Nunca nesse país?Depois de muito discutir ao longo dos meses o DESAFORO que é a atual prestação de serviços público no Brasil, sobretudo quando comparada ao que nos é cobrado em matéria de imposto, a revolta dentro de mim foi canalizada para uma idéia que jamais vai ser aceita a menos que seja objeto de uma pressão violenta por parte da sociedade. Não que o Desfavor possa fazer essa pressão, porque vamos combinar, quem lê o Desfavor? Meia dúzia de malucos (que chegaram até a gente procurando “como comer o cu de um pônei sem levar um coice”). Mas não custa lançar a idéia no ar, porque vai que um dia, depois que Somir e eu morrermos, as pessoas passam a dar valor ao blog? Sabe como é brasileiro, né? O passe da pessoa valoriza depois que ela morre.

Você sabia que o brasileiro trabalha cinco meses por ano para pagar impostos? Isso mesmo. Dos 12 salários que você recebe por ano, cinco, FUNCKIN´ CINCO são tirados de você e vão para o Governo. Praticamente metade do seu salário anual vai para o Governo e não para sua conta bancária. Para que? Para investimentos que supostamente deveriam melhorar a qualidade de vida do cidadão: fornecer escolas decentes, faculdade para todos, assistência médica de qualidade, transporte público adequado, segurança pública eficaz e tantos outros que não tenho nem coragem de escrever aqui porque soaria como escárnio

A Constituição da República, lei de grau máximo na hierarquia, garante a todos no seu art. 6º, a EDUCAÇÃO, SAÚDE, TRABALHO, MORADIA, LAZER, SEGURANÇA, PREVIDÊNCIA SOCIAL, PROTEÇÃO À MATERNIDADE E À INFÂNCIA E ASSISTÊNCIA AOS DESAMPARADOS. Ou seja, se você não tem, o Estado tem que assegurar. (pausa para risos, e quando eu falo em risos, é rir para não chorar)

A Constituição da República também diz, em seu art. 7º, IV que o SALÁRIO MÍNIMO, FIXADO EM LEI, NACIONALMENTE UNIFICADO, DEVE SER CAPAZ DE ATENDER ÀS NECESSIDADES VITAIS BÁSICAS DO TRABALHADOR E DE SUA FAMÍLIA, COMO MORADIA, ALIMENTAÇÃO, EDUCAÇÃO, SAÚDE, LAZER, VESTUÁRIO, HIGIENE, TRANSPORTE E PREVIDÊNCIA SOCIAL, COM REAJUSTES PERIÓDICOS QUE LHE PRESERVEM O PODER AQUISITIVO. (pausa para risos II, e quando eu falo em risos, é rir para não chorar II)

Depois desta longa introdução, eu chego à seguinte conclusão: o Governo toma METADE DOS NOSSOS RENDIMENTOS e não garante nem um por cento do que deveria garantir, porque rouba, investe errado, tem prioridades equivocadas ou até mesmo por pura incompetência. Não adianta reclamar, não adianta espernear, nem mesmo adianta votar em outro partido, porque quem quer que seja, se conseguir chegar lá, já vendeu a alma faz tempo. Então… como resolver a questão?

E aqui vai minha sugestão: Políticos e parentes até terceiro grau de políticos (esposa, filhos, pais, tios primos e etc) tem que ser OBRIGADOS POR LEI a APENAS USAR SERVIÇOS PÚBLICOS. Vamos ver se assim os filhos da puta não pensam duas vezes e começam a investir nos serviços coletivos.

Existem formas de controle que viabilizariam esta norma, ainda mais hoje em dia, onde tudo é informatizado. Finalmente a informatização seria utilizada para fazer justiça em vez de controlar o coitado do cidadão que vive sendo arrochado pelo Governo. Ao ser eleito, a condição para tomar posse seria encaminhar o nome do político e de seus familiares, previamente declarados, aos órgãos responsáveis pela emissão de documentos (DETRAN, Receita Federal e etc) para que fossem feitas as devidas ressalvas, constantes em um banco de dados, que estas pessoas só poderiam usufruir de serviços públicos, ficando PROIBIDAS de utilizar hospitais particulares, escolas particulares e etc.

E caso se descubra que algum nome foi omitido (e isso se descobre fácil quando se tem toda a população fiscalizando), o político perderia o cargo e ficaria inelegível para sempre por causa da gracinha, persistindo a penalidade de não poder usufruir de serviços particulares. Dava para meter uma pena de prisão também, transformando este tipo de sonegação de informação em um tipo penal. Diante da perspectiva de ser preso, ficar sem cargo, sem salário e sem serviços particulares, garanto que neguinho ia pensar duas vezes antes de sonegar informações como estas, que podem ser facilmente averiguadas por inimigos. E se tem uma coisa que político coleciona, são inimigos.

Pensem comigo que BACANA: um político, seus filhos, sua esposa e seu pais tendo que andar todo dia de ônibus lotado. Tendo que esperar quarenta minutos na chuva até o ônibus passar. Visualiza que delícia a filhota de 15 anos de um político levando sarrada de homem de pau duro no metrô. Olha que didático o filhão de 17 anos de um político tendo não podendo pegar o carrão importado para dar um rolé porque na sua carteira de motorista consta uma cláusula suspensiva dizendo que até o final do mandato do papai só pode andar de transporte público.

Já pensou a filhotinha querida do Papai Prefeito ou do Papai Governador tendo que encarar uma escola pública, sem cadeiras, sem merenda, sem ar condicionado e sem aulas por causa de greve? Olha o desespero do pai em pensar “Fudeu, minha filha nunca vai passar no vestibular assim!”. Garanto que as verbas para educação iriam aumentar. Aliás, em verdade, nem é esse o caso, porque nem precisam aumentar, se neguinho parar de roubar já dá para manter uma educação de nível. Vislumbrem o filho de um Deputado ou Senador sabendo que não vai poder se socorrer da Estácio de Çá e vai ter que fazer trocentos vestibulares, sem direito a cursinho, até passar em uma das poucas faculdades públicas! Ou escolhe fazer faculdade de Oboé (segundo período, noite) ou papai vai ter que dar um jeito de assegurar ensino universitário gratuito a todos, sem essa peneira cruel e ridícula que é o vestibular.

“Mas Sally, isso não fere uma série de direitos e garantias constitucionais?”. NÃO. Sabem porque? Porque NINGUÉM TE OBRIGA A SER POLÍTICO, é escolha livre da pessoa se candidatar. Aliás, seria também uma bela peneira para que esses aventureiros baixo nível estilo Tiririca pensem duas vezes antes de se propor a mamar nas tetas do Governo. Tá muito fácil ser político, tá muito atraente, qualquer zé buceta quer. Na na ni na não. Quer o ônus vai ter que levar o bônus.

Imagina a esposa de um Senador tendo que realizar seu parto pelo SUS. DELÍCIA! Quero ver se não criam unidades neo-natais de última geração com aparelhagem moderna e serviços de ponta. Realiza os filhos de um Deputado com o bracinho quebrado depois de cair no play de seu condomínio de luxo esperando seis horas na fila de um pronto socorro público para serem atendidos, chorando de dor e até com o risco de perder o braço. Quero ver se não criam mais unidades médicas, uma em cada esquina, com profissionais bem remunerados e materiais de primeira linha.

Pensa no Presidente da República sofrendo um acidente de carro, com um machucado na perna, daqueles que se não operar em X horas gera amputação (sim, isso existe, tem prazo para operar em alguns casos), jogado em uma maca de um hospital público com um bando de enfermeiras grossas e mal educadas dizendo que não tem previsão para a realização de cirurgia, e ele olhando para seu relógio de ouro e rezando para alguém ter a boa vontade de atendê-lo, pois faltam 40 minutos para que ele ainda possa tentar salvar sua perna e escapar de uma amputação. Alguém duvida que os hospitais seriam um luxo só, com dez vezes mais médicos que o necessário, com o triplo da aparelhagem? Hospital ia ser que nem Estácio de Çá: um em cada esquina.

Não é possível obrigar alguém a só utilizar serviços públicos, mas é possível condicionar um cargo a este ônus, porque assim você não estaria obrigando ninguém, a pessoa optaria por cumprir esta condição caso realmente deseje se candidatar. Faltariam políticos? Nada disso, filtraríamos os oportunistas e só ficaria quem realmente deseja melhorar estes setores.

Desconheço se existe algum país no mundo que coloca isto em prática. O Somir já sugeriu algo parecido em um de seus vários ataques de ditador, mas pra variar não se aprofundou sobre o assunto. Peguei a idéia e resolvi dar a atenção que ela merecia. Por isso vou passar a chamá-la de Sistema Sally de Moralização: “Porque só a porrada constrói. Chegamos a um ponto de descaso, escárnio, bagunça, falta de vergonha e prostituição política, que só uma medida extrema estilo tapa na cara para “remoralizar” este país. Se é que um dia tivemos alguma moral. Quem sabe um dia fazemos uma chapa Somir – Somir e botamos ordem neste galinheiro? Votem em mim e eu implemento o Sistema Sally de Moralização, promessa. Porque roubar pode até ser bom, mas trollar é muito melhor.

Como viabilizar isso? Bom, meu primeiro impulso é dizer que seria na porrada, com uma grande revolução, guilhotinando metade dos políticos e destruindo a marretadas aquelas construções bregas de Brasília, porque não tem nada mais horrendo e cafona neste mundo do que as construções de Oscar Niemeyer. Mas como eu sei que vivemos no meio de um bando de ovelhas mansas que só tem culhões para xingar juiz de futebol, apelo para o art. 61, parágrafo 2º da Constituição da República, que fala de leis por iniciativa popular: A INICIATIVA POPULAR PODE SER EXERCIDA PELA APRESENTAÇÃO À CÂMARA DOS DEPUTADOS DE PROJETO DE LEI SUBSCRITO POR, NO MÍNIMO, UM POR CENTO DO ELEITORADO NACIONAL, DISTRIBUÍDO PELO MENOS POR CINCO ESTADOS, COM NÃO MENOS DE TRÊS DÉCIMOS POR CENTO DOS ELEITORES DE CADA UM DELES.

Já que vocês (e quando falo vocês, me refiro aos brasileiros, e não a meus leitores) já se deram ao trabalho de assinar leis de iniciativa popular por assuntos menos importantes, como majorar a pena em alguns casos de homicídio quando Daniela Perez foi assassinada, não custa nada se mobilizar para algo que refletirá diretamente beneficiando toda a nação. Feito isto, por mais assustador que seja este projeto e por mais que tentem embarreirar, a sementinha está plantada. Com a devida pressão (qualquer pressão que seja necessária), mais cedo ou mais tarde vai acabar passando.

Pode dar errado? Pode ser que não seja implementado? PODE, CLARO. Mas pode ser que dê certo também. Basta que essa massa de ovelhas que dá seu salário integral cinco meses por ano para o Governo acorde para a vida e se levante, sem esperar por um salvador, sem esperar que as coisas venham se cima para baixo. CARALHO, GENTE, o que mais tem que acontecer para que comecemos a nos mexer?

Mexa-se. Dilma vai ser Presidente da República e além dela teremos outros ignóbeis no poder, como Tiririca, Crivella, Romário e tantos outros medonhos. Mexa-se, ou para fazer as malas e abandonar essa República das Bananas que caminha irremediavelmente para o abismo ou para arregaçar as mangas e começar a limpar tanta merda que já soterra a gente até o pescoço.

O que mais tem que acontecer para que todos nós apresentemos um grau raivoso de indignação? E para que essa indignação se transforme em atos?

Ok, Dilma vai ganhar. Desfavor já aceitou isso. Ela ganhou nas urnas, porque na prática, espero que saia perdendo. Nós vamos fazer tudo que estiver ao nosso alcance, o possível e o impossível, para transformar a vida dela um INFERNO. Se depender da gente, essa mocréia vai desejar nunca ter vencido as eleições. Junte-se a nós, assim, em poucos anos podemos gritar: GANHOU É O CARALHO, DILMA!

OBS: Bin Laden, tem mais duas torres aqui, viu? Joga um Boeing 767 em cada uma delas, o brasileiro e o bom gosto agradecem, viu? Faz melhor, joga logo um Concorde que é para não ter erro.

Para dizer que é só avisar onde é que tem que assinar, para dizer que votaria na chapa Somir – Somir por trollagem ou ainda para dizer que não vê a hora dessas eleições acabarem para a gente voltar a falar de peido, sexo e violência: sally@desfavor.com

O que você pensaria de uma gorda horrenda que se olha no espelho e, ao se ver gorda e horrenda, fica com raiva, culpa o espelho e ainda chuta e quebra o espelho? É justamente isso que eu penso do brasileiro quando mete o pau no funk. Essa é a realidade do nosso país. Não gostou? Não chute o espelho. Faça por onde mudar esta realidade. Entendo quem expressa não gostar de funk como opinião pessoal, o que eu não entendo é quem desmerece o funk carioca como expressão legítima da cultura brasileira. Goste você ou não, é uma manifestação da nossa cultura, não tem como negar. Chupa essa manga!

Funk tem o mesmo valor cultural de MPB, Bossa Nova ou qualquer outra “música popular brasileira”. É uma música que surgiu para relatar a realidade de um certo grupo social. Enquanto a realidade de uns é “gosto muito de te ver, Leãozinho”, a de outros é “No mundo que eu vivo não vale a pena ser fiel, quem vive de amor é dono de motel” (Mc Loscar, Dono de Motel). Ambos são pessoas que relatam suas realidades através de música. Se você gosta mais de uma realidade do que da outra ou se você se identifica mais com uma realidade do que a outra, direito seu. O que não pode é achar que MPB é cultura e funk é lixo. Funk é uma expressão cultural legítima, gostando você ou não, sendo musicalmente bom ou não.

Todos tem o direito de expressar sua realidade através da música ou da arte. Só faltava essa! Além do sujeito viver em um estado de segregação miserável, sem os mínimos subsídios, ainda lhe é negado o reconhecimento de sua expressão cultural! Dá uma tela com todo tipo de pintura e pincéis e anos de aula de pintura a uma pessoa e manda pintar um quadro, depois pega outra pessoa e dá uma folha de papel, uma aquarela e manda pintar com o dedo e depois compara um com o outro! Covardia comparar quem nunca teve instrumentos para se aprimorar, né? Quando Marisa Monte canta “Molha eu! Seca eu!” é licença poética, quando Mc Roba Cena canta “Mas É EU que vou escolher, a melhor posição” (MC Roba Cena, Catucadão) é um imbecil, ignorante, analfabeto.

Funkeiro é tudo bandido sem noção e promíscuo, né? Quando Chico Buarque é flagrado beijando uma mulher casada em plena praia do Leblon é um homem sedutor e irresistível, fosseum funkeiro a sair com uma mulher casada é baixo nível mesmo. Não se pode julgar em condições de igualdade quem está em condições fáticas desiguais. Vamos parar de meter o pau no funk e pensar que, dentro do que é possível na vida dessas pessoas, eles até que estão mandando bem, porque mesmo sem ter porra nenhuma de nada, alguns conseguem até sucesso internacional.

Funk é diferente de MPB. DIFERENTE. Não sei de onde as pessoas tem a pretensão de dizer se é melhor ou é pior. Você pode dizer se você gosta mais ou gosta menos, mas não pode afirmar que é melhor. MPB tem romantismo, sutilezas e poesia (coisas que eu abomino), enquanto funk tem realidade nua, crua e sangrando, não raro palavrões e conotação sexual em suas letras. Acho honesto. O morador da periferia não tem condições de elaborar jogos de palavra, metáforas ou qualquer outro tipo de escrita sofisticada, ele se expressa como sabe e como pode. Então, quando Gilberto Gil expressa seus sentimento mais íntimo dizendo “Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria, Que o mundo masculino tudo me daria, Do que eu quisesse ter, Que nada, minha porção mulher que até então se resguardara, É a porção melhor que trago em mim agora, É o que me faz viver” e quando Mc Luan canta “Quer fidelidade, arruma um cachorro, Quer romance, compra um livro, Quer amor, Volta a morar com seus pais mulher, É só pentada violenta, pentada violenta, na hora do amor, o Luan te arrebenta” (Mc Luan, Pentada Violenta) está igualmente expressando seus sentimentos, diga-se de passagem, muito mais macho que Gil.

Essa coisa vira-lata de brasileiro que achar erudição sinônimo de superioridade, qualidade e cultura. Ora, tem letras de MPB que se você parar para analisar, parecem ter sido escritas por uma criança de cinco anos de idade, assim como existem letras de funk que se fossem inseridas em uma melodia mais palatável estariam estourando nas rádios (porém estas não vem ao caso, afinal, estamos na Semana Baixo Nível). O ponto é: baixo nível ou não, funk é uma manifestação legítima, muito mais verdadeira do que muita música de MPB. Da mesma forma que Raul Seixas diz: “Amor só dura em liberdade, O ciúme é só vaidade. Sofro, mas eu vou te libertar, O que é que eu quero Se eu te privo Do que eu mais venero Que é a beleza de deitar” Valesca Popozuda diz “Fiél é o caralho, você é empregadinha! Lava, passa e cozinha mas a pica dele é minha!!!” (Gaiola das Popozudas, Fiel é o Caralho) ou ainda Mc Leandro e as Abusadas cantam “Prepara sua cabeça, que lá vai um par de chifre”. Eu gosto das coisas assim, sem rodeios nem floreios. Isso me faz uma ignorante? Talvez (vem escrever diariamente textos sobre tudo para ver se você faz melhor…). Mas isso não apaga o fato de que funk é tão Música Popular Brasileira quando bossa nova.

O fato de ser considerado “baixo nível” não quer dizer que não seja uma manifestação cultural legítima. Muito conveniente pensar que tudo aquilo que é baixo nível está automaticamente excluído da categoria “arte” ou “cultura”. O ser humano tem necessidade de falar ou expressar sua realidade para elaborar seus sentimentos. Em tempos de ditadura militar, a MPB expressava seu sofrimento com a repressão através de músicas como Cálice. Em tempos de guerra nos morros, violência, tráfico, assassinatos diários, crimes, tortura e outras barbáries, o funkeiro expressa seu sofrimento em letras como “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci, E poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu lugar” (Cidinho e Doca, Rap da Felicidade – a letra é uma forte crítica social, vale a pena ler).

Quando sofrem por amor, os românticos da MPB cantam sua musa em prosa e verso, com toda a instrução que lhes foi permitida, em bons colégios com acesso a literatura, estímulo e oportunidade para estudar. Quando fala de amor, o funkeiro retrara sua realidade brutalizada, discriminada. Por que? Porque ele é promíscuo, safado, galinha? Não, as pessoas simplesmente esquecem que essa forma de se expressar não é uma escolha. Se vocês tivessem nascido e se criado no meio de uma favela barra pesada provavelmente também se expressariam assim.

Ouviram? NÃO É UMA ESCOLHA, essa é a realidade deles, quase que em um sistema de castas, à qual a maior parte está condenada e apenas uma minoria conseguirá sair – e tarde demais, porque sua personalidade já estará formada, moldada neste padrão tosco. Então, quando Caetando canta “Um amor assim delicado, você pega e despreza” todo mundo suspira e quando Valesca canta “E aí seu otário, Só porque não conseguiu fuder comigo Agora tu quer ficar me difamando né? Então se liga no papo No papo que eu mando Eu vou te dar um papo Vê se para de gracinha Eu dô pra quem quiser Que a porra da buceta é minha” é execrada, sem levar em conta a realidade social e brutalidade do meio onde ela se criou.

“Mas Sally, eu conheço pessoas de baixa renda que não tratam sexo com tamanho desrespeito, banalidade e vulgaridade, não é porque a pessoa é pobre que tem que ser assim”. Depende do meio onde ela foi criada. Porque pobreza é uma coisa, marginalização é outra. Uma criança criada em uma casa de um único cômodo onde os pais faziam sexo na sua frente, onde muitas vezes o pai fazia sexo com as filhas, onde existiam estupros recorrentes na comunidade, onde a relação homem-mulher está associada a tudo, menos a afeto, talvez não tenham escolha em pensar e se expressar assim. Fácil julgar quando se está de fora, quando se teve todos os subsídios para uma existência digna. Que bom que nem todos sejam contaminados por esse “baixo nível”, mas compreendo perfeitamente aqueles que sucumbiram. É cruel exigir aquilo que a pessoa dificilmente pode te dar, não por culpa dela. Em vez de meter o pau no funk, vamos votar certo, que tal?

Porque endeusar tanto a sofisticação? Sofisticação é uma coisa brega, meio anos noventa ou coisa de gente esnobe tipo o Somir. Vivemos em um mundo de aparências onde a putaria está comendo solta, os valores estão indo para a casa do caralho, a ética está agonizante e Dilma vai ser Presidente da República. Eu quero mais é escutar “Deixa, deixa, deixa arder” do que fingir que está tudo bem, tudo phyno e fica ao som de “caminhando contra o vento, sem lenço e sem documento, aos sol de quase dezembro…”. MPB representa uma parcela mínima do país. O funk sim é a cara do Brasil. E não digo isto com orgulho não! Mas se você não gosta que o funk seja a cara do Brasil, faça sua parte para mudar a realidade do seu país, ou mude a SUA realidade (aeroporto djá!) O que não vale é negar a representatividade do funk. Só porque ele não TE representa não quer dizer que não represente a maior parte das pessoas do seu país. Chora neném, o Brasil é a cara do funk.

Curioso que, via de regra, as pessoas que se mostram mais incomodadas com as baixarias do funk e pagam de finas são as que tem as maiores baixarias em suas vidas pessoais e profissionais. Porque, vamos combinar, se incomoda TANTO, é porque tem algo que reflete e dói. Nada incomoda a toa.

Pior ainda quando o discurso é para tentar convencer que quem dança funk leva má fama. Sempre tive uma teoria: só tem medo de parecer vagabunda a mulher que efetivamente o é. Quem é segura de si e sabe que jamais passará por vadia, não tem medo de dançar funk. Talvez não dance porque não gosta (respeito e admiro), mas jamais se recusará a dançar porque não quer que achem que é piranha. Eu me garanto, eu posso colocar a mão no joelho ao som de “Sou cachorrona mesmo, late que eu vou passar, agora eu tô solteira e ninguém vai me segurar – Daquele jeito!” que bastam dez minutos de conversa comigo e qualquer pessoa saberá que eu não sou uma vagabunda. Caso a pessoa não se preste a conversar e fique com a impressão de que eu sou uma vagabunda apenas porque me viu dançando funk, bom, que fique mesmo longe de mim, gente assim não me interessa e quem quer distância sou eu.

Não estou pedindo para GOSTAREM de funk, estou pedindo para que o aceitem como modalidade de música popular brasileira, como manifestação cultural legítima de um grupo da sociedade. Seria ideal que este grupo tivesse melhores condições e fizesse músicas refletindo uma realidade menos baixo nível? Claro! Mas infelizmente nossa realidade atual é essa. Negar o status de manifestação cultural legítima só porque não é do SEU GOSTO é arrogância.

Atenção chegô chatuba, hein
Atenção chegô chatuba, hein
Vâmo esculachá

Para dizer que isto é ainda pior do que peido, Dilma e zoofilia juntos, para mandar o Somir filtrar melhor o que publica aqui e para dizer que se funk é cultura uma meleca sua na parede é arte: sally@desfavor.com

Depois que tirar a foto, devolvam as roupas!ANTES TARDE DO QUE NUNCA: É um daqueles meus textos sérios que normalmente rendem dois ou três comentários consistindo de reclamações sobre a chatice do assunto. Se vier pentelhar depois desse aviso, eu vou rir da sua cara.

Em época de campanha eleitoral, temos várias oportunidades de ver um dos mais batidos clichês de comunicação em massa: O pobre bonzinho. Sabe aquela cena clássica da criança morena desdentada sorrindo com uma favela ao fundo? Aquela cena do agricultor animado por estar todo sujo na frente de uma plantação? Aquele pedreiro super feliz fazendo um jóia para uma câmera em movimento?

Todas imagens preparadas para manter a ilusão de que o brasileiro, por mais na merda que esteja, é um povo dócil e feliz por natureza. Claro, não temos cenas de milionários sorrindo em seus iates enquanto modelos semi-nuas servem seu champagne… Afinal, apesar de também serem brasileiros, essa gente só pode ser feliz longe dos programas eleitorais.

É uma espécie de regra não-escrita da convivência social. Tente não exibir a felicidade inerente à riqueza na frente da criadagem, ou as coisas podem sair de controle. É útil para a parcela desprivilegiada da população a noção de que eles podem viver muito bem sem nada do que desejam, e especialmente útil para quem não quer dividir sua riqueza.

Eu já escrevi várias vezes sobre isso, mas não custa relembrar: Por mais que te incomode ou mesmo doa saber, dinheiro COMPRA felicidade. Não é condição obrigatória, mas é o melhor começo possível. Acreditar que rico não é feliz não passa de uma mentirinha social que te alivia um pouco a percepção da inevitável desigualdade entre poderes de realizar desejos. É tão valiosa essa auto-enganação que eu tenho certeza que até mesmo se você acreditar nisso, logo logo consegue se convencer que as coisas não são bem assim.

Não pretendo apenas tentar colocar alguém em depressão com este texto, embora eu vá me divertir se acontecer, o que eu quero é apontar como essa diferença entre pobres e ricos é COMPRADA, como se fosse um produto qualquer. Sei que parece óbvio, mas não é bem assim que as coisas funcionam no inconsciente coletivo.

Explico:

A humanidade deve muito de sua evolução à incrível capacidade do cérebro de categorizar informações e reconhecer padrões. Isso faz parte de como enxergamos e interagimos com o mundo. É uma das bases da nossa inteligência.

Por isso, ninguém precisa ser ensinado a perceber diferenças entre grupos de pessoas. E mais do que isso, é relativamente fácil reconhecer a que grupo você pertence. Uma pessoa pode ser categorizada por diversas características, mas historicamente a mais importante tem a ver com a quantidade de riquezas à sua disposição. E por riquezas entenda qualquer coisa que outras pessoas também desejam, mas que exista em escala limitada.

Em escalas diferentes, temos ricos e pobres em praticamente qualquer sociedade organizada na história desta espécie. É tão fácil se posicionar nessas categorias de escassez e abundância de riquezas que virou padrão.

Só que com essa organização, surgem outras questões, também compreensíveis pela forma como “funcionamos”. A partir dessa categorização, surge o preconceito, o julgamento do todo pela parte. Preconceito que por si só não é a parte ruim, e eu já escrevi sobre isso em uma coluna nos primórdios do desfavor. O preconceito evita a enlouquecedora idéia de julgar cada indivíduo separadamente. (O espaço para memórias no cérebro não é infinito…)

Chegamos assim à necessidade de aplicar uma idéia geral para um grupo no qual se está inserido. Ou, em termos mais simples: “Diga-me com quem andas e te direi quem és.”

Quando o cidadão precisa se definir a partir do grupo que representa, é óbvio que ele vai tentar, mesmo que inconscientemente, se valorizar. E isso vai exigir uma valorização geral para funcionar. “Se eu faço parte do grupo X, o grupo X tem que ter as qualidades que eu quero ter.”

E além disso, para reforçar ainda mais essa idéia, a tendência é que se aplique conceitos negativos para outros grupos. “Eu tenho essa qualidade porque faço parte do grupo X, se estivesse no Y, não a teria.”

Por exemplo: Numa guerra, um soldado diz que está lutando por um ideal ou pela liberdade do seu povo. Muito embora na maioria das vezes sua função seja matar qualquer coisa com um uniforme diferente do seu. E se questionado sobre o inimigo, vai dizer que ele está defendendo uma bandeira maligna ao invés de reconhecer que é mais um pobre coitado forçado a estar ali.

E é assim que se forma a visão frequentemente fantasiosa sobre o grupo no qual se está inserido e o afastamento psicológico de outros grupos. Uma coisa alimenta a outra.

Dessa forma, fica um pouco mais simples viver nesse mundo. Se as pessoas não se acalmassem em seus grupos, muitas vezes impostos pela vida, o caos seria inevitável. E as ferramentas de controle, notavelmente a religião, tem seu papel de incentivar e exacerbar esse comportamento.

“Pode ficar tranquilo, eu te pago assim que você morrer.” Incrível como isso colou, não?

De qualquer forma, falo sobre a forma como nos categorizamos para chegar ao cerne da questão, pelo menos da questão deste texto: Pobres não são mais humanistas, generosos, honestos ou dóceis do que os ricos. Mas precisam acreditar nisso para não se sentirem totalmente inferiorizados socialmente.

E como essa auto-imagem evita revoluções e vende muito bem, é enfiada goela abaixo de todo mundo, sem distinção. A política do correto não permite que se discuta isso, é claro. Quando eu digo que toda essa frescura de passar a mão na cabeça de minorias (em questão de poder) e impedir a expressão honesta do pensamento é uma das armas CONTRA a igualdade, me chamam de elitista insensível… Liberdade de expressão tem que ser uma coisa desagradável para todos aos mesmo tempo. Mas eu entro nesse ponto num outro texto.

Temos a mentira agradável (pobres são pessoas melhores), temos a separação entre grupos (ricos não podem participar dessa imagem), e temos uma proteção social contra críticas ao modelo (“ai, Somir, que coisa horrível de se dizer…”).

Tudo no seu devido lugar. Funcionando maravilhosamente bem para manter os pobres “no seu devido lugar”.

Imagino que algum leitor “socialista de botequim” vá achar que eu finalmente vi a luz, que uma revolta popular e uma tomada de poder pelo proletariado seja a solução para os nossos problemas.

Pois é… não. Seria trocar seis por meia dúzia que não estudou muito. A questão é que quem está no poder é exatamente tão podre quanto quem não está.

Grandes revoluções nesse sentido só provaram que subir muita gente de classe social e esperar a manutenção da igualdade “forçada” não funciona a longo prazo. Egoísmo e ganância estão no âmago do ser humano. Não bate bem com a mente média a noção de que um esforço pessoal não seja recompensado na proporção que julga correta. Tecla SAP: Neguinho fica puto se trabalha mais que outro e ambos recebem a mesma recompensa.

Riqueza é “comprada”, não um gene encontrado no DNA de algumas pessoas. Um governo liderado por populares seria tão corrupto e ineficiente quanto os outros. Essa coisa de categorizar e atribuir valores para grupos pode até ser eficiente para vida do dia-a-dia, mas na prática é só um conjunto de mentirinhas nas quais gostamos de acreditar.

Mesmo que não seja uma boa coisa. Do jeito como o mundo funciona, riqueza e pobreza são quase como que “genes sociais”. Vão passando de geração em geração sem muitas trocas entre os grupos.

Assim como muita gente não escolheu ser pobre, também não escolheu ser rica. Isso nasce com a pessoa, e fazer pré-julgamento sobre alguém baseado numa característica que NÃO SE ESCOLHE tende a ser mal-visto na nossa sociedade. E com justiça: Esse mesmo tipo de categorização preguiçosa criou o racismo e a intolerância. É cruel julgar alguém por uma característica que não se escolheu. (Assim como é ridículo se gabar por isso…)

É uma forma de preconceito negativo fortalecer essa fantasia de que riqueza é incompatível com altruísmo ou valores humanistas.

E não se anime, Chiquinho Scarpa, estou pleiteando meu direito de desgostar da humanidade como um todo, ao invés de ter que ficar escolhendo um grupo ou outro, como é o de costume. Basta prestar um pouco de atenção para perceber que somos essencialmente a mesma coisa, com diferenças na maioria das vezes puramente estéticas.

Imagine uma foto na revista Caras: Luciano Huck passeando com seu Jet-Ski na praia particular em frente à sua mansão em Angra. Na legenda: “Eu sou uma pessoa muito esportiva, nem tirei o meu Rolex.”

Agora, imagine uma foto no álbum do Orkut: Wanderclêidison fazendo pose na sua moto velha na rua da frente da sua casa na periferia paulistana. A legenda: “E facil fla de mim mais dficil msm eh ser eu”.

A diferença É cosmética. Ambos estão apelando para o mesmo público limitado do ponto de vista intelectual. Uma pessoa pobre ou rica com um pouco de cultura simplesmente não se importa com uma babaquice dessas. O mesmo vale para a modelo na capa de revista e para a pobre fazendo pose sexy no puxadinho. É a mesma mentalidade. Para o bem e para o mal.

Uma reversão de poder entre os atuais ricos e os atuais pobres seria puramente estética também. São as mesmas pessoas em “estados diferentes da riqueza”. Diferenças óbvias de ambiente que ditam essas supostas diferenças de valores.

O cidadão que já está lá embaixo na “cadeia alimentar financeira” não tem nem OPORTUNIDADE de segregar alguém em condição pior. É muita inocência atribuir uma qualidade a quem não pode ser testado.

A verdade é que a nobreza do altruísmo é resultado de inteligência social e/ou emocional bem desenvolvida. Não que se precise fazer um curso superior para se tocar que há um mínimo de doação para a sociedade essencial para o funcionamento do mundo. Mas que é um conceito bem mais complexo do que parece, é sim. A maioria das pessoas, independentemente de condição financeira, passa longe de entender o que é isso. Essa forma de ignorância é extremamente democrática.

Principalmente porque essa idéia exige se afastar do confortabilíssimo conceito de jogar na conta de outros grupos a culpa pelos problemas percebidos.

“Os pobres são boas pessoas, mas não estão no poder. E para deixar de ser pobre, tem que deixar de ser boa pessoa. E eu quero ir para o Céu, sabe?”

Realidade: Os pobres são pobres, os ricos são ricos e a humanidade tem muito pouca gente que realmente se importa em resolver problemas e melhorar a qualidade de vida geral. Não tem revolução social dramática que aumente a inteligência média da população a curto prazo, e por isso, não tem revolução social dramática que resolva os problemas desse mundo.

Mas, enquanto for bonitinho mostrar pobres felizes POR SEREM pobres, vamos encarar essas campanhas ridículas e os governos medíocres erguidos por elas. Afinal, mudanças reais demandam tempo e sacrifícios, e ninguém parece muito afim disso.

Para dizer que é masoquista e leu mesmo depois do aviso, para me parabenizar por realmente não dar a mínima para o público, ou mesmo para dizer que eu sou um burguês maligno (apesar de pobre…): somir@desfavor.com

Matar o assassino? É... faz todo o sentido mesmo.Quando aparece um caso sórdido cheio de detalhes macabros como este envolvendo o goleiro Bruno, os imbecilóides de plantão saem da toca e começam com sua pregação (geralmente aos berros e se achando cobertos de razão) através de um discurso que reflete uma histeria punitiva hipócrita. Isso sempre me revoltou e sempre comprei briga com esse tipo de gente, que infelizmente é maioria aqui no Brasil. Então, me pareceu a oportunidade ideal para escrever este Flertando com o Desastre. Talião meu ovo, seus filhos da puta, nada mais medíocre que a reciprocidade.

Ninguém aqui está negando que o crime foi bárbaro, cruel, covarde, medonho, doentio e qualquer outro adjetivo negativos que vocês queiram enquadrar. Justamente por estas características, quem perpetrou estes crimes é um monstro, um escroto, um desajustado e etc que deve ser isolado do convívio social.

Porém, gostaria de lembrar que qualquer pessoa que pratique este tipo de conduta é um monstro, um escroto, um desajustado e etc. O autor do crime ou quem pretende punir ou vingar o crime na mesma moeda. Então, antes de sair falando que tem que matar, que tem que cortar a mão, que tem que picar e dar para o cachorro comer, pense se você não está se tornando um equivalente daquilo que tanto repudia.

“Mas Sally, se fizessem isso com a sua filha você não ia querer fazer o mesmo?”. Odeio esse argumento, é uma das coisas mais medíocres que já escutei. Já apresentei meu contra-argumento no Flertando com o Desastre sobre transsexuais e repito aqui: a justiça não deve ser feita com base no sentimento da vítima, com base em revanchismo. Evidente que se fosse com uma pessoa querida eu iria querer que façam a mesma coisa com o criminoso, mas não é assim que a justiça tem que atuar.

Eu entendo que as pessoas próximas à vítima tenham esse desejo de fazer mal aos criminosos. Acho normal. Acho esperado e aceitável. Agora o que eu não entendo é essa massa burra que nem conhecia a moça e que provavelmente seriam os primeiros a meter o malho nela se estivesse viva, sentindo tanta revolta e transformando essa revolta em violência. Porque tanta revolta virando agressividade?

Cheguei a uma conclusão muito triste: o brasileiro não sabe se indignar. Não tem essa sofisticação. O lance é sentir raiva mesmo, querer matar, querer bater, querer que a pessoa se foda toda com platéia assistindo. Brasileiro não fica indignado, fica puto e quer resolver na reciprocidade: fez merda? Faz a mesma merda com ele! Parece que para provar que está indignado de verdade tem que esboçar uma reação desproporcional, destemperada e violenta.

No fundo, no fundo, o que pessoas que pregam a Lei de Talião querem é justamente uma manutenção desse circo sádico. Teve derramamento de sangue? Cortaram a menina e deram para cachorro comer? É pouco! O sangue atiçou a população! Agora eles querem mais, eles querem que Bruno e seus amigos-alimento também sejam torturados, picotados e mortos. O povo quer mesmo é ver mais sangue, mais morte, mais violência. Manutenção do sadismo.

Se torturar e matar causasse mesmo tanta repulsa naqueles que pregam a Lei de Talião, eles não teriam coragem de opinar que se faça o mesmo com os criminosos. Se alguém estupra sua filha, você sente vontade de estuprar o criminoso de volta?

Esse povo histérico não quer justiça, quer mais circo, quer a barbárie, quer descontar todas as frustrações e injustiças que sofre ou sofreu naquele criminoso em particular. O criminoso passa a simbolizar tudo de ruim e deve ser eliminado com requintes de crueldade. E duvido que isso mude. Cadê que esse povo bunda senta em um divã? Nunca! Psicanálise é coisa para maluco, afinal “se for para conversar com alguém sobre os meus problemas, eu converso com meus amigos em uma mesa de bar, que é de graça”. E essas porras 1) tem filhos e 2) votam, o que acaba 1) aumentando a quantidade dessas porras no mundo e 2) colocando porras parecidas com eles no poder.

Essa fala fácil e medíocre de “tem que fazer o mesmo com ele!” não deixa espaço nem mesmo para reflexão e debate. Porque quando você tenta ponderar como isso pode ser incorreto, os imbecilóides de plantão se voltam contra você dizendo que você está defendendo bandido, te colocando como um falso vilão na história. “Se não concorda comigo é porque necessariamente está defendendo o bandido”. Impossível argumentar com pessoas assim.

Bandido não pode ter direitos humanos, não é mesmo? Porque a vítima não teve direito aos direitos humanos. Dá licença que eu vou vomitar e já volto. O que essas pessoas esquecem é que a vítima estava nas mãos de BANDIDOS, por isso foi privada de seus direitos humanos, enquanto que o criminoso está nas mãos do ESTADO. No dia em que o Estado passar a tratar seus membros como um bandido trata sua vítima, eu saio do país. Desejar que o tratamento que o Estado dá aos seus seja similar ao tratamento que um bandido da à vítima é desejar um retrocesso. A gente conhece um Estado pelo tratamento que ele dá aos “inimigos”.

Este discurso histérico é fácil e superficial e é típico de pessoas que não sabem lidar com seus sentimentos, pessoas ressentidas e cheias de mágoa que acreditam que as melhores soluções são sempre as mais radicais: eliminar, matar, torturar, destruir. Quanto pior o tratamento dado ao criminoso, maior seria a “justiça” feita. Porque eles não tem preparo para perceber que a vida nem sempre é justa e que isso está fora do nosso controle. Transformam a revolta, que pode ser canalizada para coisas positivas, em algo nocivo, negativo e destrutivo. Acabam por criar um círculo vicioso que prejudica a toda a sociedade.

Vejamos, será que interessa de fato à sociedade que o Estado não dê direitos humanos aos bandidos? O mesmo preso que passa anos em condições desumanas, sendo torturado, humilhado e privado da sua dignidade, é o preso que vai ser posto na rua em um futuro, pois não existe prisão perpétua no Brasil. É essa a pessoa que você quer de volta às ruas, para pegar ônibus com o seu filho ou para sentar do lado da sua filha em uma mesa de lanchonete? Uma pessoa brutalizada, revoltada e destruída, que não tem mais nada a perder? Não seria melhor para a sociedade se essa pessoa saísse melhor do que entrou? Ok, se você não acredita que possa sair melhor, ao menos que não saia pior do que entrou?

“Mas Sally, vocês são os primeiros a não ter coração, a rir dos outros quando eles se fodem e ainda achar bem feito, e agora você vem pregar direitos humanos?”. Sim, isso aí. Quando a pessoa se fode POR MÉRITO PRÓPRIO, sem intervenção de outro ser humano torturando, a gente acha engraçado pra caralho. Foi escalar uma montanha no meio de uma nevasca e virou picolé? A gente não lamenta! Quem mandou? Foi nadar com um carnívoro de seis toneladas e foi mastigada? Quem mandou? Não é tortura. São conseqüências normais da escolha de vida da pessoa. A gente nunca pregou assassinato e tortura aqui – e nem vai.

Também não estamos pregando que os culpados não sofram as conseqüências de seus atos. Ocorre que, quando se opta por viver em um Estado Democrático de Direito, a punição é monopólio do Estado e este deve observar uma série de garantias fundamentais que resguardem a dignidade da pessoa humana para aplicá-la. Eu opto por viver em um Estado Democrático de Direito, por isso acredito que eles devem ser punidos conforme previsão legal.

Engraçado que os mesmos que cobram a aplicação da lei aos berros quando lhes convém são os primeiros a esquecer das leis quando estão revoltadinhos. É aquele tipo de pessoa que se sente no direito de escolher qual lei deve ser cumprida: só aquela que faz sentido na cabeça da pessoa. Cobra tudo que a lei lhe dá de direito, mas quer afastar qualquer garantia conferida pela lei ao preso.

“Mas Sally, a lei é uma merda, a pessoa nunca passa muito tempo presa, a lei foi feita para beneficiar bandido!”. Não é verdade. Opiniões de formam estudando e não lendo revista e vendo TV. Estude a fundo a lei e só depois pense em criticar. E se você não está satisfeito com a lei, existem diversos mecanismos para modificá-la por iniciativa popular. Mexa-se, arregace as mangas e lute por um país melhor. Em vez de ficar de braços cruzados pregando a desobediência de uma lei porque você não concorda com ela, tenha atitude e faça o necessário para que essa lei seja modificada e fique mais justa.

Mas esta histeria punitiva encontra um limite com muita freqüência: quando, de alguma forma, direta ou indireta, a punição chega ao autor. Basta ter um filho, um primo, um amigo ou qualquer pessoa próxima na condição de réu que o discurso muda rapidinho. Somir fica dizendo que Deus não existe… Tolinho. Deus existe sim – e é sádico.

Vendo essa massa enfurecida pregando todo tipo de pena corporal e tortura contra o goleiro Bruno e seus amigos-alimento eu fico pensando onde estão os ditames religiosos destas pessoas. Garanto que a esmagadora maioria das pessoas que fala essas barbaridades tem religião. E quase todas as religiões pregam o perdão e a compaixão. E aí? Vai abrir mão da religião ou vai se assumir hipócrita? Não adianta ir à missa e ficar rezando para o seu Deus e ao mesmo tempo ficar dizendo essas barbaridades por aí, cultivando esse sentimento revanchista, vingativo e violento.

Porque será que as pessoas não podem elaborar o choque de uma barbárie dessas sem ter que apelar para o desejo por outra barbárie? Porque as pessoas são tão medíocres de achar que a reciprocidade é sinônimo de justiça e sempre se justifica?

Gente que prega o troco na mesma moeda está mais próxima de bicho do que de gente. São pessoas emocionalmente aleijadas que não sabem lidar com um sentimento de revolta e projetam frustrações pessoais e medos naquele autor do crime, que vira um símbolo de tudo que não presta. Não basta prender, não basta afastar do convívio social, tem que satisfazer a porção sádica da prole, tem que torturar, arrebentar.

“Mas Sally, pelo menos se torturar bastante, os outros bandidos vão pensar duas vezes antes de fazer uma merda assim porque vão ficar com medo”. Estude criminologia. O maior índice de reincidência criminal ocorre em prisões que não respeitam os direitos humanos. É comprovado que o que faz com que as pessoas pensem duas vezes antes de cometer um crime é a probabilidade que elas acham que tem de serem pegas, e não o tamanho ou a qualidade da pena. Países que asseguram uma prisão com dignidade tem índices de criminalidade e reincidência muito menores.

Caso você seja um dos analfabetos funcionais que batem ponto por aqui, não custa dizer o que já está mais do que claro: EU NÃO ESTOU DEFENDENDO O BRUNO NEM APROVO O QUE ELE FEZ, EU ACHO QUE ELE DEVE SER PUNIDO. Porém não acho que nada nessa vida justifique violar alguns direitos fundamentais como os direitos humanos. E acho que é perfeitamente possível que a pessoa compreenda o erro que cometeu e vire uma pessoa melhor sem precisar ser submetida ao mesmo tratamento que deu à vítima.

Provavelmente a pessoa que defende a Lei de Talião é tão tosca que só é capaz de mensurar seus erros quando fazem de volta com ela na mesma moeda, daí, em uma crise de Universo Umbigo, fica achando que o mundo todo funciona assim e só vai entender o mal que causou se sofrer o mesmo tratamento das pessoas que vitimou.

Então, pensem duas vezes antes de defender punição corporal, tortura, pena de morte e prisão perpétua, pois isso depõe muito contra você. Se quer mesmo sustentar este ponto de vista, então faça-o com coerência: abandone sua religião e pare de cobrar os direitos que lei te confere, pois quem quer privar os demais de seus direitos tem que estar pronto para ser privado também. Ah sim, se Deus existe, é certo que ele te odeia. Certeza.

OBS: NOTA DE ÚLTIMA HORA – 15/07/2010 – 11:30h. Um passarinho me contou que Bruno não matou a moça por questões de pensão ou do filho, que nem se sabe se é dele. Parece que teve relação com uma certa chantagem que ela andava fazendo, ameaçando de contar certas coisas que ele andou fazendo, que podem ser consideradas meio gays. Assim que tiver mais certeza do que estou falando jogo toda a merda aqui no ventilador com o maior prazer. beijosmeprocessa.

Para dizer que nada de bom vem do Flamengo, para dizer que sua religião admite tortura e assassinato e para dizer que odeia mais ainda o goleiro do Flamengo porque hoje era dia de Processa Eu e por causa do filho da puta do Bruno teve essa coluna escrota no lugar: sally@desfavor.com

Me amarrava nesse jogo!Recentemente foi aprovada uma lei no Rio Grande do Sul que qualifica e cria políticas públicas para conter o famoso “bullying” nas escolas. Mesmo correndo o risco de ser permanentemente expulso da Associação dos Nerds, não poderia deixar de expressar a minha discordância da medida.

Mas vamos por partes: O termo “bullying” ficou mais conhecido nessa recente abertura dos portos virtuais brasileiros. Antigamente era a boa e velha crueldade infantil/adolescente contra os mais fracos do bando. Para quem não tem muita famialiridade com a língua inglesa, “bullying” vem de uma expressão idiomática que significa pressionar, empurrar ou passar por cima.

Num ambiente escolar, a vítima dessa prática acaba isolada e humilhada por colegas que a escolhem como alvo de brincadeiras de mau-gosto (algumas engraçadas, admitam…), ofensas e até mesmo violência física. Mas tudo isso SEM provocação prévia. Um moleque que leva uma surra depois de chamar o valentão da turma de viadinho não está sofrendo “bullying”, está aprendendo a pensar antes de falar.

E sim, essa é uma fase de aprendizado constante. A escola ensina conhecimento científico e histórico importantes para a vida, mas ensina principalmente como lidar com outras pessoas. E é em prol deste aprendizado que eu não sou fã dessa onda de preocupação (do nada) com uma prática tão antiga quanto essa.

Não começaram a pegar no pé e maltratar os desajustados da turma recentemente. Excluir o diferente é parte integrante da evolução humana. Não parece muito justo, mas definitivamente teve a sua função: O anti-social das cavernas era expulso do bando e não se reproduzia. O anti-social da antiguidade ficava isolado e não atrapalhava o desenvolvimento da civilidade. Fiquem felizes, sem isso não estaríamos aqui. A humanidade é o que é pela sociabilidade.

Atualmente, o anti-social ficou mais interessante. Seleção natural já não faz muita diferença para a humanidade, e pessoas solitárias e obsessivas tem grandes possibilidades de desenvolver conhecimento específico valioso. Mas não pode-se negar a tendência instintiva de punir quem não se adapta ao padrão esperado do grupo. Ninguém ligava de verdade para proteger essas vítimas até pouco tempo atrás.

Hoje em dia, considerando que os nerds estão mandando na economia mundial… o “bullying” virou um problema sério que está destruindo nossa juventude. Já ganhou até sub-categoria, o “cyber-bullying”, que nada mais é do que a mesma coisa de sempre com computadores e celulares.

Ok, não é nada agradável ser a vítima de um grupo de crianças ou adolescentes cruéis sem tê-los provocado previamente, mas eu posso dizer com a experiência de ter sido um anti-social escolar: Esse drama em cima do assunto não vai ajudar em nada, aliás, se tiver algum efeito, vai ser negativo.

A cruel realidade é que algumas dessas crianças e adolescentes PRECISAM sofrer essa pressão antes que não tenha mais volta. Poucas pessoas tem a criação de alto nível e/ou a dedicação necessária para se dar bem na vida sem depender muito de ajuda externa. Não tenhamos a ilusão de que todas essas pessoas que sofreram na escola vão se vingar do mundo se dando muito bem na vida adulta.

Digo isso por uma experiência pessoal. Mesmo que minha vertente anti-social não tenha sido “curada”, após sofrer por algum tempo algo bem parecido com o que se chama de “bullying” hoje em dia eu aprendi algo essencial para a continuidade da minha vida: Conversa não resolve tudo.

Venho de uma criação pacífica e equilibrada. Me desenvolvi num ambiente onde argumentação dava conta dos problemas. Atitudes violentas e desequilibradas eram muito mal vistas. Achei tão bacana que pretendo repetir com eventuais filhos, mas disso surgiu um problema que ficou evidente depois de alguns anos de convivência na escola. Eu simplesmente não considerava a possibilidade de brigar ou ser agressivo.

Foi necessária muita provocação até eu aceitar que o meu jeito de resolver problemas não resolvia porra nenhuma naquela situação. Eis que veio a iluminação: Uma porrada bem dada vale por mil palavras. Eu ainda acho absurdo que isso precise acontecer e odeio a humanidade mais ainda por esse motivo, mas… O mundo não é justo. Aceite ou se foda.

E quando aconteceu comigo, as escolas estavam cagando e andando para essa história. Era a lei da selva e pronto! Tenho medo do que eu teria me tornado se essa política de vitimização estivesse em vigor. Se me fizessem acreditar que toda a culpa era das pessoas que estavam me perseguindo e que eu não tinha que mudar, grandes chances que eu tivesse me tornado essa vítima.

Não me tornei um valentão, não mudei de personalidade. Apenas aprendi uma lição. E não é justamente disso que precisamos nessa fase da vida? Minha discordância vem da idéia de que essas crianças e adolescentes levadas a acreditar que não precisam se adaptar a vida real não vão funcionar direito na vida adulta e não vão desenvolver os supostos talentos dos anti-sociais.

Sejamos sinceros. Quem vai “chorar” para a direção da escola ou para os pais quando sacaneado na escola está mil vez mais fodido do que estava anteriormente. Pode-se até colocar uma política pública para fingir que o mundo pode ser justo, mas não se pode mudar as regras não-escritas da convivência nessa idade. A vítima do “bullying” vai ficar ainda mais isolada e odiada se começar a ter proteção institucional.

Não resolve o problema de “ressocializar” o anti-social. E ele é bem capaz de se colocar na posição de vítima profissional e ficar esperando o mundo pagar sua dívida com ele. Afinal, ele nunca aprendeu que o mundo é tudo, menos justo.

E nem me venham com essa de tiroteios em escolas, eu já falei sobre isso antes: Neguinho não sai matando porque foi sacaneado pela turma, faz isso porque é sociopata.

E como eu falei dos talentos dos anti-sociais, aqueles que moldaram a sociedade moderna, eu devo mencionar como eles se formam: Através de isolamento e uma idéia incessante de que vai ter que fazer muito mais do que simplesmente existir para ter valor nessa vida.

Uma pessoa “normal” e social não se sente tão compelida a mudar o mundo. Ela é bem aceita e as coisas funcionam mais ou menos como ela espera. Uma pessoa mais desajustada sente a necessidade de fazer algo notório para ser aceita. (Sim, é uma forma bonita de dizer que é a buceta que move o mundo…)

Vítimas esperam que as coisas caiam no seu colo, desajustados aceitam que precisam fazer mais se quiserem atenção.

OU SEJA: Piora a vida da pessoa no momento, desenvolve problemas futuros e ainda por cima pode matar no berço alguns talentos nerds incríveis.

É essa mania de conformidade, nivelar todo mundo por baixo naquela asneira moderna de “todo mundo é especial” que faz assuntos como “bullying” tomarem essa proporção. Já existem punições e autoridades responsáveis para lidar com todos os casos de perseguição escolar. Se quer que o mundo seja mais justo, CORRIJA quem faz coisa errada.

Porque essa coisa de mobilização social contra o “bullying” parece aquelas mãe cretina que vê o filho botando fogo nas cortinas e diz: “Cauã Cauê, não faz isso que mamãe fica triste…” (comentário roubado da Sally)

Fode a vida da vítima, não pune quem maltrata. Grandes merdas. Se é pra ficar com essa frescura, deixa os nerds apanherem um pouco na escola, porque pelo menos assim eles tem uma chance de resolver seus problemas.

P.S.: E tem gente que merece ser sacaneada mesmo.

Para dizer que vai me denunciar por ter ferido seus sentimentos, para dizer que qualquer lei que evite que pessoas se desenvolvam como eu é válida, ou mesmo para dizer que cuecão é patrimônio histórico e não pode ser proibido: somir@desfavor.com