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Remember Cocielo.

Remember Cocielo.

| Sally | | 91 comentários em Remember Cocielo.

Julio Cocielo, um dos youtubers mais famosos do Brasil, cujo canal tem quase 17 milhões de inscritos, foi pego pra Cristo após uma piada no Twitter. Tudo começou quando, no jogo França x Argentina, ele comentou que o jogador francês Mbappé corria tanto que “conseguiria fazer uns arrastão top na praia”. Isso foi suficiente para que ofendidos dedicassem seu final de semana a reler os quase 50 mil tuítes que Cocielo havia postado na vida, atrás de algo inflamável para jogar mais gasolina no incêndio que havia começado. Imagina que vida infeliz tem alguém que dedica seu tempo a isso…

Conseguiram. Piadas antigas com suposto conteúdo racista foram printadas e divulgadas, fora de contexto, direcionadas sobretudo às marcas que patrocinavam Cocielo. Nomes de peso como Itaú, Adidas, Submarino e Coca-Cola começaram a ser cobradas por patrociná-lo, apesar desse suposto conteúdo polêmico.

Tinha de tudo, desde piadinhas de salão (como dizer que o Kinder ovo é preto por fora e branco por dentro, pois se fosse o inverso, roubaria o brinquedo), até piadas mais pesadas, mas, visivelmente piadas, que foram lidas dez anos depois, em outro contexto social (muito mais sensível) e sem o devido tom de humor que deveriam, tiradas do meio de uma conversa entre amigos.

Até aqui, chovemos no molhado, né? Um país que entende pedofilia quando humorista diz que comeria ela e o bebê é capaz de qualquer imbecilidade cognitiva. Evidente que esse tipo de piada do Cocielo deixou de ser tolerada faz tempo, não por conscientização ou inclusão, mas por pura histeria social. Se fossem piadas tão “desrespeitosas” quanto (obs: não vi desrespeito) envolvendo, por exemplo, políticos, argentinos ou qualquer outra “raça” sobre a qual seja socialmente autorizado descer o cacete, nada teria acontecido.

Por curiosidade, fui procurar alguns dos termos polêmicos utilizados pelo Cocielo nas redes sociais de vários famosos bem patrocinados e… adivinha? Todo mundo tem algo que pode ser utilizado contra. Inclusive os que estão cobrindo o Cocielo de merda. Não vem ao caso levantar nomes, coisa mais feia ser dedo-duro e promover caça às bruxas, no dia em que eu me prestar a esse papel, vocês por favor parem de ler este blog.

O fato é que não é questão de “confrontar racistas”, pois o que ele disse, muita gente diz, mesmas piadas, mesmo termos. O fato é quem vai ser a bola da vez, porque a mídia e os “internautas” viraram uma máquina de moer reputações e parecem estra sempre atrás de um apedrejamento para posar de corretos e inclusivos. Mas, novamente, até aqui, nada novo. A novidade começa no próximo parágrafo.

No meio desse grande circo com tochas e pedaços de pau, percebo que as pessoas conseguiram descer ainda mais um degrauzinho na perda de dignidade e atestado de imbecilidade. Os justiceiros de plantão estão indo até os patrocinadores pedir “justiça”, ou seja, pressionar o patrocinador a deixar de patrocinar o Cocielo por causa de falas de dez anos atrás. Os argumentos são uma ode à imbecilidade “ele é racista, se você patrocina um racista, você é racista”. Daria pena, se não desse náuseas.

Comove o grau de imbecilidade de uma pessoa que acha que o Itaú ou a Coca-Cola estão totalmente focados em questões sociais, em inclusão ou em qualquer outra coisa que não seja um lucro violento. Comove pensar que quem não se constrange em explorar quase até a morte seus mais altos funcionários engravatados, vai ter um pingo de consideração pelos mais fodidos. Trabalhei anos para multinacional, acreditem, o desprezo pelo bem estar do ser humano é a mola propulsora.

A Adidas, por exemplo, que era patrocinadora do Cocielo, utilizou durante muito tempo trabalho escravo e só parou quando o escândalo tomou tamanha proporção que começou a afetar suas vendas. Aí rompeu oficialmente com 13 fornecedores asiáticos que lhe garantiam um belo lucro através de trabalho escravo. Não demorou muito, novos escândalos surgiram envolvendo a marca. Até hoje ela utiliza empresas terceirizadas com mão de obra muito, mas muito duvidosa e é alvo de dezenas de acusações envolvendo exploração de trabalho escravo.

A Coca-Cola também está envolvida com escândalos de trabalho escravo, alguns de tal porte que repercutiram internacionalmente. Em um dos casos, descobriu-se que uma das fazendas que forneciam as laranjas para a Fanta trabalhava com mão-de-obra escrava, às custas de imigrantes da África, portanto, negros. Taí o pacote fechadinho, completinho: negro, com sua miséria explorada pelo homem branco, em condição de escravo.

Apenas no pequeno cérebro de caroço de uva imbecilóide do brasileiro, empresas desse porte fazem fortuna sem explorar seres humanos. Apenas no pequeno cérebro atrofiado, maniqueísta e putrefado do brasileróide Adidas, Coca-Cola e cia estão de qualquer forma preocupadas com a dignidade da pessoa humana. O papelão que cada idiotinha dedo-duro faz indo até essas marcas falar “Mãe! Mãe! Meu irmão comeu doce antes do jantar!” é uma das coisas mais vergonhosas que eu já vi, um misto de X-9 com retardado do bairro.

Eu aposto com vocês que cada um desses “justiceiros” que vai até empresas cujo lucro depende de trabalho escravo “dedurar” o coleguinha que falou bosta já falou ou fez coisa dez vezes pior que o Cocielo. Aliás, é sintomático: quando algo irrita a ponto de dar esse tipo de piti, podem ter certeza que cutucou algo que existe dentro da própria pessoa.

Ser racista é feio, mas ser dedo-duro biscoiteiro a ponto de atirar outra pessoa debaixo do ônibus por um erro cometido ou por discordar do seu humor para, em troca, receber elogios ou passar imagem de uma boa pessoa é um câncer, é nojento, é o auge do subdesenvolvimento mental. É uma mentalidade doentia pensar que Fulaninho fez o mal, então vamos causar um mal ao Fulaninho de volta. Vamos punir. Vamos fazer perder patrocinador. Vamos responder à maldade com mais maldade, foda-se. É por isso que esta bosta de país está como está, nesse circulo vicioso de canalhice.

Além de ser um atestado de burrice vergonhosa, um vexame, uma imbecilidade sem precedentes, esse tipo de patrulha está acabando com a liberdade de humor em um meio criado para ser independente, para ser livre e alternativo. Youtube vai acabar virando uma extensão da TV, onde não se pode desagradar patrocinador, anunciante ou quem os pressione.

A graça do Youtube sempre foi não ter patrocinador mandando e desmandando, assim, quem mandava era o público. Durante algum tempo funcionou, mas infelizmente a caça às bruxas, a vontade de lacrar, a vontade de receber biscoito fez com que gente que sequer assiste Youtube comece a patrulhar tudo que se passa com os Youtubers. Se nem o PewDiePie, o maior youtuber do mundo escapou, imagina se Julio Cocielo tinha alguma chance.

É lamentável, mas a “Regra Desfavor” continua sendo a única forma de poder falar o que se quer neste país: não aceitar nenhum tipo de patrocínio ou permita. Sem isso a liberdade de expressão fica comprometida por motivos de cu na mão. Não há 100% de verdade, de sinceridade, quando há medo de perder patrocinador.

E aqui acho importante pontuar que eu não gosto do canal do Cocielo. Não acho graça, não sou inscrita. Então, não é uma defesa de fã. Mas, quando se tem um peso e uma medida, pouco importa quem está dizendo e sim o que está sendo dito. Cocielo foi sugado pela máquina de moer reputações e, apesar do pedido de desculpas, apesar de ter apagado tudo que já escreveu em redes sociais na vida, apesar de tudo, vai ser moído, triturado e cuspido, até pegarem a próxima vítima.

As mesmas empresas que obtém lucro às custas de trabalho escravo vão fazer sua ceninha de indignação, emitir comunicado dizendo que repudiam qualquer tipo de racismo blá, blá, blá e que acreditam em um mundo melhor pela inclusão blá, blá, blá e virar as costas para Cocielo. A verdade é que se estivessem realmente preocupadas com essas questões, investigariam muito bem quem patrocinam. Empresa só olha uma coisa: numero de seguidores, o quando o digital influencer realmente influencia.

Ir até grandes marcas reclamar de palavras de seu patrocinado quando a marca em questão pratica atos muito piores é um vexame. É querer posar de bom moço, justiceiro do mundo, biba biscoiteira. Além de incoerente e hipócrita, é feio, é baixo, é babaquinha. Se você se importa com questões como inclusão, racismo e escravidão, vire gente e não consuma essas marcas, que fazem muito mais mal ao mundo do que uma piada de gosto duvidoso do Julio Cocielo. Vão largar o iphone? Não vão.

Isso ninguém quer, né? Pois implica em sacrifício pessoal. Não vai ficar sem a sua coquinha nem sem seu tênis Adidas. Então, para compensar que consome produtos que vieram das mãos de trabalho escravo, vamos jogar bastante merda e fazer bastante barulho contra quem supostamente é racista, assim nós, que consumimos trabalho escravo, posamos de boas pessoas e limpamos nossa barra. Não tem um racista? Não tem problema, a gente cria um tirando coisas do contexto da conversa e do contexto temporal. É preciso apontar dedos, sempre, antes que os dedos comecem a ser apontados para a gente, não é mesmo?

As piadas do Cocielo podem ter sido infelizes, mas foram apenas palavras. A fúria com a qual as pessoas partiram para cima dele deveria ser destinada a quem fomenta preconceito, racismo e escravidão, ou seja, muitas das marcas que o patrocinam. Em vez disso, em troca de biscoitinho, de elogio virtual, as pessoas se unem às marcas que promovem trabalho escravo para, juntos, detonar hipocritamente o Cocielo. Olha, vão bem à merda todos vocês, que com sua imbecilidade me fazem defender youtuber com unhas e dentes. A que ponto chegamos…

É isso, é assim que vai ser por um tempo: ativistas de sofá, fofoqueirinhos, dedo-duro, hipócritas, incoerentes. E ninguém vai acusar o golpe, ousar defender o Cocielo, porque né? Vai despertar a mesma fúria, vai ser jogado no poço com ele. Quem é que arrisca ser jogado no mesmo saco que o “racista” e cair no mesmo moedor de reputações que ele foi jogado? Quem não tem patrocinador. Sally, prazer.

É bem polarizado: ou você joga merda no Cocielo, o máximo que puder, o mais público possível, ou você também é um racista que merece ser execrado. Vai com a manada, ou será atacado, porque agora é assim que se lida com o erro dos outros, punindo, linchando moralmente. Cuidado, viu? Uma hora quem erra é você, e garanto que não vai ser agradável ser jogado na máquina de moer reputações.

Estou muito velha para essa merda, francamente. Acho que de hoje em diante, quando acontecer outra coisa nesse estilo, não vou escrever mais texto comentando. No melhor estilo Lost, vou apenas fazer uma referência e dizer “Remember Cocielo”.

Para me chamar de racista, para dizer que é contra escravidão desde que não mexa na sua coquinha ou ainda para dizer que precisa de aplausos e, como não tem mérito para conseguir por você mesmo, vai continuar jogando merda em quem for a bola da vez: sally@desfavor.com


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