Fim da aliança.

Bagagem volta a ser tema aqui no desfavor. Na imensa maioria dos relacionamentos que duram o suficiente, o casal acaba com uma aliança. Mas relacionamentos terminam… e a aliança fica. Quando chega a hora de conviver com uma nova pessoa, Sally e Somir discordam sobre o destino dela. Os impopulares apontam o dedo para sua solução.

Tema de hoje: é exigível pedir que seu parceiro(a) jogue fora a aliança do relacionamento anterior?

SOMIR

Sim, é uma exigência plausível. Podem me chamar do que quiser, mas não de incoerente: quem acha razoável exigir que se jogue fora os presentes com certeza seguiria essa linha na aliança. Mas aliança tem seu agravante, apesar de eu achar bem babaca, é um símbolo praticamente universal de um relacionamento entre duas pessoas. Essa porra precisa ser levada para o resto da vida? Não bastam as memórias?

Eu acho exigível até mesmo na medida de ser um ato tão pequeno e simples de se realizar que soa estranha a resistência. É só jogar fora uma coisa que não se usa. Parece até que está mandando o Frodo invadir a Montanha de Perdição para se desfazer do anel! Não precisa enfrentar orcs para isso, basta esticar o braço e jogar no lixo. Qual a dificuldade? Pensemos assim: é exigível pedir que seu parceiro(a) estique o braço e jogue no lixo algo que não usa e nunca vai usar mais?

Duro é exigir da pessoa algo que lhe é violento ou perigoso. Mas só isso? Vai impactar a qualidade de vida exatamente como? Pode-se argumentar que é ouro, um metal precioso. Mas, a não ser que você tenha uns cinquenta metros de altura, dificilmente a quantidade do metal vai ser suficiente para fazer alguma diferença em sua vida quando vendida. Tá, se você morar na rua e qualquer dinheiro ajudar a salvar sua vida, eu concedo o ponto de não ser exigível, mas… nosso foco aqui não são mendigos, certo? Para uma pessoa com um mínimo de segurança financeira na vida, não serão algumas poucas gramas de ouro (e olha que muitas são só folheadas…) que vão fazer diferença.

Se o seu ex te deu uma barra de ouro – que segundo o Silvio Santos vale mais do que dinheiro – eu até entendo uma certa cara feia na hora de conceder o desejo de quem te pediu para jogar fora… mas um anel? Parece uma tempestade num copo d’água. Minto, tempestade num dedal d’água. Eu pessoalmente não teria nenhum problema em fazer isso, mesmo que tivesse um diamante na aliança (até porque homem com aliança de diamante seria muito gay…). Aceito que as pessoas em média são mais apegadas a dinheiro que eu, mas, não precisa forçar tanto a barra assim. É um anel.

Mas eu sei, eu sei… vocês vão me dizer agora que se eu acho tão merda assim, porque exigir jogar fora? Oras, é o ato. O ato é satisfatório e custa tão pouco… eu não pediria para uma mulher se violentar ou humilhar por uma satisfação momentânea, mas jogar fora um pedacinho de metal? Fácil fácil. Tem a diversão de ver a pessoa com quem você quer ficar esnobando totalmente um símbolo de uma relação antiga. Deve sim ser uma mesquinharia se divertir com isso, mas, oras, deixa eu me divertir um pouco. É bacana ser o primeiro lugar e ainda dar uma pisada no segundo, não vou me furtar dessa saborosa escrotidão para ser visto como uma boa pessoa ou mais racional. Até porque racional mesmo é não dar a mínima pra porra nenhuma de ex, ou mesmo fidelidade, para ser honesto. Se eu já estou com os pés na lama da irracionalidade, que pelo menos eu me divirta no processo. Pau no cu do ex, o que puder fazer pra eliminar sua existência da vida da sua atual (que não seja crime ou maldade com sua mulher) é prazer válido.

E outra, é um marco. Um ato com significado. Jogar fora a aliança é jogar fora uma manifestação física do relacionamento anterior. Eu até me aceito babaca pela opinião recente sobre os presentes em geral nesse sentido (não que tenha mudado de ideia, mas é risco calculado entre saber o que é chato de se pedir mas te faz feliz), mas no caso da aliança, fica bem óbvio que a existência dela é resultado direto de um relacionamento. Não é algo que se compra quando dá na telha ou que qualquer outra pessoa possa ter te dado, é um objeto que só existe no contexto de um relacionamento. Trocou de pessoa, joga fora essa merda! Aquilo tinha uma função que não existe mais. Nem era para ter guardado. Pedir para que se jogue fora só é pedir para se fazer o que já deveria ter acontecido. Acabou, acabou.

Se o metal é tão importante assim, eu junto um dinheiro e compro a mesma quantidade para a pessoa. Pronto! Eu fico com a satisfação e a pessoa fica com o que ela valoriza, o metal. Todo mundo feliz. Eu ainda não entendo esse apego todo com objetos… eu gosto das coisas que tenho, não sou hippie, mas, sério que vai ficar se descabelando ou se sentindo injustiçado por se livrar de um objeto meramente decorativo que não pode decorar mais nada? Ou vai continuar usando aliança?

E já que estamos aqui, só vejo mulher achando isso absurdo. Se um homem chega num grupo de amigos se dizendo chateado por ter que jogar fora a aliança de um relacionamento anterior, vai ser chamado de viado pra baixo! Acho que mulher tem um amor especial que eu não consigo compreender por jóias… homem toca o foda-se para uma coisa dessas na hora. Desde quando anel dado por ex é importante assim? Eu sei que a maioria dos homens mudaria de opinião se fosse pra pedir para trocar de carro, mas o assunto dos presentes genéricos já foi. Agora é aliança. E aliança de relação que acabou não vale nada.

As mais espertas podem ser capaz de barganhar aqui: e se derreter o anel e fizer outro? Se a diversão é ver jogando o anel fora, derreter não é a mesma coisa. Soa como burlar uma regra… “tecnicamente eu me livrei dele”. É, mas tecnicamente não tem graça. Não é sobre o objeto, é sobre o ato. Se tirar o ato de jogar fora, acabou a graça. E outra, quem sabe que não está pedindo algo muito racional que adapte-se e tente compensar: ver o ato de jogar fora é tão bacana que vale comprar para a pessoa a mesma quantidade de ouro em troca. Se vai fazer, faz direito.

E se estão me achando inseguro por encanar com isso, ah, que achem. Já aprendi que na vida entre fazer pose para os outros e fazer o que te deixa feliz, é melhor apostar na segunda opção. Evidente que é exigível pedir algo que te faz bem e que não custa basicamente nada para a outra pessoa realizar… sério que alguém acha isso tão aberrante assim?

Para dizer que eu estou morto para você, para dizer que jóia vale mais que qualquer homem, ou mesmo para dizer que de graça não vai concordar comigo: somir@desfavor.com

SALLY

É exigível pedir que seu parceiro(a) jogue fora a aliança do relacionamento anterior?

NÃO! NÃO, CACETE! Vocês estão malucos de jogar OURO fora? Qual é o próximo passo? Rasgar dinheiro ou comer cocô?

Ok, usar uma aliança do relacionamento anterior tal qual ela era, com direito a inscrição do nome, data, amor eterno ou sei lá o que as pessoas convencionais colocam do lado de dentro do anel, é mesmo algo muito indigesto. Eu mesma não suportaria a ideia. Mas ouro pode ser tunado e transformado e outra coisa bacana. Qual é a explicação karmica, espiritual ou cósmica para jogar fora ouro?

Você pode estar pensando: “Mas Sally, é possível vender”. É quase o mesmo que jogar fora! Um anel de uma boa joalheria, com um design exclusivo, feito especialmente para o seu dedo custa caro e o grosso do preço não é a cotação do ouro e sim o valor agregado da peça. O design, a assinatura, os benefícios que a marca te oferece (polir de graça, fazer qualquer manutenção necessária como alargar ou diminuir o tamanho, garantia do ouro e tantos outros).

Vender uma obra de arte como essa pelo valor do seu peso em ouro é cortar três zeros do preço da peça. É como comprar um quadro do Picasso pelo preço da tela em branco. Dói na alma. É deixar alguém te explorar a olhos vistos. Para isso eu prefiro dar esse anel para alguma pessoa querida, que pode “tuná-lo” de modo a que ele não pareça com uma aliança mas também não perca seu valor. Uma aplicação de diamantes no topo ou qualquer outra coisa simples resolve o problema.

Não vejo justificativa plausível para precisar se desfazer do material do anel. O formato eu até concordo, pode e deve ser modificado, mas o material? Quer dizer que se um ex vestiu um moletom seu você tem que se livrar do moletom? Ah, faça-me o favor, o ex fez coisa muito pior com o corpo da pessoa e nem por isso neguinho deixa de usufruir!

Já basta o nonsense do mês passado, de ter que jogar fora presente de ex, agora tem que se livrar de aliança também? Na pior das hipóteses, que vire um brinco ou um colar, algo que nem de longe lembre ao casamento. Se for o caso, misturado com outras peças derretidas, para nem ao menos simbolizar que foi uma aliança um dia e sim um mix de joias não mais utilizadas. Mas porra, jogar fora ouro… eu ainda não cheguei a esse estágio de insanidade de pedir isso para alguém.

Observem que o fato de eu não concordar não quer dizer que eu não faria. Depois dos 30 eu parei de fazer questão de estar certa, hoje eu só faço questão de paz (vulgo, fiquei frouxa). Eventualmente, se uma pessoa muito importante pedisse, eu me livraria de uma aliança (entenda-se, ouro), chorando lágrimas de Kolene, mas faria. Faço para não causar sofrimento em quem me é querido, mas porra, não faz o menor sentido!

Você também pode sugerir a devolução da aliança para o ex. Desculpa, acho que eu não expressei bem meu amor por ouro: nunca odiei alguém o suficiente para devolver joias. As alianças ficam comigo, até como indenização pelo estresse causado. Deu, está dado. É presente. Não devolvo. E, cá entre nós, bem burrinho sugerir isso: contato com ex em um ato de vai coroar uma separação? Não tem coisa que faça uma mulher balançar mais do que ver ex arrependido chorando, pedindo para voltar, se desculpando e dizendo que vai mudar. Boa sorte se você quer plantar esse “e se…” na cabeça da sua mulher.

Será que se uma mulher desse um carro fodástico de presente para o Somir e a nova namorada pedisse para ele se desfazer do carro, ele toparia e ficaria com um carro muito pior comprado por ele? Será que se fosse um apartamento ou uma casa substituíveis por outros piores ou menos confortáveis ele toparia esse decréscimo na qualidade de vida? Não venham me questionar o valor, existem joias, seja anel de noivado, seja aliança de casamento, que valem mais do que um apartamento.

Eu não sei se a justificativa dele vai ser uma papo hippie sobre a “energia” que o objeto conserva ou se vai na base da velha e boa tirania, escola Capitão Bruno, “porque eu quis”. Aposto mais na tirania, mas é de fazer cair o cu da bunda que um querer irracional cause um prejuízo financeiro desse tamanho em alguém.

As coisas só tem a importância que nós damos a elas. É você e sua sanidade mental que escolhem ver um aro de metal como um aro de metal ou como o símbolo do amor infinito de alguém. Obrigada Pai, obrigada Mãe, me criaram para ser uma pessoa racional! Eu vejo apenas um aro de metal! O mesmo não pode ser dito da Madame aqui de cima, que, pasmem, clama para si o título de Rei da Racionalidade. Bem… o rei está nu!

Faz o que quiser com o anel: usa modificado para não parecer que é uma aliança (que eu não quero pagar de amante em público), derrete e faz outra coisa ou enfia no brioco e faz um cinto para as hemorroidas. Não me interessa. É só um aro de metal e ponto final. Mas que cacete de preocupação que as pessoas tem com ex! Se olhassem mais para a própria relação em vez de ficar olhando para fantasmas, teríamos menos divórcios no mundo. Aprendam a deixar as coisas irem.

Supondo que seja um anel bacana, bonito, anatômico, confortável que eu goste… vou ter que me desfazer e nunca mais vou poder usar um modelo igual? Perdi o direito a usar aquele modelo? Ou posso fazer um igual desde que seja com ouro novo, e usar? Não sei o que é pior. Nada faz sentido para mim, tudo me parece dar importância demais a passado. Se o passado não ficar no passado, por mais bizarro e doloroso que seja, o relacionamento vai afundar.

Fazer com que o passado volte para morder a pessoa na bunda é sacanagem, é golpe baixo. O que se consegue com isso é fazer com que a pessoa comece a esconder coisas do passado. Se a pessoa deixou seu passado no passado, bem, sugiro fazer o mesmo, se não você corre o risco de, por insistência, acabar fazendo com que o passado vire presente.

É só um aro de metal. Parem de mimimi.

Para se surpreender com a irracionalidade do Somir, para se surpreender com a minha racionalidade ou ainda para dizer que eu sou duplamente otária por saber que é mimimi e ainda assim acatar: sally@desfavor.com

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Comments (16)

  • Ah, eu ficaria feliz se meu atual pedisse para eu jogar fora a aliança do ex. Ainda mais se ele me desse o dinheiro que ela vale. Mas como mulher não é burra, eu jogava no lixo da casa da minha mãe, para ficar bem claro aos olhos do atual, que até pra minha família eu deixei o ex e é o atual que quero. Então minha mãe pegaria a aliança e vendia.

  • Acho que não se devia exigir isto não. Se é minha é minha e pronto, não importa se o relacionamento permanece ou acabou. Alias, eu ate guardaria como uma lembrança de algo que teve lá seus bons momentos…

    • Fica meu conselho: não se desfaçam de nada de valor por causa da doença mental da cabeça do outro, depois você se fode e ainda fica no prejuízo

  • Se é uma peça baratinha, cujo valor mal chegue a 3 dígitos, não me parece uma grande insanidade. Só parece loucura de fato se ela valer mais que seu carro ou casa – e não faltam joias nessas cifras astronômicas

  • Bem, minha aliança me roubaram quando fui comprar drogas… Mas se ainda estivesse com ela, provavelmente teria vendido já.

    Não sabia que tinha gente que levava isso à sério e dava importância pra isso…

  • Minha mãe ficou tao puta de.raiva do meu pai, que não satisfeita em se separar, ainda queria jogar a aliança no lixo. Eu que peguei e vendi. Aliança é um bagulho caro e brega. Eu nunca usaria e se me separasse ia me desfazer dela e das lembranças ruins.

  • Antes eu era louca, possessiva e acharia exigível. Hoje vejo que ninguém tem o direito de exigir nada de outra pessoa (a não ser que a esteja PAGANDO por aquilo).

    Relacionamentos, são acréscimo, como se os 2 fossem um pacote de expansão um do outro. Para isso funcionar temos que desapegar dessa bagagem que o outro carrega. Aceitem essa bagagem (que dói menos), isso daz parte de quem a pessoa é e voce a ama assim! Parem de querer controlar o incontrolável. Se acha que seu amado ainda ama a ex não vai ser mandar ele jogar tudo dela fora que vai apagar a memória dele.

    Devíamos fazer mais a NOSSA parte. Mostrar o quão interessantes podemos ser, a ponto do nosso parceiro não entender como pôde amar alguém antes de nós. Garanto que faz muito mais efeito sermos o melhor de nós do que ficar tentando privar, controlar, aborrecer o outro.

    Não é exigível exigir nada.

    • O exigível é o combinado do casal, seja o que seja, o que eles “contrataram”: fidelidade, coabitação ou o que eles estipularem. É por isso que eu sou Team Sheldon e gosto de um bom Relation Agreement. Faz, imprime e consulta quado precisar.

      • Acordos saudáveis são sempre bem vindos em relacionamentos. De cara quando entramos em um já estamos fazendo um: fidelidade e companheirismo.

    • Gostei muito de tudo o que disse, Bel. Se não queremos ser controladas, vamos controlar quem supostamente amamos pra quê? Pra ser infeliz? Pra fazer o outro infeliz? A vida já nos controla tanto… não somos donos nem mesmo do nosso próprio tempo… e vamos deixar que nos controlem “por amor”?

      Amor é liberdade e respeito. Nada mais. Ciúme é doença de gente fraca. Ou confia ou não confia. Mas, “cadum, cadum” e, como a Sally mencionou o contrato do Sheldon: cada relacionamento é individual e intransferível. “As coisas tem a exata importância que a gente dá a elas.” E cada casal que faça suas regras. Se são felizes abrindo mão do bom senso pra não magoar o outro, é isso que vale. O importante é ser feliz, porque a vida passa depressa demais.

      (PS: Isso de exigir jogar o anel fora é tão ridículo, que eu nem daria uma resposta: simplesmente pegaria minhas malas e iria embora. Nunca daria certo. A minha turma é outra. )

  • Vou comentar (para variar!) obviedades mais-do-mesmo:

    1) Faz muitos dias que o rei está completamente nu e continua majestoso e blasé, o que é a prova viva de que o ser humano é realmente fascinante, imprevisível e surpreendente!

    2) Como é isso de ter paz sem ter razão? Felicidade não é sinônimo natural de ter razão? Ganhar no jogo da vida me parece simples como um conselho de autoajuda: ‘Quanto mais razão, mais prazer.” Mas… existe satisfação maior do que ter razão? Existe algum ganho secundário em saber que é mimimi e mesmo assim acatar só pra não magoar os irracionalmente magoáveis? Deve haver. Pena que, por mais que meus olhos olhem, nem tudo eles consigam ver.
    #SomosSeteBilhõesDeUniversosParalelosÚnicos
    #MajestadeMiMiMi

    • Para mim felicidade é estar em paz. Quando se convive com brasileiros médios se aprende desde pequenas que muitas vezes você terá razão e não vai conseguir que ninguém se dê conta. Eu faço coisas que acho pouco razoáveis para não me aborrecer…

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