As pedras do meu caminho – Parte 1

A maioria topou, então, começa hoje uma releitura do livro “As pedras do meu caminho”, que retrata a vida do nosso amador, idolatrado Rafael Pilha.

Como a coisa vai funcionar: uma cruza de uma crítica normal da coluna Des Cult, porém mais detalhada, capítulo a capítulo, com Plantão Pilha. Não será um capítulo por texto, pois alguns são muito curtos e outros muito longos para isso. Será uma dose bacana e compilada dos melhores momentos da visa do nosso herói.

CAPÍTULO 1 – A VIDA POR UM FIO

Apenas um artifício de tensão inicial para prender o leitor. Adianta o incidente do elevador, minuciosamente descrito aqui em 2009. Compreendo, afinal, o capítulo seguinte fala da infância do Pilha, quando ele ainda não tinha autonomia para merdar em grande estilo. Normal que antes de um capítulo mais parado se coloque uma leve taquicardia para prender o leitor. Considerando que o capítulo tem três parágrafos, já deu de falar dele.

CAPÍTULO 2 – FILHO DE MÃE SOLTEIRA E PAI ADOTIVO

Começa no nascimento do Pilha, que já veio com sua marca registrada. Além de ser prematuro (já nasceu dando trabalho), também escolheu bem a data: uma quarta-feira de cinzas. Transtornando desde o útero. Mamãe Pilha, Dona Sylvia a quem tanto devemos por nos brindar com esse ser humano maravilhoso, tinha apenas 18 anos. O capítulo a retrata apenas como “mãe solteira”. Papai Pilha ninguém sabe, ninguém viu. Pilha, obviamente, nasceu no Rio de Janeiro, de onde costuma vir esse tipo de ser humano que eu enquadro na categoria de “Desfavor Fascinante”.

Não se faz isso com o uma pessoa como eu. Imediatamente comecei a especular mentalmente de quem seria essa semente tão rica e ousada que fez brotar nosso Pilha. Tantas possibilidades… Seria Pilha filho de um cientista? De um criminoso? Pensa bem, ele poderia ser até filho do Silvio Santos. Eu gosto de acreditar que o Pilha é filho do Silvio Santos, pois isso faria dele herdeiro do SBT. Seria um sonho ver um DNA feito no Ratinho e o Pilha clamando seu império. Realiza, domingos à tarde, 8 horas de um programa chamado “The Pilha Show”.

O que se sabe é que quando o pequeno Pilha tinha apenas dois meses um rapaz de 19 anos começou a namorar Mamãe Pilha e três meses depois já tinha registrado Pilha como seu filho. Dona Sylvia, com sua psicologia única que gerou esse ser humano maravilhoso que é o Pilha, afirma que nunca mimou o filho: “Nunca dei moleza para o Rafael, desde pequeno, porque achava que ele ia virar viado de tanto que todo mundo paparicava ele”.

Isso mesmo, Dona Sylvia, tá certa! Vai ver muito afeto gera, como efeito colateral, a vontade de queimar a rosca. E para você que critica Dona Sylvia, pensa comigo: o Pilha fez tudo quanto é coisa nessa vida, menos dar o cu. Drogado? Ok. Sequestrador? Dizem. Suicida? Check. Violência? Sim. Mas o cu ele não deu! Nãããão, o cu ele não deu! Dona Sylvia fazendo escola! Já pode ser vice do Bolsonaro.

Ela conta como seu filho começou a falar cedo, com dez meses. Com um ano, falava com perfeição. O afeto infinito de Mamãe Pilha continua: “A gente brincava que ele não parecia uma criancinha e sim um anão”. Nesse ambiente saudável de carinho, tendo sua criação pedagogicamente direcionada para não virar viado e ouvindo que não era uma criança e sim um anão, foi forjada a fantástica personalidade de Rafael Pilha.

Dona Sylvia conta que tinha um truque que ela considerava “infalível” para que Pilha não mentisse: ela dizia que os olhos dele brilhavam quando ele mentia. Dona Sylvia, funcionou. Funcionou que é uma beleza sua estratégia pedagógica, pois até hoje vemos Pilha dizer ao delegado que ele estava com uma arma com numeração raspada e ele não percebeu ou dar entrevista dizendo que parou de tomar os remédios porque estava ficando broxa, mas que vai voltar a tomar, pois antes broxa que maluco. Dona Sylvia fazendo escola sobre como criar um filho sincerão.

Aos três anos Pilha começou a ir ao colégio. Seu apelo com o sexo feminino já se manifestava desde a mais tenra idade. Conseguiu convencer sua professora favorita o levasse para casa, mesmo quando a babá vinha busca-lo. Um líder nato, um sedutor nato, uma pessoa com estrela. Aos quatro anos já tinha uma namorada, uma menina mais velha chamada Lara. Tem, inclusive, uma cartinha de amor escrita pela primeira namorada para ele, onda ela diz que quer se casar com ele.

Mamãe Pilha conta uma série de detalhes sobre como nosso Pilha é arrumadinho e organizado. Na minha terra, isso se chama TOC, mas não importa, o que importa é que viado o Pilha não virou: “quando aprendeu a amarrar os cordões do tênis (…) ficava um tempão fazendo e desfazendo os nós até que os dois laços estivessem iguais. Podia estar atrasado para escola que não saía de casa se os dois laços não estivessem do mesmo tamanho”. Uma criança saudável. Tá de parabéns, Dona Sylvia!

CAPÍTULO 3 – EM SÃO PAULO, FAMA, GRANA E DROGAS.

Este capítulo primoroso começa com uma foto do Pilha com nove anos de idade, mostrando uma tatuagem nas costas, ao lado de outra foto do Pilha mais velho, mostrando a mesma tatuagem. Demorei alguns segundos para processar e entender que ele fez uma tatuagem de verdade com nove anos de idade. Normal. Normal uma criança de nove anos se tatuar. Qual é o problema de carimbar para sempre uma gaivota e um sol nas costas? Problema nenhum. E a sequência de acertos só estava começando.

Quando Pilha tinha sete anos os pais (pai é quem cria, né?) se separaram e Mamãe Pilha levou ele para morar em São Paulo. Como vocês acham que um carioca reage quando é forçado a morar em São Paulo? Isso mesmo, como o Pilha reagiu. Tira o filho do Rio à força e depois acha ruim que ele veste uma camisa falsa do DENARC e sai sequestrando pessoas. Francamente, Dona Sylvia!

Pode ficar pior? Sempre pode ficar pior. O próprio Pilha conta que a mãe começou a namorar um guitarrista famoso e fumavam maconha dentro de casa: “Aos 9 anos, quando via minha mãe fumando, já sabia o que era aquilo”. Bacana. Usar drogas na frente do filho pequeno. Sensacional. Porque será que Pilha começou a usar drogas, hein? O plus é que o tal guitarrista ainda encestava umas porradas em Dona Sylvia. Quando isso acontecia, Pilha, com nove anos de idade, saída de casa, pegava um ônibus sozinho e ia para a casa da avó pedir refúgio. O trauma gerou uma personalidade maravilhosa? Sem dúvidas, mas isso não se faz com uma criança.

No meio de violência doméstica, drogas e pessoas falando “um chops e dois pastel”, nosso herói certamente não levava uma vida muito feliz. Mas isso não o impediu de se destacar na escola. Sua genialidade transcende adversidades, pudemos constatar isso mais para frente, quando fugiu de 836428 clínicas de reabilitação mesmo estando na pior das condições. Foi convidado para integrar uma turma de superdotados. Dona Sylvia fez o que? Não deixou! Alegando que não queria que seu filho tivesse tratamento diferente dos outros vetou Pilha e seu Q.I. 130 de um desenvolvimento cognitivo pleno. Pilha podia estar na NASA, mas em vez disso seu intelecto foi desperdiçado para enganar enfermeiro.

Em um mundo desinteressante onde Mamãe usava drogas e apanhava do namorado e a escola era banal com aulas e exercícios fáceis demais para sua mente brilhante, Pilha começou a buscar novos desafios. Como toda criança nessas condições, passava horas por dia vendo TV e fantasiando com aquele mundo mágico. Mas Pilha é gente que vai lá e faz. Após ver um comercial onde uma criança tinha um desempenho risível, ele comentou: “Nossa mãe, como esse menino é ruim! Eu posso fazer melhor do que ele!”. Fortes indícios que o pai biológico do Pilha seja argentino, a arrogância parece estar no DNA. Isso explicaria muito, inclusive sobre minha atração incontrolável por ele.

Pronto. Pilha cismou que queria trabalhar na televisão. Pegou por conta própria as Páginas Amarelas (se é muito novo para entender, Google) e passou dias ligando para agências e se oferecendo. Dona Sylvia apoiou? Não, Dona Sylvia estava lá com seu cigarrinho do capeta, enquanto Pilha pegava quatro ônibus sozinho com nove anos de idade. Pilha diz que ia sozinho porque a mãe precisava trabalhar. Mas olha… se com nove anos eu saísse de casa e pegasse 4 ônibus, minha mãe ou morria do coração ou me matava quando eu chegasse.

Quer dizer, Mamãe Pilha achou ok que o filho, com nove anos de idade: faça uma tatuagem, a veja usando drogas, a veja apanhando do namorado, privar o filho de uma turma especial para superdotados e permitir que saia para procurar emprego sozinho, em lugares estranhos, no meio de gente desconhecida. Tá de parabéns, hein Dona Sylvia? Saiu um Messias, um predestinado, uma personalidade caótica e brilhante, mas porra, deve ter sido duro para ele.

A argentinidade-nagô do Pilha foi o que o lançou para o estrelato. Ele era um figurante em um comercial quando o garoto que fazia o papel principal travou e não conseguia concluir suas falar. Desistiram e pediram que a agência envie outro menino. Pilha resolveu intervir e pediu uma chance em tempo real. Havia, inclusive, decorado a fala de tanto ouvir o garoto errando e repetindo. Pilha acertou de primeira e ganhou o papel principal no comercial. Não demorou até ele virar um dos mais requisitados: bonito, inteligente, boa memória e carismático. Como ele mesmo conta: “Chegava pra algum teste e a garotada já falava Fudeu!!!”. Pilha, Querido, onde eram esses testes? No cais do porto com estivadores? Ou com marinheiros? Que termos são esses para uma criança de nove anos?

Pilha fez propagandas famosas para marcas como Nestle, Batavo, Bic (o destino tem senso de humor), Playmobil, Chiclete Adam´s, Dan´up, Kibon e Neston. Sustentava a casa, pagava seu próprio colégio. Mamãe Pilha diz que a única coisa que ela fazia era assinar os contratos, pois o próprio Pilha negociava valores, prazos, datas. A primeira coisa que fez quando começou a ganhar dinheiro foi comprar um título do São Paulo Futebol Clube. É… talvez o medo de Dona Sylvia dele “virar” viado tenha algum fundamento. Havia uma tendência ali. Coração de mãe não se engana.

Com 12 anos Pilha começou a frequentar as matinês. Era famoso pelos comerciais e quando chegava subia no palco e dançava para atrair as mulheres. Ia acompanhado de amigos famosos como Rodrigo Faro e de Alan, seu colega de colégio, que mais tarde seria integrante do Polegar. Pilha, um ser humano sábio. Quando eu digo que homem que dança atrai mulher, debocham de mim. Pegava geral, inclusive levava meninas escondidas para casa. Foi lá que começou a usar benzina e cola de sapateiro. Os amigos faziam, parecia inofensivo.

Pilha ficou viciado e começou a usar também no dia a dia. Com o tempo, ficou difícil de esconder o vício. Segundo Pilha, cola “é a droga mais alienante que existe”. Quando Pilha fala de drogas, eu abaixo a cabeça e escuto. Autoridade suprema. Pilha cheirou até Baygon, injetou Kolene e bebeu Monange. Não demorou até a mãe descobrir que ele estava cheirando cola. No primeiro flagra, Mamãe Pilha chegava do trabalho e encontrou o filho drogado na porta do prédio. Houve diálogo? Não, não houve diálogo. Diálogo é para os fracos.

Mais uma vez, a pedagogia peculiar falou mais alto: “Joguei ele dentro do elevador. Mal teve tempo de perguntar ‘mãe, o que é que eu fiz?’ e eu dei um tapa na cara dele. Perguntou de novo e levou outro tapa. Foi apanhando até o 15° andar, onde morávamos”. Pois é, não me espanta que o Pilha tenho escolhido um elevador para vivenciar uma das cenas mais violentas da sua vida.

Dona Sylvia se defende: “A imprensa fazia um auê danado dizendo que eu botei Rafael nas drogas (…) Virei a vilã! Fumei maconha sim, mas nunca entrei em uma favela para comprar, conseguia através de amigos”. Ok, Dona Sylvia. Se não comprar em favela, não é crime de uso de drogas. Estamos combinadas assim. “Chegava do trabalho, tomava banho, jantava, pegava um baseadinho, dava dois ou três tapinhas pra relaxar, era como se tomasse um golinho de uísque”. Mesma coisa. Usar droga ilícita na frente do filho é a mesma coisa que beber um gole de bebida que vende no mercado. Um joinha para a Senhora.

Pilha ficou revoltado com o tratamento que a mãe passou a lhe dar desde então. Resolveu que ia se vingar fumando a maconha da mãe. Como não sabia enrolar um baseado, levava a erva para o porteiro, que fazia um baseado para ele e em troca ficava com a maconha que sobrava. Mas, até então, Pilha era funcional. Continuava frequentando a escola e até arriscava um futebol profissional.

Foi quando surgiu uma grande oportunidade, um divisor de águas: estava gravando um comercial, quando um diretor da Rede Globo percebeu seu talento e disse que queria leva-lo ao Rio, para fazer a oficina de atores da Globo e coloca-lo para trabalhar em novela. Adivinha só? Dona Sylvia disse não. Apanhar na frente do filho pode, deixar filho fazer tatuagem com nove anos pode, fumar maconha dentro de casa pode, deixar o filho pegar quatro ônibus com nove anos de idade pode. Ir para a Globo com tudo garantido não pode.

Para fins de desfavor, curti a iniciativa. Na Globo o Pilha seria moldado, pasteurizado, não teria feito metade das coisas que fez. Mas para ele, certamente teria sido melhor. Seu potencial teria sido explorado. Talvez hoje o programa de domingo fosse Domingão do Pilhão. Talvez ele tivesse se tornado apresentado de um talk show. Certamente estaria em destaque.

Quando eu digo que o Pilha é, acima de tudo, uma grande vítima, estou errada? Faz quase uma década que eu falo que esse menino é um gênio incompreendido. Um anjo caído, um potencial mal desenvolvido, uma vítima dos brasileiros médios. Se depois de ler tudo isso você não sentiu vontade de pegar o Pilha, levar ele para a sua casa e dar um prato de sopa a ele, francamente, você é psicopata.

Abril tem mais. E o capítulo 4 promete: GUGU ENTRA NA VIDA DE RAFAEL. Só na vida? Será?

Para dizer que agora quer que eu escreva uma biografia do Somir desde a infância, para passar a ver o Pilha com outros olhos ou ainda para dizer que essa semana no desfavor não te acrescentou porra nenhuma: sally@desfavor.com

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Comments (16)

  • Nasceu prematuro, numa quarta feira de cinzas no RJ? Dona Sylvia estava na gandaia, né… Afinal, ela é carioca ou paulista?
    Lógico que Pilha pegava todo mundo…levando Rodrigo Faro junto não pode ser difícil. ô cara feio.

    • Imagine o naipe do médico que estava de plantão nesse dia, no Rio de Janeiro. Deve ter deixado o bebê cair de cabeça no chão!

  • Essa sacada de plantar a tensão no leitor antes de um capítulo monótono é digna dos melhores autores de best sellers policiais. Não é que a Bruxa do maiô tem mesmo o dom da escrita?

    • Sim, o livro está dinâmico e em uma linguagem acessível, parece que é ela conversando com você ao vivo e te contando uma história.

  • Depois de ler o texto a única coisa a fazer é:
    Reforçar os exercícios de Kegel!!! Urgente!
    Fiz xixi nas calças!! Pqp!!!

  • Penso que ser cria do Símio Sonso (que, BTW, também é CUrioca) é um demérito. Aquelas filhas dele não servem pra porra nenhuma e se a TVS cair na mão dessa que agora aparece a todo momento (nunca sei o nome de nenhuma delas), não dou um ano pra tudo implodir. Mais prudente é que a emissora vá parar na mão de um dos inúmeros puxa-sacos de kipá que gravitam em torno dele ou, melhor ainda, que seja vendida para o grupo Discovery.

    Eu seria mais cuidadoso… o cu ele AINDA não deu. Lembre-se que, neste país de merda, quando o brilho do caboclo diminui, ele tenta recuperá-lo dando para/comendo travecos ou fazendo pornozão feijão-com-arroz… tão aí o Frota, o Carrieri e aquelas imprestáveis de Cadelac e Gretxen que não me deixam mentir.

    De resto, eu sabia o quão certo era votar pela seqüência de artigos sobre o Pilha! Me acabeeeeeei de rir com esse! Haja coração para num sei mais quantos episódios desse icônico merdeiro-mor, que poderia ser presidente do brazziu, dadas as suas qualificações!

    Abraço, Sally!

  • Q.I. de 130 quando jovem? Imagina se tivesse obtido uma escola apropriada para sua genialidade…seria membro do MENSA! Estaríamos muito mais bem representados com ele lá do que com o Roger, ora essa!

    • Verdade !

      Quem diria, o esperto-sincerão que também já era esse QI todo !

      Exatamente, o melhor para ele era tentar o MENSA, e (provavalmente) nem tanto a Globo…

      • Se é verdade que aquele semi-nazista imbecil inútil do roger rocho (o Lobão paulista) faz parte desse(a) MENSA, então tal organização não é confiável. Em tempo: também passo longe de esquerda (que queimem!)

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