O cu da Anitta.

Já falamos do cu do Gugu, por que não do cu da Anitta? Veja bem, este não é um texto sobre a “cantora” Anitta especificamente, é sobre uma entidade extradimensional do inconsciente coletivo humano chamado cu da Anitta. E esse nem é o seu primeiro nome, já foi o cu de diversas outras celebridades, cu da Anitta é apenas o nome pelo qual se reconhece atualmente. Quando as nádegas da popstar brasileira não tiverem mais o tônus necessário para mantê-la popular, o cu da Anitta cairá da bunda que habita e ressurgirá feito uma fênix anal em outros recôncavos mais atraentes para o cidadão médio.

Porque o ser humano é previsível assim. Sempre teremos um cu da Anitta para movimentar a indústria do entretenimento e fofocas. Tem gente vivendo de falar do cu da Anitta, como é usado, por quem é usado, como chacoalha, se está tatuado ou não… mas não é uma coisa puramente sexual, é importante frisar. O cu da Anitta é uma entidade escatológica, não só pelo que produz, mas pelo interesse que gera no povão. Tem um duplo sentido aí. Porque é claro que teria duplo sentido.

Escatologia, na concepção original da palavra, é a ciência do fim do mundo. Da mesma forma que nossos antepassados sempre se perguntaram como tudo começou, também tinham interesse quase que doentio sobre como seria o final da história. Várias religiões têm mitos de criação e de destruição. Nós temos uma curiosidade insaciável sobre de onde viemos e para onde vamos.

Não sei se viemos do cu da Anitta, mas aparentemente estamos indo para lá. Esse fetiche incrível pela privacidade de pessoas famosas bebe da fonte da nossa inclinação pela socialização, porque é claro que gostamos de estar informados sobre pessoas que por algum motivo nos importam, mas eu argumento que tem algo a mais aí: é uma vontade de consumir a vida; Freud falava sobre punção de morte, um desejo inconsciente de autodestruição, mas não era puramente sobre masoquismo, era a ideia de que nós buscamos o ciclo de criação e destruição. Temos que acabar com algo para começar de novo.

Quando a humanidade se aprofunda no cu da Anitta, eu acredito que o objetivo é destruição mesmo. A convivência costuma ser inimiga do romantismo. Difícil idealizar alguém depois da intimidade. Por um lado é positivo ver o outro como ele é, mas por outro, é a hora que você fica inescapavelmente ciente do sistema excretor alheio. Quando a sociedade busca o cu da Anitta, ela busca o fim do ideal da Anitta.

O ser idealizado não pode ser consumido, ele está sobre um pedestal. Como a maioria das pessoas não tem capacidade ou mesmo interesse em conhecer o outro pelas suas ideias, o atalho está no cu. É por lá que fisgamos a celebridade para trazê-la ao nosso nível e despedaçá-la. É humano querer consumir o que se deseja.

E provavelmente sem pensar muito no assunto, as celebridades do século XXI perceberam que oferecer o cu para a massa descamisada é o melhor mecanismo para atrair atenção. Perceberam como nos últimos anos pessoas famosas ou aspirando a fama não param de falar de sua intimidade sexual, fetiches, funções corporais ou combinações dos três? Um mundo com infinitas avenidas para a fama aumentou a competição violentamente, e tivemos uma clara degradação do “comportamento da fama” nesses tempos.

Fama em 2023 é o cu da Anitta. É ser reconhecido pelo ponto mais vulnerável, ao mesmo tempo que se diz super empoderado e corajoso. Não é mais sobre o que torna uma pessoa diferente, é sobre o menor denominador comum de ter um corpo e necessidades fisiológicas. Quem não mostra o cu arrisca nunca chegar em níveis lucrativos de fama. Sim, isso pode ser bem literal para mulheres com contas no Onlyfans, mas o literal cu da Anitta nunca apareceu (eu acho). Ele é apenas uma isca.

É uma relação ganha/ganha (ou perde/perde) entre o famoso e o anônimo: o famoso se arreganha para prender a atenção do anônimo, o anônimo tem um poder sem precedentes de consumir o famoso até não sobrar mais nada. Infelizmente muita celebridade/subcelebridade não sabe no que está se metendo ao abrir as bandas e mostrar seu cu para a massa, mas é evidente que existe um ganho secundário. Seja ele em massagens no ego ou algo mais sólido como dinheiro e poder.

O peixe morre pela boca, Anitta morre pelo cu. É onde a celebridade aceita ser fisgada e consumida até toda sua mística virar apenas um órgão excretor como qualquer outro. Parece bullying com a celebridade brasileira, mas eu mantenho que ela é só o exemplo do processo no Brasil. O cu vai ter outro dono ou dona, eventualmente. Nos anos 80 e 90, Madonna e Michael Jackson eram donos desse cu ao redor do mundo, por exemplo.

Vejam só como ambos terminaram. Consumidos cus acima. Um morreu drogado, outra vive assim. E olha que a internet só os encontrou depois do auge da fama. Eu tenho uma curiosidade mórbida sobre como as celebridades desta década estarão em vinte, trinta anos. Se é que é possível durar tanto tempo com o cu virado e disponível para as massas. Essa era de cancelamentos pode ter a ver também com o grau de “exposição escatológica” dos famosos, é mais fácil consumir a celebridade se ela está vulnerável o tempo todo, e pior, tentando se mostrar mais e mais, como uma drogada tentando de novo o barato das primeiras doses.

E numa simbiose doentia, cidadãos médios e até mesmo ditas cabeças pensantes batem palmas para essa devassa da intimidade: “Isso, seja corajosa, fale mais, mostre mais, seja um exemplo”. Fingimos que admiramos quem mostra o cu, porque quem mostra o cu é mais fácil de ser consumido. O cu da Anitta gera todo um ecossistema ao seu redor, seus parasitas camuflados de ativistas da liberação sexual feminina, da aceitação da nossa humanidade, articulistas da condição humana esmiuçando o cu e suas consequências para a sociedade.

Quando não sobrar nada além de pó e ossos, procuraremos o próximo, e o próximo… não é exatamente uma novidade esse ciclo de consumo de pessoas populares, mas a velocidade alucinante dele é algo recente. Não ajuda em nada o conceito da fama ter adotado esse caminho anal como mais eficiente. Warhol disse que no futuro todos teriam seus 15 minutos de fama, mas eu discordo em partes… quer dizer, em parte: no futuro, todos os cus terão seus 15 minutos de fama.

A humanidade viciou em sedentarismo, viciou em sal, em gordura, em açúcar, em masturbação, em sexo, todas fontes de prazer imediatista… o vício no cu da Anitta é só mais um deles. Quando algo fica tão acessível ao ponto de não ser chocante usar a expressão “cu da Anitta” trinta vezes num texto, é porque já perdemos a sensibilidade.

Vamos ver mais e mais pessoas famosas evadindo sua privacidade mais íntima em busca desse tipo de sucesso, e vamos ver mais e mais pessoas perdendo completamente a vergonha de acompanhar as aventuras dos cus alheios, talvez até entrando na brincadeira e se arreganhando todas em busca da atenção de terceiros. Sempre mostrando essa parte para o mundo, sempre se tornando mais vulnerável sob a ilusão de que é algo positivo e admirável. Não é liberação, é vulnerabilidade.

É se entregar ao consumo alheio e se tornar nada mais do que um… cu. Eu espero estar errado e que falar do cu da Anitta vá se tornando cansativo. Que eventualmente fiquemos cheios demais para consumir outras celebridades de baixo para cima. Mas, alguém tem que combinar com elas, porque se estamos vendo essa quantidade incrível de pessoas conhecidas falando barbaridades sobre sua intimidade na mídia todos os dias, vai ser difícil vencer a compulsão no cidadão comum.

Existe overdose de cu da Anitta?

Veremos.

Para dizer que não sabe se ri ou se chora deste texto, para mandar eu tomar no cu da Anitta, ou mesmo para dizer que ainda prefere o texto do cu do Gugu: somir@desfavor.com

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Comments (18)

  • Sabryna Tenório

    Antes Anitta ela já fazia clipes sensuais, mas não era vulgar. Mas agora ela se tornou uma mulher vulgar.

  • Achei que o cu da moda fosse o da Andressa Urach que tatuou “faz um pix” nele e o próprio filho dela filma os pornôs dela…..

  • Juntando as pontas dos dois textos vizinhos. Você não é o seu cu. Ou o cu de alguém. A não ser que você seja um cu.

  • Eu sempre chamei a Annita de bunda falante. E pra ser sincero, nem sabia como ela era, nem saberia citar uma única música dela. Pra mim ela era mais escura e mais bunduda, e sempre que eu imaginava ela cantando a imagem e sonoridade era o Bonde das Maravilhas cantando uma música do Pabbllo Vittar.

    Enfim, no páis que enaltece burrice, pobreza e jeitinho, e execra o oposto disso, não, não existe overdose de cu da Annita.

  • Gwyneth Paltrow querendo chamar a atenção para seus produtos veganos: essa vela cheira como minha vagina.
    Angélica sem contrato com a globo: sai na mídia falando de vibrador e que marca na agenda o dia que vai transar.
    Sandy prestes a lançar um cd ou turnê: sai no jornal falando que adora sexo anal.
    Xuxa sendo a Xuxa: eu devia ter transado mais.
    Qualquer aspirante a famosinha: aiin faço dieta do sexo.

    ESTÁ CANSATIVO!
    Texto muito necessário. Parabéns Somir.

    • A Xuxa, em seu auge, fez um comercial em inglês de uma sandália de plástico infantil chamada Love Xu (“LOVE EXU”?), em que menininhas apreciam gemendo que nem em filme pornô gringo. Um troço de extremo mau gosto, até pros padrões da época.

      • Putz, UABO! É mesmo… Mas eu ainda não tinha me atentado para esse negócio do “Love Exu”… E até já virou lugar comum incluir essa “coisa” em tudo quanto é compliação de “momentos constrangedores da publicidade brasileira” no YouTube. Praticamente todos os canais de nostalgia e de curiosidades já o mencionaram. Ah, e para quem sabe, não se lembra, ou nem era nascido na época, o tal comercial é este aqui:

        https://www.youtube.com/watch?v=kgPX8lknsnw

        • MEU QUEIXO ACABA DE CAIR! Porra, o que foi isso que eu acabei de ver? Não conhecia esse comercial. Isso chegou mesmo a ir ao ar? Já é a segunda merda cometida pela Xuxa em seu passado que eu vejo neste mês. A outra foi aquela da banda de rap gringa cantando em inglês sobre homem de pinto pequeno num palco lotado de crianças e todo mundo curtindo porque não entenderam a letra…

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