Consentimento depois.

Hoje trago de volta um tema pesado, quem tiver gatilho de questões sexuais, passa amanhã.

Esta semana saiu na mídia uma frase muito complicada que teria sido dita por uma advogada especializada em violência contra a mulher, opinando sobre um caso em que um vereador é acusado de estupro. Segundo publicado, ela disse, entre aspas: “Consentimento tem que ser antes, durante e depois. Se a gente for bem ao pé da letra, a lei não fala quando é esse constrangimento, por isso é preciso que todos estejam de acordo do começo ao fim”.

Essa frase me chocou. Sim, o consentimento tem que durar até o fim… DO ATO. Antes e durante. Depois? Depois não, caralho. Sim, a advogada pode ter sido sacaneada pelo jornalista, que escreveu algo que ela não disse. Não é mais esse o ponto. O ponto é que, comentando indignada sobre o caso, percebi que muitas mulheres concordam com a advogada. Mulheres que acreditam que, se perceberem o desconforto só depois do ato, se acham no direito de responsabilizar criminalmente o homem.

“A mulher pode não perceber na hora, ter seu discernimento prejudicado pela pressão” foi o argumento que a maioria usou. Mas gente… se nem a mulher percebeu que não queria na hora, como é que o homem vai perceber? Obviamente há alguma peça desencaixada nessa argumentação. E onde tem algo que eu acho que precisa ser conversado, tem texto do Desfavor. Resolvi conversar mais e tentar entender o que não fazia sentido para mim.

Diante dos meus argumentos, muitas mulheres ficaram bravas comigo. Realmente bravas. Disseram que a coisa não é assim tão “preto no branco”. Que se uma mulher dá “sinais” de desconforto, por mais que não verbalize nada. E se, depois, pensando em casa com calma, a mulher confirma que de fato aquele desconforto que sentiu, por mais que não tenha sido verbalizado, era confirmação de que na verdade ela não queria, estamos diante de um estupro.

Aí complica. Esperar que o outro perceba o que você está pensando, sentindo ou querendo é uma receita certa de desastre. Estupro não é quando um homem faz sexo com uma mulher sem o seu consentimento mental, estupro ocorre quando a mulher externa o não-consentimento de forma clara e, ainda assim, o homem escolhe prosseguir.

A grande zona cinzenta me pareceu o manifestar o não-consentimento de forma clara. Vamos além do campo sexual: na vida, nos relacionamentos, nas interações, quantas vezes você não achou que foi claro e a mensagem não foi bem entendida? É algo relativamente comum. Milhões de vezes em milhões de ambientes isso acontece: pessoas entendem errado, não entendem ou entendem e acham que o interlocutor está brincando.

Conversando, descobri que muitas mulheres não manifestam essa relutância em fazer sexo de forma clara, apesar de que, para elas, é óbvia a negativa. Escutei frases como “falar eu não falei nada, mas pela minha cara dava para ver claramente que eu não queria mais”. Meu anjo, talvez nem para sua cara o infeliz tenha olhado. É preciso falar, é preciso verbalizar que não quer.

“Ah, mas eu parei de me mexer, parei de interagir, era óbvio que ele tinha que parar”. Não. Óbvio é quando você fala, com tom de voz firme: “eu não quero mais, pare agora, tudo que você fizer daqui para frente será contra a minha vontade”. Cara feia não é óbvio, ficar parada não é óbvio. Em se tratando de homens, no geral, que tem uma percepção de detalhes e emoções humanas bem rudimentar, nada é óbvio. Falem. Sempre falem. De forma clara.

Eu não acredito que estou escrevendo isso, mas depois de tudo que escutei, parece ser necessário: é preciso que o homem entenda que a mulher não quer. E a única forma inequívoca de passar essa mensagem é verbalizando de forma clara. Se a mulher não verbalizou, seja por vergonha, medo, constrangimento ou qualquer outro temor pessoal seu, o problema está nela, não no homem e não há a menor possibilidade de se falar em estupro.

“Mas eu não queria, ele forçou a barra, insistiu demais e eu acabei cedendo sem vontade”. Se o homem te ganhou “na insistência” ele é inadequado, inconveniente, chato e sem autoestima. Mas estuprador não é. Você tinha opções. Para parar de te encherem o saco você fez uma coisa que não queria, acontece com todo mundo na vida. A pergunta é: por qual motivo você ficou e aceitou essa pressão? Está te enchendo o saco? Vai embora ou bota limite.

Eu sei que vão jogar pedras, mas é muito, mas muito provável que os homens que insistem inconvenientemente, que enchem o saco, que “forçam a barra” não percebam o que estão fazendo. E mais: só o fazem, por saber que na maior parte das vezes funciona. Algum homem tenta conquistar uma mulher enfiando seu cotovelo no sovaco dela? Não. Quem já o fez sabe que não dá certo, ninguém mais o faz.

Mas aí, eu percebi que o buraco talvez seja ainda mais embaixo. Talvez você já saiba disso, talvez minha percepção seja uma obviedade para você, mas para muitos pode não ser, então, vamos a o que eu acredito ser a maior causa de mal-entendidos no campo do consentimento sexual entre homens e mulheres.

Vou usar como pano de fundo um caso que acho esclarecedor: anos atrás o ator e comediante Aziz Ansari foi acusado por uma fotógrafa de abuso sexual. A fotógrafa foi à mídia e tornou o caso público. Ele negou, disse que era um absurdo, que era mentira. Ela reafirmou que tinha acontecido sim. Ele reafirmou que não tinha acontecido não e ficou nesse disse que disse um tempo.

Aziz Ansari é uma pessoa muito especial. Uma mente privilegiada. Uma pessoa de notável observação e sensibilidade. É possível perceber isso pelos seus standups. Na época eu fiquei em choque: ele, mais do que qualquer outro homem, teria capacidade de entender a negativa de uma mulher. Meu julgamento, na época, foi: alguém está mentindo descaradamente, ou ele, ou ela. Não quis escrever sobre o assunto pois era impossível saber a verdade.

Como disse, Ansari não é uma pessoa qualquer. Ele tem um patamar de racionalidade, esclarecimento e sensibilidade muito acima da média. Em vez de transformar isso em uma briga midiática e batalha judicial, ele decidiu ter uma conversa franca com a moça para entender o que estava acontecendo. Eles conversaram longamente e um explicou seu ponto de vista para o outro e, por incrível que pareça, um compreendeu o ponto de vista do outro, ambos se desculparam um com o outro, aprenderam um com o outro. A questão ficou tão bem resolvida, que ele faz piada com isso em seu novo especial para a Netflix.

Esse caso deve ter sido extremamente doloroso para ambos, mas, acredito que ele pode ajudar muita gente a não passar por isso. Como eles mesmos expuseram o ocorrido e os mal-entendidos, se é que podemos chamar assim, me sinto no direito de dar um passeio por esse caso sem violar a privacidade de ninguém, para que saia algo de bom daí.

Aziz conheceu a moça, uma fotógrafa, durante o prêmio Emmy de 2017(ano no qual ele venceu). Ela se interessou por ele, ele se interessou por ela, trocaram telefones. Uma semana depois, os dois marcaram um encontro. Saíram para jantar e depois foram para a casa dele.

Aqui deixo uma opinião pessoal minha, lembrando sempre que nada, nada, nada justifica um estupro: ir à casa de alguém que você ainda não conhece muito bem te coloca em uma situação de muita vulnerabilidade. Óbvio que isso não faz com que o sujeito tenha o direito de fazer nada contra a sua vontade, e se o fizer, tem que ser punido sim. Mas a ideia é evitar passar por situações desagradáveis. A punição do homem não desfaz o que aconteceu, por isso a meta é sempre evitar que aconteça. Pense dez vezes antes de ir à casa de um homem que você não conhece muito bem e confia totalmente, ok?

“Mas eu tenho que ter o direito de ir sem ser estuprada!”. Sim, em um mundo ideal. Infelizmente não vivemos em um mundo ideal. Infelizmente o homem brasileiro está uns degrauzinhos abaixo da média desejável de civilidade e respeito. Você tem todo o direito de ir e se o sujeito fizer algo contra a sua vontade será crime sim. Mas o ocorrido não será desfeito. A violência que você vai sofrer não se desfaz, ela pode deixar marcas com as quais você vai ter que conviver pro resto da vida. Realmente é indispensável ir sozinha à casa de um desconhecido para ter uma vida social? Então, se preserve. Pense. Na dúvida, não vá. Melhor pecar pelo excesso de cautela e se colocar uma restrição que não parece justa do que sofrer um abuso.

Voltando ao caso… Chegando à casa de Ansari, começaram a se beijar, as coisas foram esquentando e progredindo mais rápido do que a moça gostaria. Eu vou usar as falas da moça, entre aspas, tal como foi divulgado:

“Ele colocou minha mão no pênis dele umas sete vezes. Ele ficava fazendo isso mesmo eu evitando”. “A maior parte do meu desconforto foi demonstrada com o fato de eu empurrá-lo e murmurrar. Eu sei que minha mão parou de se mover em alguns momentos. Eu parei de mover meus lábios e fiquei fria, eu estava dando sinais visíveis de que não queria continuar”. “Eu não estava nem pensando nisso, não queria o mesmo que ele. Mas ele continuava perguntando, então eu disse: ‘Na próxima vez’, e ele falou: ‘Ah, você quer dizer em um segundo encontro?’, e eu disse: ‘Sim, claro’, e ele falou: ‘Bem, se eu te der mais uma taça de vinho agora, vai contar como um segundo encontro?’, e ele colocou uma taça de vinho e me deu”.

Eu conheço muitos homens que não são más pessoas, que não entenderiam isso como uma negativa e não interromperiam o que estava acontecendo. “Na próxima vez” não é um não claro. Murmurar não é um não claro. Tirar a mão e permitir que ela seja recolocada de volta não é um não claro. Óbvio que na cabeça dela era claro, mas para ele não foi.

Sem saber como reagir, ela pediu licença e foi ao banheiro. Ficou cinco minutos lá. Ao voltar, Ansari perguntou se ela estava bem. Ela respondeu que não queria se sentir forçada a fazer sexo, e ele teria dito: “Ah, claro. Só é divertido se nós dois nos divertirmos”. Depois disso, ele disse para eles ficarem deitados no sofá.

Se você não quer e o outro visivelmente quer, vou te dar uma dica que ajuda todo mundo: VÁ EMBORA. Vocês estão em páginas diferentes. Um dos dois vai ficar insatisfeito nesse cômodo se ambos continuarem neles. “Ah mas…”, sim, tem um milhão de “mas”, não é justo, é escroto, não deveria ser assim e tudo mais que você quiser. O mundo não é justo, grandes chances de interpretarem seu ficar como uma possibilidade de mudar de ideia e novas tentativas acontecerão. VÁ EMBORA, de boas, sem briga, mas vá embora, ou novas tentativas poderão vir.

E de fato foi o que aconteceu. A moça ficou, topou deitar ao ladinho de Ansari. “Ele se deitou atrás de mim e apontou para o pênis dele e insistiu para que eu fosse até ele. E eu fui. Eu realmente me senti pressionada. Foi, literalmente, a coisa mais inesperada que aconteceu naquele momento porque eu disse a ele que estava me sentindo desconfortável”. Os dois fizeram sexo.
Veja bem, ele não apontou uma arma para ela. Ele apontou para o próprio pênis. Ela se sentiu pressionada, mas… será que ele realmente a pressionou?

Vou ser bem sincera aqui: se você que está lendo este texto tem mais de 40 anos, tem vivência suficiente para já ter passado por isso. Eu duvido que uma mulher nunca tenha sido pressionada para fazer sexo (independente de ceder ou não) e eu duvido que um homem nunca tenha pressionado uma mulher para fazer sexo (percebendo isso ou não). Acontece. O tempo todo. Nem sempre por maldade, também por falha na comunicação. É certo? Não. Acontece? Sim.

Depois, ela e Ansari ainda ficaram deitados, viram episódios de Seinfeld. Ela conta que Ansari estava relaxado e descontraído, rindo do seriado, enquanto ela teria “começado a perceber que fui abusada”. Quando Ansari fez um gesto de carinho, ela explodiu e começou a brigar com ele, dizendo que “todos os caras são iguais” e coisas do tipo, brigou com ele, gritou e pediu um Uber para ir embora: “Eu chorei o caminho inteiro. Naquele momento, eu me senti abusada. Aquela última hora ficou tão fora do meu controle”.

Ficou fora do controle por culpa de Ansari? Se você é segura, bem resolvida, tem autoestima e sabe dizer “não”, não há pressão psicológica que te obrigue a fazer o que você não quer. Se você não é tudo isso, de coração, eu recomendo que não se relacione até melhorar sua mente, caso contrário você será abusada de várias formas – e a física será a menos dolorosa delas.

No dia seguinte, Ansari enviou uma mensagem amistosa e apaziguadora para ela. Ela respondeu: “A noite passada pode ter sido divertida para você, mas não foi para mim. Você claramente ignorou sinais não-verbais e continuou avançando. Eu quero ter certeza de que você está ciente disso, para que outras garotas não tenham que chorar a caminho de casa”.

Ele então respondeu: “Eu estou muito triste de ouvir isso. Claramente, eu confundi as coisas no momento e eu estou muito arrependido”. Ele quis conversar pessoalmente com ela, mas ela se recusou. Supostamente, o assunto morreu.

Anos depois, quando Aziz Ansari ganhou o Globo de Ouro, em 2019, ela resolveu tornar o caso público. Vomitou todo o ocorrido na imprensa e foi um baita escândalo.
Passada a troca de acusações, depois que eles de fato sentaram, conversaram e a questão ficou aparentemente resolvida, Ansari fez questão de falar publicamente sobre o assunto: em entrevistas, em seus shows e até de forma escrita.

O que ele disse é que genuinamente não percebeu o que estava acontecendo, não no sentido de não notar que havia uma resistência, mas sim por acreditar que essa resistência era apenas um jogo de poder, um mecanismo muito comum que muitas mulheres haviam usado com ele, para “se fazer de difícil” ou “se valorizar” (as aspas são minhas, não dele). Ele estava genuinamente arrependido e mortificado.

Em poucas ocasiões, ele deu a entender de forma muito delicada, sem jogar a responsabilidade nela, que durante o jantar eles teriam, ao menos na cabeça dele, passeado por esses jogos de poder. Exemplo ilustrativo: ele pedia algo bobo, como por exemplo, ela pegar um cesto de pão e ela se recusar brincando, dizendo que o pão teria um sabor melhor se ela demorasse a entregar e ficava fingindo que ia entregar e não passava por diversas vezes, e coisas assim. Isso o induziu a pensar que a mesma conduta se repetia no seu apartamento.

Ansari teve a grandeza de compreender e validar o sentimento da moça e entender que, mesmo sem intenção, ela havia sofrido um abuso. Legalmente, ele não é responsável, mas, segundo ele mesmo, emocionalmente sim. Não que fosse possível para ele perceber, ele reafirma que não era, mas ele assume a responsabilidade de ter causado um dano emocional a uma pessoa e se sente mal com isso.

Em alguma entrevista ele chegou a comparar o caso com um atropelamento de carro. Você pode não ter a intenção de atropelar alguém, você pode fazer tudo certo, tomar todos os cuidados que estão ao seu alcance e, ainda assim acidentes acontecem. O fato de não ter a intenção e de não ter conseguido evitar, quer dizer que você não atropelou alguém? Não. Você atropelou. É um risco que todos nós corremos quando usamos um carro.

O caso nos deixa vários aprendizados. O mais útil é que, às vezes, um homem efetivamente vê ou percebe o desconforto de uma mulher como um jogo de poder, que, verdade seja dita, muitas mulheres fazem. Então, em nome de evitar uma situação traumática e de uma melhor comunicação, não basta demonstrar resistência, é preciso que fique claro que não é um joguinho, um recurso para “se valorizar”, para não “parecer fácil” ou qualquer coisa do tipo.

Perguntado sobre se teria parado se a moça tivesse dito “isso não é uma brincadeira ou um jogo, eu realmente não quero e se você prosseguir estará cometendo um crime” Ansari disse que certamente teria parado. “Mas Sally, não é justo que o que eu falo não seja respeitado a menos que eu tenha que ser extremamente direta e grossa”. Sim, você tem toda a razão, não é justo mesmo. Mas, o mundo não é justo. É melhor dizer da forma que será compreendida e não passar pelo trauma do que fazer o que você acha justo e passar por um trauma.

Se você olhar para o caso levantando qualquer bandeira (a dos homens ou a das mulheres), é possível achar um lado que tem razão. Mas, a beleza desse caso é nos permite perceber que é possível uma situação em que ambos, em suas cabeças, acham que estão cobertos de razão, sem perceber o dano que estão construindo naquele evento.

Nem sempre a história tem que ter um filho da puta covarde abusador ou uma histérica mentirosa que quer fama e dinheiro. Nem sempre alguém está mentindo, há casos em que temos apenas diferentes percepções da realidade, onde todo mundo está falando a verdade e onde houve um dano sem culpa ou intenção.

Mas, para conseguir ter essa visão, ambos precisaram dar um passo atrás, respirar fundo, se comunicar, se ouvir (em vez de trocar acusações e rebater tudo automaticamente no modo defensivo) e, principalmente, se colocar no lugar do outro. Quem quer/sabe fazer isso hoje em dia?

Então, a lição geral que gostaria que todos tenham é a de que muitas vezes, os sinais de resistência de uma mulher não são levados a sério por ser um padrão de comportamento feminino perpetrado por muitas mulheres esboçar essa resistência como coreografia habitual pré-sexo. É quase que um modus operandi de muitos encontros: a mulher nega, o homem insiste, e tá tudo bem, é assim desde que o mundo é mundo. Não tá tudo bem. Não insistam. Não tá tudo bem, mulheres, se não querem dar, voltem para suas casas.

Específico para vocês, mulheres: estejam cientes de que muita mulher usa esse tipo de joguinho, de fingir resistência quando realmente quer e, por mais que o correto seja que o homem pare ao menor sinal de resistência (seja ela joguinho ou não), para se poupar de passar por um trauma assim, o ideal é que você suba um tom na hora de estabelecer o seu não-consentimento. Não precisa brigar, não precisa gritar, não precisa fazer escândalo: tem que ser firme verbalizar uma frase clara, inequívoca, que explicite que não é um joguinho ou “cu doce”. Você efetivamente não quer e se prosseguir, a pessoa vai cometer um crime. E vá embora. Se ele quer e você não, vá embora. Encontrem-se depois, em outro contexto.

Específico para vocês, homens: não importa se é joguinho, se é brincadeira, se é cu doce ou se é possessão demoníaca, se a mulher manifestar qualquer recusa, resistência ou negativa, explícita ou implícita, pare. Apenas pare. Pare tudo. Insistir quando você já ouviu um “não” é considerado ofensivo e escroto pelas mulheres, por mais que muitas vezes elas passem por cima disso, engulam e relevem. Ao primeiro sinal de resistência, à primeira negativa, pare. Você só tem a ganhar se parar: se a resistência for sincera, você se poupa de ser acusado de um crime, e se a recusa for um joguinho, você se poupa de uma mulher muito da escrota, maluca e mal resolvida que precisa usar desse tipo de recurso babaca.

E, fica o eterno lembrete: 99% dos homens brasileiros não são Aziz Ansari. Se preserve, não conte com a civilidade e respeito alheio de desconhecidos.

Para dizer que já foi pressionada a fazer sexo, para dizer que já pressionou a fazer sexo ou ainda para dizer que depois deste texto não sabe se pressionou alguém para fazer sexo com você: sally@desfavor.com

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Comments (16)

  • “Consentimento” já não é, por definição, algo que só pode ser pedido ou concedido ANTES de qualquer coisa e não depois?

  • Seria minimamente honesto dizer que 99% das mulheres são incapazes de serem sinceras e viciadas em complicações absolutamente desnecessárias que originam tais desentendimentos.
    Mas claro que é mais fácil ser reducionista somente em relação aos homens.

    • Não, não. No SEU mundo, 99% das mulheres que VOCÊ se cerca são assim. Querer extrapolar isso para todas as mulheres do mundo é bastante infantil.

      E, não sei se você percebeu, no texto eu direciono falas aos homens e às mulheres. Por sinal, as críticas mais contundentes são às próprias mulheres.

  • Alguns anos atrás, quando um conhecido foi acusado de estupro, conversei com um amigo psicólogo a respeito. Eu tinha me afastado do cara que foi acusado quando a primeira vítima falou comigo, e estava tentando manter as meninas mais ingênuas longe dele, mas me senti culpada porque podia prejudicar inocentes tanto calada quanto falando.
    Meu amigo me disse a mesma coisa que a Sally escreveu. Disse que isso não invalida o trauma e nem a experiência da vítima, mas nem todos os homens que pressionam são monstros que merecem ir pra cadeia. Essa é uma questão muito estrutural e complexa para ter uma solução simples. Começa por nos aprendendo a ser firmes para negar e evitando certos riscos, infelizmente.
    O que, creio eu, complica mais ainda esta questão é que acusações de assédio e estupro dificilmente são levadas a sério e acarretam punição de forma geral. O tratamento dado às vítimas também é terrível e desencoraja a denunciar, vide Mariana Ferrer.
    O conhecido ao qual me referi, por exemplo, era de fato um abusador e tinha de fato violentado várias mulheres, algumas menores de idade. Muita gente sabia, mas ele foi assassinado pelos “amigos” antes de conseguirmos convencer as meninas que foram violentadas a denunciar pra polícia. Foi triste perceber que elas se sentiam mais confortáveis falando a respeito com semiconhecidas como eu do que denunciando.

    • Teve gente nos comentários afirmando novamente que Mariana Ferrer não foi estuprada (obviamente, não foi aprovado). Há uma necessidade muito grande de ter certezas, sabe? Parece que todo mundo quer escolher um lado e militar por ele. Muito triste.

      Eu acho muito improvável que algum homem com mais de 40 anos nunca tenha insistido para fazer sexo com uma mulher. Não digo faltar com o respeito, mas insistir sim, pois é assim que a sociedade brasileira faz sua “dança do acasalamento”. O homem insistir (infelizmente) faz parte. Não que seja crime, insistir não é obrigar, mas é chato pra caralho.

  • Após um encontro, o cara te convida para a casa dele, e vocês vão ficar sozinhos. Será que é pra passar a noite jogando Animal Crossing?

    Se não tem certeza ou não quer se molhar, não vá ao parque aquático. E se for, sem ser para divertir com a água, sinceramente, pra quê? Melhor tentar outra programação.

    • Minha opinião, bastante impopular: aí entra uma questão de ego feminino. Querer ir, querer ver o sujeito implorando, insistindo, se desdobrando por ela. Pode nem ser consciente, mas tem um jogo de poder aí. É uma das poucas vezes que mulheres desempoderadas sentem algum poder. Mas não dá nem para começar a pensar em falar isso em voz alta, pois eu seria massacrada.

  • Esse assunto é espinhoso mesmo.
    Sei que não é o foco do texto, mas hoje estão dando ênfase errada em questões de desrespeito sexual.
    Faz pouco tempo aquela atriz que faz o saia justa estava nos jornais dizendo que foi estuprada, porque ela ouviu cantadas/grosserias de cunho sexual na rua e não gostou. Vamos chamar isso de estupro? Que tal a gente botar a mão na ferida e chamar isso de criação ruim? Ao invés de ficar falando que foi estuprada, incentivar que pais e mães eduquem melhor seus filhos? O povo classe média que acompanha esse programa ia captar a mensagem.
    Podia conversar com os contatos que ela deve ter na globo pra dar um jeito de enfiar essa necessidade de educação na novela das 8. Infelizmente tem coisa que pobre só aprende quando vê na novela.

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