Dia da Mulher.

Hoje é um dia muito especial, 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Hoje é dia de dar atenção especial para elas, de refletir sobre seu valor na sociedade e enxergar sua contribuição para o mundo no qual vivemos. Por isso que eu acho importante um texto como o de hoje, um texto que se propõe a dizer que mulher… não é nada demais.

Francamente, não entendo por que as pessoas dão tanta bola para isso. Mulher é que nem mato, tem em tudo quanto é canto. Bilhões, desde que a gente começou a contar direito. A maioria está tocando a própria vida, enroladas com seus problemas diários sem chamar muita atenção. Quase todas que você vê por aí nem chegam a registrar na sua memória.

Fisicamente, não são nem tão incríveis nem tão inúteis assim. Sim, em média tem menos músculos que os homens, mas historicamente as atividades físicas necessárias para a manutenção da vida não passam tanto por levantar coisas pesadas. Durante a nossa história, mulheres fizeram todo tipo de serviço extenuante como agricultura e manutenção da casa. Para falar a verdade, nem os homens foram tão bons assim em lidar com coisas pesadas, afinal, a tecnologia foi desenvolvida para isso.

E também não entendo toda essa babação de ovo sobre a forma feminina, como se fosse algo mágico. De todas as espécies deste mundo, só uma corre o risco de ficar hipnotizada com a suposta beleza da mulher. Essa coisa de gorila se apaixonar por mulher é invenção de filme. E digo mais, até a ideia de beleza é muito discutível, o ser humano varia muito no que acha atraente. A mulher que você acha uma deusa pode ser uma mulher genérica para o outro, e a sua baranga pode ser Afrodite para um terceiro. A mulher média não é nem uma coisa nem outra, a gente inventa muita coisa em cima da realidade.

Mulher vive com problemas nem um pouco glamourosos, não importa a pose que ela tenha, toda mulher que você vê provavelmente está apertada para ir no banheiro, se sentindo inchada, sangrando num pedaço de pano ou algodão, preocupada em peidar caso sente na privada… a vida real é bem mais complicada que nossa imaginação.

Psicologicamente então, banalidade é a palavra-chave. Mulher vive com medo, com insegurança, com sentimentos que detesta ter na maioria das vezes. Se você é homem, imagine 99% dos problemas que passam na sua cabeça e tenha certeza de que elas têm os mesmos. Se você tiver uma conversa profunda com uma mulher, vai perceber que é quase a mesma coisa que o homem com pontos de vista levemente diferentes.

Eu reviro os olhos com esse papo de perspectiva feminina. O ser humano médio não é muito mais profundo intelectualmente que chorar por amores não correspondidos e beber para esquecer depois. Não seria diferente com elas. Se você já ouviu um homem estúpido falando sobre algo que nunca estudou, já ouviu uma mulher estúpida falando sobre algo que nunca estudou. A perspectiva feminina média só é alguns centímetros de altura menor que a masculina. Mediocridade é mediocridade em qualquer lugar.

Uma diferença considerável é a capacidade de gerar novas vidas. Mas, vem cá… a mulher não escolheu fazer isso, né? Ter um útero não foi uma escolha consciente. É algo que apareceu lá. A mecânica da coisa força as mulheres a agirem de forma um pouco diferente, até por causa dos hormônios extras que recebem por causa dessa função biológica, mas não tem nada muito mais complexo do que isso acontecendo. Se um homem tivesse útero, provavelmente receberia cargas parecidas de hormônios e pressão social para agir de forma um pouco menos impulsiva em relação à sua segurança física.

Não é uma escolha racional para elas. A diferença é uma imposição biológica. Tanto que é mesmo complicado definir o que exatamente é comportamento masculino e feminino. Às vezes eu imagino que a mulher média é um homem sem útero e menos músculos. Sim, eu sei que existem algumas diferenças de comportamento, mas o quanto podemos isolar essas diferenças para algo puramente mental? Eu acredito que quase nada. Os corpos ditam muito mais as diferenças do que qualquer ideia “pura”.

Talvez você esteja ficando confuso ou confusa sobre o caminho que estou seguindo aqui, estou só estabelecendo o ponto que mulher não é nada demais, que não precisa desse drama todo para lidar com elas. Porque tanto os “coaches redpill” quando as “manas feministas” parecem ter perdido a noção básica de que mulher é só mais um ser humano. Um ser entre bilhões terrivelmente parecidos.

Movimentos como redpill, mgtow ou mesmo os incels tendem a colocar a mulher num pedestal, para o bem e para o mal. Ou são seres míticos intocáveis e superiores maltratando os pobres homens, ou são demônios poderosos que os atacam o tempo todo. Eu enxergo como supervalorização da mulher média, que é só uma coitada como a maioria de nós. Curiosamente, isso se parece muito com a visão de pessoas muito jovens sobre o sexo oposto: um misto de medo primal da rejeição com desejo desesperado por contato. Tem uma recusa ao amadurecimento aí.

Ao invés de ser só mais uma pessoa que tropeça na rua e fica com dor de barriga, a mulher se torna algo mais do que humano. Claro que não é. E verdade seja dita, tem algum ganho secundário nisso de dizer que mulher é impossível de entender, muitas repetem o discurso. Minha experiência de vida diz que boa parte da diferença percebida entre os sexos está na expressão dos sentimentos. Se você se aprofundar na mente de um homem, vai perceber que ele também é um fodido da cabeça. O Brasil não vende Rivotril feito bala à toa.

E quando algumas dessas mulheres mais bem articuladas resolvem escrever seus artigos para sites lacradores, acabam reforçando essa ideia de “para-humanidade feminina”. Como se precisássemos fazer um curso superior de psicologia feminina para não fazermos tudo errado. Como se houvesse algo mágico dentro da cabeça delas inalcançável para quem não nasceu com um útero. Que bobagem. Se você analisar o código genético de homens e mulheres, a diferença pode passar batida se você não prestar atenção.

Então, nesse Dia da Mulher eu quero levantar a discussão que considero mais saudável para o futuro da humanidade: mulheres são humanos genéricos. Homens são humanos genéricos. Brancos, negros, asiáticos, heterossexuais, transsexuais… humanos genéricos. Quase tudo o que uma pessoa tem de qualidades ou defeitos pode aparecer em qualquer outra categoria de pessoa. Ninguém nasce melhor ou pior. Não à toa, é por isso que detesto a palavra feminismo como descrição de busca por direitos iguais, deveria ter sido humanismo desde o começo.

Existe um problema fundamental na desumanização que acontece dos dois lados da cerca na questão de justiça social. O incel dizendo que mulher não é gente é fácil de perceber como uma bizarrice, mas e as ditas feministas que fazem “desumanização do bem”? Eu realmente acredito que o caminho é baixar a bola e deixar as pessoas serem menos especiais nessas categorias amplas.

Existem mulheres maravilhosas e mulheres horríveis. Não porque ser mulher cria isso, mas porque são humanas. Humanos podem ter todas essas características. Continuo achando um tiro no pé ter um Dia da Mulher, mesmo que a ideia por trás seja algo muito mais válido que celebrar tudo o que é feminino. A data é baseada num protesto de mulheres por condições melhores de trabalho ainda na Rússia dos czares. Não tinha nenhuma frescura de feminilidade, era direito trabalhista mesmo.

Me parece que entre a era de tratar mulher como propriedade e a era de considerar óbvio que elas tenham exatamente os mesmos direitos dos homens, algo perdeu o sentido na nossa cultura. Mulheres começaram a se transformar numa coisa à parte, como se a humanidade fosse masculina e elas fossem seres alienígenas que não são bem tratados. Não tem nada a ver com isso, nunca teve: o principal problema da mulher na sociedade é não ser tratada como um ser humano. Que é o principal problema de todos os outros grupos que existem também.

A pior coisa que pode acontecer com um homem branco heterossexual é não ser tratado como humano, a pior coisa que pode acontecer com uma mulher negra homossexual é não ser tratada como humana. Se a sociedade trata esses grupos diferentes, é claro que precisamos corrigir as coisas, mas sem nunca romantizar as diferenças cosméticas entre pessoas.

Digo isso com todo o amor: fodam-se as mulheres. Não tem nada de especial nelas. Não tem nada de especial em ter testículos, em ter ovários, em ter pele clara ou escura. Mulher é uma subcategoria de humano. E esse mundo tem problemas terríveis com seres humanos não recebendo os seus direitos básicos. Enquanto tivemos gente escravizada, do que diabos estamos falando em questão de justiça social? Representatividade em filmes de Hollywood? Vão à merda.

A gente nem começou a levar humanismo a sério, o feminismo não tem a menor chance ainda. E me espanta que a sociedade moderna tenha avançado tanto e ainda estejamos comemorando Dia da Mulher como se mulher fosse algo especial por ser… mulher. Eu conheço mulheres muito especiais, e elas são assim por uma combinação de fatores que… adivinha só: não tem obrigatoriedade nenhuma de serem características femininas. Para atração sexual algumas coisas específicas contam, e muito, mas para aferir valor como ser humano? Não, não tem nada que não possa ser visto em homens ou qualquer outra combinação psicológica ou genética entre os dois polos.

Só precisa ser humano para ter algum valor como humano. O cidadão do redpill vem te dizer para tirar a mulher do pedestal, mas continua achando que ela é um monstro perigoso que vai destruir sua vida se você não tomar cuidado. Pode ser que sim, pode ser que não, é só uma pessoa. E a feministona dizendo que homens não entendem o sacrifício que vivem precisam ir trocar um pneu para pararem de perder tempo com essa punhetação ideológica.

Toda vez que você ficar tentado a achar algum ser humano especial e intocável, imagine a pessoa fazendo força no banheiro para cagar. É só isso que a gente é quando estamos falando de categorias genéricas como sexos, raças, religiões… um bando de gente que faz careta quando precisa fazer cocô.

Indivíduos podem ser especiais, indivíduos podem ser amados e odiados. Grupos não. Então, foda-se o Dia da Mulher, a média é tão genérica como qualquer outra média humana de tamanho considerável. A única coisa que eu desejo para as mulheres é a coisa que eu desejo para os seres humanos: que seus direitos básicos sejam respeitados.

Para dizer que finalmente alguém fez uma homenagem decente, para dizer que eu não tenho lugar de fala, ou mesmo para mandar um foda-se o Dia da Mulher também: somir@desfavor.com

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Comments (16)

  • Kkkkkkk foda-se tudo e todas, foda-se essa babaquice de dia internacional da mulher e blá blá blá. Amei o texto super concordo com tudo

  • Rindo até 2024 kkkkk, foda se as mulheres kkkkk com muito amor , tanta coisa pra se preocupar esse povo vem com falsidade de parabéns pelo dia da mulher,mor bobeira tudo isso,na verdade não passa de hipocrisia.super concordo com vc Foda se tudo e todos

  • A data em si é irrelevante, eu mesma sou mulher e não ligo de forma alguma pra ela. Acho até esquisito quando ganho felicitações por causa da data. A questão não é a data. Nem o fato de sermos especiais, ninguém é. O que ainda precisa ser modificado, em relação à mulher no Brasil:

    – Os altíssimos índices de feminicídio e violência doméstica praticados, cometidos por homens que ainda acham que mulheres são sua posse. Homens morrem? Claro. São assassinados? Também. Mas é inegável que a prevalência da prática de assassinato e violência passional é muito superior de homens comparativamente às mulheres (Fonte: https://educa.ibge.gov.br/jovens/materias-especiais/21241-indicadores-sociais-das-mulheres-no-brasil.html). Esse tipo de crime, infelizmente, justifica a manutenção de leis que visam a proteção da integridade física e psicológica da mulher. O mesmo ocorre em relação aos estupros praticados por terceiros – eu não tenho medo de andar na rua por poder ser assaltada, mas principalmente por ser estuprada e/ou violentada. Esse medo não é tão comum em homens.
    – Jornada dupla de trabalho. Assim, como no seu argumento, não somos especiais por termos a capacidade de gerar filhos (e com razão), o mesmo argumento deve ser aplicado ao fato do consenso social que existe que a mulher tem o “dom natural da maternidade”, o dom do “cuidado com a casa e dos filhos”, e o fato da ausência paterna ser normalizada (principalmente em casos de pais separados, quando a figura masculina muitas vezes acredita que está sendo “explorada” por pagar uma mísera pensão de aproximadamente R$ 400 (baseado no salário mínimo – valor que mal dá para sustentar a alimentação da criança, dado a inflação atual, quando muitas vezes a pensão não é nem mesmo paga) enquanto a mulher deve, necessariamente, assumir a maior parte da obrigação da criação dos filhos e dos cuidados domésticos, além de necessitar também da renda de seu trabalho para a criação da criança e para seu próprio sustento, gerando a dupla jornada de trabalho (Fonte: https://educa.ibge.gov.br/jovens/materias-especiais/materias-especiais/20453-estatisticas-de-genero-indicadores-sociais-das-mulheres-no-brasil.html#subtitulo-3 – a qual nem mesmo é tão necessária, basta ver ao redor a estrutura da maior parte das famílias de baixa/média renda). Já contrapondo o argumento de que o “homem é o responsável pelo sustento da casa”, enquanto a mulher é “pelos afazeres domésticos e criação dos filhos”; se nenhum de nós é de fato especial (o que é verdade), porque não dividir essas responsabilidades igualmente? Tanto a responsabilidade do trabalho gerador de renda, quanto a responsabilidade da execução de atividades domésticas? A mulher conseguiu a igualdade de direito de poder trabalhar (felizmente), de exercer sua intelectualidade, porém ainda existe o estigma social de que ela é única responsável pela manutenção da estrutura familiar. E não precisa ser “redpill” para que homens pensaem dessa forma, novamente, basta ver o número de famílias com estrutura semelhante. E muitas vezes isso nem é discutido nem “imposto” por ninguém, o homem silenciosamente se ausenta de seu papel dentro de casa.

    Existem coisas que homens, infelizmente, ainda não enxergam – muitos nunca nem repararam quando a própria mãe era submetida à tentativas de violência ou o quanto ela trabalhava, de forma exaustiva, para manter a própria família, os filhos e a casa funcionando. Por essas e outras que me recuso a ter filhos – preciso também trabalhar para ter minha renda, mas sei que provavelmente não terei a responsabilidade de criação da criança igualmente dividida com o pai. E isso não é algo que se descobre na fase do “namoro”, como se esta fosse a fácil solução das futuras desigualdades familiares; infelizmente é algo socialmente perpetuado e visto como natural até os dias de hoje.

    • Eu nem estou discutindo que esses problemas existam, porque existem. A análise que eu faço é sobre a raiz desses problemas e as formas como parecemos querer resolver eles. São problemas humanos que tem menor prevalência em humanos que recebem níveis mais elevados de educação e exemplos durante a vida. Violência e falta de agência sobre a própria vida atingem desproporcionalmente pessoas mais pobres e ignorantes. A mulher mais que mais sofre em média tem esse ponto em comum que o homem que mais sofre em média.

      Não se corrige os problemas de um sem corrigir os problemas do outro. Homens e mulheres são categorias tão gigantescas da humanidade que basicamente todas as outras subdivisões são mais válidas para tirar conclusões sobre seus comportamentos, qualidades e defeitos. E nenhuma dessas subdivisões são mais impactantes que a combinação específica que faz aquele indivíduo.

      Culpar homens ou culpar mulheres me parece uma tentativa inútil de resolver qualquer coisa. São aproximadamente 4 bilhões para cada lado.

  • Belo texto. Eu aceito as felicitações por educação, mas já tem anos que acho essa data uma verdadeira bobice.

    • Pois eu conheço uma meia dúzia de chatonildas que ficam putíssimas se ninguém lhes diz nada como homenagem nesse dia…

  • Sou mulher e odeio essa data. Não precisava mesmo. Num dia você faz homenagens, faz um discurso bonito, dá florzinha e chocolatinho, e no resto do ano você sacaneia, paga menos, explora e dá porrada. Tá jóia.

  • Feliz dia de todos nós

    Belíssimo texto.
    Adorei.
    Acordei e meu marido disse: feliz dia das mulheres! Ja olhei torto e como todos os anos respondi: todo dia é dia das mulheres!
    Acho que ele diz de propósito porque ri antes de eu começar a frase,
    todo dia 8/3 eh o mesmo papo.
    Desejar um Feliz dia das mulheres nos diminui, nos torna dondocas e nos fragiliza,
    enquanto muitas de nós matamos 1 leao por dia.
    Eu mato 1 leao por dia.

  • Saudade do Somir raiz com essas opiniões pra lá de polêmicas e que machucam e incomodam muita gente… Surta mais, Somir! haha
    Uma pena que esse é mais um texto daqueles que, dado o mundo polarizado como está hoje, será compreendido por poucos…

  • Deixa elas serem felizes, cara! No meu trampo deram chocolate, rosa etc. Mulher é muito melhor que homem. Homem não vive sem mulher! Eu gosto muito, mas se o cara curte macho musculoso tem gosto pra tudo, melhor que sobra mais pra mim.

  • Excelente texto. Resume bastante o quanto sinto nada por datas comemorativas em geral: nada especial, zero necessidade.

    Já temos a Declaração Universal dos Direitos Humanos e, a meu ver, isso já é bastante. Para quê criar tanto movimento de “representatividade” ou de “redpill” que, no fim, apenas alimentam o ego de pessoas de um dado nicho social e contribuem apenas para polarização?

  • O mundo só vai conhecer a paz quando todo mundo parar de fingir que se gosta e começar a fazer o bem coletivo não por “amor ao próximo”, mas por puro senso de organização e ordem, como parece ser o caso do leste asiático. Lá ninguém vale nada pra ninguém, vide o nível do bullying e o número de suicídios, mas todos mantêm a ordem pelo simples prazer de ver tudo limpo, seguro e funcional.

    Ficar forçando amizade e tolerância só causa o efeito contrário.

  • Ser colocada num altar e tratada como uma deusa ou uma santa também é desumanização, no fim das contas. Mas especialmente quando se é jovem a gente leva muito tempo pra perceber isso

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