Transtorno de Personalidade Narcisista

São pessoas que possuem uma forma diferente de pensar, sentir, agir, interagir e de perceber no mundo, sempre focado nelas mesmas, em sua grandiosidade e em sua superioridade. Se acham melhores, importantes, merecedoras de adulação e não admitem crítica ou não ser o centro das atenções. Todo mundo conhece alguém assim, o que nem sempre se sabe é não se trata de um jeito de ser, e sim de uma doença devidamente reconhecida e catalogada. Desfavor Explica: Transtorno de Personalidade Narcisista – TPN.

O nome vem da mitologia grega. Narciso era filho de um deus (Cefiso) e uma ninfa (Liríope) e era conhecido por sua beleza e arrogância. Muitos se apaixonaram por ele, mas ele desprezava e humilhava a todos. As pessoas desprezadas pediram aos deuses para ensinar uma lição a Narciso.

Então, a deusa Afrodite condenou-o a se apaixonar por ele mesmo: quando Narciso viu seu reflexo em um lago, ficou paralisado se contemplando, definhando até a morte. Depois que ele morreu, Afrodite o transformou em uma flor que ganhou o mesmo nome. Então, o mito de Narciso nos diz, basicamente, que excesso de vaidade acaba mal.

Assim como fazem com outros transtornos, o Transtorno de Personalidade Narcisista é banalizado e atribuído a qualquer pessoa mais vaidosa, ególatra, desesperada por atenção. Mas, é preciso muito mais do que isso para configurar o problema.

O traço que costuma ser mais percebido é a importância exagerada que a pessoa se dá e como ela espera que todos a tratem de acordo com esse autoconceito tão elevado que ela tem de si mesma. Essa sensação se superioridade é a marca registrada: a pessoa sabe tudo, a pessoa é melhor em tudo, a pessoa superestima suas habilidades e exagera nas suas realizações e quer que todos vejam quão foda ela é. São especiais, superiores, originais, geniais.

Isso pode se traduzir de várias formas. Por exemplo, a pessoa que se sente afrontada quando é tratada como todas as outras: não lhe permitem que fure fila, não lhe dão privilégios, não lhe dão tratamento especial. “Eu exijo falar com o gerente!”, afinal, ela não qualquer uma, ela só fala com superiores como ela. Quando tratada de forma normal, a pessoa reage mal, toma isso como um desaforo, como uma afronta de quem o faz. Ser igual aos outros é ofensivo.

Mas isso também pode ser externado em uma necessidade enorme de se diferenciar dos outros: “vejam como eu sou diferente, vejam como eu sou especial”. Daí a pessoa faz coisas que os outros não costumam fazer, geralmente de forma pública, para mostrar como é especial. Pode ser pintar o cabelo de uma cor chamativa, pode ser quebrar algum recorde mundial, pode ser se dizer ser detentor de alguma verdade que os outros desconhecem, pode ser qualquer coisa que chame a atenção e que a diferencie do resto.

Há uma necessidade patológica de ser visto e tratado como especial e, em alguns casos, de ser obedecido também, afinal, a pessoa é superior, ela deve guiar os outros. Podem ficar agressivos quando contrariados. Frequentemente tem comportamento arrogante, discriminatório ou insolente. Desmerecem tudo de negativo que lhes é atribuído, não aceitam críticas, atribuem as críticas a fatores externos como inveja, racismo e outros. Eles nunca estão errados. Eles sabem mais do que os outros. Eles são melhores do que os outros.

A pessoa com Transtorno de Personalidade Narcisista quer ser considerada a melhor em tudo, costuma ser altamente competitiva e desmerecer quem ela acha que, de alguma forma, pode ofuscá-la. E, para conseguir ser a melhor (ou parecer ser a melhor) em algo, ela ultrapassa barreiras da ética, bom-senso e até de sua própria segurança.

Não estamos falando apenas da pessoa que dá um puxão de tapete no colega de trabalho para conseguir uma promoção, estamos falando de pessoas que desafiam as leis, até mesmo as leis da natureza – e muitas vezes acabam mal. Mentem, manipulam, cometem crimes, vendem a própria mãe, tudo para parecerem fodas, para serem admiradas, para serem vistas e aplaudidas.

Outro fato importante é a necessidade de poder e controle. Para demonstrar poder a pessoa esquece os limites ou sequer os percebe. Ela se acha tão especial, tão foda, tão inteligente que minimiza os riscos: não usa cinto de segurança, afinal, ela sabe dirigir muito bem, não usa capacete afinal não vai cair da moto, entra em mar que sabe que tem tubarão pois ela entende tudo e vai saber quando um tubarão se aproximar.

Essas pessoas vivem em uma eterna fantasia de poder, de fama, de reconhecimento e sucesso. Não necessariamente fama mundial, muitos se contentam em ser a referência no seu grupo de whatsapp ou na sua rede social, porém outros tem sim um delírio de grandeza que beira o ridículo.

Também vivem uma fantasia de amor onde devem ser adorados e admirados pelos parceiros, o que faz com que, frequentemente, mintam compulsivamente a respeito de si mesmos para impressionar ou escolham pessoas emocionalmente frágeis para se relacionar, que se sujeitarão a dar a adoração que eles procuram para não perder o parceiro.

Não se importam com os sentimentos alheios, não por serem incapazes de empatia, como os psicopatas, mas por não validarem nada que eles não concordem: se eles discordam, então não merece respeito. Eles são os donos da razão, se uma pessoa está sofrendo por algo que eles não concordam, é besteira e não há por que acolher a pessoa. Então, se calhar dela sofrer por algo que o narcisista concorda e se identifica, ele vai se indignar, caso contrário, vai desmerecer e não vai se importar, afinal, tudo é sobre ele. Ele é a referência universal de bom-senso, bom-gosto e razoabilidade.

Curiosamente, a regra é que pessoas narcisistas sejam medíocres. Faz sentido, afinal, se a pessoa precisa o tempo todo se dizer superior ou especial, este é o maior sinal de que ela não o é. Porém são boas de engenharia social: se “vendem” muito bem, convencendo os outros de que são excepcionais e não raro enganam muitas pessoas por um bom tempo.

Uma pessoa inteira, com autoestima boa, não fica perto de um narcisista. Primeiro por serem insuportáveis: ególatras, egoístas, mitômanos e realmente chatos. E normalmente os próprios narcisistas não tem interesse em pessoas inteiras, bem resolvidas, pois elas não compram suas baboseiras, os vêm por aquilo que eles realmente são: uns inseguros que precisam se afirmar através do olhar de terceiros o tempo todo.

Porém, pessoas mais frágeis são presa fácil para o narcisista, que já é um bom manipulador por natureza. Pessoas frágeis acreditam que o narcisista é foda, pior ainda, acabam acreditando que elas são pouco, já que para se sentir cada vez mais superior o narcisista tende a diminuir aqueles que estão à sua volta.

Então, é comum ver narcisistas reagindo muito mal a quem os critica ou até mesmo a quem não os idolatra, estilo “Você tem 24 horas para retirar seu conteúdo sobre mim. Depois disso é processo ou bala. Você escolhe”. Eles criticam os outros sem o menor problema, mas quando a crítica é voltada para eles…

E quando um narcisista se depara com uma situação de fracasso, por menor que seja, seu mundo desaba. Ele reage mal, reage exagerado, tenta esconder, tenta distorcer, tem crises de fúria. O narcisista acha que errar ou fracassar é algo humilhante, e não uma parte normal da vida. É normal para os reles mortais como nós, para seres superiores como eles não. Ele não fracassa, a culpa é sempre do outro.

Por isso é muito comum ver narcisistas evitando (de forma camuflada, é óbvio) situações onde possam fracassar. A dor de ter o ego ferido é insuportável para eles, a menos que consigam reescrever a história e se convencerem (e convencerem o resto) de que não foi um fracasso, eles quiseram desistir pois aquilo não estava à altura da sua grandiosidade ou outra pessoa foi a responsável pelo fracasso.

E, que fique claro, não estamos falando apenas de realizações profissionais. A afirmação de um narcisista não necessariamente vem do seu sucesso profissional, ele pode, por exemplo, querer ser reconhecido por uma beleza avassaladora, uma riqueza imensa, uma capacidade gigante de conquistas amorosas, uma inteligência espetacular, poder, prestígio, influência e muito mais, inclusive, muita mulher narcisista adora ser reconhecida como super-mãe, posando como mãe perfeita em público e em redes sociais.

Não se sabe muito bem o que contribui para o TPN, não há estudos suficientes para entender completamente sua origem. Sabe-se que existe um componente hereditário significativo, ou seja, passa de pai/mãe para filhos. Acredita-se que uma combinação de fatores ambientais, sociais, genéticos e neurobiológicos combinados acabem gerando o transtorno.

Estima-se que pelo menos 1% da população tenha Transtorno de Personalidade Narcisista, provavelmente mais, uma vez que dificilmente o narcisista acha que tem um problema e procura um médico para pedir ajuda. Geralmente, quando o narcisista procura por ajuda, o faz por causa de uma comorbidade, como depressão, distúrbio alimentar, vício em drogas, alcoolismo ou vários outros transtornos que comumente coexistem com o TPN. O narcisismo acaba sendo percebido pelo médico, ao tratar o problema secundário.

O diagnóstico é clínico, ou seja, é feito através da observação do médico, ao conversar com o paciente em com pessoas próximas ao paciente. Não existe um medicamento para tratar o TPN, o tratamento é basicamente psicoterapia.

Os psicólogos e psiquiatras provavelmente não vão te dizer isso (acho até que seria antiético), mas, cá entre nós, a pessoa sempre vai ser doente, pois é uma doença para a qual não existe cura. Por mais que melhores um pouquinho aqui, outro pouquinho ali, ela sempre terá um transtorno, então, se houver a possibilidade de pular fora dessa relação (qualquer que ela seja) eu recomendo. Não aposte todas as suas fichas em um tratamento e em uma cura, ela não virá.

Pela subjetividade (o narcisista conta ao médico o que quer), muitas vezes o Transtorno de Personalidade Narcisista é confundida com outras doenças, como bipolaridade, até por ser bastante comum narcisistas terem depressão, portanto, alternarem altos e baixos.

A chave para diferenciar o TPN de qualquer outra doença é que nela, predomina a necessidade constante de ser superior aos outros, que é o que motiva os atos do narcisista. O que quer que ele faça, é para mostrar como é superior e ser admirado. É isso que o move, essa certeza de ser superior. Inclusive de forma negativa: seus rompantes e mudanças de humor se originam de situações em que sua superioridade é questionada.

Em uma convivência superficial, por exemplo, relação cordial de trabalho, é mais difícil identificar um narcisista, a menos que seja um caso extremo, como o da mãe do menino Henry. Seu filho foi brutalmente assassinado por seu namorado e a mulher foi ao salão fazer o cabelo antes do velório. Se você é mãe, me responda: se seu filho fosse brutalmente assinado pelo seu parceiro, você teria alguma preocupação com seu cabelo? A prioridade dela era estar linda para um velório onde sabia que seria fotografada pela mídia.

Quando o caso não é tão grotesco, os sinais que você pode observar para detectar um narcisista são mais sutis. Sabe aquela pessoa que tudo é sobre ela? Você conta que caiu e quebrou um dedo e ela diz “pior eu que já quebrei as duas mãos”? Essa pessoa que compete até em desgraça é forte candidata a TPN. Pessoas que não admitem ser contrariadas, pessoas que fazem qualquer assunto sobre elas, pessoas que tem projetos megalomaníacos, que se acham líderes, que buscam sempre por atenção, podem ter TPN.

Também é importante lembrar que o narcisismo pode se manifestar de diferentes maneiras, em diferentes áreas. O sentimento de superioridade nem sempre vem acompanhado de agressividade. Alguns explodem quando confrontados, outros se fazem de vítimas e jogam a culpa em terceiros.

No que diz respeito à manipulação, podem agir de diferentes formas. Por isso o transtorno é dividido por alguns em subcategorias. Se quiserem, tem uma divisão bem clara e explicativa aqui. Existem narcisistas mais dramáticos, outros mais agressivos, outros mais extrovertidos. Mas todos eles têm uma coisa em comum: se acham mais importantes do que são e demandam adoração e tratamento especial de quem os cerca.

E, nunca é demais lembrar que, quando falamos em transtornos de personalidade, todos nós temos um pouco de cada, em menor grau. Um traço narcisista não significa necessariamente um problema.

O problema ocorre, neste e em qualquer transtorno, quando ele impacta a vida, a funcionalidade e os relacionamentos da pessoa. Se a pessoa frequentemente tem problemas no trabalho, não consegue construir uma carreira, não consegue manter um relacionamentos saudável (ênfase no “saudável”), se coloca em risco ou causa danos significativos a si mesmo e/ou aos outros, aí sim ela precisa de ajuda. O problema é que a pessoa narcisista admita isso. A culpa é sempre dos outros, nunca dela.

Infelizmente a sociedade atual parece encorajar o comportamento narcisista. Então, muitas vezes, os problemas acabam sendo vistos como qualidades: “liderança”, “autoestima”, “confiança”, “ambição” e outros adjetivos positivos mascaram pessoas egoístas, escrotas e delirantes. O brasileiro adora dar poder a narcisistas. O clássico “você sabe com quem você está falando?”, carteirada padrão, quase sempre usada por pessoas que não são tão importantes quanto se acham, é um belo exemplo de comportamento narcisista.

A coisa fica mais cruel quando pensamos e mães narcisistas, algo muito mais comum do que se imagina (e menos diagnosticado também). No contexto atual, ser mãe ainda é considerado uma grande realização para uma mulher, o que leva a mulher narcisistas a fazerem questão de ter filhos. Inclusive o argumento de “deixar sua marca no mundo” ou “dar continuidade a sua linhagem” são típicos de narcisista. Quem se acha assim tão importante?

Quem sofre são as crianças, coitadas. Talvez, ser criado por uma mãe narcisista seja um dos maiores danos que uma criança pode sofrer, quando falamos de violência psicológica. Nada será sobre ela, enquanto a mãe posa de “super-mãe” em público, no privado criará crianças como emocional destruído e sem autoestima. A boa notícia é: a criança pode se recuperar no futuro, com muita terapia, quando compreender que sua mãe era uma pessoa doente.

Assim como existem deficiência físicas, também existem pessoas deficientes emocionais. Assim como um paraplégico não pode correr mesmo que queira, uma pessoa com uma deficiência emocional também não pode dar certos tipos de afeto. Na cabeça de uma criança isso repercute mal, pois ela acaba não se achando merecedora disso, mas, quando adulta, a pessoa consegue entender que uma deficiência gerou aquele comportamento e dar a volta por cima, se assim o quiser e se fizer por onde conseguir.

Então, se esse é o seu caso, se você foi criado por uma mãe narcisista, ela não tem possibilidade de cura, mas você sim. Terapia, reconstrução e perdão. Não dá para culpar alguém por ter uma doença, certo? Se a pessoa ainda te faz mal, se afasta. Compreenda que não é culpa sua e deixe ir raiva, mágoas e ressentimento. A vida só melhora quando se vira essa página.

Normalmente os sintomas de TPN começam a aparecer na adolescência ou no início da vida adulta e podem se acentuar com o passar do tempo. São pessoas muito hábeis, aprendem a camuflar sintomas e a convencer os outros de que são perseguidas e criticadas sem fundamento. Dependendo do meio que a pessoa frequente, ela pode de fato enganar a todos por muito tempo, fazendo com que as pessoas pensem que sua superioridade é real e não um transtorno. A coisa que a gente mais vê é coach, guru e subcelebridade com Transtorno de Personalidade Narcisista.

Por isso, fica aqui meu apelo: fuja como o diabo da cruz de alguém que se diga superior a você em algo. Alguém que vai te “ensinar” “a verdade”. Alguém que se coloca em um patamar acima de você, no sentido de se sentir apto para mandar em você. Guru, coach, propagadores de teorias da conspiração, líderes religiosos… Uma pessoa bem-resolvida faz o seu, não precisa bater na porta de ninguém para lhe dizer como viver a sua vida, muito menos cobrando para isso.

Talvez se a sociedade parar de recompensar e aplaudir narcisistas, essas pessoas se vejam obrigadas a procurar ajuda, pois não terão mais o reconhecimento social que tanto precisam. Faça sua parte, não alimente o narcisista.

Para contar sobre sua mãe narcisista, para comentar sobre algum famoso narcisista ou ainda para me acusar de ser narcisista após 15 anos de anonimato e gratuidade: sally@desfavor.com

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Comments (18)

  • Minha mãe é narcisista e uma das coisas mais dificeis é se afastar completamente e sair desse ciclo de violência, que no meu caso foi mais do que só psicológica…com quase 40 anos ainda sou a filha ruim por ter escolhido meu pai na adolescencia. Mesmo fazendo terapia há anos sempre existe um sentimento de culpa, inadequação; e se perdoar por coisas que vc não fez ou tinha controle é díficil pra caramba
    Há anos mantenho contato mínimo, inclusive com meus irmãos que não tinham pai presente e viraram adultos bem sucedidos profissionalmente mas pessoas lixo por terem ela como única referência de família

    • Você tem que se perdoar por ter acreditado que era as coisas que ela dizia que você era, só isso. De resto, é entender que é uma pessoa doente, que não escolheu ser assim e que não tem muita possibilidade de mudar. Não que isso justifique aturar abusos, o mais sensato de fato é se afastar, mas ajuda a compreender que você foi vítima disso não por ter feito por merecer e sim por uma doença que a pessoa tem.

  • Some narcisismo com tendências violentas e fundamentalismo religioso que você tem a receita do desastre. Minha mãe nunca foi diagnosticada, mas as características batem.
    Não é o caso de explanar sobre meus irmãos, mas coisas como ser forçada a usar a mão direita e interromper meu horário de estudos pra rezar eram minha rotina. Isso em pleno século 21, anos 2000~2010. Até hoje me pego me policiando pra não usar a mão esquerda, é bizarro.

  • Minha mãe tem esse transtorno. Atos já tá num nível extremo mesmo, psicose, já quebrou com a realidade e viver num museu da fantasia total. Não vou descrever páginas aqui de comentários com todo o show de horrores que é conviver com uma pessoa dessas, mas… Só digo, quanto antes se afastar, melhor! Pelo bem da tua saúde mental, pela tua integridade e por mais que doa.

    Chegou um tempo na vida assim que eu decidi que só resta apenas aceitar, sabe? Não há o que fazer, qualquer tentativa iva de lutar contra seria murro em ponta de faca. É isso, e vida que segue, do jeito que dá. Precisei de muita terapia também pra chegar a isso e pra entender que minha mãe é só mais um ser… Doente… E incurável.

    • Você não gostaria de fazer um desfavor convidado sobre ela para que possamos saber como é uma narcisista na prática?

    • Escrevi o comentário na pressa no celular, nem vi os erros…

      Agora já tá numa fase… Vive num mundo de fantasia…

      Vamos lá, eu não sei se chega a dar um texto inteiro, mas posso descrever algumas situações que ilustram bem como é essa convivência:

      Uma vez, isso foi há muito tempo atrás, eu estava na morando sozinho em outra cidade, eu havia feito um desabafo pelo whatts pra minha própria mãe, mandei áudios longos etc e ela simplesmente, ao invés de me dar alguma palavra de consolo, simplesmente ignorou tudo, não falou um A a respeito, e teve a capacidade de vir me pedir dinheiro, acredita? Esse é o nível da pessoa, ela não tem noção da dor alheia, não está nem aí. Só quer saber de si mesma.

      Outra vez, estávamos nos na recepção de uma clínica esperando ser chamado pelo médico, e eu chamei atenção dela por estar incomodando as outras pessoas ao redor, já que estava fazendo muito barulho com o celular, falando alto e ainda no viva voz!

      Eu havia comentado, mãe, se toca! Não está vendo que há uma TV no ambiente? Supostamente, o barulho deveria ser ambiente também, né? E o barulho alheio produzido não deveria ultrapassar o som daquela TV, mas não… Velho e teimoso, já viu! (ela nem é tão velha assim, é sem noção mesmo!).

      Falei pra ela que ela deveria de tocar, que conversas extremamente particulares ela deveria deixar pra outro momento, que não era pra dar bobeira, porque nunca se sabe se o inimigo mora ao lado, ou se vão usar aquela informação contra ela mesma (nesse ponto ela sempre diz que é protegida por Deus, arcanjo Miguel tá cuidando, nada acontece com ela, ata…), e acrescentei também que, se fosse muito urgente, ela que usasse fones de ouvido (ela retruca sempre que incomoda usá-los), ou ela que vá para um lugar reservado, vá para a escada, elevador sozinha, ou mesmo pra rua pra falar o que ela queria tanto falar e que era extremamente pessoal.

      Na ocasião, eu só comentei, de bom tom, educadamente, e bastou isso pra ela fazer um escândalo, um show a parte, dizer que ahh me deixa, porque eu sou eu, porque tô nem aí para os outros (ela nunca está rs), porque não liga pra opinião dos outros, ninguém cuida da minha vida, e que eu sou um chato da capital, cheio de frescuras e não me toques, que essa mania de ser discreto só faz eu ser apagado, não ter brilho próprio, bla bla bla… E que, no fim das contas, ela precisava resolver aquilo urgentemente, porque ela era importante, e aparentemente só o problema dela é o que importa, afinal, “tô pagando”, então vai ter que me aguentar dando xilique e fazendo barraco na rua, porque “é meu direito” e assim vai…

      Minha mãe também não suporta ser contrariada. Faz a cagada, sobra para os outros, mas vira bicho quando alguém mete o dedo na ferida.

      Em vários outros momentos eu já havia alertado a ela, em relação a financeiro, que tal coisa não iria dar boa, ela contra argumentando e dizendo que, calma, tenha fé (tudo pra ela é uma questão de ter fé no sobrenatural), porque Deus vai dar um jeito, não sei o que e… No fim, quebra a cara.

      Tem outras questões mais a fundo também, envolvendo família: numa família italiana, com muitos irmãos, ela tem uma carência enorme e mal resolvida, e se acha a especial, a preferida de todos os outros 10 irmãos. É muito apegada ao meu avô, mas tem sérios problemas com a minha avó, uma relação 8 ou 80: posta foto em rede social deles dizendo “minhas raízes, amo minha mãe”, não sei o que, mas no dia seguinte já está falando horrores da vó, e dizendo que, no fundo, minha vó tem inveja dela. Tem base uma mãe sentir inveja da filha? Bem, já vi raros casos, mas ojha… Pra ela de achar tão especial assim, haja Freud se revirando no túmulo, viu?

      Mais do que isso, minha mãe se acha especial também no quesito propósito de vida. Aparentemente, ela passou por alguma depressão profunda que supostamente a fez perder o propósito de vida, mas enfim… O fato narcisista é que ela se acha uma “escolhida” por Deus ou por qqr entidade sobrenatural pra “servir”, seja a quem for, custe o que custar. O que ela não compreende nem um pouco é que essa suposta caridade que ela faz tem um preço, que é o preço da carência projetada dela, além do enorme desejo de querer aparecer pros outros, se dizer especial, se sentir especial e ser bajulada pelos outros, vista como a pessoa que ama os animais e que ajuda aos outros sem esperar nada em troca. (o que ela espera, na verdade, é que os outros banquem ela financeiramente bem na base do “ahh uma mão lava a outra”, se eu tô castrando teu animal de graça, tu tens a obrigação de me dar seu lá o que…)

      Assim é uma pessoa narcisista. Não pensa nos outros, supostamente diz ou finge que pensa, mas não. Só age por conveniência e tudo que importa é o desejo dela, da forma dela, a vontade dela, custe o que custar. É cruel, é doentio conviver com uma pessoa dessas.

    • Depois que minha mãe morreu, eu senti um alívio tão grande que até bateu uma culpa.
      Porque de um lado é a pessoa que te dá casa e comida e às vezes alguns presentes, do outro é a pessoa que te agride de todas as formas possíveis. Mas vida que segue…

  • Lendo a descrição das caracterísitcas de uma pessoa com Transtono de Personalidade Narcisita, me lembrei do ex-jogador Heleno de Freitas, o primeiro “craque-problema” do futebol brasileiro. Não tenho idade para tê-lo visto jogar, claro, mas, como fã do futebol da velha guarda, eu já li algumas coisas a respeito desse ídolo do Botafogo nos anos 40, que era genial e genioso. Ao contrário da maioria dos jogadores, Heleno vinha de uma família abastada e influente e formou-se em Direito. Também era mulherengo, boêmio e galã, com uma aparência comparável à de ninguém menos que Rodolfo Valentino, um “latin lover” histórico do cinema na década de 20. Não restaram muitas imagens filmadas do outrora famossísimo Heleno de Freitas, mas seus contemporâneos contam que não tinha a mínima paciência com os colegas quando erravam chutes e passes, chegando a interromper colericamente treinos e às vezes até partidas, para dar-lhes as descomposturas mais humilhantes. O “Príncipe Maldito” também era o terror dos adversários, tanto pelo que fazia com a bola nos pés quanto pelas provocações e os quebra-paus homéricos e constantes. Colecionava inimigos e expulsões de campo. Boa-pinta e garanhão, mas também irritadiço, obcecado pela perfeição, briguento e petulante para peitar técnicos e dirigentes – com os quais quase chegava às “vias de fato” com freqüência – , ganhou de seus detratores o apelido de “Gilda”, em referência a uma personagem de personalidade semelhante à sua própria interpretada pela atriz Rita Hayworth em filme homônimo. Tal alcunha o deixava possesso! Heleno morreu antes de completar 40 anos de idade, siflítico e louco, internado em um hospício em Barbacena-MG. Foi interpretado por Rodrigo Santoro em uma boa cinebiografia lançada em 2012 e baseada no livro “Nunca Houve Um Homem Como Heleno”.

    • O trecho no qual você citou o hospício em Barbacena-MG me fez lembrar do livro “Holocausto brasileiro” que fala sobre esse lugar. Era horrível. Imagino o triste fim que esse jogador teve.

  • Narcisistas anônimos

    Eu identifiquei que tenho traços narcisistas, todo dia me policio para tentar não ser uma pessoa tóxica para os que convivem comigo.

    • Traços todos nós temos, não é nada com que você deva se preocupar.
      A preocupação vem quando estas atitudes efetivamente prejudicam sua vida, dificultam relacionamentos (qualquer tipo: familiar, amoroso, trabalho…) e frequentemente causam sofrimento a terceiros.

  • O assustador é perceber que tanto pessoas com TPN quanto psicopatas aparecem em porcentagem muito superior à observada na população geral em posições de comando – como chefes em empresas e também políticos, chefes de estado. Existem artigos científicos sobre essa questão, e parece que, entre outros traços, a total falta de empatia dessas pessoas as ajuda a tomar decisões impactando a vida de centenas – milhões de seres, e que fariam uma pessoa normal se destruir emocionalmente, como se nada.

    • No caso do Brasil, eu acho que existe uma valorização dos “atributos” dessas pessoas. Há uma grande confusão sobre o que é ser um bom líder em um país nascido e criado na escravidão, na chibata, na brutalidade. O brasileiro tende a achar foda uma pessoa agressiva, impositiva, ambiciosa (que pensa só no seu bem-estar). Quem pensa na coletividade, quem se importa com algo além do seu umbigo, quem não é agressivo, é visto como mole, como bobo, como pessoa sem liderança. Taí o resultado, as bostas de líderes que o país tem, seja na política, seja coach seja empregador.

  • Por isso tenho pé atrás com idosos abandonados, vai saber que tipo de pais e mães eles foram.
    Se você cuida bem os seus filhos, eles vão cuidar bem de você.

    • Nem sempre. Quem dera fosse assim…
      Tem muito filho ingrato, egoísta e sem empatia. Nem sempre é preciso um transtorno psiquiátrico, tem gente que é apenas escrota.

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