Sobrevivendo a erupções vulcânicas.

Estamos em um momento agitadinho no planeta Terra. Entre os vários fenômenos naturais que estão acontecendo, os vulcões parecem ter acordado: Kilauea no Havaí, Vulcão de Fogo na Guatemala e Monte Shinmoe no Japão são alguns exemplos de que 2018 parece ter uma agenda de erupções lotada. Então, mesmo cientes de que não existem vulcões no Brasil, vale a pena bater um papo sobre o assunto, pois dependendo de onde explodir, pode chegar na gente: Desfavor Explica – Sovrevivendo a Erupções Vulcânicas.

Para quem quiser saber mais, já falamos aqui o que são os supervulcões, no que consistem as erupções e como eles funcionam. Agora vamos ver como você pode aumentar suas chances de sobrevivência se estiver presente em um local onde ocorra uma erupção.

Felizmente os principais vulcões do mundo são monitorados hoje em dia, então, é possível receber algum tipo de aviso caso haja uma erupção. Mas, quando o alarme tocar, você precisa saber o que fazer. Nós que não temos muita familiaridade com o evento, podemos não performar muito bem na pressão. Além do vexame de se portar como um idiota, isso pode colocar sua vida em risco. Então, aqui vão algumas dicas para que você tente não morrer em caso de erupção vulcânica.

Caso você vá para um local onde existe um vulcão nas proximidades, primeiro eu te pergunto por qual motivo você está fazendo esta escolha? Sério mesmo, tem tanto lugar lindo no mundo, precisa mesmo ir para o epicentro de uma danação? Mas, supondo que você tenha essa vontade enorme de ir para perto de uma grande panela de pressão natural prestes a explodir, ao menos tome estes cuidados: estude o local onde você vai e os vulcões que o cercam. Entenda o tipo de vulcão, se está em atividade ou não, como são as erupções e quais as medidas de segurança e evacuação. Acredite, no meio do desastre não vai dar tempo de estudar nada. Informe-se sobre os mecanismos de aviso em caso de erupção. Tenha uma mochila de emergência pronta com mantimentos, água e kit de primeiros socorros.

Provavelmente o local terá um sistema de alerta. Procure se informar como se dá esse alerta. Geralmente é na forma de sirenes. Mas sirenes podem indicar muitas coisas, digo por experiência própria, quando comecei a pegar documentos e correr achando que era um alerta de Tsunami e era apenas uma van vendendo picolé. As pessoas do hotel riam e diziam “a sirene de Tsunami é diferente”. Porra, como é que eu vou saber? Se sirene indica desastre, não deveria ser usada para nada além disso.

Então, escutou uma sirene, em vez de correr como a palhaça aqui, ligue a TV ou o rádio. Normalmente estações de rádio são as primeiras a dar a notícia, pois podem interromper a programação com mais facilidade do que a TV. É possível que no próprio rádio você escute instruções sobre o que fazer.

Nem sempre correr é a melhor opção. Evacuação pode ser uma ótima saída, mas também pode ser suicídio, dependendo do tipo de erupção, do tamanho e potência do vulcão e da distância que ele está de você. Muitas vezes a recomendação é o oposto: fique onde está e não saia na rua. Então, não faça como a maluca aqui, que sai correndo feito um porquinho da índia. Escute a ordem das autoridades locais. Sim, é uma ordem. Descumprindo você coloca em risco a sua vida, a vida das pessoas que estão com você e a vida dos infelizes que terão por dever ir te resgatar. Não seja essa pessoa.

Mas, nem sempre tem uma sirene no local. As formas naturais de detectar uma erupção vulcânica são: barulho (geralmente um estrondo ou uma explosão), cinzas ou fragmentos no ar (geralmente na forma de uma fuligem similar à que sai de uma lareira) ou um tremor, similar ao de um terremoto. Aliás, nada impede que você vivencie um desgraçamento coletivo, por exemplo, um terremoto que, ato contínuo, gera uma erupção vulcânica. Corre pros meios de comunicação para saber o que aconteceu. E, de preferência, tenha sempre um radio a pilha com você, pois não raro falta luz e você fica literalmente no escuro, seja sem iluminação, seja sem informação.

Muitas vezes, quando as erupções são recorrentes, o local tem um mapeamento do fluxo que a lava vai fazer. Com isso, o que é procedimento de segurança para um quarteirão, pode não ser para o outro. Se a lava vai passar por cima da sua casa ou do seu hotel, é de bom tom que você saia de lá. Mas, se vai passar no bairro ao lado, talvez seja melhor que você fique bem quietinho, onde está. Ao contrário da maior parte dos desastres, como terremoto e tsunami, a erupção vulcânica nem sempre afeta a todos por igual. Assim, não estranhe se cada um receber uma ordem, siga as instruções para a sua região e não dê trabalho para as autoridades.

Sério mesmo, não seja Zé Cu. Siga as instruções que lhe forem dadas. Brasileiro não entende nada de vulcão, então, mesmo que não faça sentido para você, obedeça o que estão mandando. Aquelas pessoas lidam com vulcão desde que nasceram, as chances delas saberem o melhor a fazer são enormes. Mania de brasileiro se achar espertão e acreditar que a sua lógica (mesmo sem o menor conhecimento de causa) faz mais sentido que a do outro. Se mandarem ficar quieto, fique quieto. Se mandarem evacuar, saia rápido. Dez minutos podem ser a diferença entre a vida e a morte.

Supondo que você tenha que sair de onde você está, procure um mapa do local. O hotel pode fornecer. Você também acha facilmente no Google e salva no seu celular, sem precisar de internet para consulta-lo. O mapa é importante para o caso de ser necessário um Plano B. Vulcões são previsíveis até certo ponto, pode ser que a rota de fuga que se pensou ser a melhor não seja válida. Então, tenha sempre uma clara noção espacial de onde está e quais são os caminhos possíveis para sair dali. Se não for bom com localização, mantenha-se próximo de quem é.

Dá uma olhadinha na janela. Veja se o céu está com cinzas. Tem cinzas caindo? Tenho uma notícia chata para te dar. Tentar fugir de carro é uma furada. As cinzas interferem no mecanismo de funcionamento do motor e o carro não vai durar muito, ele vai parar no meio do caminho. Desesperador? Um pouco. Mas calma, o poder público do local deve prestar algum tipo de ajuda. Talvez a melhor opção nem seja sair e sim ficar onde está.

Em tendo que evacuar o local e ciente de que talvez tenha que ser a pé, não custa dizer que é preciso levar apenas o essencial. Dinheiro, documento e aquilo que for útil para a sobrevivência. Talvez você tenha que andar bastante, então, quanto menos peso, melhor. Foca em comida (de preferência não perecível), água potável, kit e primeiros socorros, medicamentos básicos, um rádio a pilha para tentar escutar atualizações, um mapa do local e um cobertor. Daí em diante, fica impossível antever a melhor estratégia, você vai ter que obedecer as autoridades locais.

Supondo que você esteja andando pela rua, tranquilamente, apenas com uma bolsinha com RG e um casaquinho. Começa uma erupção. O que fazer? Primeira coisa, sair da rua. Se você não consegue ter acesso a nenhuma notícia ou instruções, na dúvida, a regra é clara: busque abrigo. Entre em um restaurante, loja, em qualquer lugar onde possa encontrar abrigo e informações. Só corra para sua casa ou hotel se ele ficar muito próximo, caso contrário, se enfia no lugar mais resistente e seguro que tiver por perto e fique ali. Evacuação é só com ordem das autoridades locais, nunca por conta própria.

Uma vez lá dentro, procure por informações. Muitas vezes a erupção avacalha com a energia elétrica e até com algumas antenas, o que pode deixar a cidade sem luz elétrica e sem telefones. A solução para isso é o bom e velho radio a pilha. Os moradores locais, cientes desse tipo de consequência, costumam ter algum meio de comunicação que não dependa de energia elétrica.

O primeiro passo é ouvir as orientações das autoridades. Se for evacuar, saia o mais rápido possível. Sem passadinha no hotel, sem escalas. Vá para onde te mandam ir o mais rápido possível. Você não tem conhecimento para avaliar a urgência da situação. Não tem qualquer subsídio para decidir, da sua cabeça, se dá para dar uma passadinha no hotel para pegar suas coisas. Mandou evacuar imediatamente, evacue imediatamente.

Se a orientação é se abrigar onde está, fique onde está. Em sendo sua casa ou o hotel, ponha para dentro tudo que você não queira que morra, como por exemplo, cães e gatos. Feche todas as portas e janelas, é provável que uma nuvem de fumaça se aproxime, e às vezes ela vem com cinzas em brasa, que podem queimar e provocar incêndios. Se, mesmo assim, as cinzas entrarem, utilize máscaras de gás (geralmente bons hotéis disponibilizam) ou improvise, respirando através de um pano molhado, para evitar que as cinzas cheguem ao seu pulmão.

Mesmo que você perceba claramente que a erupção parou, fique onde está até que as autoridades locais digam que é seguro sair. Vulcões podem continuar expelindo lava ou cinza por horas depois de cessada a erupção, fora as que foram jogadas a uma altura enorme e demoram a cair. Então, o fim da erupção não é o fim da danação causada pela erupção. Não relaxe, não descanse, fique atento às instruções. Não raro vulcões entram em erupção, descansam um pouquinho e depois entram em erupção novamente. Só quem está monitorando aquilo vai saber te dizer quando o show realmente acabou.

Às vezes as cinzas continuam caindo por horas em tal intensidade que cobrem os tetos das casas e acabam fazendo com que eles desabem pelo peso. Às vezes elas chegam com tantas partículas incandescentes que provocam um incêndio do nada, horas após cessada a erupção. Então, alerta máximo até que alguma autoridade te diga que está tudo bem e, ao menor sinal de incêndio, evacue o local. É uma merda ficar na rua no meio de uma erupção vulcânica, mas pior ainda é ficar em um prédio em chamas. Quem mandou viajar para um lugar onde a natureza está em fúria?

Não beba água da torneira nos próximos dias, ela pode estar contaminada. Recomendo água mineral o resto da estadia. Ou melhor, recomendo que volte para casa o mais rápido possível. Geralmente quem tem problemas respiratórios acaba passando mal, mesmo com todos os cuidados, ao inalar as cinzas, ainda que em pequenas quantidades. Quando as autoridades derem o aval para sair de casa, procure ajuda médica imediatamente, pois não é algo que passe sozinho. A pessoa com problemas respiratórios precisará de medicação.

Agora, pior dos mundos: você estava zanzando na mãe natureza por ser um inconsequente que passeia pero de vulcões ativos acha que uma erupção começou. Não tem onde de abrigar, não tem onde buscar informações do que está acontecendo. Se você viu uma erupção, ouviu um estrondo, sentiu a terra tremer ou viu cinzas começarem a cair do céu, lide com a situação como se fosse uma erupção vulcânica. Se não for, que bom. Se for, suas chances de sobreviver são maiores.

Supondo que você esteja em um local isolado e totalmente incomunicável. A primeira dica é: vá para o alto. A tendência natural é a lava descer na forma de um grande rio incandescente que vai matando tudo pelo caminho até se alojar em uma planície, alagando e destruindo tudo que ali estava (e esse tudo geralmente são casas). Indo para cima, você se afasta da planície ou local onde esta lava vai se depositar e ainda aumenta suas chances de uma melhor visão do que está acontecendo. Se houver uma montanha, suba, mas com constante atenção.

Observe o céu. Se perceber que estão voando detritos, cinzas incandescentes e outras coisas desagradáveis na sua direção (papo técnico: nuvens piroclasticas), vá para a direção oposta, até sair do raio de alcance. Dependendo do caso, não dá para fugir, os detritos podem te alcançar mesmo estando quilômetros de distancia do local da erupção. O ideal é correr para o lado oposto de onde fica o vulcão e, se sentir que é inútil, agache com o rosto virado para o lado oposto de onde vem a nuvem (o lado oposto do vulcão) e proteja sua cabeça com os braços, mochila ou qualquer coisa que encontrar. Mas atenção: que seja um material não inflamável, caso contrário, em vez de proteger, vai atear fogo em você!

Sem querer ser pessimista, mas tenho mais uma consideração a fazer: erupções vulcânicas emitem gases e, dependendo da composição e quantidade destes gases, eles podem ser venenosos. Os livros recomendam que você respire através de uma máscara de gás, mas eu presumo que um Zé Ruela que vai zanzar na natureza perto de um vulcão não prime pela precaução. Provavelmente você não tem uma máscara.

Então, pegue um pedaço de pano (pode ser um par de meias extras, pode ser um pedaço da sua camisa que você vai rasgar, não importa), molhe (só não molhe em bebida alcoolica, por gentileza) e coloque ele na frente da sua boca e nariz antes de respirar. Isso vai proteger seu pulmão das cinzas. Se a coisa piorar, não resta mais nada a fazer a não ser correr para o lado oposto onde elas estão vindo. Se puder, proteja seus olhos também, colocando óculos. Escuros, de grau, não importa, qualquer coisa que seja uma barreira serve. Cubra seu corpo o máximo que puder, se tiver um casaco de mangas longas, vista. Deixe a menos quantidade de superfície de pele descoberta.

Tenha em mente que o que mais mata em erupções vulcânicas são os líquidos que saem do vulcão, e não as cinzas. Um erro muito comum é achar que a lava esfriou, por estar endurecida, e tentar andar sobre ela para escapar. Não faça isso. A camada fina superior pode até ter esfriado e endurecido, mas ela pode não ser suficiente para suportar seu peso, então, é provável que quebre e você seja totalmente queimado pela camada de baixo. Pense na gelatina. Quando você a coloca na geladeira: logo depois ela forma uma fina camada fria na parte superior, mas se você enfiar o dedo, ela cede facilmente e o que está por baixo ainda está liquido e quente.

A título de curiosidade, hoje existem cerca de 1300 vulcões ativos no nosso planeta, a maioria se localiza entre junções de placas tectônicas. A maior explosão já registrada por seres humanos ocorreu no Monte Tambora, localizado na Indonésia, em 1815. Foram tantas cinzas que naquele ano não houve verão, nem colheitas em boa parte do planeta por falta de luz solar. O saldo estimado de mortos foi 92 mil pessoas. Na escala de explosões vulcânicas (papo técnico: VEI – Índice de Explosividade Vulcânica), este evento foi um 7. A escala vai de 0 a 8. Até agora, apesar de existirem relatos que levem a crer que ocorreu, nunca presenciamos um 8 realizando a medição, mas há vulcões com potencial para isso.

Hoje, o maior risco para a humanidade é Yellowstone, localizado nos EUA. Ele não é um vulcão, é um supervulcão. Um dado rápido para que vocês tenham ideia do tamanho do estrago: uma erupção de Yellowstone seria um milhão de vezes mais forte do que a erupção vulcânica mais forte já registrada até hoje.

É considerado o único desastre natural factível que pode destruir por completo a vida humana, por causa da quantidade de cinzas que lançaria na atmosfera. Nenhum outro vulcão do planeta chega remotamente perto dele em matéria de tamanho, potência e estrago.

Sem querer ser alarmista, mas neste ano começaram a detectar umas atividades em Yellowstone. Isso não é certeza de que ele vá entrar em erupção em breve, mas é uma possibilidade. Nesse caso, estas diquinhas servirão para todos nós, pois o evento vai ser de tal magnitude, que vai nos afetar.

Para dizer que em vez de pedir “vem logo meteroro” vai pedir “vem logo Yellowstone”, para dizer que nem adianta tentar ajudar pois brasileiro vai morrer fazendo selfie na lava ou ainda para dizer que Desfavor deveria ser patrocinado por algum antidepressivo: sally@desfavor.com

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Comments (9)

    • Luli, pode ter certeza que essas informações ficam arquivadas lá no fundo do cérebro. Se um dia forem necessárias (espero que não) elas voltarão e serão úteis

  • Uns anos atrás viajei para a Itália e fui visitar Pompéia. Eu pensava que a cidade ficava bem no pé do Vesúvio, mas não, é longe pra caramba (dá para ver o vulcão a olho nu no horizonte, mas ainda assim é bem longe). Imagino a porrada que deve ter sido aquela erupção!

    • Binho, ficou famosa pelo legado que deixou, mas teve coisa bem pior. Para alguns, Vesuvio não está nem no Top 10 de potência.

      • “O Vulcão de Nova Iguaçu é uma hipótese de trabalho para interpretação geológica das rochas vulcânicas, especialmente rochas piroclásticas, que ocorrem no limítrofe nordeste do maciço Mendanha, no Estado do Rio de Janeiro, Brasil.”

        Tinha que ser no Rio…

    • Não, meus anjos, era uma fortinha hipótese de 2004 que morreu após artigos científicos entre 2006 e 2009…

      (Aliás, a subparte do estado do RJ que é a Baixada Fluminense apenas poderia alcançar seu próprio Processa Eu mesmo…)

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