Luis Cláudio Lula da Silva, de 39 anos, filho mais novo do presidente Lula, foi denunciado por sua companheira, uma médica de 29 anos, por agressão física e psicológica. O registro da ocorrência foi realizado na tarde desta terça-feira (02), na Delegacia da Mulher, em São Paulo. Luís Cláudio e a denunciante vivem uma união estável há dois anos. LINK


Novidade que tenhamos pessoas em relações violentas? Não. Mas o silêncio da militância está ensurdecedor. Desfavor da Semana.

SALLY

Há fortes indícios que o filho de Lula, Luís Cláudio Lula(?) da Silva, seja um agressor de mulheres. Ele é acusado por sua esposa de diversas agressões, inclusive físicas e verbais, e ela alega ter apresentado provas disso. As porradas teriam sido tão fortes que as lesões causadas a impediram de trabalhar por mais de um mês (ela é médica). Não estamos falando da palavra de um contra a palavra do outro, estamos falando de lesões passíveis de perícia.

Pode ser mentira? Pode. Ele mesmo desmentiu, chamou a mulher de maluca e tal. Mas as provas apresentadas foram analisadas pelo Judiciário e foram contundentes o suficiente para que se adotem uma série de medidas rígidas contra um filho de Presidente da República. Francamente, se não fossem provas muito boas, não acredito que nenhum juiz tomasse essas atitudes drásticas contra alguém com um pai tão famoso.

Entre outras coisas, o filho de Lula está proibido de pisar no apartamento onde morava, proibido de falar com a moça (pessoalmente, por telefonema, por redes sociais ou por qualquer outro meio), proibido de frequentar o local de trabalho dela, proibido de frequentar os locais de estudo e até de frequentar locais de culto religioso nos quais ela esteja. Ele também está impedido de se aproximar a menos de 200 metros da vítima. Parece uma pessoa que não tem provas do que está falando?

Ela inclusive apresentou gravações nas quais ele dizia que ninguém acreditaria nela e que não daria em nada pois ele é filho do Presidente da República e, com um telefonema, abafaria o caso. Certamente o telefonema foi dado, mas o caso não foi abafado e o Judiciário ordenou uma série de medidas contra ele. Para que isso tenha acontecido, meus queridos, bateu foi muito na coitada da mulher. E o pior é que o Desfavor da Semana nem foi isso, pior do que agressão a mulher é quem se diz defensor de mulher e se cala diante dessa agressão.

Não estamos aqui para condenar ou absolver ninguém, e sim para pedir coerência. Você é do tipo de pessoa que prega que a palavra da vítima não deve ser questionada? Então sustente seu ponto, mesmo quando a vítima pertence ao seu círculo de afinidade ideológica. Você é do tipo de pessoa que acredita que a presunção de inocência tem que valer até o Judiciário bater o martelo? Então sustente seu ponto quando uma pessoa fora do seu círculo de afinidade ideológica for acusada de qualquer crime.

Traduzindo: a palavra da vítima não deve ser questionada? Então Lula Filho é um agressor. Só é culpado depois da condenação judicial? Então amanhã se um filho de alguém que você não gosta for acusado de agredir a esposa, ele será inocente até que o processo termine. Tanto faz o lado, escolhe aí o que você quiser, presunção de inocência ou palavra da vítima, o que faça mais sentido para você, mas honre sua escolha independente do partido político de agressor e agredida.

Vamos botar a mão na consciência: se fosse a exata mesma acusação, feita da exata mesma forma, contra um filho do Bolsonaro, as pessoas que atualmente estão caladas ou dando o benefício da dúvida, se comportariam da mesma forma? Provavelmente não.

Novamente, nada contra quem adere a um posicionamento ou outro: critica antes da condenação judicial ou espera a condenação judicial para falar. Tudo contra quem só critica ferozmente aqueles cuja ideologia é diferente da sua. Tudo contra o resquício de retardados que ainda repetem que “só um lado bate”. Tudo contra quem tem dois pesos e duas medidas e leva política para dentro dos seus valores, da sua ética e da sua moral.

Cadê o grupo de mulheres famosas “mexeu com uma, mexeu com todas”? Vai ter Me Too? Vai ter reportagem extensa na mídia conversando com a vítima, com familiares da vítima, tentando de fato encontrar a verdade? Me parece que não. Não pode bater em mulher, mas se for da minha panelinha faço vista grossa. E no dia que acontecer com o filho do Bolsonaro, me porto de forma completamente oposta. Que desânimo…

E eu nem vou entrar no assunto xingar, pois aí a coisa fica impossível. A falta de respeito é a regra no Brasil, a maior parte das pessoas deve achar um exagero que xingar, esculachar ou desrespeitar a esposa ou companheira seja algum tipo de crime. A maior parte das pessoas deve pensar que todo mundo faz e que tá tudo bem perder a cabeça, que é inerente à vida.

Da mesma forma não pretendo criticar o Lula. Um sujeito que coloca toda a responsabilidade dos crimes que cometeu na esposa morta para se livrar das consequências dos seus atos obviamente não saberia criar um filho homem correto, honrado, decente. Um sujeito que já deu mil exemplos de falas machistas, escrotas e desrespeitosas obviamente não criaria outro ser humano moralmente correto. O que Lula é está aí, escancarado. Sempre esteve. Não viu quem não quis.

Hoje minha crítica é para quem enche os pulmões pela causa feminista e agora está caladinho debaixo da cama. Para quem não pensou duas vezes em esculachar o marido da Ana Hickmann (muito bem esculachado está) e agora diz que é preciso esperar o julgamento para condenar alguém. Vocês são uma vergonha. Vocês agem de forma vergonhosa e, por mais que tentem camuflar isso com alguma ginástica argumentativa, estão passando esse exemplo para seus filhos. Criança não aprende por discurso, aprende por exemplo.

Vai militar a favor da mulher na puta que pariu. Nunca foi sobre as mulheres, assim como nunca foi sobre covid ou sobre respeitar a ciência, sempre foi para bater no outro lado da cerca. Pegam os erros do gado do lado de lá e constroem uma narrativa virtuosa condenatória, mas quando o gado do lado de cá faz o mesmo, passam pano, silenciam, relativizam.

As crianças da Palestina comovem, as crianças da Ucrânia não vamos nos meter, todos os lados têm que ceder um pouco. A má gestão da covid foi um absurdo, foi desumano, mas a má gestão da dengue (que vai muito além da vacina) está corretíssima. Na hora de negar a eficácia de vacinas tem que respeitar a ciência, mas na hora de botar um homem, cientificamente comprovado mais forte que uma mulher, para competir com outras mulheres, foda-se a ciência. Na hora de recriminar incêndio, desmatamento e morte de ianomami do governo anterior, é genocídio para baixo, na hora de olhar para essas questões (que por sinal, pioraram) quando seu político de estimação está no poder, a culpa é das mudanças climáticas, como se elas tivessem começado em 2023.

Não dá. Não se sustenta. Por mais que o brasileiro médio não tenha a sofisticação de traduzir em palavras essa hipocrisia, essa contradição, essa manipulação, ele sente a injustiça. E isso vai se refletir nas urnas. Sendo bem sincera aqui, eu acho que Bolsonaro ou a esposa seriam até um bônus, pode vir coisa bem pior. Em alguns anos vocês estarão decidindo entre Felipe Neto e Nikolas Ferreira.

Você não pode mudar o mundo, mas pode mudar a você mesmo, e essa é a única contribuição possível. Antes de criticar ou de não criticar alguém, pergunte-se como você reagiria se o mesmo fato acontecesse com alguém que você gosta (ou que não gosta) e tente ser coerente. Incoerência é um vício, pois facilita muito a vida, não tem que pensar, só reagir conforme a pessoa quer. Não deixe a incoerência se instaurar, se não vai ser cada vez mais difícil se livrar dela.

Para dizer que não tem esse problema pois odeia todos os lados, para dizer que o mais triste é que não vai dar em nada por ser filho do Presidente (em uma semana o caso estará abafado) ou ainda para dizer “quem nunca saiu na mão com uma mulher?”: comente.

SOMIR

Vou começar dando um tiro: pessoalmente, eu nunca acredito na mulher. Eu nunca acredito no homem também. Eu acredito em quem eu conheço e tenha histórico comigo de falar a verdade. A gente tem polícia, ministério público e poder judiciário justamente para resolver essas coisas. Tá bom, foi no máximo um tapa. Eu começo assim porque eu não acho um desfavor a opinião pública ficar nesse estado de espera por provas e devido processo jurídico depois de uma acusação pública.

É o que me parece certo, e é o que me soa como o mais dentro do espírito das leis que temos. Essa histeria punitiva contra meros acusados é marca de uma sociedade atrasada, daquelas que saem linchando sem pensar meia vez. Eu até argumento que quanto mais grave a acusação, mais cautelosos temos que ser com a reação.

Então, onde está o Desfavor da Semana do país não ter explodido em chiliques com a acusação e a medida protetiva contra o filho de Lula? A certeza de que esse não é o padrão de comportamento, afinal, como a Sally bem disse, se fosse um dos filhos do Bolsonaro a militância, imprensa e todas as subcelebridades já estariam falando nisso sem parar, certos da culpa do homem.

E podemos ir além, talvez nem seja a coisa certa acontecendo: como a pessoa acusada é de uma “casta especial” para os polarizados do lulismo, começam até a correr para o sentido oposto, achando que a mulher deve estar mentindo para prejudicar o “governo do amor”.

Acreditar na mulher é o tipo de coisa que se você não entender o porquê de fazer, usar apenas como dogma lacrador, acaba dando errado. É meio como o crente que não entende por que o ateu não sai matando e estuprando por aí… se a pessoa só se controla porque tem medo de punição divina, ela não entendeu nem o básico do motivo de matar e estuprar ser errado. Eu tenho medo de quem não entende por que fazer as coisas que consideramos boas na sociedade: a pessoa pode mudar de ideia a qualquer momento, e por não entender a lógica da coisa, comete os atos mais horríveis achando que está certa.

Acreditar na mulher não é concordar com a mulher. É simplesmente perceber que há uma tendência histórica de calar o elo mais fraco de uma relação quando denuncia, e não repetir o erro no futuro. A acusação da mulher parte do mesmo grau de valor que a acusação do homem. A partir daí, caso seja caso de polícia, investiga-se e toma-se medidas que permitam a segurança das partes.

Mas se você leva isso como dogma e enfia na cabeça que acusação é prova de crime se vier da boca da mulher, a mente trava ao lidar com uma acusação contra alguém que você confia, ou que pelo menos não quer ver como culpado. O caso do filho de Lula dá tela azul na militância, eles não conseguem reagir: se a única opção era ter certeza que a mulher acusando estava certa, não tem para onde correr. A pessoa se cala, até pelo medo de dizer algo que “pareça do outro lado” ao querer defender o acusado.

Eu sei que a visão progressista e igualitária é o caminho certo, até por isso no final das contas sempre prefiro aguentar exagero dos lacradores do que dos conservadores, mas sem conhecimento do motivo pelo qual se segue esse caminho progressista e igualitário, acabamos com situações bizarras como essas: uma situação que viraria cancelamento e escândalo imenso se fosse filho de uma pessoa deixa de ser se for filho de outra.

E nas entrelinhas desse problema moderno, um bem mais antigo continua lá, escrito para quem quiser ler: o brasileiro é violento. Não existe uma reação visceral contra violência, porque essa é a realidade da maioria das pessoas, violência física e violência psicológica. É chocante como as pessoas se tratam mal, mesmo debaixo de todos os rapapés que a cultura brasileira impõe. Ou você faz de tudo para não ofender o outro, ou faz de tudo. Não tem meio termo.

E nisso, sabemos que para o povão, essa coisa de bater em mulher é meio relativa, né? Ela mereceu? Porque para o brasileiro médio, bater não é última linha de defesa pessoal, é uma forma de comunicação. Está frustrado? Bate. Foi contrariado? Bate. Não gostou de uma coisa? Bate mais ainda! Bate fisicamente, bate em palavras, bate como puder. Conversa tranquila é uma opção que parece demandar mais neurônios ativos que o povo parece estar disposto a utilizar.

Por isso que fica fácil escolher quando se escandalizar com um caso desses ou não: bater não é o problema, o problema é a pessoa achar que vai apanhar. A ideia de evitar violência não foi entendida, não está dentro da cabeça de verdade, ela só calha de ser compatível com algumas vontades momentâneas do povo. Lembrando que o brasileiro acha que existe justiça na ideia de que estuprador é estuprado na cadeia. Não é o que se faz, é quem faz.

Pode violência sim. O interesse das pessoas parece ser fruto de uma sociedade brutalizada: “só não batam em mim”. Quem me dera fosse somente a militância confusa, é um povo inteiro confuso. E não se engane, se você viveu no Brasil por tempo suficiente, essa confusão acha um caminho até suas atitudes. Precisa de atenção para não se descontrolar, ou pelo menos parar antes de ser tarde demais. Tem algo no ar, comportamento de manada, que nos faz tolerar violência mais do que o estritamente necessário (claro que você ainda tem direito à legítima defesa).

Se isso é expresso no espectro conservador ou progressista, tanto faz, somos todos pessoas no final das contas. Tem que entender por que violência não é uma coisa boa para ser consistente. E pelo visto, nem mesmo a parcela que se diz defensora das mulheres está disposta a demonstrar esse tipo de consistência.

Para dizer que não acredita em ninguém também, para dizer que tem que respeitar as mina que não joguem contra seu político de estimação, ou mesmo para dizer que em briga de marido e mulher todo mundo mete a colher: comente.

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Comments (14)

  • Hosmar Weber Júnior

    Puta merda, caralho, puta que pariu, é isso que passa na minha cabeça toda a vez que esse atual governo, que faz uma cagada por semana, que solta uma frase infeliz por semana, e que tem uma militância gigante pronta para passar pano imediatamente, eu me sinto assim pois me identifico com o espectro político da esquerda, mas esquerda mesmo, não esse partido lixo comandado por esse ordinário demagogo aí, entre outras coisas eu fico puto pq toda merda vinda do PT acaba respingando na esquerda como um todo, na verdade na esquerda de verdade, pq o PT já deixou de ser de esquerda, faz tempo, desde que assumiu a presidência pela primeira vez.

  • É por causa de textos assim que eu pago a minha assinatura mensal do Desfavor.

    Eu só não quero deixar passar uma coisa dessa discussão toda: a mortalidade da Dengue é de 0,04%, e a do Covid-19 é de 2,3%, uma diferença de mais de 50 vezes. A gestão da Dengue é muito diferente da gestão da Covid (epidemiologicamente, clinicamente, entre outros aspectos). Não acho que o que está acontecendo agora é bonito ou justificável, mas estamos falando de problemas de ordens de grandeza diferentes. A parte científica do problema nunca é simples.

    Sem mais, desculpem pela chatice. A militância merece mesmo apanhar.

  • Se não falaram nada nem quando cantorzinho de estimação com 40 anos traçou uma menina de 13 anos, do filho do Lula espancando mulher adulta que não vão falar.

    “Ah mas e o Bolsonaro”, “Ah mas e o Arthur do Val” TAMBÉM NÃO PODE, CARALHO. TUDO DEGENERADO. Tudo merda da mesma privada. Não existe degeneração do bem.

    • As mesmas pessoas que condenariam sem parar qualquer um que tivesse feito o que este cantor fez, são as que o homenageiam sem parar… ninguém merece.

      Nunca é o que sobre o que foi feito, mas, sim, sobre quem foi o(a) autor(a) da merda

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