Agressão indevida.

Ontem de noite apareceu uma história bizarra: um cidadão americano, claramente maluco, postou um vídeo no YouTube mostrando a cabeça decepada do próprio pai, que alegava ter matado por ser um agente federal do governo americano e por tabela, traidor da pátria por trabalhar para o presidente Biden. Até onde consegui pesquisar, o vídeo é real e o cidadão já foi preso. Eu queria usar a notícia como gancho para uma ideia impopular, mas que é algo sobre o que precisamos falar… homens precisam de mais atenção social que mulheres.

Eu sei que é difícil mencionar um caso horrível desses e dizer que os detalhes não são importantes, por isso vamos só estabelecer melhor: o maluco postou um vídeo de 14 minutos na rede de vídeos mais conhecida da internet, mostrou a prova de um crime bárbaro contra o pai e se justificou com aquela conversa conspiratória clássica de radicalizado de direita.

O clima político era o seguinte: a Suprema Corte deles colocou limites na polícia de fronteira do Texas, estado que faz divisa com o México. O governo texano deu chilique, disse que ia se negar a cumprir as ordens do Judiciário porque elas violavam seu direito de se proteger de invasores estrangeiros, fazendo a clássica ameaça de se separar dos EUA e virar país próprio. A tendência é que seja só drama, como faz de tempos em tempos, mas serviu para inflamar os ânimos dos radicais de direita locais.

Isso quer dizer que a história de um homem maluco matando o pai para pedir o começo de uma guerra civil contra os esquerdistas e os imigrantes é “culpa do Trump”? Não. Maluco é maluco. A gente já estabeleceu várias vezes aqui que quando se atribui à política algo feito por doença mental, não se trata o problema central. Psicopatas e sociopatas vão existir em todos os ambientes políticos, eles são um problema à parte da humanidade.

Porém, os malucos adoram ter uma causa para defender. Quanto mais você oferece caminhos mentais para os malucos justificarem seus atos, maior o perigo que a sociedade corre. Somos contra radicalização não só porque é uma forma burra de enxergar o mundo, mas também porque empurra muita gente a passar do seu limite de bom senso natural por causa do misto de medo criado pelos discursos políticos e o senso de justiça criado na mente de quem está defendendo uma causa radicalizada.

Dito isso, eu tenho um ponto que vai além da discussão básica sobre polarização: temos um problema sério acontecendo com os homens desse mundo. Não sei exatamente o que está causando, mas se você prestar atenção na forma como estão se expressando, especialmente na internet, você vai notar uma tensão generalizada.

É meio como o bicho acuado com os músculos retesados. Até tem um rosnado audível, mas não é tão impactante ao ponto de fazer todo mundo olhar na sua direção, ou mesmo tentar se proteger do ataque. Dá para perceber isso em homens mais brutalizados, que expressam essa violência de forma bem explícita, mas também dá para notar isso na parte mais racional e controlada da população masculina. Eu mesmo percebo essa tensão na minha forma de enxergar o mundo. Talvez isso seja meio complicado para mulheres entenderem, mas eu aposto que alguns dos nossos leitores vão reconhecer: sabe quando você vê uma daquelas notícias de “mundo palhaço” com lacração insana ou com gente muito progressista sofrendo na mão de imigrante selvagem?

O “certo” seria ficar horrorizado, mas eu já sinto aquela sensação de que era algo óbvio, é sutil, mas é como se você estivesse revirando os olhos achando que é claro que isso ia acontecer: você sabe que homem é um bicho especialmente perigoso e que é burrice querer viver num mundo de fantasia e arco-íris onde se perdoa e entende outros homens violentos.

Eu até achei que era a semente da radicalização, mas vai mais fundo do que acreditar em discurso de populista de direita, eu os acho uns retardados e isso nunca mudou. O que eu consigo perceber pelo clima do mundo é que uma boa parte dos homens está se sentindo sem direção, de uma certa forma até abandonados pela sociedade.

“Somir, puta que pariu, você não vai dizer que as verdadeiras vítimas são os homens, né?”

Sossega, cabelo-azul, eu estou indo em outra direção: homem é um bicho inquieto e agressivo. Isso não quer dizer que todos sejam violentos, mas todos tem um impulso interno de chacoalhar o mundo ao seu redor. Eu, que saio do meu caminho para ser racional até quando me atrapalha, sinto esse impulso, imagina só o cidadão médio?

Homem quando está enfrentando algum problema responde com agressão, física, psicológica ou ideológica. Tem algo interno, talvez testosterona ou alguma das diferenças fisiológicas entre os sexos, que cria essa tendência destrutiva.

O meu ponto impopular é o seguinte: mesmo que homens não mereçam, eles precisam de atenção diferenciada o tempo todo. Mesmo que as mulheres tenham sido oprimidas historicamente, mesmo que nosso senso de justiça diga que realmente está mais do que na hora de dar atenção para elas e corrigir os problemas em sua participação social, não muda o fato de que custa mais caro colocar o homem em segundo plano numa sociedade.

É injusto. Não estou argumentando que seja a opção mais nobre, é meio que nem dar mais atenção para a criança bagunceira do que a que se comporta bem. É injusto sim. Mas não acontece porque somos todos ruins e sem noção, acontece porque a criança bagunceira é mais perigosa se não tiver atenção extra. É utilitarismo.

“Mas os homens não estão em segundo plano na sociedade!”

Sim, verdade. Mas o que você está subestimando é o quanto homens parecem precisar de protagonismo e atenção. Eu até argumento que a maioria das nossas sociedades se organizou ao redor do patriarcado porque custava tão caro não tratar homem como reizinho que não valia nem a pena pensar na alternativa. Claro, ser mais forte ajuda, mas músculo a mais não explica tudo, é a agressividade que escapa ao controle da população masculina se ela não for mantida distraída constantemente.

Homem é mais pacato se tiver um emprego e uma mulher/família para chamar de sua. Se tiver algo para distrair, dar propósito e atenção para ele, a tendência é que a agressividade fique mais contida. Machos jovens sem um encaixe social muito claro são um problema em basicamente todas as espécies de animais! Elefantes machos jovens sem manada ficam agressivos e começam a matar outros animais por esporte…

Já viemos de fábrica com esse problema: a agressividade sempre está lá, ou a energia é direcionada para algo produtivo ou começamos a destruir a sociedade. Eu percebo que enquanto o mundo vai passando por uma fase “estrogenizada” de popularidade de discursos inclusivos e críticas ao comportamento agressivo, o homem médio vai perdendo as ferramentas que tinha para guiar agressividade para lugares menos destrutivos.

O incel, por exemplo, pode parecer patético, mas é um bicho potencialmente agressivo que não parece ter nada a perder. Se juntar muitos, você começa a ver ideologias cada vez mais radicais se difundirem, o impulso destrutivo é real. Eu entendo que por questão de justiça, as mulheres e outras minorias como os gays estão esperando na fila faz tempo para ter um tratamento mais decente; mas isso não muda o fato de que esse público masculino vai ser mais explosivo se deixado de lado.

É Flertando com o Desastre por causa dessa ideia: é mais seguro para uma sociedade sacanear mulheres do que não dar atenção máxima para os homens. Nós precisamos de um plano de vida e gente para manter a gente focado nele, senão a ideia de sair se explodindo numa guerra começa a ficar mais e mais inevitável… ou até mesmo divertida.

E eu nem estou dizendo que é para mudar o rumo da história, é uma constatação das consequências das escolhas que parecemos estar fazendo nessas últimas décadas. Não é justo deixar de ajudar o filho comportado com o dever de casa para ir resolver o problema que o filho bagunceiro causou na rua, mas o que acontece se não for resolver o problema do filho bagunceiro?

O que acontece se mais e mais homens começam a se sentir desinteressados pela sociedade como ela está se tornando, o que acontece se ideologias podres forem se espalhando por mais da metade da população mundial com uma propensão natural à agressividade? Tem espaço no mundo para lidar com isso? Ou doa a quem doer em busca do senso de justiça que homem já teve muita atenção até hoje?

Complicado responder isso. É uma daquelas questões que deixa a maioria das pessoas incomodadas. Homens que não são macacos com navalhas ficam putos por serem colocados nesse grupo, mulheres que começam a ver um pouco mais de justiça para elas ficam irritadas pela ideia de parar tudo para cuidar de criança mimada. E os homens que estão ficando mais radicais e/ou neuróticos por um mundo que não coloca um plano de vida bem definido na sua frente sequer conseguem perceber que estão ficando mais radicais e neuróticos.

Começam a achar que a culpa é das mulheres, dos imigrantes, dos judeus… e quando abrem a boca para falar disso, são tratados como párias sociais. Porque tem isso: mesmo que a pessoa esteja falando a maior asneira do mundo, a forma como você lida com ela pode reforçar a asneira. Até onde vai essa bola de neve?

Eu aposto que vamos entrar numa fase de mais e mais guerras, porque é uma das soluções mais simples para bandos de homens jovens sem muito propósito na vida, fazê-los se matarem num campo de batalha e reduzir a competição por recursos (dinheiro, emprego, socialização, sexo…) para baixar a pressão.

Não é a solução mais bonita, mas é uma solução. Não adianta querer dar as mãos e cantar juntos até a agressividade do homem se dissipar. Ele precisa de estrutura social feita para ele, até hoje usamos patriarcado trocando poder e posse de mulheres por sossego; ou ele precisa explodir alguma coisa… ele, outros ou a sociedade em geral.

De uma certa forma, é meio como a questão social dos presos: ninguém gosta da ideia de tratar bem as pessoas que quebram as leis, mas no final das contas é isso ou realmente sair matando todo mundo. O meio termo vai criando grupos cada vez mais malucos, e não tem senso de justiça ou de “coisa certa” que resolva isso, não por conta própria.

Está acontecendo. Estamos preparados para isso? Eu realmente acho que não. Homem precisa de mais atenção social que mulher, não por mérito, mas pelas consequências. Talvez se a gente mantiver a situação atual e deixá-los se virar com o novo mundo eventualmente as coisas melhorem, mas vai ter um preço.

E vai ser violento.

Para dizer que finalmente um texto pessimista, para dizer que o problema não é seu (eu acho que é), ou mesmo para dizer que se eu quero um emprego e uma namorada é só sair da frente do computador (não sou eu reclamando): comente.

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Comments (22)

  • Quando nós analisamos as taxas de suicidio masculino, de radicalismo político (principalmente na extrema direita), a distância intelectual-social que está havendo entee homens e mulheres (na Coreia do Sul isso explode)… vemos que a coisa está bem ruim mesmo. E, sinceramente, eu acho que uma das possíveis soluções é mulher passar a ser tão filha da puta ou mais. Vai rolar? Não vai rolar, mas, como o ditado diz, remédio pra doido é doido e meio.

  • Ábner Willian

    Um artigo com bolas de aç… digo, testosterona alt… com colh…

    Esses países ricos, ao menos, têm uma população envelhecida, para o caso do jovem querer fazer merda e o avô puxar a orelha. Países mais jovens e retardados (pleonasmo perdoado automaticamente) como este aqui é que sofrerão.

  • Tá aí mais um texto que eu me pergunto, pra quê? Quer dizer, não para o texto, mas, pra quê toda essa agressividade gratuita e atoa? Isso pra mim parece idiotice, sinceramente, até porque pessoas minimamente civilizadas sabem bem controlar suas emoções e seus impulsos, inclusive lidar com frustrações e mesmo com vontade de sair quebrando tudo por aí, enfim.

    E bem, mesmo indo para o lado erudito, mesmo estudando antropologia a fundo, e tendo lido os clássicos de Levi Strauss, Meletinksi, Yuri Lotman e a caralhada erudita toda, e mesmo entendendo que sim, em certo aspecto a natureza humana tem um “quê” de selvagem, ainda assim, não me entra na cabeça homem dando chilique por aí numa sociedade ocidental, pós-moderna, civilizada e tecnológica, como a nossa. Ou seria eu apenas um caso a parte mesmo, super controlado, “educado” no sentido de saber bem como lidar com meus impulsos etc?

    Aliás, tudo isso me lembrou uma dessas conversas paralelas que ouvi outro dia fora do trabalho, em que o cara dizia que, na mesa de bar, junto dos amigos e da namorada, ele precisava “marcar presença pra dar uma moral”, ou algo do tipo, não lembro exatamente as palavras. Pensei comigo, poxa… homens heteros então têm que se comportar como animais selvagens, como leões famintos ou qqr coisa do tipo, cercando sua presa e marcando território? Sério, pra quê isso? Pra quê esses comportamentos inúteis e que, a meu ver, não fazem o menor sentido? E aí, pegando o gancho com o texto, se homem tem menos atenção e apreço social que as mulheres, então tem que dar chilique? Pelo amor…

    • Pois é, tem algumas questões que precisamos pensar que são bem irritantes. É injusto que homens exijam atenção extra para ter um mínimo de bom senso social e não virarem pilhas de agressividade, mas mesmo sendo injusto, o mínimo que precisamos ter é um plano. Essa mentalidade “Laissez-faire” com o homem médio tem um custo. A minha teoria é que isso vai descambar para mais e mais violência.

      Para que o homem médio fique menos macaco vai demorar.

  • Ficou incomodado por alguém ter revelado o seu conservadorismo enrustido? A sua mania de tentar justificar a pretensão de impedir que a sociedade evolua? Felizmente, a sua campanha do medo não funciona, hipócrita. É só nesta bolha de pseudointelectualidade que você consegue silenciar o progresso.

      • Na incapacidade de argumentar diante de justas críticas, como sempre imputa-se ao comentarista a condição de indivíduo com problemas mentais. Pelo visto o deslumbramento com a sua pseudointelectualidade proporciona-lhe arrogância desmesurada. Aproveite-a, já que sua autoestima está protegida pelos bajuladores de plantão.

        • Ah, eu também reconheço facilmente quem usa palavras acima do seu vocabulário normal para parecer mais inteligente na internet. A insegurança apertou?

  • Somir, eu ao seus textos. Mas este é o meu favorito que trata de assunto sério. Tem uma lista ENORME de textos que amo, com Alicate. Senhor. Satanás. E mais outros. Mas, papo cabeça… Até agora, este é sua obra prima. Ah! E eu não desisti do podcast não. Só não consegui arrumar um cara pra fazer a voz masculina. O sujeito que eu tinha conseguido trocou de emprego e sua rotina está inversa à minha ☺️. Beijos e sucesso, saúde, prosperidade e proteção pra vc, Sally, e sua turma

    • Agradeço os elogios! Lembre-se que minha voz tem que ser poderosa feito um trovão. Ou um fumante. Mas acho mais bacana pensar que é um trovão.

  • Isso é falta de sexo. Infelizmente trabalho com o público e tenho que aturar cada imbecil criando caso por pouca merda que tu não acredita. O cara que tem uma mulezinha gostosa pra comer ou, se preferir, um cara que lhe coma bem não fica dando ataque histérico por aí.

    • Soube como é, já tive imbecis tanto de piores dos colegas quanto de atendido que nem era das regras de prioridades…

      E se eu tivesse me achado revidante, eu é que seria assuntinho de umas enormes redes fdp locais!

      *Meme da Carminha*: “Inferno!”

  • A esquerda não sabe falar com homens jovens. Tem uma pá de influencers de direita falando sobre “coisas de homem”, mas não tem isso na esquerda, no máximo tem algum sojado totalmente caricato que se odeia por ser homem. Não é à toa que até entre as minorias, como negros e LGBTs, os homens tendem a ser mais de direita (ou menos de esquerda) do que as mulheres.

      • Existem teorias de que, sob o pretexto de se combater a tal da “masculinidade tóxica”, o que na verdade está acontecendo, bem debaixo dos nossos narizes, é uma perversa e deliberada campanha mundial dos globalistas pra emascular as novas gerações de homens através do incentivo maciço ao veganismo e ao consumo de soja trasngênica. De acordo com essas teorias, uma alta ingestão de soja desde a mais tenra idade pode anular a agressividade natural própria do sexo masculino, deixando os jovens atuais fisicamente frágeis, infantilizados, assustadiços, sensíveis demais, desprovidos de controle emocional, com a potência sexual anulada e os genitais atrofiados. Tudo para, segundo dizem, tornar esses “novos homens” mais propensos a obedientemente abraçar idéias estapafúrdias de esquerda e serem incapazes de se rebelar e de combater o sistema.

    • Durante muito tempo, era mais “macho” ser revolucionário esquerdista. Alguém que enfrentava o poder da ditadura e do capital. Mas aí a ideia de esquerda foi perdendo esse verniz de rebeldia e coragem para virar o povo que fala de objetificação da imagem da mulher nas séries de TV… é meio triste constatar isso, mas o povão precisa achar alguma graça na coisa, muito além da visão ideológica apresentada.

  • Minha solução paliativa é botar esses caras pra fazer jiu-jitsu/crossfit/musculação pesada ou algum equivalente esportivo: podem colocar a agressividade pra fora à vontade em um ambiente controlado, arrumam um senso de propósito e ainda beneficiam a própria saúde

    • Eu acho que tem um pouco dessa lógica em países mais ricos que tem grandes programas esportivos. Os EUA provavelmente seriam ainda mais violentos sem tanta gente praticando esportes.

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