FAQ: Coronavírus – 59

Conforme nosso combinado, sempre que houvesse uma mudança de realidade ou novidade relevante, voltaríamos a falar no assunto – e aqui estamos. Os casos de covid voltaram a subir mais uma vez e, pela falta de testes, se forma uma onda silenciosa que muitos podem nem tomar conhecimento. Mas o leitor do Desfavor estará informado.

Vamos fazer na forma de um texto corrido, atualizando a situação e, daqui para frente, quem tiver dúvidas pode deixar perguntas que passaremos a respondê-las nos próximos FAQs.

Temos duas novas variantes que são as responsáveis pela onda de casos no mundo: XBB, BQ1.1 . São “tipos” de Ômicron e destas, a BQ1.1 (ou BQ1 para os íntimos) já chegou ao Brasil.

O que se sabe destas variantes é que elas são mais contagiosas e que têm um escape a anticorpos maior, seja anticorpos de outras variantes, seja contra anticorpos contra a própria variante atual. Isso quer dizer que quem pega covid-19 agora tem ainda menos chances de ficar protegido pelo contágio, seja pela variante que for.

Isso significa que quem pegar covid-19 agora, pode pegar novamente no mês seguinte. E no outro. E no outro. Inclusive a mesma variante duas vezes ou mais. Se havia qualquer dúvida sobre a eficiência da imunidade de rebanho (spoiler: não havia) ela acaba de ser sepultada: pegar covid não te protege de ter covid novamente. O que melhor te protege, como cansamos de falar, é a vacina.

Vale lembrar, não é uma vacina experimental, se mostrou muito eficiente para cumprir seu papel (que é não morrer de covid) e muito mais segura do que se esperava. Se você recebeu informações sobre efeitos colaterais graves da vacina, por favor, pesquise um pouco mais. Tem muita, mas muita notícia falsa, com link, com “estudos”, com supostos documentos “provando”, mas… é tudo falso, manipulado ou sem validade.

Olhe à sua volta: provavelmente a maior parte das pessoas com as quais você convive tomou a vacina. Elas estão com sequelas graves? Elas tiveram algum problema sério comprovadamente por causa da vacina?

Se você não tomou suas doses de reforço, a hora é essa. No Brasil acontece um fenômeno curioso: pessoas que não tomam as doses de reforço por preguiça, por não priorizar, por desleixo. Em outros países, você tem números fechados de quem tomou 4 ou 5 doses e de quem tomou nenhuma dose (pessoas que, por convicção pessoal decidiram não se vacinar). No Brasil tem a estranha figura da pessoa que tomou uma ou duas doses e parou no meio do caminho, não voltou para tomar a dose de reforço. Não seja essa pessoa.

Se você tem uma ou duas doses de vacina, saiba que você não tem proteção suficiente. Tem que tomar as doses de reforço. Elas fazem toda a diferença. Se você não tem 4 doses, a hora de ter é essa. Não apenas para se proteger da doença, como também de covid longa: quem tem quatro doses está mais protegido das sequelas.

A quarta dose é importante para todo mundo, mas é especialmente importante para idosos, para pessoas que tomaram as duas primeiras doses de vacina inativadas (como é o caso da Coronavac, temos um FAQ antigo que explica quais são essas vacinas) e para pessoas com qualquer comorbidade que possa reduzir sua resposta imune. Então, é hora de pegar os idosos da família, as pessoas com comorbidades e qualquer grupo de risco, como gestantes, e levar para se vacinar.

Não parecem ser variantes alarmantes, não há qualquer indício de que possam causar mais mortalidade e a vacina dá uma ótima proteção contra morte, desde, é claro, que a pessoa tome as doses de reforço que lhe correspondem. Por isso não devemos ver muitas mortes. Mas, repito o que disse em 2020: não me interessa o percentual de mortalidade, se morrer a pessoa que eu amo, morreu 100% para mim.

Se te for permitido tomar uma quinta dose, tome. Aqui onde eu moro, estamos na quinta dose. A quinta dose é especialmente importante para os grupos vulneráveis que citamos no parágrafo anterior. Alguns países já estão aplicando, pois com as novas variantes, a proteção da quarta dose está durando menos tempo do que se imaginava.

Isso quer dizer que o país tem que entrar em lockdown? Não. Lockdown não é uma medida para conter contágio, é uma medida para evitar mortes quando o sistema de saúde está colapsado e não consegue dar conta da quantidade de doentes que chegam. Não é momento de lockdown e ninguém minimante sério da área da ciência e saúde vai propor isso.

A proteção adequada para este momento é o combo uso de máscara em ambientes fechados + dose de reforço da vacina + higienização frequente das mãos + não aglomerar. Lembrando sempre que máscara tem que ser PFF2 (ou, usando o nome americano, N95) e que existem diferentes modelos com diferentes preços que se adaptam a todos os rostos e bolsos.

Eu sei que quase ninguém está usando máscara no Brasil neste momento, assim como metade da população não vacinou seus filhos contra poliomielite ou metade da população não usa camisinha quando faz sexo com desconhecidos. Se você pesquisar os dados de saúde sobre o brasileiro, não demorará muito a constatar que não é um povo que deva ser levado como referência em cuidados, prevenção e bom-senso. O fato de ninguém estar fazendo só indica que sim, tem que fazer.

O uso de máscara em ambientes fechados é necessário novamente (ou ambientes abertos, se tiver muita gente perto de você). Mas virá com esse ônus: vai ter gente olhando torto, vai ter ignorante te dizendo que ele não é necessário, vai ter imbecil fotografando, colocando em rede social e debochando dizendo que existem malucos que não conseguem voltar a uma vida normal. Paciência. Eu, de minha parte, acho ridículo gente que se pendura em caminhão. Não se pode agradar a todos.

Vai ter quem te diga que isso tudo é um exagero e que o risco de covid-19 está similar a uma gripe (ou até menos grave) e que “quarenta e poucos” mortos por dia não é muito. Não é verdade.

Uma rápida consulta ao painel da CONASS (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) te mostra que, em 2022 covid-19, matou, até aqui, quase 70 mil pessoas. Por si só, eu acho 70 mil mortes (na verdade, muitas mais, mas como não se testa…) algo nada tranquilo, mas, se fazem questão de comparar com a gripe, basta conferir as informações oficiais: em um ano regular, gripe mata 25 mil pessoas – ou seja, covid-19 ainda mata três vezes mais do que gripe.

Vai ter quem te diga que não há aumento de casos de covid-19 e tente “provar” isso de alguma forma. Realmente, se você pegar os dados oficiais, é provável que não apareça um aumento de casos, já que o SUS, na maior parte dos lugares, não está testando para covid-19. Quem quer teste, provavelmente vai ter que recorrer a um teste de farmácia.

Hoje, o Brasil testa menos do que em 2020, quando havia uma escassez enorme de testes, para que vocês tenham uma ideia de quão pouco estão testando. Se não tem teste, oficialmente, não tem caso. Mas a realidade… a realidade ignora a narrativa. Não teve intervenção federal, não teve eleição anulada e não teve gente parando o país. Repito: a realidade ignora a narrativa: temos um aumento violento de casos de covid em diversos pontos do país, embora a narrativa seja outra.

O Brasil é um país de dimensões continentais, então, seria imprudente afirmar que há aumento de casos em todos os lugares, porém, em muitos está acontecendo e não dá para confiar nas informações oficiais. Então, como saber se há de fato um aumento de caso onde você mora?

Pesquisa nas suas redes sociais palavras-chave como “positivei” ou “covidei” e olha quantas pessoas à sua volta estão doentes ou com sintomas. Observe o aumento de positividade em testes de farmácia. Observe a disponibilidade de testes em farmácia (em muitas, onde há grande demanda, está esgotado). Observe a lotação nos hospitais. Observe todos os indícios que puder e tire suas próprias conclusões, mas sem narrativa, pois a realidade é implacável.

“Mas Sally, onde eu moro tá todo mundo vacinado, não tem problema”. Não é bem assim. São Paulo, que é um dos maiores índices de vacinação do país, já existe um aumento de ocupação de leitos de UTI por covid. No Rio de Janeiro, que também vacinou bem, foi registrado um aumento de Síndrome Respiratória Aguda Grave (quando não tem teste, covid-19 acaba sendo chamado assim). Amazonas e Rio Grande do Sul também apresentam esse aumento, o que nos leva a crer que a nova variante está circulando de ponta a ponta do país.

Não estou dizendo que vai saturar o sistema de saúde (não vai) nem que vai morrer mais gente do que ano passado (não vai), estou dizendo que vacina não é a estrelinha do Super Mario, que pode tomar e fazer o que bem entender com 100% de proteção. Existirão momentos de maior liberdade e existirão momentos de maior cautela. Estamos em um momento de maior cautela.

E, outro ponto importante: não tá todo mundo vacinado nem onde existe um percentual de 100% de vacinados. Esse 100% significam que 100% das pessoas que poderiam tomar vacina tomaram. Mas, existem as pessoas que não podem tomar vacina, como é o caso de crianças com até 3 anos de idade (só crianças com comorbidade estão sendo vacinadas, por uma opção do governo), pessoas que, mesmo tomando, não conseguem uma boa proteção em função de algum problema de saúde e outros grupos.

Nunca é demais lembrar: vacina para criança é segura. Se não fosse, não seria aplicada nas crianças com comorbidades, ainda mais sensíveis do que crianças comuns. Você pode ouvir que não são seguras, mas vamos lembrar que não foi só a ANVISA que aprovou por unanimidade, o Governo nomeou um comitê técnico deles para avaliar e este comitê, deste Governo, também aprovou por unanimidade a vacina para crianças. Vou repetir: um comitê DESTE GOVERNO aprovou POR UNANIMIDADE a vacina. Pode dar, é segura.

E se vierem com um papo de que criança não pega covid, ou que não tem casos graves, saiba que não é verdade. O Brasil é o segundo maior número de óbitos de crianças por covid-19 no mundo. NO MUNDO. Em um mundo que tem países muito pobres, sem infraestrutura, países em guerra, em ditaduras… O Brasil conseguiu ser o segundo país onde mais morreu criança de covid-19.

Não comprar uma vacina aprovada pela ANVISA e por um comitê do governo para todas as crianças, sendo o segundo país com mais mortes de crianças pela doença, parece uma boa decisão para você? Pois esta é a realidade do país: crianças com menos de 4 anos estão completamente desprotegidas. Adianta você estar vacinado, pegar covid-19, não sentir nada, mas passar para uma criança completamente desprotegida?

Então, vemos um problema se formando: adultos protegidos se descuidam, circulam mais, se cuidam menos e podem levar uma doença para crianças que não estão vacinadas, para adultos que não tem as quatro doses de reforço ou para pessoas que, mesmo vacinadas, podem não desenvolver uma boa resposta imune, como é o caso de idosos e pessoas com comorbidades como diabetes, problemas cardíacos, obesidade e outro.

Você, com quatro doses de vacina, provavelmente está seguro. Mas, talvez você conviva com crianças (ou com alguém que pode levar esse vírus para crianças) ou com idosos (ou com alguém que pode levar esse vírus para idosos) ou com pessoas com comorbidades (ou com alguém que pode levar esse vírus para pessoas com comorbidade). Sendo este o caso, não creio que seja a hora de pensar “eu, eu, eu” e sim de ter consideração, empatia e senso de coletividade, não exponde essas pessoas ao vírus.

Isso se faz usando máscara PFF2 (direito, tapando nariz e boca), higienizando bem as mãos e não aglomerando. Ninguém está te pedindo para deixar de trabalhar ou não sair de casa. É só não aglomerar. É só não fazer programa que tenha que tirar a máscara do rosto (como um jantar, por exemplo). E por um curto espaço de tempo, provavelmente uns dois meses. Não é pedir muito, mas para o brasileiro provavelmente será: sair sem poder beber? Não se juntar com uma galera na Copa do Mundo? Infelizmente não acredito que aconteça.

Para quem já teve covid-19: saiu mais um estudo bem robusto (acompanhou 40 mil pacientes que tiveram covid mais de uma vez) confirmando que quem pega covid novamente tem mais chances de complicações, seja no curso da doença, seja nas sequelas. Esse risco aumenta mesmo que a pessoa tenha ficado assintomática na primeira infecção ou mesmo estando vacinada.

Então, se você já teve covid, ainda que assintomático, ainda que versão “leve”, saiba que as chances de complicações no caso de uma segunda infecção são maiores: três vezes mais chances de internação hospitalar, duas vezes mais risco de morte e aumento de incidência de sequelas. E se tiver pela terceira vez, o risco fica ainda maior.

É mais uma pá de cal nessa ideia de que “todo mundo vai pegar, vou pegar logo”. Quem pegou não só não está imunizado como também tem mais risco de morte, hospitalização e sequelas, ou seja, em vez de ter alguma proteção contra a doença, tem é um organismo mais vulnerável a ela.

Temos que lembrar ainda que boa parte da população brasileira não está com a dose de reforço em dia – ou sequer estão vacinados. Então, é importante deixar claro que tudo que eu disse de tranquilizador neste texto se aplica apenas a quem está vacinado. Para quem não está vacinado, os riscos são imensos e os cuidados devem ser os mesmos que se adotavam em 2020, quando não havia vacinas.

Em linhas gerais, o que esperar dessa onda? Uma onda menor e mais curta. Como são variantes mais contagiosas, deve ser mais rápida: quem está desprotegido vai pegar logo, o que faz com que a onda termine logo. Também temos uma parcela da população vacinada com quarta dose, o que gera uma boa proteção para essa parcela e deve garantir que não ocorra nenhum colapso hospitalar, que ocorram menos mortes e que muitos casos tenham apenas sintomas leves.

Quanto tempo vai durar a onda? Não sabemos, ninguém sabe. Meu chute totalmente empírico, baseado na onda que vimos no ano passado, na mesma época, é que vemos um aumento em dezembro e janeiro e depois melhora. Com sorte nem isso. Mas, novamente, é apenas um chute, é o tipo de coisa que a gente só sabe quando ela passa.

Em todo caso, demorando mais ou menos, essa onda vai passar. Portanto, o que está sendo sugerido aqui é uma maior cautela de forma temporária: estamos em uma onda crescente, é hora de se cuidar mais. Sabemos que essa onda vai passar (provavelmente mais rápido do que imaginamos), então, não custa tanto passar um ou dois meses tomando mais cuidados, usando máscara e não aglomerando.

Saiu da sua bolha de convívio (pessoas que moram com você)? 1) Usa máscara (e não tire a máscara, ou seja, não faça refeições com outras pessoas, não beba com outras pessoas, etc.); 2) Não aglomere, nem mesmo com máscara – e aglomeração não é apenas Rock in Rio, qualquer dez pessoas já é um risco e 3) Tome as doses de reforço que estão faltando. Ninguém vai morrer por fazer isso dois meses da sua vida, mas alguém pode morrer se você não o fizer.

Para menosprezar nossas recomendações (não nos importamos), para menosprezar o vírus (ele não se importa) ou para dizer que o único lado bom da vitória do PT é que ano que vem vai ter outra gestão de pandemia: sally@desfavor.com

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Comments (12)

  • Um fator que vale a pena considerar é o pouco valor que se dá à vida humana, ou à qualidade de vida em geral, para a maior parte da população do Brasis. Isso percola todos os juízos de valor cotidianos.

    Outro problema também é a falta de conhecimento basico de frações e probabilidades. Então as discussões acabam se limitando a números inteiros e fenômenos binários.

    • “Outro problema também é a falta de conhecimento básico de frações e probabilidades. Então as discussões acabam se limitando a números inteiros e fenômenos binários.” Talvez seja porque muitos brasileiros saem da escola mal sabendo a tabuada e, dentre os que chegam à faculdade, vários escolhem cursar Ciências Humanas só pra escapar do “horror” da matemática.

  • Puta do SUS ♡

    Gente, vacinem os filhos de vocês. A pediatria dos hospitais está recebendo recém nascido com covid. Não ignorem a doença e usem a máscara nos transportes públicos, locais fechados, supermercados.

  • Agradeço pelo serviço de utilidade pública, Sally. Creiam os BMs ou não, a pandemia ainda não acabou. Ah, e eu também fiquei muito preocupado em ler que “metade da população não vacinou seus filhos contra poliomielite ou metade da população não usa camisinha quando faz sexo com desconhecidos”. Vai gostar de correr risco desnecessário assim lá na casa do chapéu…

    • O brasileiro não tem autoestima, não se acha merecedor de nada, nem da proteção de uma vacina, aí cria mil mecanismos e teorias para justificar essa autosabotagem bizarra que impõe a si mesmo e a seus filhos. O brasileiro adora ser sofredor, mártir, vítima, para receber afago, atenção e menos cobranças, nem que para isso tenha que adoecer ou ter um filho deficiente para o resto da vida por uma paralisia infantil. É ego, é puro ego.

      • Olha, isso aí eu já duvido.

        Lembro de casos absolutamente bisonhos em que nordestinas falavam que valia a pena ter um filho todo fodido por causa do Zika porque naquela época, o governo anunciou que ter um filho com microcefalia ou outras complicações decorrentes do Zika era um passe livre pro BPC. Mas achar que ter um filho batata por causa de biscoito na internet ou na vizinhança vale a pena? Isso eu acho muito improvável.

        Acho que é um misto de desconfiança de vacinas decorrente da campanha anti-vacina de COVID que o Bolsonaro fez, com a negligência por achar que as doenças combatidas por vacinas realmente eficazes já foram erradicadas e como eles não conhecem ninguém que tenha essas doenças, acham que não tem como seus filhos “pegarem” essas doenças.

  • No Brasil não existe o não aglomerar, só se for lá no interior meio do mato onde não tem gente. Nas grandes cidades é fila até pra entrar na fila. Condução então se anda quase se beijando e duvido que oma montoeira de pessoas grudadas com janelas fechadas, sim porque janela de ônibus não abre mais, mesmo de máscara adiante alguma coisa. Eu vou deixar de beber com os amigos pra depois pegar covid no ônibus? Nem por 2 meses nem 2 dias!

  • Covidei ano passado e não recomendo. Apesar de ter continuado relativamente disposta pra fazer as coisas em casa (as 2 doses de vacina ajudaram), depois que melhorei ainda fiquei quase um mês com um incômodo esquisito na cabeça e o pensamento lento.

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