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Os opostos te traem.

Os opostos te traem.

| Somir | | 21 comentários em Os opostos te traem.

Os movimentos responsáveis pelas marchas recentes contra o governo atual começam a repensar suas estratégias. Botou gente na rua, fez barulho, mas… de prático não conseguiram nada. E numa análise mais fria, nem mesmo as extremamente populares manifestações de Junho de 2013 deram algum resultado. O que precisa para mudar este país?

Já começo dizendo que não estou exatamente tentando achar uma solução para ajudar quem quer o impeachment de Dilma. Como já disse num texto recente, não parece ser algo que vai gerar o resultado esperado, e tem muita gente babaca pedindo a volta de ditadura nesse bolo. Sou contra a corrupção absurda que ocorre no Brasil, coloco boa parte dessa culpa na administração atual, mas… ainda sou pessimista em relação à efetividade de dessa possível chacoalhada no governo.

O que não me impede de conjecturar: o Brasil tem imensas dificuldades de impor a vontade do povo em seus representantes. Para o bem e para o mal… se dependesse de nosso sábio povo, o conceito de justiça regrediria para a Idade Média. O brasileiro pode até estar pensando no próprio bem, mas costuma confundir vontade de resolver com capacidade de resolver. A procura pela solução mágica para todos os problemas consome tempo demais na cabeça dessa gente.

A vida real é mais… exigente. Precisa saber o que se quer e ter um bom plano para conseguir. E bons planos dificilmente tem uma etapa chamada “resolver tudo na hora”. Infelizmente, não é bem assim que o brasileiro tende a agir quando está reivindicando alguma coisa para suas figuras de poder. Eles querem alguma coisa, e basicamente só isso. Sem negociação, sem etapas, sem metas… apenas o brinquedo que pediram para o Papai Noel.

E algo me diz que essa maneira de enxergar as coisas tem tudo a ver com a ineficácia dos movimentos populares dos últimos tempos. O governo do PT está atolado em escândalos de corrupção, é nobre exigir sua saída… mas, também é ineficiente pedir só isso. Talvez ainda exista alguma memória coletiva do caso do Collor confundindo as pessoas: o povo foi um símbolo bacana, mas os poderosos daquele momento queriam mesmo a cabeça do carioca (achavam que era alagoano, né?). A máquina trabalhou em prol dos desejos da população mais por coincidência do que por conivência.

Numa conjuntura um pouco mais estável, precisa de MUITA gente na rua para conseguir um ‘prêmio’ desses. Mais ou menos o suficiente para parar o país completamente e deixar as bases armadas para uma guerra civil ou golpe (o que vier primeiro). E a tendência é que em países grandes e relativamente pacatos feito o Brasil isso nunca aconteça. Não tem nenhum grupo bem organizado pronto para assumir na bagunça, então a tendência é que o povo faça apenas barulho ao protestar.

E barulho é um problema contornável. Dilma ficou de pé com milhões de pessoas nas ruas, muitas delas botando fogo e depredando coisas. Claro, ela deu um discurso assustado e prometeu um monte de coisas que ou foram inúteis ou foram ignoradas. O barulho passou, até porque todo mundo tinha que acordar cedo no dia seguinte. Na Copa o povo chiou de novo, mas ninguém sequer balançou. No mês passado muita gente foi pra rua de novo, e o máximo que tivemos foi um pronunciamento tragicômico de dois ministros perdidos.

É só barulho. Acho triste que seja só barulho quando estão reclamando de corrupção e desmandos, mas pra que tapar o sol com a peneira? Presume-se que o povo unido (jamais será vencido) consiga pressionar seus representantes a articular em seu nome. Mas presume-se errado: não elegemos representantes. Não se esqueça que até os mais notórios safados do Executivo e do Legislativo estão lá por voto popular. Elege-se alguém e torce-se para o melhor resultado. O povo quer alguma coisa, mas deixa o ‘como fazer’ nas mãos do acaso.

E o som das ruas cai em ouvidos moucos. Não há quem transforme essa energia potencial em trabalho propriamente dito. Enquanto os organizadores dos movimentos populares em polvorosa pela saída da presidente coçam a cabeça para descobrir o que está dando errado, aqueles que podem fazer o certo suspiram aliviados por passarem despercebidos. O povo na rua querendo mais ética e honestidade é uma cena muito bonita, mas enquanto eles não estiverem armados e perigosos, não passa de uma cena.

Vontade popular é uma parte da equação, mas não é a única variável a ser encontrada para chegarmos numa resolução. Para lutar contra a situação, precisamos de uma oposição. Algo planejado, organizado e motivado. Se queriam saber por que as coisas não estão saindo como o esperado, que olhassem menos para as ruas e mais para os corredores do Congresso. É lá que está a falha no projeto. Não temos oposição nesse país. Quase metade da população votou num sujeito que se contentou em ladrar enquanto a caravana passa.

Pode parecer maluquice, mas se querem algum resultado, está na hora de fazer barulho nos portões da oposição. Eles estão escondidos da batalha. São eles que tem os mecanismos necessários para botar em prática os pedidos do povo que vai para as ruas. É hora de bater no PSDB, não no PT. Tem que tirar eles da inércia contemplativa e completar a equação.

Novamente: não acho que o Aécio seja solução, não acho que o PSDB não seja mais do mesmo, nem mesmo estou confiante que tirar o PT agora nos fará bem (se o barco afundar, eu quero eles dentro). Mas, porra… se ainda não caiu a ficha do motivo pelo qual as manifestações estão falhando e perdendo fôlego, que caia de uma vez! Está muito confortável ser oposição se isso significa apenas ver o adversário se queimando e apontar o dedo de vez em quando. Está na hora de mexer a bunda e se fazer ouvir!

Evidente que só berrar nas ruas não resolveria o problema. Querer uma coisa não é sinônimo de ser capaz de conquistá-la. E aí precisam fazer o básico de uma democracia: fazer seus representantes trabalharem! É esse o conceito que parece não entrar na cabeça das pessoas: aquela turma do Congresso e do Senado serve sim para alguma coisa, e enquanto a turba enfurecida não estiver à caça deles, vai ser só barulho.

E repito: barulho é contornável.

Para dizer que melhor ainda é combinar de não votar no PMDB para mais nada, para dizer que eu sou um petista disfarçado, ou mesmo para dizer que tem saudades do PT do lado que reclamava: somir@desfavor.com


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