ATENÇÃO: ESTE TEXTO É MAIS CARREGADO DO QUE PARECE
Eu já estava de saco cheio de ver meu querido blog abarrotado de discussões de celebridades (e o Pilha) e discussões sobre assuntos “do momento”. Está na hora de trazer um pouco de nerdice de volta pra cá! E já que o horário de verão começou há pouco tempo, vamos falar um pouco de consumo de energia.

O assunto em questão é muito mais amplo do que pode parecer a partir do título. Vamos partir da própria fundação da matéria até a conquista do Universo pelo homem. Partamos então de uma premissa básica: Evolução nada mais é do que gastar mais energia. E antes que biólogos tenham ataques, esclareço que estou falando de uma visão generalista das coisas.

O consumo de energia é um assunto que vem consistentemente ganhando mais espaço no dia-a-dia das pessoas. E sempre surge na forma de apelos de eco-chatos e cia. dizendo que gastamos energia demais. Por mais que me doa dizer isso, nesse ponto eles estão certos. Gastamos mesmo muito mais energia do que o necessário na nossa vida. O nosso modelo de consumo está fadado a desabar por culpa do próprio peso.

Mas como eco-chato quando não caga na entrada, caga na saída, a solução deles quase sempre passa por deixar de usar o que consome essa energia. Se você acha isso uma eco-chatice e se recusa a tomar medidas que apóiem essa redução de consumo geral, saiba que você tem todo o universo ao seu favor: Gastar menos energia é andar para trás. Captar e aproveitar mais energia é a fórmula de sucesso para nossos problemas.

E=MC²

Matéria é energia. Energia é matéria. Não é papo de hippie não: Você é pura energia. A diferença entre você e a energia que faz o seu computador funcionar é apenas uma questão de vibração das partículas que as formam.

Eu odeio citações, mas aqui vai uma: “No universo nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” – Lei de Lavoisier

Não sei se você, leitor ou leitora, entende a importância disso, mas aqui vai: Você estava no Big Bang. Sim, toda a energia que forma o seu corpo agora estava comprimida num espaço inimaginavelmente pequeno há mais de 13 bilhões de anos. E tem gente se achando velha ao chegar nos 30…

Matéria é energia, e energia é sempre a mesma. E eu não estou tentando derrubar a segunda lei da termodinâmica. A energia é sempre a mesma, mas não vai poder ser aproveitada para sempre. A matéria/energia tende à entropia. De uma forma bem simplificada: Isso quer dizer que a matéria/energia serve durante uma parte definida da sua “vida”. Mais ou menos como os pintos antes do Viagra. (Ei, se não tem analogias malucas, não é Desfavor Explica!)

Toda essa nerdice tem o objetivo de te assegurar que querer consumir mais e mais energia é algo que está intimamente ligado com existir. Sair da “faixa aproveitável” é um processo sem volta (por si só). Precisamos de energia extra constantemente para não deixar isso acontecer.

É por isso que você se alimenta. É por isso que você tende a evitar o frio. É por isso que você se cansa depois de uma atividade física ou mental. Adquirir e aproveitar bem a energia que você utiliza é o sentido da existência. Uma briga contra a entropia que estamos fadados a perder.

(Entropia = Toda a matéria tende a se igualar. Imagine que a matéria/energia é uma bola quicando. Se ninguém mexer nela, invariavelmente ela vai parar de quicar e ficar quietinha no chão.)

Mas não fique depressivo. Mesmo considerando que matéria/energia conta como irrisórios 4% da constituição do universo, a chance de seres vivos observarem o fim da energia aproveitável no universo é tão grande quanto a chance do Belo fazer uma música de qualidade!

Com certeza você já vai estar morto! É muita energia, muita MESMO. Reconfortante, não?

HOMENS E MACACOS

Existem ótimas teorias que mencionam que a entropia foi a responsável pelo começo da vida. Mais ou menos como se fosse INEVITÁVEL que a vida começasse com as condições que tínhamos na Terra. Somos energia, lembram?

Mas esse não é o objetivo deste texto. Estamos falando sobre consumo de energia… E como isso faz diferença na evolução das espécies. Somos o resultado de espécies que conseguiram achar e aproveitar melhor as fontes de energia presentes na Terra.

E aqui, a grande sacada: Não basta ter uma fonte de energia na escala certa para evoluir, tem que ter à sua disposição uma fonte de energia maior do que a necessidade, para que a necessidade aumente até FALTAR energia e a espécie em questão precise procurar novas e mais poderosas fontes. Esse exagero de consumo faz TODA a diferença entre homens e macacos.

Como o parágrafo anterior foi um exagero de informação, vamos com mais calma agora. Eu estou dizendo que gastar mais energia significa ser mais evoluído. Mas alguns de vocês devem estar pensando em animais que consomem uma quantidade muito maior de energia para sobreviver do que os humanos e nunca construíram um foguete que os levasse à Lua.

Por isso a importância de ter MAIS energia à disposição do que o necessário. Uma baleia precisa de uma quantidade avassaladora de energia para sobreviver, mas é justamente isso o que ela tem: O necessário para sobreviver. Para quem não sabe, uma baleia pode passar meses sem se alimentar quando tem que dar a luz ao seu filhote. Uma baleia não fica mais gorda com o tempo. Ela consome e gasta no LIMITE de sua sobrevivência.

Outros animais também sofrem desse problema de não ter mais energia do que o estritamente necessário para sobreviver. Quando o orçamento é apertado, não dá para ficar gastando com bobagem. Animais irracionais gastam toda sua energia para gerar mais energia, um círculo vicioso do qual o ser humano se livrou há muito tempo atrás.

É difícil apontar exatamente qual o ponto onde nossos antepassados conseguiram acumular tanta energia para nos darmos ao luxo do pensamento abstrato. Uma teoria que eu acho excelente é a de que começar a cozinhar os alimentos fez a diferença. Alimentos cozidos (principalmente carne) economizam energia na mastigação, aumentam o aproveitamento da energia proveniente do alimento e ainda incentivam a interação social (fogueira).

A partir do momento em que se consome mais energia e se desperdiça menos fazendo o mesmo trabalho, sobra um extra que pode e vai ser aproveitado. Energia extra = Novas possibilidades.

Inclusive a de aperfeiçoar um órgão que hoje em dia consome 20% de toda a energia que geramos. O cérebro. O cérebro humano é um exagero capitalista… Nenhum outro ser vivo gasta sequer perto disso.

(Alguns de vocês devem gastar menos… Mas na média…)

Quanto mais energia disponível com menos trabalho envolvido, mais tempo livre, mas espaço para a “oficina do Diabo”. Começamos a gastar mais energia com essas novas possibilidades, e apenas o trabalho braçal já não dava mais conta de “energizar” nossas idéias.

A ESCALA DE KARDASHEV

Precisávamos de mais energia. Encontramos soluções na força animal, no fogo, na água, no vento… (Ok, ainda apelamos muito para mão-de-obra escrava.)

Cada vez que parecia que não haveria mais força para nos levar para frente, alguma mente brilhante mudava o rumo da humanidade mostrando novas formas de continuar exagerando nossas necessidades energéticas a níveis impensáveis antigamente.

Estávamos no nosso próprio caminho evolutivo. Os outros seres se matando para disputar quantidades limitadas enquanto nós melhorávamos nossa vida subindo o nível das nossas necessidades. A partir da revolução industrial o nosso consumo foi crescendo de forma exponencial, precisamos de TANTA energia hoje em dia que mesmo com a produção gigantesca que temos ainda corremos o risco de ficar no escuro nas próximas décadas.

It’s evolution, baby!

Mas não seja um chato (eco-chato) de vilanizar a necessidade de consumir mais e mais energia. O problema não é esse. Isso é que nos torna o que somos hoje.

Lembram que a energia é matéria? Lembram que matéria não some? Quando você gasta energia nada mais está fazendo do que empurrar a matéria em questão para o caminho da entropia. Isso quer dizer, na prática, que não se produz energia sem deixar detritos no caminho. (Poluição = Energia usada.)

A solução é gastar menos energia? Só se você quiser voltar para as cavernas, hippie!

Precisamos de MAIS energia, e de preferência uma que não deixe tantos detritos no caminho. Isso atrapalha o processo como um todo. Se não começarmos a aproveitar melhor a energia (eficiência e captação, não economia) não vamos nunca deixar de ser uma civilização de Tipo I!

Ah sim, a escala de Kardashev. Um astrônomo russo criou uma escala interessante para definir as próximas escalas de evolução de uma espécie inteligente. E adivinhem só: É baseada totalmente em quanta energia essa espécie consegue aproveitar. E os “pulos” entre um ponto e outro da escala são tão significativos quanto a diferença entre a sociedade humana e a sociedade dos chimpanzés, por exemplo.

Atualmente ainda nem chegamos no primeiro degrau dessa escala. O Tipo I. Uma civilização precisa utilizar toda a energia disponível de um planeta para ganhar essa nomeação. Usar no sentido de aproveitar, e não no sentido de torrar tudo. Só com a energia disponível na Terra, não podemos aproveitar os vastos recursos do Sistema Solar. (E isso vai ser importante, vários elementos importantes para a indústria atual estão ACABANDO.)

O Tipo II parece um pequeno avanço, mas passa longe disso. Uma civilização que alcança este nível consegue utilizar toda a energia de uma estrela. Enquanto o Sol não for uma espécie de usina nuclear da humanidade, muitos dos nossos avanços previstos simplesmente não vão ser possíveis. O gasto de energia para nossos “sonhos” cresce numa escala monstruosa. Outro dia desses eu falo sobre a colonização de outros planetas do Sistema Solar.

Chegando no Tipo III, bobagens como a morte e música popular já vão ser um passado distante. Mas o problema é que para isso precisaríamos usar a energia disponível da nossa galáxia. Como já estaremos viajando entre estrelas, a chance de dar de cara com outras civilizações é bem grande. (Se extraterrestres que visitam a Terra realmente existirem, no mínimo já estão se aproximando dessa escala. O que quer dizer que para eles nós seríamos tão fascinantes quanto formigas.)

Até tem o Tipo IV, mas esse apareceu depois e é mais ficção do que previsão. Essa civilização usaria a energia do universo todo para seus propósitos. Esse tipo não chegaria aqui num disco voador. Se quisessem trollar a gente, passariam facilmente pelo “deus” que muitos de vocês acreditam.

Gastar energia além do necessário é o que vai nos levar para as estrelas. Eficiência e abundância, não economia.

Para dizer que estava animado achando que eu não faria mais essas postagens, para dizer que se sente recarregado por saber que é energia, ou mesmo para me mandar enfiar o dedo numa tomada: somir@desfavor.com

Processa Eu!... De novo...

O Desfavor Explica de hoje vai falar das novelas globais. Essa programação repetitiva e manjada que ainda atrai milhões de espectadores, ainda que eu não entenda bem o porquê. Como diria Bonner, tudo Homer Simpson! Não que eu esteja tirando onda de superior, porque eu adoro ver entrevista do Rafael Pilha na Luciana Gimenez. O que me incomoda não é o baixo nível, já que eu sou A MAIS baixo nível de todos, e sim que toda novela global é extremamente previsível e mesmo assim as pessoas perdem uma hora do seu dia e assistem a uma caralhada de capítulos para ver o que já sabem que vai acontecer.

Para começo de conversa vamos falar do cenário. Novela global alterna Rio de Janeiro, São Paulo ou uma cidadezinha qualquer do interior do Nordeste, geralmente chamada “Serro Alguma Coisa” (Serro Azul, Serro Alegre, Serro Bonito…). Eventualmente, se for da Glória Perez, pode ter um núcleo étnico fora do país, algo como Marrocos ou Índia. Se for novela das seis pode ser de época, mas novela das seis é uma bosta pior ainda que nem merece menção aqui.

Pois bem, os cenários se alternam entre Rio de Janeiro, São Paulo ou Nordeste. Curiosamente no Rio de Janeiro só tem praia, gente bonita e sarada e sol o ano todo. Em São Paulo tem apenas gente chique, educada e prédios bonitos. No Nordeste só tem mocinhas jovens e fogosas, uma praça, uma igreja e uma idosa sábia.

Engraçado que São Paulo é uma cidade enorme, mas curiosamente os personagens que se odeiam vivem se esbarrando em restaurantes, boates e outros eventos. Quando alguém chifra alguém, a pessoa sempre acaba comparecendo ao local e flagrando. E o melhor: nunca tem fila em lugar nenhum!

No Rio as pessoas nunca tem medo de sair à noite. Muito pelo contrário, algumas vezes saem até a pé, sem o menor receio, ostentando grandes brincos, colares ou relógios. E as empregadas do Rio são sempre gostosas. Sem contar que no Rio todas as casas tem vista para o mar.

No Nordeste, por mais interior que seja, os pescadores do núcleo pobre da novela tem dentes ultra-mega-brancos, clareados até ficarem fluorescentes. As mulheres tomam sol na moleira o dia todo mas não tem uma ruga.

Se for novela do Carlos Lombardi, todos andarão sem camisa o dia todo, mesmo que esteja nevando. Se for novela da Glória Perez todos usarão expressões típicas de outras culturas (ciganos, árabes, indianos e cia) extremamente irritantes que serão repetidos pelos espectadores, o que nos obriga a ficar ouvindo a gentalha gritar “Inchalá” ou “Harebaba!” de forma irritante. Se for novela do Manoel Carlos tem sempre uma Helena meio piranha, meio mentirosa, meio safada, mas que no fundo, tem um bom coração. Se for novela do Aguinaldo Silva tem sempre um assassinato misterioso e uma vilã que desperta empatia das pessoas

Sempre tem o núcleo pobre da novela. O núcleo pobre é sempre de gente muito honesta, muito limpinha e muito alegre. É o pavor de irritar os pobres, porque pobre se ofende fácil e veste a carapuça que é uma beleza. O único autor que ousa dar uma debochadinha de leve de pobre é o Miguel Falabella, e mesmo assim com muito humor para não magoar. O núcleo pobre geralmente é mais feliz do que o núcleo rico. Eles também adoecem menos e tem mais sorte no amor. É um convite à pobreza!

O núcleo rico tem sempre atriz magérrima e de pele alva. Até parece que não tem rico gordo. Geralmente os ricos sofrem de montão e nunca se mostra o quanto ser rico ameniza seu sofrimento na prática. Os ricos também viajam para qualquer lugar do mundo a qualquer momento, porque em novela da Globo dinheiro compra tudo. Neguinho ia pro Marrocos em “O Clone” como quem pegava um buzão logo ali na esquina, mesmo que na época saísse um vôo por mês para aquele país.

Não importa o autor ou o cenário, algumas coisas são certas: a mocinha vai comer o pão que o diabo amassou para só ser feliz nos últimos capítulos. Vai passar por doenças, intrigas, preconceito, opressão e/ou injustiças e muito sofrimento. Vai se foder toda do começo ao fim. Até a última semana ela vai estar se escaralhando cada vez mais, até que, de repente, tudo se acerta e ele é feliz com seu amor.

O vilão se dá bem a novela toda, mas no final se fode. Morre, vai para um hospício ou vai para o núcleo pobre, ser o único pobre infeliz de lá, porque como já vimos, não tem coisa mais feliz do que morador de núcleo pobre de novela.

A mocinha é sempre magra. Sempre. E ainda ficam se gabando de colocar uma mocinha negra na novela… ora, a menina é linda! Quero ver colocar uma mocinha tamanho GG, King Size e fazer ela viver feliz para sempre com um homem que se importe apenas com sua beleza interior! Quer ver o Carlos Lombardi colocar os balofos desfilando sem camisa nas suas novelas! Enfim, eles se dizem democráticos mas não são. Não tem prova maior de preconceito do que alardear que colocaram uma mocinha negra. Eu hein…

O mocinho é um caso aparte. A Rede Globo enfrenta uma séria crise de mocinhos. Seus mocinhos andaram aprontando. Teve mocinho comprando maconha com cheque (Alô? Marcelo Anthony?) coisa que deu uma certa ofuscada em seu curriculum, teve mocinho metendo o pé na jaca (Alô? Fábio Assunção?), tem mocinho se metendo em encrenca (Alô? Dado Dolabella?) e tem mocinho que todo mundo sabe que dá ré no quibe, por isso não convence mais (quão menos polêmico seria falar do Victor Fasano? Mas não seria a cara do desfavor… Alô? Reynaldo Gianecchini?). Só sei que rola toda uma escassez de mocinhos. Quem não ta se drogando ta criando encrenca, queimando o filme ou dando o roscofó. Ou tudo ao mesmo tempo.

Essa crise dos mocinhos está levando a Rede Globo a reciclar os mocinhos de 1980, criando uma figura onipresente que vem me irritando profundamente: José Mayer. José Mayer tem duzentos anos, já deveria estar fazendo papel de vovô faz tempo, mas continua o pegador. Sim, aquele que na década de oitenta já pincelava a Tieta (Alô? Osnar?) continua pincelando meninas que tem idade para serem suas filhas. Daí pegam o cara e tentam fazer ele não parecer decrépito e fazem implante de cabelo nele até o meio da testa. José Mayer está perdendo a testa, isso é muito sério.

Aliás, mocinho é um tema complicado. Porque o controle de qualidade deles é questionável. Na Rede Globo até Tony Macaco Ramos foi mocinho. Tudo bem que agora Tony Ramos já migrou para vovô gente boa, e olha que ele tem a mesma idade de José Mayer! Acho que José Mayer é tipo um Chuck Norris Tupiniquim. Alguém pelo amor de Deus corte o cabelo de José Mayer, ele está parecendo um mendigo. Sim, José Mayer me transtorna.

Voltando às novelas. Como se a trama não fosse repetitiva por si só e manjadíssima, ainda tem revistas especializadas e sites que contam o que vai acontecer nas próximas semanas. Daí as pessoas se dão ao trabalho de ler o que vai acontecer e depois vão e assistem os capítulos já sabendo com certeza absoluta o que vai acontecer! Só para mim que isso não faz sentido? São as mesmas pessoas que se ofendem quando você conta o final de um filme que elas não viram. Numa boa, o brasileiro é um povo estranho. Tem certas coisas da cultura local que eu realmente não entendo!

E toda novela lança uma moda de consumo: pode ser um corte de cabelo de uma personagem, uma bolsa ou qualquer outro bem de consumo. E geralmente é um bem de consumo feminino: colarzinho da fulana, anel de não sei quem… isso quando não é uma coleção toda de roupa inspirada na personagem. E sempre tem a cretina dando entrevista dizendo que “não esperava por essa repercussão positiva”. Tá bom, tudo ali é milimetricamente calculado para virar bem de consumo! E ainda complementa com a odiosa frase que aquela personagem “Foi um presente do autor para ela(e)” Não tem presente nesse meio. Ou você tem um padrinho forte, ou passa pelas mãos (dedos, língua, piroca e por onde mais pedirem) dos diretores pan sexuais.

Por falar em padrinho forte, tem sempre uma meia dúzia de atores encostados em toda novela global. Aqueles que trabalham mal, não tem carisma mas estão ali. Geralmente são filhos de atores, autores, diretores ou de alguém do meio. Curioso é que esse povo de TV vai fazer passeata contra nepotismo no Congresso, critica, diz que tem que ser proibido, mas quando chega a sua vez de ter ética, só contratam dos dele, aqueles que tem pedigree artístico.

E toda novela tem uma propaganda que deveria ser implícita, meio que subliminar, discreta, mas devido aos espectadores Homer Simpson (não sou eu quem diz, é o Bonner) acaba sendo uma coisa grosseira e descarada. A mocinha chora o chifre que levou do mocinho (= José Mayer, o Onipresente), quando do nada, fora de qualquer contexto, diz para a amiga “Oh, Amiga! Agora vou passar meu SEN-AS-CIO-NAL creme anti-rugas da Natura!” e fica em uma posição imóvel por dez segundos segurando um pote de creme da natura a 10cm da câmera. Sinto a maior vergonha alheia, não sei como alguém pode conseguir ver isso.

Além dos modismos de consumo, também tem os de vocabulário. Quando são apenas as odiosas expressões de outras culturas já citadas, menos mal porque podem ser ignoradas. Mas quando são frases corriqueiras geram todo um fator de segregamento social – quem não vê novela é excluído. Daí você sai com um Cueca e escuta o cidadão dizendo “Eu sou uma piscininha” e não sabe se corre porque é esquizofrênico ou se ele está bêbado. E ai de você se disser que não vê novela, porque vai levar esculhambada. Quem não vê novela é esnobe.

Gente, e os efeitos especiais de novela? Parece que estou vendo Chaves. Muuuuita vergonha alheia cada vez que a Rede Globo tenta inserir algum efeito especial. Tenebroso!

Para terminar meu breve relato, quero falar do último capítulo. As pessoas efetivamente deixam de fazer coisas de suas vidas para assistir ao último capítulo de novelas. Mesmo já tendo lido na revista e visto no programa de TV como a porra da novela vai terminar. E este momento é sagrado, se você ousar telefonar para um ser humano que está em transe vendo um último capítulo de novela, periga ouvir um palavrão de 17 sílabas. Atrapalha mais do que ligar quando a pessoa está fodendo. Segundo relatos, a explicação é que sexo tem toda hora, último capítulo só tem uma vez. Então valeu.

Não que eu queira chamar de imbecil ou ignorante quem vê novela (eu até acho isso, mas seria deselegante dizer esse tipo de coisa aqui). Quero me ater a argumentos racionais: as pessoas sabem o que vai acontecer e mesmo assim ficam em um frenesi coletivo, acompanhando e sofrendo os dramas de personagens requentados e repetidos como se fosse a primeira vez. Algumas pessoas mais descompensadas falam com a própria TV como se aquilo fosse uma realidade na qual ela pudesse intervir. Como é possível que as pessoas não cansem das mesmas personagens, das mesmas caras, das mesmas táticas de roteiro? Porra, aposto que se a DRAMA!, que todo mundo odiava, virar novela global com José Mayer no papel de Tiago Somir todo mundo vai ver e se emocionar…

Para me dizer que ignorante sou eu que danço axé e funk, para me dizer que se eu não entendo o brasileiro devo fazer as malas e ir à merda (= à Argentina) e para dizer que vai mandar uma cartinha para a Glória Perez para que ela filme a DRAMA!: sally@desfavor.com

Eu continuo não tendo signo.

ATENÇÃO: ESTE TEXTO FOI ESCRITO POR UMA PESSOA DO MAL!
Promessa é dívida. Ok, eu já prometi vários outros textos e não os escrevi, mas considerando quanta gente veio reclamar desse “Deleta Eu!”, resolvi que valia a pena explicar logo o que é a Astrologia e demonstrar algumas de suas pérolas de sabedoria milenar. Este texto está sendo escrito por um cético (do mal), mas evitarei fazer juízos de valor e rir, pelo menos enquanto eu agüentar… Se estiver mentindo ou inventando coisas, tenho certeza que não vai faltar gente para apontar as inconsistências.

DEFINIÇÃO

Existem várias escolas e estilos de Astrologia, vamos nos ater a que mais apela para o público do mundo Ocidental. Aquela dos horóscopos de jornal.

Para começo de conversa, é difícil definir um termo que agrade pessoas que acreditam ou não na Astrologia. Alguns praticantes a definem como ciência, outros como arte, algumas pessoas em cima do muro pensam que é uma pseudo-ciência, céticos a tratam como um conjunto de superstições e os astrônomos acham que é uma palhaçada mesmo.

Seja como for, a Astrologia defende que a posição de alguns corpos celestes específicos definem a personalidade e o destino de seres humanos aqui no planeta Terra. Mas os astrólogos também não chegam a um consenso sobre a natureza dessa poderosa influência. Hoje vamos considerar que podem ser formas de energia conhecidas ou mágica mesmo.

*pfft*

MAPAS ASTRAIS

Os mapas astrais, segundo os praticantes, são como “impressões digitais” do momento onde uma pessoa nasce. Não existem dois mapas astrais iguais. Um mapa astral pede a hora em que você nasceu (com a incrível precisão de minutos) e o local (com a incrível precisão da cidade).

Ou seja: Você é a única pessoa da história que nasceu em determinado minuto em determinada cidade, mesmo considerando que já nasceram pelo menos 100 bilhões de seres humanos no mundo até hoje e considerando que a cada segundo nascem 4 pessoas. Qual a chance de alguém ter compartilhado essas mesmas características com você numa cidade, digamos, como São Paulo? Mas isso não importa, os mapas astrais são únicos. Nada de reaproveitar o de outra pessoa, hein?

Pois bem, de posse dessas informações, o astrólogo consegue definir a sua casa astrológica, planeta e signo. O momento no qual você nasceu define para todo o sempre a sua personalidade. A maioria dos bebês prematuros poderia ter sua forma de pensar e destino drasticamente alterados se não tivessem se apressado tanto.

Ah sim, o momento da concepção e os meses dentro da barriga da mãe não contam. Aparentemente o sistema reprodutor feminino é capaz de bloquear toda a influência do cosmo. (Mas as paredes da maternidade não.) Sua personalidade e seu destino só são definidos a partir do horário impresso na sua certidão de nascimento. (Ou do horário lembrado pela parteira ou pais em casos de partos em condições mais modestas.)

CIÊNCIA!

*pfft… heh…*

CASAS ASTROLÓGICAS E PLANETAS

Aquele minuto no qual você nasceu, informação extremamente confiável, serve de base para que um astrólogo defina qual a sua casa astrológica, planeta e signo. (Signos merecem seu próprio tópico, na sequência.)

Casas astrológicas são linhas imaginárias que partem da Terra e cortam o céu em doze fatias. Doze. Dependendo dos corpos celestes que estiverem em cada uma dessas casas, vários aspectos da sua vida são permanentemente definidos.

As linhas partem da Terra, um planeta que dá uma volta sobre o seu próprio eixo em aproximadamente 24 horas. Essas linhas são imaginárias, portanto se mantém sempre na mesma posição enquanto o planeta gira a 465 metros por segundo. (Mais de 1.600 km/h)

Erre a sua hora do nascimento em 15 minutos e seu Mapa Astral estará 400km errado. E isso é importante, já que a cidade onde você nasceu conta também. 400km é mais ou menos a distância entre São Paulo e Rio de Janeiro. Isso falando só de superfície da Terra. Não vou entediá-los com uma explicação sobre como essa linha imaginária atravessa uma galáxia inteira em um milionésimo de segundo. (Se interessar, eu explico nos comentários.)

E o que seria da Astrologia sem os astros? Além da importância do Sol e de outras estrelas, os planetas do nosso sistema solar também te dizem muito sobre quem você é. Pelo menos para os astrólogos.

Na Astrologia, os planetas tem personalidades, “curiosamente” personalidades parecidas com as dos deuses gregos/romanos que os batizaram em primeiro lugar. O “sistema solar” é formado por: Sol, Mercúrio, Vênus, Lua, Marte, Ceres, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno, Plutão e Pallas. Claro, o Sol é uma estrela, a Lua é um satélite natural, Ceres e Plutão são planetas anões e Pallas é um asteróide. Esqueceram os outros três planetas anões e os outros 157 satélites naturais conhecidos. 172 “planetas” realmente tornariam um mapa astral bem complicado. Pode-se entender essa omissão.

E com Pallas, asteróides também entram na conta. Vou ignorá-los no decorrer do texto, mas onde eu digo que 160 corpos celestes foram esquecidos, lembre-se dos BILHÕES de asteróides que também poderiam ser “planetas” só aqui no sistema solar astrológico.

Todos os planetas tem exatamente a mesma influência. Claro, cada um deles tem seus poderes de definir sua personalidade e destino de forma diferente, mas essencialmente, são 12 astros que tem tanto poder quanto qualquer outro no que tange a influência em relação à posição que estavam no minuto que você saiu de dentro do útero onde esteve em média uns nove meses.

O Sol tem a mesma influência que Plutão. Um reator nuclear gigante, uma estrela, expelindo quantidades colossais de radiação, luz e calor tem a mesma influência que um asteróide vitaminado menor do que a Lua, milhares de vezes mais distante da Terra do que o próprio Sol.

*pfft… hah… heheh…*

PLUTÃO?

Ah sim, Plutão “rege” o signo de Escorpião. A Astrologia é milenar. Plutão foi descoberto a menos de 100 anos. O signo de Escorpião existia antes de Plutão na Astrologia.

CIÊNCIA!

Quando falamos de planetas na Astrologia, imagina-se que alguma força eles exerçam sobre nós aqui da Terra. Pensando apenas em formas de influência existentes (não considerando mágica), a influência de Plutão (radiação, gravidade, luz e coisas do tipo) é menor do que, digamos, do médico que estapeou sua bunda após você sair do casulo anti-influência cósmica. (Isso é bem mais legal de falar do que útero.)

*hahahah… heh…*

Vamos recapitular um pouco da informação antes de partirmos para os signos, ok?

A sua personalidade e o seu destino são definidos PARA TODO O SEMPRE de acordo com o minuto no qual você saiu do útero da sua mãe. Esse “mapa” da sua vida é baseado em linhas imaginárias que saem da Terra (centro do universo?) rumo ao infinito desconsiderando que a Terra é um planeta que gira em torno do próprio eixo a 1.600 quilômetros por hora. As definições sobre o que você pensa, faz e está fadado a pensar e fazer dependem da posição de planetas astrológicos que desconsideram 160 corpos celestes elegíveis dentro do sistema solar sem nenhum critério lógico de escolha. Dos doze restantes, temos uma estrela, um satélite natural, dois planetas anões, sete planetas reais e um asteróide. Sendo que boa parte deles sequer “existia” há alguns séculos atrás. Todos com EXATAMENTE a mesma capacidade mágica de influência.

*Hahaha… ok, chega!*

É mágica. Não tem ciência nisso. Os astrólogos não tem a MENOR idéia do que é o Sistema Solar (que saudade de escrever com letras maiúsculas!) ou do que pode gerar qualquer influência aqui no planeta Terra.

Muita gente já não acreditava nessa maluquice antes de perceber isso, mas se você por um acaso estava em cima do muro, atenção: Não tem NADA de ciência ou racionalidade na Astrologia. Bolas de fogo, rochas gigantes e amontoados de gás não tem consciência ou poderes mágicos.

Prever mudanças no clima, marés e mapear o céu a procura de pontos de referência eram manifestações primitivas da AstroNOMIA. Repitam comigo: AstroNOMIA. Astrólogos inventam bobagens e enganam pessoas desesperadas, astrônomos estudam algo real e tentam ajudar o mundo com conhecimento útil.

SIGNOS

Você pensou consigo mesmo(a): “Tá, eu sempre soube que essa coisa de mapa astral era um embuste, mas os signos tem lá sua parcela de acerto.”

Pense de novo.

Os signos são baseados na mesma inconsistência galopante que os outros aspectos da Astrologia. Eles consideram o dia do seu nascimento. Olha o casulo anti-influência cósmica aí de novo! Se você nasce um minuto depois do final do “período” de um signo, vai ter que ler no jornal dicas para um signo completamente diferente! Um minuto pode mudar sua personalidade e seu destino, novamente.

E como se define o signo de uma pessoa? Pela posição do Sol em relação a doze constelações pré-definidas no momento em que você sai do útero.

Pois bem, você sabe o que é uma constelação? Um conjunto de estrelas que aparentam estar próximas umas das outras, formando imagens que pessoas reconhecem como animais, objetos e seres mitológicos. Elas nem precisam estar próximas umas das outras. É pura questão de ponto de vista. Elas formam um símbolo pelo ângulo que temos daqui da Terra para enxergá-las. Só isso.

E mesmo que considerássemos que essas estrelas jogadas sem nenhuma ordem no espaço realmente tivessem poderes, está faltando uma na Astrologia: Entre o dia 30 de novembro e 17 de dezembro, o Sol está passando por uma constelação chamada Ophiucus, também conhecida como Serpentário. Mas reconhecer essa informação acabaria com a mágica do número 12, em que se dividem as casas astrológicas (por linhas IMAGINÁRIAS) e os “planetas regentes” (ignorando 160 outros corpos celestes elegíveis).

Quando pensar em signos, lembre-se que são 12 porque os astrólogos QUEREM que sejam 12. Esse número foi forçado para encaixar na teoria astrológica. (12 é um número bem visto por várias religiões. *piscando*)

A influência real (não considerando mágica) dessas estrelas (escolhidas aleatoriamente) aqui no planeta Terra é ainda menor do que a de Plutão, que é menor do que a influência de um carro no estacionamento da maternidade! Calha de ter uma ESTRELA muito próxima do nosso planeta, e isso meio que evita que outras possam causar algum efeito aqui. Sabem como é, estrelas costumam ser ciumentas com seus planetas…

“Ah é? Então explica como o horóscopo acerta o que vai acontecer comigo e bate tão bem com a personalidade das pessoas que eu conheço, espertão…”

“Saiba que você tem que se aventurar internamente em busca do seu próprio ouro. É imperiosa sua necessidade de aparecer como indivíduo, de ser respeitado e reconhecido por sua generosidade. O fato é este. Observe se você não está sendo exigente demais ou fechado demais. Não perca a espontaneidade para não perder sua simplicidade.

Sinta que é preciso eliminar/matar certas coisas em você para poder começar do zero. Quando você aceita a perda e vivencia a dor, a raiva, o ciúme ou inveja, está penetrando no mundo desses sentimentos turbulentos e secretos, aceitando-os e tendo, assim, uma chance de transformá-los.

Aí é chegado o momento de aprender com os outros. Através dos relacionamentos você vai aprender a enxergar que existe algo além da sua realidade cotidiana. Escale sua montanha, não tema tanto as alturas, pois chegando no cume você se sentirá pleno.”

Eu duvido que você consiga definir que signo é esse. Será que é o seu? Fica complicado sem ter o nome em cima, não? Se souber, favor postar nos comentários.

Seres humanos repetem vários comportamentos habitualmente, e uma das nossas características mais marcantes no aspecto intelectual é a capacidade de adaptar praticamente qualquer fato externo a padrões pré-definidos. Se não leu o texto sobre Falsos Positivos, agora é a hora.

Se COMBINAR a pessoa e a idéia genérica sobre o signo dela, você se lembra disso no futuro porque a idéia mais simples é reforçada. Se NÃO COMBINAR, sua mente simplesmente ignora o problema. Falso Positivo!

Estou dizendo que é ÓBVIO que uma pessoa vai reconhecer outra baseada no suposto signo dela se tiver fatos e impressões sobre essa pessoa para comparar com uma tabela pré-definida e INCRIVELMENTE GENÉRICA de comportamentos padrão dos seres humanos. O seu cérebro funciona assim. Ele encaixa as informações em alguma categoria, sempre.

Se você só guarda a informação que reforça a idéia entre signo e personalidade, sua memória te prega uma peça e seu cérebro aproveita a chance para economizar um pouco de processamento. Você sabia que a maioria das suas memórias são SOLENEMENTE APAGADAS naturalmente durante o decorrer da sua vida? O que você almoçou na primeira terça-feira do mês de Abril de 1999?

Os signos foram inventados. A personalidade padrão desses signos também foi inventada. Você se sugestiona a achar que uma pessoa faz o papel do signo que representa porque seu cérebro acha isso muito mais fácil. 12 categorias. Mamão com açúcar!

Desde a mais tenra infância, você é programado para se sentir bem caso alguma previsão sua dê certo, é assim que se aprende. E quando uma pessoa ou situação da sua vida reforçam que as doze categorias de personalidade podem sim definir todas as pessoas e te facilitar a vida, você se sente realizado, sua mente fica empolgada com o “quadrado encaixando no buraco quadrado” e você se lembra disso depois. É informação “útil”. É por isso que você se lembra de informações que usa no trabalho diariamente, mas não se lembra de fórmulas químicas que aprendeu na sexta série. (Desde que você não trabalhe com química, é claro…)

É uma ilusão a idéia de que signos realmente definam pessoas. Auto-sugestão criada porque nossos cérebros gostam de “categorias” e trabalham com reforço de informações que aparentam funcionar, mesmo que não faça muito sentido. Falsos Positivos.

Definir pessoas pelo dia de seu nascimento dentro de um ano é tão repulsivo como definir pessoas pela cor da pele ou nacionalidade. É um preconceito socialmente aceitável, mas é preconceito.

(Merda, cinco páginas. Agora eu não vou ter moral para reclamar da Sally na próxima vez que ela passar do limite. Não vai dar nem para ilustrar…)

CONCLUSÃO

“Foda-se você, Somir! Eu acredito em mágica. Eu acredito que as estrelas e planetas que a Astrologia escolheu na base do uni-duni-tê tenham consciência e poderes especiais. Acredito que esses seres astrológicos ficaram esperando até eu sair de dentro do útero minha mãe e vieram colocar a minha personalidade dentro da minha cabeça, assim como vão definir o que vai acontecer na minha vida! Eu acredito que a humanidade toda possa ser dividida em apenas 12 grupos, não entendi nada sobre essa merda de auto-sugestão! Eu acredito e pronto!”

Direito seu. Aliás, até acho normal que uma pessoa escolha acreditar em algo completamente insano porque QUER acreditar nisso para não se sentir tão pequena ou limitada.

Mas quando eu imagino que vários observatórios e centros de pesquisa estão sucateados enquanto pessoas enfiam quantidades de dinheiro impressionantes nos bolsos dos astrólogos todos os dias, não deixo de ficar decepcionado com meus caros colegas de espécie. Tanta coisa para descobrir, tanta beleza e conhecimento nesse universo apenas nos esperando…

Para me dizer que eu sou do mal, para dizer que acha que deveriam construir naves espaciais com uma camada de úteros na superfície para protegê-las dos perigos do espaço ou mesmo para assumir que só está nessa da Astrologia para tirar dinheiro de otários: somir@desfavor.com

A justiça é cega, mas... Bom, ela é cega.

Antes de entrar no assunto quero fazer algumas explicações. Em quase um ano de blog, sempre relutei em escrever sobre assuntos ligados à minha profissão, porque correria o risco de ser considerada chata e incompreensível pelos leigos no assunto ao abordar o tema na profundidade que gostaria ou então de ser tachada de ignorante pelos profissionais do direito por abordar o tema de forma superficial de modo a que eles seja palatável para aqueles que não são advogados.

Mas, considerando o tamanho do desfavor, vou correr esse risco. Quero deixar claro aos operadores do direito que este texto não tem a menor pretensão de ser um trabalho jurídico. Vou simplificar e usar vocabulário pobre e chulo, como é do estilo do blog. O que vou escrever aqui de forma alguma representa minha capacidade profissional, muito pelo contrário, vou cometer até algumas atecnias em nome da didática, é apenas mais um texto no estilo do Desfavor.

Para aqueles que não sabem, a Lei nº 12.015 de 07 de agosto de 2009 alterou a tipificação (descrição) e pena de alguns crimes contra liberdade sexual, dentre eles o estupro. Aparentemente, a intenção do legislador (pessoas que fazem as leis, em sua grande maioria uns imbecilóides) era punir com mais severidade estes crimes, dado o clamor social por casos recentes que ganharam destaque na mídia. Eu tenho uma opinião xiita: acho que quem FAZ as leis TEM QUE ser um operador do direito, porque um leigo acaba fazendo merda. Como é que você vai fazer uma lei se não estudou direito? É a mesma coisa que pedir para um advogado compor uma ópera para que um maestro renomado a execute com uma orquestra afinada. Por melhor que seja o maestro e a orquestra, se quem compôs não entende porra nenhuma de nada de música, vai ficar uma merda.

Pois bem, no Brasil quem faz as leis não necessariamente tem formação em direito. Vira e mexe fazem cagada, que na minha nada humilde opinião, foi o caso dessa nova lei que modifica o crime de estupro. Sabe gente que quer mostrar serviço e faz merda? E o povo, como desconhece e sofre de histeria punitiva, acaba comprando uma aparente verdade. O povo, como diria Bonner, é Homer Simpson e se instruí vendo Jornal Nacional e lendo Veja. Daí quando sai uma lei que aparentemente aumenta a pena do estupro, todo mundo bate palminha feito um bando de focas adestradas, sem questionar.

“Mas Sally, se aumentou a pena, é bom! Você gostaria de ser estuprada? Gostaria que alguém estupre sua filha? Estuprador tinha mais é que morrer…”. CALMA. CONTROLE-SE. Leia com atenção os parágrafos abaixo para entender o tamanho do desfavor dessa lei.

Sem querer ser chata nem cuspir juridiquês em vocês, vou transcrever a antiga redação da lei a atual, para que vocês entendam onde eu quero chegar:

ANTIGA REDAÇÃO:

ESTUPRO

art. 213 – Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça

Pena: Reclusão de seis a dez anos

ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR

art. 214 – Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal

Pena: Reclusão de seis a dez anos

Em ambos os casos, se do fato resultasse morte, a pena poderia ser majorada de doze a vinte e cinco anos.

Vamos traduzir. Pela lei antiga, o estupro era pênis na vagina. Só a mulher podia ser vítima de estupro e era um ato muito bem definido. Repito: pênis na vagina. Já o atentado violento ao pudor é o ato libidinoso que não seja pênis na vagina (tipo, pênis no cu ou pênis na boca). A lei era perfeita? Não, não era.

Quando se falava em “ato libidinoso” dava margem para uma série de situações duvidosas (a propósito, aquilo que você fez no carro ontem com aquele Zé Ruela é ato obsceno, art, 233 do Código Penal, e não atentado violento ao pudor, porque não foi contra a vontade dele). O que é um ato libidinoso? Qual o limite para classificar um ato como libidinoso? Difícil… Ainda mais em um país de proporções continentais como o Brasil. O que é ato libidinoso no interior do Mato Grosso pode não ser no Rio de Janeiro. Daí as pessoas ficam nas mãos de Juízes, alguns condenados e outros absolvidos por praticar exatamente a mesma conduta, muitas vezes morando no mesmo lugar.

Eu teria diversas sugestões de alterações para estes artigos, mas como minha opinião vale porra nenhuma, nem vou me dar ao trabalho de sugerir nada. Vamos ver as alterações que foram feitas:

Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:

Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.

§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:

Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.

§ 2o Se da conduta resulta morte:

Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

Entenderam o drama? Quem lê superficialmente ou escuta nosso amigo Bonner Simpson no Jornal Nacional (sim, eu detesto ele e vou falar mal dele sempre que tiver oportunidade) dizer “Aumenta a pena para estupro” fica feliz e bate palminhas. Mas na verdade a nova lei foi uma involução. Ela juntou o estupro e o atentado violento ao pudor em um único crime, o que na minha porra nenhuma humilde opinião, foi o maior desfavor de todos.

Antes, se um filho da puta te estuprava pênis na vagina e depois comia seu rabo, poderia responder por dois crimes diferentes, com as penas somadas (em juridiquês: concurso material de delitos). Hoje não. Qual o recado que nosso legislador passsou? “Alou, estuprador, se comer a mulher, aproveita e faz o pacote completo, enfia em tudo quanto é buraco, porque a pena é mesma!” Isso Bonner Simpson não fala (mas sorri debochadamente quando dá noticias como “Rafael Pilha faz um passeio pelo Código Penal” – babaca!).

No fim das contas, a nova lei deixou mais branda a punição por estupro e atentado violento ao pudor. Palmas para nossos legisladores, arquitetos, economistas, médicos e engenheiros que vem dar pitaco na lei para piorá-la. Por favor, não votem mais para colocar leigos criando leis. Além de deixar mais branda a pena, não corrigiu o defeito da lei antiga, que deixava uma brecha enorme com a palavra “ato libidinoso”. Essa porra indefinida continua lá. E agora mulher também pode estuprar homem, basta que ela pratique um ato libidinoso com ele contra a sua vontade. Cá entre nós, atire a primeira pedra quem nunca meteu a mão na bunda de algum gostoso! (*grilos tá, ok, fui só eu… indo pro cantinho da vergonha).

Além disso, essa nova lei estimula a histeria e a mágoa de caboclo de pessoas vingativas, da mesma forma que todas as outras leis que eu venho criticando, como a Lei de Violência Doméstica. Tudo bem que é pouco provável que alguém seja condenado por uma mão na bunda ou um beijo roubado, mas porra, existe a possibilidade de responder um processo e isso por si só já é péssimo. Imagina o peso de uma pessoa responder um processo por estupro? Daí vem aquelas pessoas mal amadas, histéricas, descontroladas e rejeitadas que vivem gritando que vão processar (bregaaaaa) e acabam intimidando. É uma arma para pessoas que querem prejudicar os outros.

Os maiores desfavores da nova lei são esses e o limite de páginas (e da sua paciência) não permite que eu me aprofunde mais nestes artigos. Entretanto, tem outros que merecem uma menção honrosa:

Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:

Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Porque merda um estupro é menos grave de for praticado mediante um meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima? Impedir a manifestação de vontade da vítima é tão grave quanto estuprar mediante ameaça. Alguém aqui gostaria de ser dopado, ficar consciente, sem poder se mexer e ser estuprado? Na minha cabeça é tão grave quanto. Juro que não entendi.

“Estupro de vulnerável”

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:

Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.

§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.

Vamos combinar que hoje existem muitas mulheres de 14 anos. Poderiam ter diminuído essa idade, ou então deixar a critério de uma avaliação de um perito em psicologia ou psiquiatria. Presumir automaticamente que NENHUMA menina de 14 anos tem aptidão para escolher se quer fazer sexo é ignorar a realidade. E quando o direito ignora a realidade, a realidade se vinga e ignora o direito: Meninas de 14 anos continuarão dando mais do que chuchu na serra, só que ainda terão uma arma de chantagem no dia seguinte de o sujeito não ligar. 12 anos seria uma idade mais razoável. Vejam bem, sexo contra a vontade é SEMPRE estupro, independente da idade, o que estamos falando é de casos onde mesmo consentido o sexo é considerado estupro. Uma menina de 13 ou 14 anos já pode consentir, né? Se não em todo o Brasil, pelo menos em parte dele. Tinha que relativizar isso aí.

E também achei meio bizarro presumir que pessoas com deficiência mental não tem desejo sexual. Tem muito deficiente mental que de fato não tem o menor discernimento para a prática do ato, mas tem desejo sexual e faz sexo mesmo assim, vide o caso da menina com Síndrome de Down que teve um filho com seu namoradinho, que foi objeto de um Desfavor da Semana aqui no blog. Aquilo foi estupro? Sei não… Assim você condena os deficientes mentais a nunca poderem fazer sexo na vida.

Mais uma coisa curiosa: em todos os crimes a pena se aumenta da metade se resultar em gravidez. Heeeein? Olha, se a pessoa passa uma doença para a outra, se causa uma lesão corporal, eu até acho que a pena tenha que ser majorada mesmo, mas em caso de gravidez? Primeiro que viola a intimidade da mulher, que pode querer abortar sem que ninguém saiba que ela engravidou e vai ter escrito em uma sentença judicial com o nome dela que sofreu um estupro com esse agravante. Segundo que se a mulher quiser ter o filho, é meio estranho que uma criança, que, supostamente, de alguma forma, é querida, seja motivo de pena maior. Quem estupra está pouco se fodendo, não vai usar camisinha por causa dessa majoração de pena.

Responder a um processo é uma coisa muito séria, muito sofrida e muito cara (a menos que você seja advogado e não precise pagar um). Essa nova lei foi leviana a irresponsável. Vai ter muita gente que não fez nada de mais respondendo a processo pro estupro. Já pensou como isso pode acabar com a reputação de uma pessoa? Se você, leitora, estivesse saindo com um Zé Ruela e descobrisse que ele responde a processo por estupro, continuaria saindo com ele? Daí fica essa horda de histéricas que só sabem blefar e depois peidar pra dentro e amarelar ameaçando processar… Amigo leitor, grite: PROCESSA EU! e me mande um e-mail, terei o maior prazer de ajudar.

Para me dizer que eu defendo estuprador, para me perguntar como passar a mão na bunda dos outros em segurança após a nova lei e para dizer que falar sobre leis é chato e que prefere quando eu falo sobre subcelebridades: sally@desfavor.com

Desfavor Explica: Falsos Positivos

ATENÇÃO: ESTE TEXTO NÃO É FALSO, POSITIVO?
Começo hoje uma série de textos cujo objetivo é analisar de uma forma racional a irracionalidade. Mais precisamente a irracionalidade do nosso dia-a-dia. Não há o menor propósito de se criar um tratado sobre psicologia ou algo que o valha, a idéia é demonstrar como algumas “áreas escuras” da mente humana podem ser facilmente exploradas por outras pessoas, independentemente de seus motivos.

E nada melhor para começar esta série do que falar sobre os falsos positivos. Trataremos “falsos positivos” aqui como: Qualquer relação entre causa e efeito inferida a partir de premissas ou métodos errôneos.

Mes esse tipo de definição é algo meio chato por si só. Vamos partir para uma linha mais simples de pensamento: Pensemos num “amuleto da sorte”.

Digamos que eu te ofereça uma moeda da sorte contra estouro de manada de elefantes. Eu te garanto que enquanto você mantiver a moeda em seus bolsos, você NUNCA será uma vítima de uma turba de paquidermes enfurecidos. Digamos então que você me permita o benefício da dúvida e mantenha a moeda.

Anos depois, caso nos encontrássemos, você teria que dar o braço a torcer. Desde que você começou a andar com a moeda da sorte, não ouviu nem falar de um estouro de manada de elefantes. A lógica é simples no caso: A moeda realmente funciona com o propósito devido. Causa e efeito.

Mas esse é um exemplo absurdo, é claro. Existem outros elementos nesse sistema que podem explicar com facilidade por que o detentor da moeda nunca foi atacado por uma manada de elefantes. No Brasil, elefantes só podem ser vistos em zoológicos e circos. E nunca numa quantidade suficiente para se considerar uma manada. Ataques de elefantes são raros, principalmente para quem nunca teve contato com um…

Um adulto em suas faculdades mentais normais nem consideraria a possibilidade da existência de um amuleto desse tipo. Mas vários adultos em em suas faculdades mentais presumidamente normais utilizam símbolos religiosos para se proteger do mal no dia-a-dia. Qual a diferença entre os dois casos?

É mais simples do que parece. É uma questão de tamanho da “equação”. Enquanto no caso obviamente absurdo da moeda anti-estouro de manada de elefantes são apenas duas variáveis facilmente explicáveis por lógica simples, no caso do “santinho” entra uma quantidade de informações e possibilidades tão grande que torna trabalhoso demais quebrar o raciocínio em pedaços menores (“proteger do mal” é uma expressão muito complexa) até se entender que a idéia geral é um conglomerado de amuletos da sorte.

Para que o símbolo religioso se torne efetivamente apenas mais um amuleto cujo resultado prático é apenas mais um falso positivo, é necessário lidar com a maior e mais poderosa ferramenta de controle que existe, estou falando do MEDO.

Vamos voltar para o caso da moeda. O portador desse amuleto (que nem acredita muito no objeto, mas o levou por “precaução”) finalmente se encontra na situação que desprova o funcionamento dele. Durante um safári na África, depara-se com dezenas de elefantes furiosos correndo em sua direção. A situação é tal que ele está encurralado e sem nenhuma expectativa racional de escapar do perigo iminente.

O medo é um dos sentimentos mais básicos possíveis. Quando ele assume o controle da mente, não permite que nada mais complexo possa combatê-lo. O medo desliga a racionalidade e traz à tona toda a carga de instintos que carregamos conosco. Reações químicas muito mais poderosas que as habituais nos tornam máquinas de auto-preservação. A busca pela segurança é a única prioridade. A quantidade de variáveis DESABA.

Os falsos positivos ficam irresistíveis. O portador do amuleto anti-estouro de manada de elefantes tende a segurá-lo com força e manter sua esperança que no último segundo, ele vai funcionar e salvá-lo. E agora, a parte interessante: Se ele por algum acaso escapar, a lógica simples de causa e efeito vai ganhar o apoio de um exemplo empírico. Não foi apenas coincidência! Na hora que ele mais precisou, a moeda o salvou! É verdade, ele vivenciou!

Você, que está lendo, ainda sim pode imaginar outras possibilidades mais plausíveis para a sobrevivência do homem que acreditava em seu amuleto. Uma árvore no caminho pode ter desviado a manada. O homem pode ter se beneficiado por ter ficado parado e não colidido com nenhum dos animais por pura chance. Muita coisa pode fazer sentido, mas não existe nenhuma razão lógica para uma moeda, um pedaço de metal, ter qualquer função que interfira com o funcionamento da mente de elefantes, os obrigando a mudar de direção e não machucar o dono do amuleto. Dono esse que agora tem CERTEZA que o amuleto funciona. Certeza que você, observando de fora, não tem.

E vejam só, o fato de que o amuleto NÃO impediu o estouro da manada é convenientemente ignorado. A conclusão se apóia na parte mais sólida da idéia. A base, descreditada pela realidade, continua intacta com a ajuda do resultado. Isto é um falso positivo reforçado.

Porém, e se ele não escapasse? E se terminasse sua vida com uma moeda esmagada junto com o que restou da sua mão? Já que nesse exemplo fui eu que entreguei a moeda para o pobre coitado, um amigo dele vem me confrontar sobre a moeda que eu garanti ser verdadeira, um amuleto que pode ter diminuído drasticamente a chance de sobrevivência de seu dono naquela situação. Eu posso escapar de várias maneiras mantendo a presunção de poder anti-estouro de manadas de elefante:

“Eu disse que a moeda tinha que estar no bolso para funcionar. Ele morreu segurando ela.”;

“Ele não acreditava de verdade no poder dela. Isso era condição para ela funcionar.”;

“A moeda só funciona no Brasil.”;

“Elefantes africanos? Não! A moeda era para os asiáticos.”.

Para escapar de qualquer confrontamento sobre um falso positivo, aumente o número de variáveis. Uma pessoa que não tem capacidade ou coragem de questioná-lo num primeiro momento VAI continuar sendo levada ao erro de acordo com a escalabilidade da complexidade da idéia.

Repito: Estou usando um exemplo absurdo. A chance de alguém acreditar num amuleto desses, mesmo ouvindo sobre ele por intermédio de uma testemunha de seu funcionamento, é praticamente nula. Praticamente. Apenas o medo é capaz de enfraquecer sua lógica a ponto de aceitar um falso positivo simples. Lembram que o portador do amuleto no exemplo o levou apenas por “precaução”?

“No creo en las brujas, pero que las hay, las hay.”

Essa é uma relação muito comum entre a mente humana e o medo do desconhecido. Mesmo que a racionalidade não permita que alguém se entregue totalmente a uma superstição, existe uma parte de nós que não quer ser pega de surpresa no improvável caso dela ser real. Medo. O medo está lá na base, nos fazendo aceitar, pelo menos parcialmente, uma quantidade de bobagens impressionante em nossas vidas. O medo nos faz aceitar as relações lógicas simplistas entre causa e consequência sem nenhuma preocupação com a reprodutibilidade do comportamento. (A idéia é buscar padrões, e mesmo assim abandonamos essa necessidade assim que ele bate de frente com o que QUEREMOS acreditar para nos sentirmos mais seguros.) Somos muito mais permissivos nas “profundezas” de nossa consciência.

Falsos positivos são o resultado de falhas na nossa lógica causadas pelo medo do que não conhecemos. Todo mundo tem esse ponto fraco. Muita gente lucra com isso. Muita gente sofre com isso. Mas ninguém deixa de ser esmagado por elefantes por causa disso.

Os falsos positivos são uma espécie de pirâmide invertida. Basta prestar atenção na base para perceber a sua fragilidade estrutural. Nunca tente derrubar um argumento aparentemente insano pelas conclusões. O número de variáveis aumenta exponencialmente, inclusive com várias delas parecendo muito racionais.

Derrube a base. Acenda a luz.

Para me perguntar o quanto eu cobro pelo amuleto anti-estouro de manadas de elefantes, para dizer que eu abordei o assunto de forma surpreendemente não-ofensiva, ou mesmo para expor as falhas básicas na minha explicação: somir@desfavor.com