na cabeça e não conseguia lembrar do resto. Perguntei para o Google e ele, com apenas 3 palavras, adivinhou a música inteira em poucos segundos.
    Estou emburrecendo!!!!

    • E eu desaprendi de fazer contas quando passei a usar calculadora. O auto completar tá me fazendo desaprender de escrever, mas e daí? Quem precisa saber escrever e fazer contas hoje em dia? Isso vai ser igual a tabela periódica, todos sabem que existe e consultam, mas ninguém precisa decorar.

  • Quero tudo mesmo pra ontem e agora não tem como voltar atrás nem refletindo.Quando meu sinal cai, parece que meu coração vai parar. O 3G zinho não serve mais pra nada. Bagulho irado é o 4G! Uma das poucas coisas que meu baiiro tem de bom e cobertura 4G. Agora quando eu marco encontro, vamos o tempo todo zapzapeando pra saber onde o outro tá, se ta chegando e tals.
    Sou da epoca que nem havia celular, teve uma vez eu era pirralho me perdi da mãe no mercado tive de pedir pra o cara do microfone chamar minha mãe no caixa. Hoje eu apenas discaria pro cel dela ou mandaria um wzap.

  • Fazia um tempo que eu não aparecia por aqui e estou feliz por ter vindo justamente hoje. Que texto sensacional! Coincidentemente, venho refletindo sobre isso a alguns dias.

    Além do emburrecimento e do imediatismo, creio que estamos perdendo a prática de conviver e interagir com as pessoas. Fiz uma viagem esse fim de ano com uma amiga e senti isso de perto. Saímos sozinhas algumas vezes e, por longos momentos, ficávamos mais interagindo com as pessoas nas redes sociais do que uma com a outra. Se pedíamos um chopp ou comida, a primeira coisa que se fazia era tirar uma foto e postar no instagram. Em determinado momento eu me dei conta disso e parei para observar. Em certa ocasião ficamos exatos 25 minutos sem trocar uma palavra. Durante 25 minutos minha amiga ficou olhando e rindo para a tela do celular ao invés de conversar comigo. Fiquei triste e com vergonha. Com quantas pessoas mais eu já fiz isso? Essa é uma das minhas resoluções para esse ano: Desapegar do smartphone e dar mais atenção às pessoas a minha volta.

    • Fico triste quando vejo casais em restaurantes que mal se olham, fica cada um com nariz enfiado no seu smartphone. Para que sair com uma pessoa se é para ficar no celular?

      • Já me retirei prematuramente de um encontro entre amigos só por causa disso, simulando uma crise de enxaqueca.

  • Só esperando ler este texto por aí e o povo dizendo olha o que o Arnaldo Jabor escreveu! kkkkkk DISSE TUDOOOOOOOOOOOOO!

    Vou imprimir para o meu marido ler.

  • Como sempre, o Desfavor vai lá e nos faz pensar! Ainda bem.

    Sally, vivi bons anos essa época da falta de internet e acesso rápido às informações. Lembro como se fosse ontem que quase morria de pesquisar nas enciclopédias lá de casa. Nem sempre achava e tinha que ir na biblioteca com minha mãe para ajudar! Até me deu um pouco de saudade sabe? Era quase uma olimpíadas da sabedoria hahaha.

    Hoje o que me tornei? Não digo que sou totalmente acomodada, pq ainda busco formas de sair da “caixinha” (até por isso sou muito fã do blog), mas estou longe de ser aquela pessoa super curiosa de antes. Dedicada e acostumada com as dificuldades. Obrigada por me fazer repensar.

    OBS: Na TPM não tem como deixar de ficar puta com quem não acelera o carro quando o sinal abre hahahahah.
    OBS2: Quando tirei carteira os smartphones não haviam nascido, estavam chegando… E sabe que notei que hoje as pessoas estão muito piores no transito e não vão quando o sinal abre justamente porque estão mexendo no celular! Inclusive pedestres, que são atropelados todos os dias por que estão vidrados na internet.

    • Trânsito irresponsável é uma das muitas consequências negativas do Smartphone. Acho que já falei disso no texto sobre FOMO (Porforofobia). Concordo com você.

  • Tb sou da Geração F, mas não me adaptei tanto, uso muita tecnologia no meu trabalho, mas na vida social não, não tenho smartphone, nem whats app e sou muito cobrada por isso. Acho ótimo não ser encontrada/incomodada o tempo todo e não ficar recebendo vídeos, piadinhas e coisas que não me interessam. Um dos motivos pelo qual não quero ter filhos é que tenho quase certeza que espancaria a criança/adolescente se fizesse birra por conta dessas imediatices.

    • Se você se der ao trabalho de educar uma criança (e dá trabalho, como dá trabalho), ela não vai fazer birra por conta de imediatices.

  • Os smarts tão tornando as pessoas imediatistas ou os imediatistas se identificaram com os smarts?
    Época ruinzona antes da internet! Eu não queria ter vivido nem um ano sequer naquela ilha.
    Quem critica tem a mente velha. Vc é velha, Sally!

    • Crítica é uma análise de um tema, a apreciaçāo de algo, nāo necessariamente sob um prisma desfavorável. Logo, para fazê-la é necessário pensar, o que as pessoas imediatistas se recusam a fazer e atribuem tal hábito às pessoas velhas, como se elas fossem algo menor que deve ser descartado. É o pensamento de babacas.

  • Ah, a Barsa… que imensa inveja daqueles que tinham metros de estante cheios daqueles catataus volumosos e que continham o mundo! Jamais tive condições de possuir aquilo (ou a Mirador) e tive que me contentar com as magérrimas “Pesquisas de Conhecer” (nem pra ser a “Conhecer” mesmo!), que até hoje vegetam lá em casa (se bem que elas me ajudaram um monte na aquisição de conhecimento).

    Em termos de imediatismo, nada mais odioso que o filho duma corna que buzina atrás de ti um nanossegundo após abrir o sinal.

    • Também tive a “Conhecer” em casa. E mais uma porção de outros livros – dos que eu usei na escola a coleções inteiras daqueles fascículos que vinham encartados em jornais – , o que fez a minha casa ser, durante muito tempo, a biblioteca do bairro. Era comum os filhos mais novos dos vizinhos virem pedir ajuda na hora de fazer trabalhos escolares. Depois que todo mundo passou a ter acesso à internet, no entanto, isso mudou. E eu também fiz tudo o que a Sally descreveu do que era corriqueiro “antigamente”. Não chego a sentir falta, mas certas coisas até que tinham lá sua graça…

      Ah! E a Sally acertou na mosca neste post. Há alguns meses, depois de reparar no comportamento de algumas pessoas à minha volta, eu até pensei em sugerir um tema assim, mas ela foi mais longe do que eu poderia pensar e mais certeira do que jamais seria…

      • Pelo visto não é só impressão minha, as pessoas estão ansiosas e imediatistas de forma prejudicial à sua funcionalidade

    • Tínhamos a Novo Conhecer em casa… assim como vários volumes de literatura (Coleção Vagalume – quem se lembra?). Minha irmã, “desempregada” aos 18, usou o tempo ocioso para me alfabetizar, assim aprendi a ler aos 4 anos. E, sinceramente, me sinto aflita por essa gente que simplesmente não sabe viver unplugged. Triste fim da raça humana (isso só pode ser o fim).

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