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Plantão: Bolsonaro está com Covid-19

Plantão: Bolsonaro está com Covid-19

| Sally | | 33 comentários em Plantão: Bolsonaro está com Covid-19

Lembro até agora do diálogo entre Somir e eu, definindo o que faríamos para comemorar o Dia do Nerd. Em 2020 as Semanas Temáticas haviam sido abolidas do Desfavor, pois com uma pandemia acontecendo, não dava para monopolizar uma semana inteiro com isso.

Aí eu tive a brilhante ideia de sugerir uma semana temática relacionada com o tema pandemia, assim não ficaria algo alienado da realidade. O que poderia acontecer em uma semaninha? Não teria problema algum.

Pelo visto o feriado de Dia de Murphy se adiantou uma semana e, para nosso azar, na única semana temática do ano o Presidente da República que passou meses menosprezando o coronavírus, está com coronavírus.

Lá vem a corna escrever um plantão, depois de ficar dias pesquisando sobre poliomielite, em um texto que agora ninguém vai ler. Obrigada, universo, vamos todos falar das hemorroidas do Bolsonaro e deixar de lado a história sobre como surgiram as UTIs e os respiradores. Tá feliz?

A notícia é de poucas horas atrás, portanto, é possível que este texto venha com algumas informações que mais tarde se mostrem imprecisas. Por hora o que foi divulgado é que Bolsonaro passou mal no final de semana, teve febre e outros sintomas, fez um teste ontem e outro hoje para confirmar, ambos positivos para covid-19.

Curiosamente, Bolsonaro se apressou em dizer que estava “ótimo”. Duvido muito. Se estivesse ótimo, nem saberia que estava com coronavírus, seria mais um assintomático. Se desmarcou a agenda, se foi ao hospital, não estava tão ótimo assim.

Provavelmente é estratégia para divulgar a porcaria da Cloroquina, mundialmente desacreditada por uma infinidade de estudos científicos, mas que ele comprou em grandes quantidades. Reforço: não funciona e ainda pode fazer mal. A coisa certa a fazer é armazenar essa bosta em algum lugar e esperar por um surto de malária.

Bolsonaro disse todo orgulhoso que “fiz uma chapa do pulmão e está limpo”. Minha alma vomita um pouquinho cada vez que eu escuto alguém se referir a uma radiografia como uma chapa, mas ok, é o nível que tem pra hoje. Porém, eu não comemoraria – ainda.

Estar com o pulmão limpo nos primeiros dias de sintoma é a regra, não motivo para comemorar. No corona, a coisa costuma desandar na segunda semana. O que Bolsonaro poderia ter dado ênfase, para fins educativos, é a saturação do sangue (% de oxigênio no sangue), pois este sim é o grande indicativo de que a doença está evoluindo de forma silenciosa. Abaixo de 95% tem que correr para o hospital, mesmo que não esteja sentindo nada.

Outro ponto curioso: Poucos dias atrás Bolsonaro se reuniu, obviamente sem máscara, como o Embaixador dos EUA no Brasil, um jeca que se veste como um cowboy, para comemorar a independência americana. Imagina o grau de trancamento do cu do Embaixador agora, não passa nem um Bóson de Higgs.

Imagina se o Bolsonaro contamina ou até mata o cara, que belezura que não vai ser. Além de azedar de vez as coisas com os EUA, que já não estão boas, a repercussão internacional não vai perdoar. Eu sei que vocês querem ver o Bolsonaro se lascando, mas isso vai respingar em todo o país, em todos os brasileiros.

Existem duas possibilidades daqui para frente: o organismo do Bolsonaro consegue conter a doença sem maiores problemas, onde ele ganha e o Brasil perde, pois vai creditar sua cura à Cloroquina e/ou reforçar a ideia de que é só uma gripezinha, fazendo com que as pessoas continuem saindo de forma irresponsável ou o organismo do Bolsonaro não consegue combater de forma eficiente a doença e ele vai parar em um hospital, situação na qual ele ficaria bastante desmoralizado e serviria como um alerta muito didático para todos os brasileiros.

Porém, para nós, existem infinitas possibilidades para lidar com a notícia, ao que tudo indica, disponíveis nas mais diversas embalagens em redes sociais.

Basicamente, o brasileiro se divide em dois grandes grupos agora: aqueles que querem que o Bolsonaro morra (e que o chamavam de monstro quando ele dizia coisas como “não sou coveiro”, “e daí” e “todo mundo vai morrer um dia”) e aqueles que acusam de monstros os que estão desejando a morte do Bolsonaro (mas não fizeram uma crítica a ele quando ele desejou que Dilma morra de câncer).

Não é a intenção deste texto julgar a opinião de ninguém, o que se pretende aqui é apenas jogar fora um árduo trabalho de pesquisa sobre poliomielite. Porém, seja lá qual for a sua posição, revise para verificar se ela é coerente. Desejar a morte de uma pessoa com a qual você antipatiza te impede de criticar quando desejam a morte de quem você simpatiza. Desejar a morte do Bolsonaro te impede de criticar a forma fria com a qual ele tratou a morte dos outros.

O ponto é: neste momento de convulsão social, estou passando aqui para dar apenas dois recados. 1) Tenha seus valores, independente de terceiros. Mantenha sua ética, seus princípios, sua moral, independente do que Bolsonaro faz ou deixa de fazer. Não mude seus valores por algo que Bolsonaro fez ou disse, ele não é tão importante. Se você acha ruim desejar ou comemorar a doença de alguém, seja fiel a você mesmo, foda-se o que Bolsonaro é ou disse, você não é a mesma merda que ele. 2) Leiam meu texto de poliomielite, esse filho da puta não pode me ofuscar.

Para completar, gostaria de pontuar que a falta de consideração do Bolsonaro não se resume a adoecer em meio a uma semana temática, ele também estragou o tema do próximo “Ele Disse, Ela Disse”, que já está escrito: “O que seria mais didático para o mundo: Trump ou Bolsonaro morrendo de coronavírus”. E a babaca aqui defendeu que seria o Bolsonaro, com uma série de projeções que podem ser desmentidas nos próximos dias. Valeu, tiozão.

Obrigada, universo, por punir quem é precavido e deixa um monte de textos prontos adiantados. Se hoje fosse um dia do Somir, ele nem teria começado a escrever o texto antes da notícia do resultado positivo para covid-19 e não teria perdido um segundo da sua vida. Obrigada, Bolsonaro, por escolher a única semana em 365 dias em que a gente tenta fazer algo especial para pegar essa bosta. Obrigada por isso ter vazado de manhã, e não 19h, quanto todos já teriam lido meu texto de poliomielite.

Falando sério, não sejam babacas. E ser babaca não é desejar/não desejar isso ou aquilo, ser babaca é ser incoerente, contraditório, ter dois pesos e duas medidas. Mantenha-se fiel aos seus princípios.

Se acontecer algo relevante, voltamos com mais plantões para estragar ainda mais a nossa semana temática.

Para dizer que em algum lugar Atila Iamarino ri, para desejar força ao covid ou ainda para dizer que vai fazer um esforço e ler meu texto sobre poliomielite: sally@desfavor.com


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