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Pedocracia.

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| Sally | | 56 comentários em Pedocracia.

Mães sem controle dos seus filhos. Filhos mandando nos pais. Decisões sérias sendo tomadas de acordo com a vontade de crianças. Certamente você conhece uma ou mais de uma. É uma epidemia que ganhou um curioso apelido: Pedrocracia, ou como preferem outros, “Ditadura das crianças”. Vamos tirar o dia para tentar entender por qual motivo pequenos terroristas com cognição e força inferiores a adultos estão mandando nos pais?

Educar dá trabalho. Quando você, VOCÊ, realmente educa seu filho (em vez de deixar o dia todo na creche ou com terceiros como sogra e babá) é algo extenuante. Dar “não”, colocar limites e, mais importante, fiscalizar para que esses limites sejam respeitados, é um trabalho cansativo e integral. Razão pela qual optei por não ter filhos, já que gosto de fazer tudo que faço muito bem feito. Em vez de fazer mal feito (nunca no mundo que eu teria a paciência e disponibilidade necessárias) ou delegar para terceiros (nunca no mundo que eu teria o tempo necessário para cuidar de uma criança), abro mão, em uma escolha consciente e calculada, das milhões de alegrias que poderia ter se fosse mãe e, para o bem dos meus filhos e da minha consciência, decidi não tê-los.

Quem os tem, tem o dever de se portar como pai e mãe. Não amigo, não parceiro, não camarada. Pai e mãe, em primeiro lugar. E para isso algumas características são necessárias: autoridade, moral, comando, respeito e vigilância são algumas delas. Seu filho pequeno tem que fazer o que VOCÊ manda, pois você e apenas você sabe o que é melhor para ele. Quando ele for adulto e tiver o discernimento para escolher, ele vai fazer o que quiser. Não cabe a uma criança decidir se quer ou não tomar uma vacina, vai tomar e acabou, vai tomar e ponto final. Os motivos podem e devem ser explicados, mas a decisão não é negociável.

Porém o que se vê no mundo hoje não é isso. Muito pelo contrário, cada vez mais vemos casos onde os filhos estão mandando, direta ou indiretamente nos pais. Os filhos escolhem o que vestir (daí vemos crianças na praia com fantasia de Branca de Neve), escolhem o que comer (e vemos crianças que por semanas se alimentam apenas de biscoito recheado), escolhem o que comprar e quando comprar. Lembro de uma vez ter perguntado ao Somir por qual motivo estavam inserindo personagens de desenhos nos carros e ele me explicou que o mercado estava percebendo que, cada vez mais, pais compram carros de acordo com a vontade de suas crianças. CRIANÇA ESCOLHENDO CARRO. Percebem o absurdo?

Os motivos pelos quais os pais permitem que seus filhos mandem neles, ainda que parcialmente, são vários. Nem me atrevo a querer citar todos, vou falar apenas daqueles que me chamam mais a atenção.

Como eu disse, educar dá trabalho. Não é todo mundo que tem tempo e paciência para bancar um “não”, uma proibição e todos seus desdobramentos. Muito menos para fiscalizar o cumprimento dessa ordem. Então, por pura frouxidão, por pura paumolescêmcia, por pura preguiça com seu próprio rebento, pais acabam cedendo. É mais fácil, é mais cômodo, é mais imediatista. Dá para a criança o que ela quer, e acaba o conflito. Parabéns, criam idiotinhas incapazes de lidar com conflito no futuro, que não sabem aceitar uma negativa, que surtam quando não tem suas vontades atendidas. Isso é DESLEIXO, preguiça, corpo mole com o próprio futuro do filho, não me entra na cabeça que alguém possa ser tão negador de fazer isso com a educação do filho sem peso na consciência!

Tem também aqueles que não têm pulso firme. Pessoas sem moral, pessoas frouxas, pessoas sem um pingo de liderança e postura. Gente que precisa “subornar” o filho com bala para que ele se digne a tomar banho. OI? OOOOIIIII? Quem é que manda em uma casa onde pai e mãe barganham com filho? Uma pessoa não tem vergonha profunda de ser tão cuzona que não consegue mandar nem em uma criança? Eu teria, eu teria muita vergonha. É aquela mãe que vê o filho incendiar a cortina na casa de uma visita e apenas diz “João Vítor, não faz isso que a mamãe fica triiisteee”. Criam criaturas sem limites, sem freio, sem o menor temor a nada. Pessoas que fatalmente vão apanhar muito na rua (de preferência, literalmente) quando finalmente se depararem com limites no mundo real.

Tem ainda os pais que são movidos pela culpa. Botaram filho no mundo por pressão, ou até capricho da mulher (impressionante como homem cede fácil em algo tão importante, shame on you!) mas na real, na real, não tem condições (nem o homem nem a mulher) de ter filhos, seja pelo lado financeiro, seja pelo tempo disponível. Estão sempre tentando compensar a privação que geram nos filhos com uma permissividade excessiva, o que na verdade, nem bondade é e sim uma forma mega-egoísta de aplacar a própria culpa. Muita vergonha de quem é egoísta o bastante para estragar a educação de um filho só para amenizar um sofrimento pessoal. Trabalhar o dia todo e só ver criança no café da manhã e na janta é ERRADO, é CRETINO ter filho nessas condições e não importa o quanto se permita a ele, não apaga esse fato.

Pasmem, tem também um tipo que me desperta até pena: os carentes. Eles querem/precisam da aprovação do filho. Criança, esperta como é, quando percebe um caminho aberto, abusa. Diz para a mãe que não vai amá-la mais se ela não comprar um brinquedo, diz que não gosta mais dela se é contrariada e assim vai levando pelo nariz adultos que deveriam ter consciência das coisas, em uma chantagem eterna. Oi? OOOOIIII? Ter filhos significa que, para o bem deles, eventualmente serão colocados em situações nas quais odiarão os pais. Um adulto sabe que é para o bem da criança, que é para sua proteção. Uma pessoa DEMENTE (desculpa, não tem outra palavra) que pretende agradar o filho sempre deveria ser esterilizada. Seu filho não é seu amigo, não é seu boneco, não é seu brinquedo, não é arma contra a solidão. É FILHO, FI-LHO. Contrariar o filho e deixa-lo puto educando-o é obrigação, está no pacote.

Tem também os idiotões que não aguentam o peso de ter um filho nas costas e decidem “socializar” as decisões, perguntando aos filhos coisas absurdas como: se deve ou não fazer uma cirurgia, se deve ou não comprar determinado modelo de carro, se deve ou não pedir demissão (os três casos são verídicos). Ao socializar o problema, se divide também a responsabilidade se algo der errado. É muito injusto, muito babaca e muito covarde dividir um peso desses com uma criança, que nem de longe tem as ferramentas necessárias para tomar uma decisão. “Mas ele é muito maduro”. É uma criança. UMA CRIANÇA não decide sobre cirurgia, demissão e compra de carro em lares saudáveis, ok?

Poderia ficar até amanhã citando esses tipinhos sem preparo algum que jogam filho no mundo para, no final das contas, não fazer o sacrifício que tem que ser feito, não segurar os rojões que tem que ser segurados e se auto-perdoar com uma desculpa muito insustentável sobre sua própria incompetência. Mas prefiro usar a outra metade do texto para validar minha reclamação e mostrar como a imbecilidade desses despreparados não prejudica apenas seus filhos, e sim afeta a todos nós.

Sim, os péssimos pais (que sempre se acham bons pais no salto final, não sei por qual motivo), afetam a todos nós. Além de criarem imbecilóides que depois reproduzem o comportamento doentio ensinado como maridos e esposas, também nos sujeitam ao chilique de seus filhos. Nenhum pai tem o direito de impor a terceiros o chilique de seus filhos. Mas, curiosamente, no Brasil parece haver um consenso que eu ainda não compreendi muito bem de que ser criança justifica falta de educação. Criança chora alto no shopping, pessoas olham feio, pais bradam “É só uma criança…”. FO-DA-SE, eu fui criança e nunca, jamais, em tempo algum fiz um showzinho na rua importunando o ouvido alheio.

Não é inerente a “ser criança” ser mal educado. Não é inerente a ser criança mandar nos pais. Não é inerente a ser criança bagunçar tudo, quebrar coisas, desobedecer. Estas são características de crianças MAL EDUCADAS. Se seu filho as faz, ele é mal educado, o que deveria causar profunda vergonha, já que a falta de educação dos filhos nada mais é que um espelho da falta de educação dos pais. Ser criança não justifica qualquer comportamento público que cause desconforto em terceiros.

E quando chegamos a esse ponto do chilique em shopping, nem adianta que os pais tentem fazer alguma coisa. Já perderam o controle. A criança não cala a boca, independente de broncas, ameaças ou castigos. Os pais são obrigados a protagonizar toda sua desmoralização na frente de estranhos. Não entendo como não cavam um buraco no chão e se enfiam de vergonha, é o auge do fracasso colocar um ser humano no mundo e fazer um trabalho bosta educando-o. Pior ainda, o trabalho bosta ficar público.

Isso sem contar que muitas vezes a incompetência dos pais acaba colocando as crianças em risco. Dois meses atrás eu embarcava em um avião para São Paulo, quando uma mãe que estava sentada na fileira ao lado mantinha uma criança em seu colo. A aeromoça se aproximou e disse que a criança deveria ser acomodada na sua poltrona no momento da decolagem, pois em caso de imprevistos, ela se machucaria se estivesse no colo da mãe. A mão colocou a criança na poltrona e ajustou o cinto. A criança fez um escândalo de tal tamanho, que a mãe a retirou da poltrona e a colocou no colo novamente. A aeromoça se reaproximou (neste momento eu já havia sacado o celular e estava filmando) e disse, com todas as letras, que o filho dela poderia MORRER se estivesse no colo e houvesse um problema ao decolar.

A mãe respondeu “Eu tentei colocar, mas ele não fica”. Oi? OOOOOOIIIIII? ELE NÃO FICA? QUEM MANDA, ELE OU VOCÊ? Por favor, minha mãe só me olhava e eu não só ficava, como também sentava, rolava e buscava graveto com a boca se necessário fosse. A aeromoça insistiu e a mãe disse que não o colocaria “Porque ele não quer”. OIIIII? Bêbado, maluco e criança não tem que querer porra nenhuma, pois não sabe o que é melhor para si. Bêbado, maluco e criança apenas obedece. Resultado: a aeronave não poderia decolar enquanto a mãe não colocasse a criança ali. A mãe se recusava a colocar. 200 pessoas se fodendo por causa de uma mãe sem moral e uma criança sendo colocada em risco de vida. Tá fácil?

Em certo ponto a mãe me perguntou, de forma um tanto quanto rude, porque eu estava filmando e eu respondi: “Para que o mundo saiba a merda de mãe que você é, você vai para o YouTube, sua criminosa que coloca a vida do filho em risco”. Claro que não coloquei o vídeo dela em lugar nenhum, mas foi o bastante para que ela se intimide acomode o filho na poltrona ao lado. Não fosse o vídeo, certeza de que ficaríamos horas ali.

No que a mãe apertou o cinto, o filho a mordeu, chegando a fazer sangrar a sua mão, e voltou a sair da poltrona. A mãe disse para a aeromoça: “Tá vendo? Eu avisei que ele não ia ficar”. Criança não é burra, criança entende. Criança sabe quem é quem. Uma criança jamais vai obedecer uma mãe com essa mentalidade, uma DEMENTE que permite que a vida do próprio filho seja colocada em risco. A mãe saiu para fazer um curativo, pois sua mão estava sangrando muito. Olhei bem nos olhos da criança e disse “Se eu for aí, você vai se arrepender. Vai sentar ou vai me fazer ir até aí?”. A criança se sentou.

Então, desculpa, não venham me dizer que quem não tem filhos não pode falar. Eu posso falar sim. Eu faço criança mal educada se colocar em seu lugar com uma única frase. Mães, me xinguem, mas em matéria de disciplina crianças são muito parecidas com animais. Quando era estagiária em uma pet shop um dos meus primeiros trabalho foi dar banho nos gatos (estagiário sempre pega a pior parte). Os mais antigos falavam “ihhh, esse aí é terrível, esse aí não deixa dar banho”. Oi? OIIIIIII? NÃO DEIXA? Um animal de 5kg NÃO DEIXA? COMO ASSIM? Desculpa, acho que não entendi direito? NÃO DEIXA? Não existe um animal de 5kg não me deixar fazer qualquer coisa. NÃO EXISTE.

No que eu posicionava a mão no gato, aquele que “não deixa”, ele imediatamente sentia quem estava ali. E, adivinha? Eu dei banho em todos os gatos que passavam por mim. É uma questão de energia, de tom de voz, de postura. Quem deixa ou não deixa alguma coisa sou eu, não um gato, não uma criança. Por qual motivo Cesar Millan apenas cutuca um cachorro histérico, muitas vezes maior do que ele, e o cachorro enfia o galho dentro na hora? É a energia, a firmeza, o comando que se impõe ao ato. Crianças e animais não decidem, eu decido. Eu sei o que é melhor para eles. Prefiro uma criança emburrada, porém viva, do que uma criança feliz morta esmagada nos braços da mãe por um imprevisto na decolagem.

Falta essa consciência ao brasileiro, no geral. Falta a noção de responsabilidade que é ter um filho, para quem sabe assim, não viver nessa permissividade escrota que só faz mal às crianças, hoje e no futuro. Uma criança sem limites é uma criança que sempre vai procurar mais e mais, com grandes chances de se tornar um adolescente que usa drogas, comete crimes ou testa limites de formas tão perigosas quanto. Vamos levantar a bunda da cadeira e ter um pouco de trabalho ensinando limites e impondo moral às crianças?

Não vão, eu sei que não vão. É quase que uma deficiência, eles não conseguiriam, não tem o que precisa, a disciplina e a força necessárias. É gente que nem ao menos consegue tirar o controle remoto da boca do cachorro sem ser mordido. Pessoas que se matam de trabalhar para pagar as contas de casa mas são os últimos na cadeia alimentar ali dentro, todo mundo manda mais do que eles. O cachorro mija no seu tapete, o filho rabisca a cortina, o gato afia as unhas no seu sofá.

Estou de saco cheio de cheirar uma merda que não é minha. Brasileiro coloca filho no mundo sem tempo ou firmeza para criar e quem paga o pato é toda a sociedade, que é obrigada a aturar faniquito de criança. Chilique que estraga uma refeição, atrasa um voo ou pior, coloca em risco a segurança de um grupo, como nos casos das crianças que não “permitem” que seja desligado o celular no qual estão jogando joguinho durante decolagem e aterrissagem de um voo. Dá licença, a forma como criam seus filho me afeta, pois vivemos em sociedade.

Já que nosso maravilhoso Legislativo se sente no direito de intervir em escolhas pessoais, em vez de fazer lei para regular palmada, poderiam fazer uma lei para destituir do poder familiar pais cuja permissividade, falta de moral e frouxidão gere transtornos a terceiros. Eu não sou obrigada a ter minha vida atrasada por uma mãe que não tem controle sob o próprio filho. Em tempos de celular, vai ser bem fácil filmar e provar.

Não estou pedindo nada de mais, de coração, eu acredito que essas pessoas não tem qualquer condição de criarem um filho, vai ser melhor para a criança também. Tira dos pais e entrega aos avós, ao Conselho Tutelar, devolve para a cegonha, faz o que quiser, não me interessa, só coloca essa faca no pescoço dos pais para ver se assim eles se mexem! Ou então concede indenização em dinheiro para quem tem que suportar as consequências da incompetência alheia em criar filho. Taí, talvez da próxima vez eu tente uma ação pedindo indenização em dinheiro dos pais da criança…

Para contar sua experiência tenebrosa com Pedocracia, para mostrar sua burrice e achar que no texto eu falo mal de criança ou ainda para nunca me apresentar seus filhos (spoiler: eu vou amar) por temer ser julgado: sally@desfavor.com


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