O projeto que prevê a privatização da Sabesp foi aprovado nesta quarta-feira (6) pelos deputados da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) após uma sessão marcada por tumulto que culminou na suspensão da discussão. Antes da votação, manifestantes que estavam nas galerias tentaram invadir o plenário. O presidente da Casa, André do Prado (PL), pediu reforço da segurança. No plenário, PMs tiveram dificuldades para conter os manifestantes e entraram em confronto. Alguns manifestantes foram detidos durante o tumulto. LINK


Um bando partindo para depredação e violência por uma causa que mal entende? Já vimos isso antes. Desfavor da Semana.

SALLY

Um grupo de pessoas descontentes com o que acreditam ser uma injustiça que, entre outras coisas, viola a lei e a democracia, resolve apelar para a força, invadindo e até depredando patrimônio público.

Esta descrição serve para bolsonarista maluco que invade o Congresso, quebra relógio e defeca na mesa de juiz ou para o pessoal que protagonizou as cenas lamentáveis desta semana na ALESP, durante a sessão sobre a privatização da Sabesp.

Cada um dos grupos acredita que tinha motivos legítimos para agir como agiu. É por isso que a lei não permite certas atitudes, por mais coberta de razão que a pessoa ache que esteja: o ser humano quando acha que tem razão é capaz de qualquer merda que tumultua a vida em sociedade.

FALSA SIMETRINHA! FALSA SIMETRINHA!

Meus queridos, não importa quão legítima você ache que é a sua causa, invadir e depredar patrimônio público não pode ser permitido. Já pensou se cada um que acha que tem razão começar a se portar assim?

E, novamente, pedimos coerência: todo mundo pode ou ninguém pode? Essa postura de “só pode quem eu gosto” ou “só pode quem eu concordo” só é tolerada até os cinco anos de idade, depois, se espera que a pessoa tenha alcançado um desempenho neuro-cognitivo capaz de apontar o ridículo e o infantil desta contradição.

É válido apelar para violência, invasão e depredação de patrimônio público quando um grupo do povo sentir que seus interesses não estão sendo atendidos ou que a democracia está ameaçada? Se a resposta for SIM, tem que valer para todo mundo, não importa o lado: se a pessoa se sente assim, ela pode invadir e depredar. Se a sua resposta for NÃO, não pode valer para ninguém, inclusive para as pessoas e causas com as quais você simpatiza.

Existem dezenas de ferramentas para contestar ações ou escolhas feitas por governantes que ferem o interesse do povo ou a democracia e certamente não são invadir e depredar, inclusive, nem é inteligente, pois é o povo quem vai pagar esse prejuízo com impostos. A primeira resposta ser a da invasão, depredação e violência é desproporcional. É animalesco. É errado.

O julgamento de certo ou errado se faz com base no ato. Quer dizer, deveria ser assim. Hoje se faz com base em quem o pratica, ou pior, com base no voto da pessoa que o pratica. Tem uma geração mimadinha cabeça de pudim incapaz de se frustrar e entender que a lei vale (ou deveria valer) para todos, por igual.

“Mas Sally, a lei não vale para todos no Brasil”. Beleza, não tem como discordar. Mas se você se portar de forma a reforçar esta realidade, você é parte do problema. E, a partir do momento em que você é parte do problema, não pode mais ficar palestrando virtude, cagando regra, julgando e se posicionando do lado de quem quer resolver o problema em redes sociais ou mesa de bar, combinado?

A simetria é tão perfeita que até no critério “vexame e burrice” os gados de ambos os lados dão match. Se de um lado teve um Patriota idiota o suficiente para grudar feito um gato em um caminhão em movimento, do outro tem uns desconstruídos que acharam que seria uma boa ideia jogar tinta vermelha na cara para dizer que apanharam da polícia. E pior: se filmaram passando tinta. O laudo do exame de corpo de delito poderia ser um roteiro de sitcom.

Pois é, minha gente, tem gado dos dois lados da cerca e ambos são ridículos, não são apenas os patriotas não. Desde rasgar uma suástica na própria barriga na frente do espelho sem perceber que ela vai ficar invertida e que todo mundo vai descobrir que foi a própria pessoa que fez até simular uma fala racista de um cliente pedindo para motoboy negro não entregar a encomenda, o roteiro é sempre o mesmo: gente burra com um plano “infalível” que, por força da sua burrice galopante, se vê forçada a admitir que forjou uma suposta agressão.

Se ocorreu algo que de alguma forma configurou uma ilegalidade, não é invadindo e depredando que se resolve. Tá bom de barbárie na sociedade brasileira, não acham? E, que fique claro, uma votação com a qual você não concorda com o resultado, não é uma ilegalidade, muito pelo contrário, isso é democracia: ter que engolir algo que não quer quando a maioria quer aquilo. “Ah mas a polícia queria me expulsar do lugar”. Tá certinho, combate violência com violência, mas depois não critica justiceiro que sai na rua para espancar bandido, ok?

Os arautos da verdade, do bom-sendo e da justiça não podem permitir algo que eles, senhores da razão, discordam. Como são sábios. Como são mais inteligentes que o resto. Como são aptos para decidir o futuro da sociedade! Invadiram, depredaram e forjaram violência para o seu bem, você é que é muito burro para perceber isso! Haja paciência para o Brasil, viu…

Aí você vai ver a vida de cada um e estão todos fodidos: frustrados com trabalho, ganhando mal, desempregados, sem conseguir um relacionamento decente, conta bancária no vermelho, brigados com a família, respondendo a processo, tomando remedinho tarja preta para conseguir dormir ou levantar da cama… Pessoas que não conseguem resolver a própria vida se acham no direito de impor qual deve ser o futuro do país. Patético.

Eu aposto que metade dos que estavam lá sequer entendem o que estava sendo votado (o Somir vai explicar), apenas repetem um discurso antigo esquerdopata contra privatização, um clássico do maniqueísmo “tudo que eu não gosto é do mal”. Privatização é a melhor solução? Não. Mas é o que resta quando o Estado é incompetente e não consegue prestar um bom serviço. Aceitem: essa é a realidade do Brasil. O Estado não consegue prestar um bom serviço. Alguém se lembra como era a telefonia quando era pública? Não se conseguia linha de telefone, não se conseguia fazer uma porra de uma ligação!

“Ain venderam Á ÁGUA de São Paulo!”. Privatizar não é entregar tudo para uma empresa. O Estado deve fiscalizar direitinho a prestação do serviço e se a empresa fizer qualquer coisa errada, pode perder a concessão. É como contratar alguém para limpar a sua casa: você não dá sua casa para a pessoa, ela apenas entra para limpar em troca de dinheiro e se não limpar direitinho (ou se cobrar muito caro), você pode contratar outra pessoa no lugar.

Mas não adianta falar, o gado continuará repetindo os mesmos mantras e chamando de fascista todo mundo que discorda dele. Os Minions Vermelhos continuarão se comportando como bolsonaristas com piercing. Tudo a mesma merda, seja político de esquerda/direita, seja militante de esquerda/direita. E ambos os lados apontam para o outro e criticam, tipo Meme do Homem Aranha.

Continuem assim, jogando tinta vermelha na cara e gritando que foram agredidos pela polícia, cravando suástica invertida na barriga e forjando denúncia de racismo em aplicativo. Continuem assim, mas depois não reclamem do resultado das próximas eleições.

Para dizer que nem Chapolin tinha um sangue tão artificial, para dizer que o que você não concorda deveria ser crime ou ainda para dizer que o Desfavor da Semana foi Lula peidando alto para os EUA e abandonando Maduro: sally@desfavor.com

SOMIR

Não vou negar que tem um lugar no meu coração para a ideia de utilizar guilhotinas para expressar descontentamento com a classe política. Talvez no coração de todos nós: tem algo de catártico na ideia de colocar sua raiva para fora contra os poderosos. Da massa se unindo em fúria contra quem faz mal para ela.

Mas a sociedade não pode funcionar dessa forma. E não é um “não pode” de temos que ser melhores do que isso, não… é bem mais banal mesmo: se todo mundo que se sentir sacaneado pelo poder constituído resolver botar fogo em tudo, não sobra sociedade nenhuma. Não podemos ser 100% conservadores nem 100% revolucionários. O ideal é guardarmos essa capacidade destrutiva para as situações mais graves.

E aí, possivelmente o maior problema, o de quem define quais são essas situações mais graves. Porque o cidadão médio já não prima pela inteligência e pela cultura, ainda mais em questões complexas como administração pública e justiça social. Existiram e ainda vão existir muitas turbas enfurecidas quebrando tudo o que veem pela frente, mas a maioria das pessoas nessas turbas não vai entender muito bem o que acontece.

Deve ser instinto: sobrevivemos tanto tempo nesse mundo porque temos esse impulso de agir em bando e multiplicar nossa força. Excelente contra predadores ou presas maiores, mas bem mais complicado quando estamos numa sociedade moderna.

Assim como os patriotas de oito de janeiro, eu apostaria que a maioria dos baderneiros na Alesp não sabiam muito bem o que estavam enfrentando. Sim, todos tem alguma resposta na ponta de língua, seja a defesa da liberdade ou a proteção do bem público, mas se você pedir para se aprofundar um pouco mais sobre exatamente qual é o problema e o que se deve fazer na prática depois do chilique coletivo, provavelmente vai escutar respostas desconexas.

A “privatização” da Sabesp é discutível? Claro que é. Qualquer troca de dono numa empresa é discutível. O Estado tinha controle sobre a Sabesp e pretende se desfazer dele para arrecadar dinheiro. Agora, a Sabesp já era uma empresa de economia mista, ou seja, dividida entre o governo de SP e investidores privados. Inclusive já está na Bolsa de Valores.

Então não é como se fosse uma estatal clássica. A Sabesp já trabalha com o objetivo de gerar lucro e já tem toda uma lógica interna de empresa tradicional. Compreensível desconfiar que sem o controle do Estado possam exagerar nessa coisa de lucro em detrimento da qualidade do serviço, mas lembrando que esse tipo de serviço básico não é isento de fiscalização.

Um governo decente que sabe vigiar e fazer valerem as leis sobre uma empresa que fornece água pode fazer isso com uma empresa pública ou privada. Não é como se uma Sabesp totalmente privada pudesse deixar de tratar a água ou começar a despejar o esgoto sem tratamento em qualquer lugar, não mudaram as leis nesse sentido.

A Sabesp pode ser boa ou ruim tendo ou não o controle acionário na mão do estado de SP. Mas assim como o mito do comunismo se aproximando rapidamente inflama o gado direitista, o mito do capitalismo fascista faz o mesmo com o gado esquerdista. Privatização é ruim pelo mesmo motivo que vacina é ruim para o outro lado: porque sim.

Isso é um problema: tem muita passionalidade pronta para ser explorada num povo cada vez mais dividido entre ilusões de lados diferentes. E quanto mais vemos essas histerias coletivas, mais naturais elas se parecem. E o que realmente deveria ser discutido fica escondido atrás de gente maluca e/ou mal-intencionada tomando todos os holofotes.

O que poderia ser discutido: se existe a necessidade de privatizar uma empresa que não está deficitária e para níveis brasileiros de exigência, até que trabalha direito. Se o povo realmente ganha alguma coisa com a nova direção e se o governo tem capacidade de fazer a fiscalização do serviço prestado.

Mas não, a discussão é entre imbecis de direita que acham que privatização é uma solução mágica, imbecis de esquerda acham que é errado por mágica também. Ganha quem berrar mais, quem lacrar mais. Os deputados usaram a votação polêmica para fazer showzinho para a base, a massa de manobra esquerdista teve seu momento patriota, e a proposta passou. Agora vai ser judicializada até não poder mais, e se tinha algo para entregar de melhor para o povo paulista, não se materializou.

É só macaquice, é só gritaria, é só baixaria. Passamos décadas chamando mais e mais gente maluca para a discussão política, esse é o resultado.

Para dizer que eu sou isentão (com orgulho), para dizer que só fascista defende privatização ou mesmo para dizer que só comunista é contra privatização: somir@desfavor.com

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Comments (12)

  • Serviços privatizados sempre devem ser fiscalizados – não importa o setor. Empresa privada tem que prestar contas e não pode fazer o que quer.

    Aliás, devemos estender esse conceito até mesmo às empresas que ainda permanecem estatais, mas não dá pra negar que o fato de não haver demissões por baixa produtividade crie uma camada de proteção para funcionários que não estão nem aí pra nada.

    Um argumento fascinante que eu costumo ouvir de quem defende que essas empresas permaneçam estatais, é de que “se na Noruega isso é estatal, por que aqui tem que ser privado?”

    Tipo, você quer mesmo comparar os funcionários deles e os nossos?

  • A principio minha tendencia é querwr privatizar pensando que é menos empresa pra politico botar compadres e roubar tudo.
    Mas ao mesmo tempo a privatização pode ser feita na mesma lógica e com uma fiscalização porca e conivente.
    Difícil escolher uma ideologia politica e segui la cegamente. A questão é moral antes de tudo

  • “jogando tinta vermelha na cara e gritando que foram agredidos pela polícia”
    Agora entendi porque afirmam com todas as forças que a facada do Bolsonaro é fake. Eles entendem do assunto.

  • É porque tudo que privatiza, ao inves de melhorar piora. Quando eu era criança e faltava luz, a gente nem ligava pra emergência, porque sabia que daqui a pouco já ia voltar. Agora depois de privatizada, quando falta luz o call center derruba as ligações e demoram dias pra voltar. Se privatizar água vão ficar sem água e assim por diante, fora que o preço vai nas alturas.

    • Desculpa mas não é verdade. No Rio de Janeiro a TELERJ era um completo desastre: uma linha telefônica era uma fortuna, tinha fila de espera de 6 meses para conseguir, os telefones funcionavam mal e a conta era caríssima. Esse é só um de muitos exemplos. Serviço público funciona mal no Brasil.

      Ao menos com o privado, se funcionar mal, basta tirar a concessão da empresa.

      • Ana, em meu primeiro emprego público, questionei a razão de um prazo grande para algo que consegui terminar calmamente em três dias. Meus colegas ficaram boquiabertos por eu sequer ter tocado naquela tarefa antes do vencimento do prazo, disseram que não tínhamos motivos para fazer um serviço em três dias se o prazo era de mais de um mês. E soube que isso acontece em várias repartições. Sempre tem exceções e sempre tentei fazer minha parte de forma correta e rápida, mas serviço público disfuncional e atrasado infelizmente é a regra.

        Eu não acho que os serviços privados brasileiros sejam muito melhores em questão de preço e qualidade, mas regras e fiscalizações nunca deixam de existir. Fora que dificilmente alguém vai conseguir desperdiçar tanto tempo e recursos numa empresa privada, com maior risco de demissão.

    • Desde que empresas como Amazon conseguiram fazer seu próprio serviço de entregas, o número de pacotes que “somem” diminuiu e chegam com muito mais rapidez. E isso é um exemplo, nem irei entrar na parte de competição de mercado entre atores independentes e a qualidade de serviço e preço pois nem é o foco.

      Me pergunto se você realmente fez uso de serviço público ou fala por viés de confirmação por experiências de terceiros (pois nossa percepção dessas coisas, quando criança, conta tanto quanto minha fluência em japonês).

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