Medo de mulher.

Não é um texto sobre timidez ou sobre os perigos da mentalidade de MGTOW/Incel. É sobre um fenômeno mais recente na sociedade no qual homens começam a perder o interesse em se relacionar com mulheres por medo de fazer alguma coisa errada e pagar caro por isso. Tem tanta histeria ao redor do tema de relações entre os sexos que uma das coisas mais básicas de todas está sendo esquecida: mulheres são seres humanos.

A sociedade brasileira fica especialmente descontrolada nessas questões em tempos de BBB, mesmo que você não dê a mínima para o reality show da Globo, as notícias não param de surgir sobre a problematização da semana. Virou a galinha dos ovos de ouro da mídia de subcelebridades. Começa o ano, eles passam a duração do programa todo achando cabelo em ovo para gerar cliques raivosos. Excelente para os negócios, péssimo para a sociedade.

Eu puxo esse ângulo porque ele tem uma relação bem íntima com o problema dos homens medrosos de lidar com mulheres: mulheres com muita presença midiática viram esses campos minados de rejeição social, como tem milhares de pessoas vivendo de achar problema, parece que especialmente no caso de mulheres famosas, é um risco horrível sequer falar com uma delas.

Tudo o que você disser ou fizer poderá ser usado contra você. Elas são empoderadas, independentes… mas se você fizer elas ficarem levemente chateadas, parece que o mundo vai desabar na sua cabeça. A gente deveria saber que isso não é uma representação da realidade, mas como a mídia de massa cismou em empurrar essa imagem do sexo feminino sem parar, eu tenho a nítida impressão que homens começaram a acreditar que é sempre assim.

Não todos, é claro. O homem médio é um brasileiro médio, no final das contas. A tosquice e a falta de percepção de consequências reina entre nossa população com Q.I. majoritariamente baixo, mas quanto mais você sobe na escala de capacidade mental, maior o risco de ter sua visão de mundo influenciada negativamente por essa mensagem de que mulheres são intocáveis.

Não são. Na verdade, mulher é um bicho com uma resistência insana aos erros masculinos. Você pode fazer muita coisa errada com ela e ainda sim construir uma relação positiva. Eu argumento que o sexo mais fresco com falhas alheias é o masculino: homem fica puto de um jeito que mulher dificilmente fica e tem dificuldades sérias em perdoar.

A diferença é sensibilidade: mulher fica incomodada mais rápido, homem não liga por muito tempo até finalmente se doer. É mais fácil mexer com os sentimentos de uma mulher, mas como ela costuma ter mais traquejo com o tema, já tem experiência em seguir em frente. Homem pode demorar uma quantidade de tempo assustadora para finalmente se importar, mas quando acontece, é complicado de resolver.

Por que eu digo isso? Porque o medo que percebo em muitos homens de lidar com mulheres atualmente vem da percepção errada que elas se incomodam do mesmo jeito que eles. Para um homem médio começar a chorar por um problema, custa caro. Para uma mulher média, nem tanto. Os dois sexos podem estar com um problema do mesmo tamanho, mas a mulher tende a ser mais explícita na demonstração.

E aí entra essa cultura da problematização: uma confusão terrível entre como uma mulher reage e o tamanho do problema. Mulheres podem produzir conteúdo infinito sobre tudo o que as incomoda se deixadas soltas, e cabe ao homem moderno entender que isso tem uma escala de seriedade. Mulher que entra na pilha da problematização de rede social e entra em depressão porque um homem abriu demais as pernas no banco de metrô está com problema de saúde mental. Não é uma representação da média, apenas uma de quem declarou ter o problema.

Neuróticos explicando o mundo para pessoas comuns gera esse tipo de confusão. Um homem provavelmente pode agir de forma mais acolhedora e consciente ao lidar com o sexo oposto, mas não é esse desastre todo que a mídia moderna apresenta para todos nós. Tem uma diferença essencial entre mulheres sofrendo com estupros ou tendo direitos como o da educação sendo tolhidos pelo Estado e homem sendo meio tosco na relação com uma delas.

Falta nuance na conversa. E talvez falte até um pouco mais de proatividade feminina em falar sobre isso: homem meio insensível e autoritário não é essa desgraça toda. Sabe quando homem acha uma certa graça na mulher que chora por bobagem e tem medo até de borboleta? É parecido para elas. Tem um charme no papel tradicional de gênero. E você, homem, consegue sair ileso de muito comportamento “heterotop” quanto melhor for sua relação com a mulher.

Mulher de boa numa relação vai te chamar de porco depois de um arroto de tremer as janelas, mas no fundo vai achar divertido e até… poderoso. Pode demonstrar indignação depois de uma crise babuína de ciúmes por causa da roupa que está usando, mas lá no cérebro reptiliano tem uma compensação por estar com um macho bravo, uma sensação de segurança primal. O que não pode fazer hoje em dia é mais ou menos o que nunca foi aceitável historicamente: abusos.

Para mulheres médias, a linha está no mesmo lugar que sempre esteve. O mundo mudou ao redor de nós para dar mais recursos para elas escaparem de relações abusivas (desde que você não seja pobre). E homem sabe quando a coisa passa do ponto do charme masculino para abuso, porque abuso é algo válido em qualquer relação humana. Se sua mulher é tratada como uma escrava, é óbvio que as coisas estão totalmente erradas.

Elas vão tolerar uma quantidade enorme de tosquices masculinas se o conjunto da obra ainda for positivo. Mesmo homem folgado e mandão consegue fazer uma mulher feliz se na média cuidar bem dela e não cometer nenhum crime. A regra é bem clara, até: não bata nela, não tire liberdades básicas dela, não quebre as relações de confiança estabelecidas. O que funciona para qualquer humano funciona para mulher.

O mito da mulher de cristal, a intocável que vai te cancelar e processar por qualquer erro, é um mito midiático baseado em exemplos de mulheres descompensadas populares. Sério, eu não sei se eu teria capacidade de perdoar as mesmas coisas que mulheres já perdoaram em mim. Eu acredito que só tenha conseguido esses perdões porque na média eu não cruzei linhas de abuso ou pelo menos não de abuso intencional. O que a gente tem de massa muscular e pulmão a mais elas tem de resistência emocional.

A pessoa média não é a maluca do reality show nem a grama a ser pisada. As pessoas têm seus limites, e se você não for obviamente um filho da puta e/ou criminoso, consegue negociar com esses limites para ter uma relação decente. O mundo passa tanto tempo falando de extremos que perdemos a noção do que acontece de verdade. Você precisa prestar atenção para não ser atacado por uma maluca, seja ela mal-intencionada ou não, mas não precisa tratar metade do mundo como inimigos. Isso cria Incels e MGTOWs em escala industrial, o que no final das contas é péssimo até mesmo para os homens.

“Mas as mulheres têm problemas também.”

Sim, mas homem não resolve esses problemas sozinho. Ele só resolve o seu. E se o seu for uma alergia cada vez maior a lidar com elas, você pode corrigir o curso e evitar entrar para esses cultos imbecis de redes sociais que pintam mulher como demônio ou objeto inútil. Quando sentir que a mulher é meio maluca, saia de perto; mas nunca se reprima de fazer o básico de boa convivência com qualquer outro ser humano.

Na média, se você não fizer algo obviamente criminoso com uma mulher, tem mil jeitos de lidar com isso sem virar esse tipo de drama popular na internet. Vale para relações amorosas, vale para relações de amizade, trabalho… pode ser meio tosco e macho tóxico sim. Se você estiver disposto a dar um passo atrás e lidar com a mulher como se ela fosse outro ser humano, quase tudo se resolve negociando.

Não existe guerra contra a masculinidade ou contra os valores tradicionais, pelo menos por enquanto. A maioria das mulheres ainda parece disposta a aceitar e acomodar homens bem-intencionados mesmo diante de comportamentos que não gostam, quanta problema feminino a gente encara numa boa porque a pessoa é interessante?

O problema é morder a isca da problematização, de achar que a maioria vai tentar te destruir por uma cantada ou por uma insensibilidade masculina eventual. Malucas tem representação desproporcional na mídia. As mudanças vistas em comportamento e cultura nas novas gerações são muito mais estéticas do que se diz por aí, até porque a tendência histórica é essa: mudanças pequenas de geração em geração, explodidas para proporções assustadoras por causa de mudanças superficiais em cortes de cabelo.

O mundo não mudou tanto assim. Lidar com uma mulher de 20 vai ser diferente de lidar com uma de 40, mas a receita básica de estar de banho tomado e ser simpático ainda funciona que é uma beleza. Não colocaram robôs no lugar das mulheres, ainda é o mesmo pacote básico. A mulher que berra estupro quando você olha para o seu decote ainda é uma maluca, como era há 100 anos atrás. Gente maluca faz parte da humanidade desde sempre.

E gente maluca não é régua para medir nada. Pode ser homem e pode lidar com mulher numa boa, inclusive errando às vezes. Se tiver muita dúvida sobre o que não pode fazer, pense no que não pode fazer com você e pronto.

Para dizer que não é medo e sim higiene, para dizer que prefere ficar longe porque ela pode ser maluca, ou mesmo para dizer que mulher é de cristal quando quer: somir@desfavor.com

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Comments (14)

  • Em que planeta o senhor está para dizer que a “receita básica de estar de banho tomado e ser simpático ainda funciona que é uma beleza”? A exigência e a frescura femininas nunca foram tão altas, inclusive com a tentativa de impor as intermináveis futilidades estéticas aos homens! O senhor deve ter intenção de disseminar ignorância, não é possível.
    Além disso faltou explicar que para ter o “conjunto da obra” é necessário ostentar riqueza, além de submeter-se à futilidade delas.

    • Meu anjo, é você que está atraindo, convivendo ou se interessando pelas mulheres erradas.
      Em vez de jogar a culpa nas mulheres (tem homem e mulher insuportável e tem homem e mulher legal), faça uma reflexão e veja se não é você que se aproxima desse tipo de mulher justamente para ter a certeza inconsciente de que não vai rolar nada e você não terá que enfrentar suas inseguranças…

      • Ele vive no mesmo mundo que eu e você, Sally, em que mulheres são cada vez mais exigentes com os homens sem oferecer nada de bom em troca.

        • Não, no mundo real tem todo tipo de mulher.
          A questão é o tipo pelo qual vocês se interessam ou o tipo que atraem.
          Não tem nada fora, gente. Todos os nossos problemas estão dentro da gente. O que acontece fora é só uma sinalização para a gente olhar para nossas questões internas.

        • Concordo com o Malcolm. As mulheres ficaram mal-acostumadas com a facilidade de conseguir gados que dizem-lhes somente o que elas querem escutar, além de se submeter a todas as sandices estéticas que atualmente exigem. Gostaria de entender a resistência delas em admitir isso.

          • “As mulheres” não.
            AS MULHERES QUE VOCÊ SE APROXIMA.
            Existem oito bilhões de pessoas no mundo, dizer que são todas iguais e se comportam da mesma forma é, no mínimo, negação.

            Vou repetir: não tem nada fora. Está tudo dentro da gente. O que aparece fora é para nos indicar o que precisa ser resolvido dentro. Olhe para dentro, resolva o que tem que ser resolvido e pessoas diferentes aparecerão para você.

  • Considerando que tem muita mulher berrando em redes sociais que é feminista, mas na vida pessoal vive agarrada em parceiro e chega a ser bem submissa a ele…

    Os que vão cair fora, seja mulheres ou homens, são os que já iam de qualquer jeito. Seja por inaptidão social, baixa libido, orientação sexual confusa, filosofias e estilos específicos de vida.

    Talvez a maluquice de algumas mulheres só esteja mais evidente agora que não existem grandes repressões em suas vidas. Em eras que marido tinha direito de matar se desconfiasse de traição, ou de acabar com fama de puta porque foi vista com companhias erradas, difícil ser maluca abertamente. A pessoa podia até ser maluca, mas não quer dizer que seria burra.

  • gente com medo ou ódio do sexo oposto não tem tanto impacto assim (quando não saem pra atirar em criancinhas) filmes com romance e/ou putaria não deixam de fazer sucesso; produtos, cursos e simpatias pra ajudar a conquistar alguém vendem como água; eventos que se resumem em bebidas e relações casuais estão sempre lotados. daí vem 140 milhões de pessoas novas todo ano, rs. fala-se muito do japão, usam meia dúzia de hikikomori pra sensacionalismo, mas a maioria dos japoneses é normal, trabalha, casa, tem filhos…

    • Pois é, tem muito exagero sobre como nossa sociedade está ruindo… as pessoas ainda são pessoas. Não é todo mundo que está se vestindo de cachorro ou fazendo performance com os dedos uns nos cus dos outros.

    • Concordo. Acho que como essa galera pode se unir em comunidades muito fortes online, parece que todo mundo está nessa, especialmente pra quem passa muito tempo na Internet… mas a vida real segue o ritmo de sempre, com um outlier ou outro surgindo

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