Skip to main content

Colunas

Arquivos

Comunidade fracassada.

Comunidade fracassada.

| Somir | | 25 comentários em Comunidade fracassada.

Não dá para falar de fracassos do desfavor sem falar dos nossos fóruns e tentativas de trabalho conjunto com os impopulares durante os anos. Tomar cafezinho com a Sally todo mundo quer, mas na hora de arregaçar as mangas, nossa comunidade vira uma rua deserta. Onde será que falhamos?

Desde os tempos de Orkut, Sally e eu raramente achávamos gente disposta a produzir algo além de um comentário debochado, e isso foi passado para o desfavor mais ou menos da mesma forma. Não que isso seja um dedo na cara de ninguém, é só um fato da vida: a maioria das pessoas nunca vai ter ânimo ou mesmo paciência para produzir conteúdo original. Um dos pontos que geraram afinidade entre Sally e eu foi justamente essa propensão.

Eu sempre tive essa via produtiva, antes de ter internet estava criando histórias em quadrinhos ou mesmo criando “guias” sobre jogos de videogame inventados por mim em qualquer folha de papel que desse bobeira. Sim, extremamente popular com as meninas… depois da internet, eu mantive o ritmo. Antes do desfavor eu estava poluindo a grande rede com diversos outros projetos aleatórios com senso de humor pra lá de duvidoso. Ensinou-me a fazer basicamente tudo o que eu faço hoje cobrando. Então, pelo menos isso.

Sally sempre fez muito de qualquer coisa que ela decidia fazer em sua vida. Apesar de ter seguido essa vida careta de pessoa que socializa, ainda sim tem seus méritos. Hoje em dia é uma força produtiva impressionante, mesmo que com alguns interesses… curiosos… como acompanhar um reality show de subcelebridades até de madrugada para contar o que aconteceu para gente que nem sabe quem essas subcelebridades são. O importante é que no final das contas, ela entrega o conteúdo.

Encontrei poucas pessoas com esse tipo de ânimo para produzir (de graça) até hoje. Algumas pessoas tem uma fagulha eventual, mas não conseguem manter o ritmo, outras sempre estão com vontade, mas sofrem do mal de começar milhares de coisas e não terminar nenhuma. Eu já disse aqui em outros textos e repito: não acredito que exista “pessoa criativa”, como se fosse algo inato. Existem pessoas que colocam energia na criação e pessoas que colocam sua energia em outro lugar.

Por isso que eu olho para as tentativas de fóruns e outras formas de participação de impopulares como um fracasso: a própria teimosia de continuar tentando esses projetos demonstra uma cegueira nossa. Quem acompanha nosso conteúdo costuma ter em comum não produzir coisas parecidas ou mesmo só querer consumir mesmo. Pelos números de visitas do desfavor, é uma minoria de uma minoria que tem coragem de deixar um comentário. A pessoa não tem o ânimo/tempo nem para produzir isso.

O primeiro fórum começou com gosto, eu estava empolgado, tinha mais gente animada para postar, todos tínhamos muito mais tempo livre há quase dez anos atrás… e por um tempo, foi bom. Mais precisamente as duas primeiras semanas. Foi só eu e Sally pararmos de postar lá umas quatro ou cinco vezes por dia que a coisa foi afundando. Eu honestamente achei que era só dar o espaço que muitos dos impopulares da época aproveitariam a chance para mostrar seus talentos (na verdade, falarem coisas horríveis e debocharem do que não podem nas vidas reais), mas sem um influxo de energia constante meu e da Sally, nada feito.

O segundo fórum foi mais “forçado”, por assim dizer. A ideia era capitalizar uma rede interna de impopulares nem tanto para produzir nosso próprio entretenimento, mas mais para trocarmos informações e nos ajudarmos longe dos olhos do grande público. Por um curto período de tempo, foi bom. Mas aí a mesma coisa aconteceu: foi só nós dois pararmos de postar várias vezes por dia que a coisa foi murchando de novo. Eu confesso que da segunda vez que eu tive o trabalho de configurar um fórum no nosso servidor e não vingou, tive um momento de putez com vocês.

Mas, foi passageiro. Afinal, ninguém era obrigado a nada e tinham muito mais fatores envolvidos. O principal é que a maioria das pessoas consome esse tipo de conteúdo, não produz. O que até faz sentido: vivemos reclamando dessa era onde todo mundo quer ser “influencer” na internet, mas não tem sequer o conteúdo para fazê-lo. Todo mundo cheio de opiniões evadindo privacidade para ser notado. Mas, no final das contas, não produzindo o suficiente para dar certo na área. A verdade é que dado um nível mínimo de qualidade, é melhor que poucos produzam o conteúdo que muitos vão ver. Até mesmo para evitar redundância… se você concorda com os pontos de vista que eu e Sally colocamos aqui, qual a lógica de produzir a mesma coisa de novo?

É que sempre me soou muito arrogante (mais do que o saudável) presumir que ninguém mais daqui poderia produzir conteúdo. Mas ao assumir os fracassos de nossas aberturas para vocês produzirem também, começo a entender isso de forma diferente. Não tem nada a ver com só eu e a Sally sermos capazes de pensar o que pensamos, e sim com as escolhas que fizemos para “colocar no papel” esses pensamentos. Hoje mesmo, com este texto: estou gastando um tempo que não tenho para escrever. Estou abrindo mão de cuidar de mim ou da minha carreira em algum outro aspecto para dar vazão ao conteúdo necessário para manter o desfavor funcionando.

Porque é uma questão de escolhas mesmo: escrever nossos textos, participar dos fóruns ou seja lá o que for, está gastando o tempo de outra coisa, invariavelmente. Ei, até mesmo consumir esse conteúdo gasta o tempo de vocês que poderiam estar usando em outros lugares. Talvez tenhamos errado a mão no quanto poderíamos esperar que outras pessoas gastassem de seus preciosos tempos para se relacionar com a gente e o que a gente produz. Sally e eu fizemos escolhas que nos levaram a produzir o desfavor, vocês fizeram outras para ler e comentar esse conteúdo. Não adianta forçar a barra mais do que isso.

E assumir esse fracasso também começa a nos liberar para pensar nessa relação de uma outra forma. O meio escrito tem vantagens na facilidade de produção, basta um editor de texto; e também em permitir um maior anonimato, qualquer pseudônimo serve. A gente sempre produziu assim pelas vantagens que nos trazia, mas também porque deixava bem mais fácil que vocês o fizessem, deixando uma barreira de entrada menor no processo participativo.

E se aceitássemos de vez que nossa escolha de produzir nos coloca na posição de só gerar conteúdo para os outros, ao invés de ficar esperando colaborações? Durante vários anos, fomos lendo comentários e comentários de pessoas que nos diziam com todas as letras que não queriam escrever nada, só queriam ler. Ou mesmo quem dizia que nem sentia vontade de comentar porque já estava tudo resolvido no texto mesmo. Parecia arrogância e vontade de se distanciar deixar de considerar o input dos impopulares até aqui, mas, talvez seja justamente isso que seja necessário para evitar novos fracassos.

Se vocês não estivessem lendo e comentando, até eu que sou mais autista já teria desistido há 9 anos e 11 meses atrás. É uma das partes mais importantes desse projeto, mas desde que entendamos direito o que podemos ou não esperar de vocês. Com certeza eu vou dizer “não” assim que a ideia de outro fórum surgir, assim como faz anos que eu nem espero mais textos do “desfavor convidado”, que tirando algumas pessoas como o Tender, a Suellen e o JMS(e suas iterações), raramente é utilizado.

Estamos fazendo uma semana de fracassos porque 1) é engraçado fazer isso na maior data do desfavor até hoje e 2) com todo fracasso vem o aprendizado para fazer algo melhor, basta prestar atenção. Eu aprendi a não me preocupar mais em facilitar a produção de conteúdo por parte de vocês, porque aparentemente não é a vontade de vocês. Mas é claro que a porta fica aberta: o desfavor convidado continua existindo e se tiver algum projeto bacana para sugerir, somos todos ouvidos. Mas não esperem mais que façamos coisas que dependam da participação de vocês produzindo material, claramente deu errado. E muito por teimosia nossa.

Vou começar a olhar com mais carinho para o número de visualizações do que o número de comentários. Estou achando que o caminho do desfavor é deixar algum espaço para colaboração, mas botar o foco em alcançar mais gente que só quer consumir o conteúdo mesmo. No final das contas, mantida nossa escolha de escrever e produzir material por diversão mesmo, não perdemos nada. Não se assustem se começarmos a tomar atitudes para expandir a base de leitores, mesmo que sejam estranhas com a lógica do desfavor até hoje. O clubinho não deu muito certo…

Afinal, o clubinho está onde quisermos que esteja. Não adianta forçar. Fracasso anotado, mudanças no horizonte. E eu acredito que é assim que tem que ser…

Para não dizer nada, para concordar em silêncio, ou mesmo para dizer que agora entendeu porque Pilha na Fazenda não precisou de votação para entrar na nossa rotina de postagens: somir@desfavor.com


Comments (25)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Relatório de erros de ortografia

O texto a seguir será enviado para nossos editores: