Um assunto desses tem que ser tratado com muita sensibilidade. Por isso imagino que vai dar merda… Flertarei com o desastre, de qualquer forma.

Imagine uma sala com pessoas das mais diversas idades, religiões, orientações sexuais, etnias e nacionalidades. Um dos poucos assuntos que vai unir a todos é pedofilia. O ódio pelo pedófilo é um dos mais universais que conhecemos.

E, é claro, faz muito sentido. Uma pessoa que usa uma criança para satisfazer seus desejos sexuais é criminosa e repulsiva, por qualquer ângulo que se olhe. Pesquisando um pouco você descobre casos HORRÍVEIS de abusos contra crianças cujo único “crime” foi nascer na casa errada.

Não é nesse conceito de quão errado está o pedófilo no qual vou basear meu texto. Está e ponto final. Também não estou interessado em discutir a função da legislação específica, a brasileira é muito boa. (Ao contrário da americana, que é um desastre dependendo do estado. Lá tem gente tachada de pedófilo para a vida toda porque fez sexo com a namorada de 17 anos. Ou garotas de 16 anos processadas por pedofilia depois de mandar uma foto dos PRÓPRIOS peitos para um paquera…)

Hoje eu quero falar sobre um problema sério na internet. Um problema causado pela histeria punitiva da população geral em relação ao assunto pedofilia.

A quantidade de vídeos e imagens de crianças em situações sexuais explícitas trocadas pela internet desde que você começou a ler este texto não caberia no seu HD. A coisa é séria assim. Hoje em dia é fácil demais conseguir esse material, e não exatamente pelo talento dos pedófilos em fazer isso debaixo do nariz da sociedade. E sim por “culpa” de pessoas que não tem nada a ver com os objetivos deles.

A sociedade nunca viu com bons olhos a sexualização muito precoce de uma criança. Mesmo em culturas mais liberais nesse assunto, existia uma certa linha limite. (Por exemplo: Podia se casar com 10 anos de idade, mas não com 7. Não precisava estar escrito em lugar nenhum, as pessoas definiam com base na sua percepção o quão cedo era “cedo demais”…). Evoluímos e percebemos que era saudável para todo mundo dar valores definidos para essa linha. Pedofilia passava a ser um conceito claro. Estava errado todo cidadão que mantivesse relações sexuais com pessoa menor do que a idade definida por aquela linha. Errado e igualmente execrado.

Novamente, não é isso que discuto. Faz sentido que exista uma linha, o Estado não pode avaliar caso por caso e tem seus motivos pra lá de lógicos de não dar a uma criança o poder de consentir sexualmente. (Uma criança é indefesa contra a vontade de um adulto mal intencionado.)

Com o tempo, nos acostumamos com essa linha definida. E com isso, o rótulo de “pedófilo” só foi ficando mais poderoso. Não se via tamanha ofensa generalizada há algumas gerações atrás. Oras, evoluímos, não?

Sim, evoluímos. Mas criamos um monstro. Aliás, vários. Qualquer pessoa que tenha relação com pedofilia é um monstro instantâneo. Não existe meio-termo. Se jogarem um cidadão no meio de uma multidão e disserem que ele é pedófilo, a chance dele ser linchado é grande. Quem gosta de pedófilo? Eu que não.

Mas… por que a pessoa prestes a ser linchada era pedófila? Segundo a legislação brasileira, essa pessoa poderia ser pedófila por ter em seu computador uma revista em quadrinhos japonesa onde desenhos de crianças fazem sexo. Não estou inventando isso. Atualmente punimos a posse de qualquer material que remeta à pedofilia.

Esse material é nojento? É. Essa pessoa é pedófila? Não há a menor garantia. É melhor mudar a lei? Não. Ela tem mesmo que cobrir o máximo que puder. Vai que um daqueles filhos-da-puta que produzem conseguem escapar por uma brecha?

O problema não é a lei. O problema é a demonização de qualquer coisa relacionada à atração sexual de adultos por crianças. Ah, terreno arenoso esse…

Existem criminosos, existem doentes, existem idiotas que baixam qualquer coisa do emule, existem pessoas que nem imaginam que aquela foto era de uma menor de idade… Mas o que fazemos com todas essas pessoas no caso de serem pegas? Chamamos de pedófilos.

E o pedófilo, como dito no começo do texto, é um dos maiores inimigos públicos. E isso foi usado por pessoas que queriam controlar melhor o que acontecia na internet. Quer motivo mais nobre para vigiar de perto o que é escrito e publicado na rede do que pegar pedófilos? Quem que vai discutir?

Eu vou.

Essa sanha de botar regras e registrar tudo o que se diz no ambiente virtual NÃO inibe a distribuição de pornografia infantil em larga escala. E foi justamente essa histeria punitiva virtual que incentivou pessoas que NADA tinham a ver com o crime em questão a desenvolver formas de comunicação anônimas (muito seguras) para não ceder aos desejos de censura de seus governos. Tudo bem que em muitos países a perseguição é política, mas aqui o assunto principal quando se fala em vigiar a internet é mesmo pornografia infantil.

Essas pessoas que desenvolveram sistemas como TOR, freenet e tantos outros para poder se expressar à vontade acabaram criando ambientes perfeitos para a troca de arquivos entre os que queriam apenas mais material para saciar seu fetiche criminoso.

E eu não vejo ninguém indo nos lugares onde a coisa realmente está feia. Dar chilique com o orkut dá visibilidade e é bem mais fácil. A pessoa que publica fotos de pedofilia num dos maiores sites do Brasil seria pega de qualquer jeito. O escroto que troca gigabytes de pornografia infantil pelos cantos mais obscuros da internet normalmente sabe se proteger muito bem. Precisa de MUITO esforço para pegá-lo.

E sabem o que é pior? Enquanto safernet e similares pressionam o orkut para tirar as postagens anônimas, os pedófilos estão trocando informações para ficarem cada vez mais seguros. Oras, eles foram “varridos” para debaixo do tapete ao invés de caçados pelos crimes que cometeram. Conseguiram juntar quase todos nos mesmos lugares, com pouca ou nenhuma supervisão.

A forma como se caça essas pessoas na internet SELECIONA os mais fortes. É pego aquele que não paga (não movimenta o mercado) e que não tem nenhuma capacidade de se proteger da investigação. (Que tirando os casos que vão para a mídia, é uma porcaria. Não pela qualidade de quem investiga e sim pela falta de mão-de-obra especializada. Tem gente se safando porque os poucos peritos certificados não tem tempo de analisar tudo o que recebem…)

Um argumento batido é que se deve pegar primeiro os que produzem. Batido, mas racional. Os que produzem estão fazendo mal para crianças diretamente. Isso é urgente. Mas… como esse clima todo sobre pedofilia é uma excelente desculpa para “moralizar” a internet, estão caçando com afinco o (cretino, escroto, pústula) que baixa e guarda esses arquivos, mesmo sem produzir.

O produtor é alvo difícil. Ele sabe que está fazendo algo completamente ilegal, seja por ser doente (pedófilo) ou por ser um explorador (faz pelo dinheiro). Essa pessoa tenta se cobrir por todos os lados.

O consumidor que paga pelo material também não é amador. Complicado ir atrás dele. Quem sobra? O lado mais fraco da corda. Aquele que tem pouco ou quase nenhum papel DIRETO na produção e comercialização. Aquele que baixa um arquivo por curiosidade estúpida ou realmente é um doente “sob controle”.

Todos pedófilos incorrigíveis, de acordo com o que pensamos. É a generalização do grau de culpabilidade que fazemos em nossa cabeça que dá poder para o Estado fechar portas na internet “habitual” e por consequência criar esconderijos perfeitos para quem deveria ser pego de verdade.

Sim, pegam muita gente. Mas se pararmos para pensar no tamanho do problema da pornografia infantil, é pouco.

Escutem o que eu digo: Vão atacar pesadamente a liberdade de expressão na internet nos próximos anos. E pedofilia vai ser um ponto forte da argumentação. (Como já é.) É muito difícil se levantar contra isso, mas não se enganem, podem estar pegando muita gente mas a sujeira grossa está sendo jogada debaixo do tapete. No mundo todo.

E não pensem que eu estou só reclamando por reclamar. Muita gente denuncia os lugares onde a pornografia infantil circula livremente. Eu já fiz isso várias vezes. Continua tudo no ar.

(Se não bastasse o motivo óbvio para não gostar deles, os pedófilos ainda estragam lugares de liberdade total de expressão e espantam quem está por lá.)

Acho que estão muito ocupados defendendo a honra virtual das pessoas para investigar a fundo… Afinal, deve ser muito trabalhoso ficar apagando comunidades do orkut que tiram sarro de tragédias…

Quando ficamos muito sensíveis com um assunto, acabamos não percebendo quem se aproveita disso para nos tirar liberdades.

Para me perguntar como achar esses sites e ser jogado numa armadilha da PF, para dizer que eu só estou com medo de me pegarem ou mesmo para falar que eu sou um monstro: somir@desfavor.com

Eu paro quando quiser...

Uma das bebidas mais vendidas no mundo, comercializada em mais de 140 países. Vício para uns, vilã para outros. O Desfavor Explica de hoje é sobre nosso doce veneno, Coca-Cola.

Antes de mais nada, quero informar que para escrever este texto pedi ajuda de profissionais avalizados. Todas as informações técnicas que podem ser vistas aqui me foram passadas por técnicos da área. E desde já agradeço a compreensão e paciência dos três que consultei em responder minhas intermináveis perguntas (dou uma folha de coca para quem adivinhar em que empresa eles trabalham).

A Coca-Cola foi criada pelo farmacêutico John Pemberton, em 1886. Não foi criada como uma bebida e sim como um remédio patenteado (era um “tônico para os nervos”, o que quer que isso signifique). Usava como estimulante a folha de coca (essa mesma, a da cocaína), o que alimentou uma lenda urbana que Coca-Cola contém cocaína até os dias de hoje. Com o tempo, o estimulante foi substituído pela cafeína, entretanto, a folha de coca ainda é usada para dar sabor à bebida, porém essa folha não tem qualquer potencial entorpecente. Até 1915, a Coca-Cola de fato continha uma pequena quantidade de cocaína (o que na época era permitido). Depois disso, foi suprimida e restou apenas a folha de coca.

A bebida recebeu esse nome porque era composta de folhas de COCA e o sabor era oriundo da noz de COLA (uma plantinha africana).

Com o tempo e com algumas alterações em sua fórmula e uma campanha de marketing muito eficiente, entrou no mercado como uma das bebidas mais consumidas no mundo. Nos primórdios, o concentrado da bebida (xarope que dá origem ao refrigerante) era armazenado em barris vermelhos. Por isso adotaram o vermelho como cor oficial da marca e fizera disso uma característica marcante. Grandes trolls da publicidade fazem isso: capitalizam em cima de tudo para tornar o produto onipresente.

O nome do responsável pela marca Coca-Cola é Asa Griggs Candler. Esse gênio da trollagem alimentar nos empurrou essa bosta goela abaixo e nos fez crer que seu sabor é agradável. Desenvolveu uma estratégia de marketing massificando a presença da Coca-Cola na vida dos consumidores: distribuiu objetos com a marca da Coca-Cola para os comerciantes locais, de modo que ela se torne onipresente, espalhou as Coke Machines para permitir que o consumidor tenha acesso à bebida em todos os lugares e criou embalagens portáteis que permitiam beber Coca-Cola em qualquer lugar.

Também associou a Coca-Cola à família, com propagandas onde ela era a bebida oficial do almoço de domingo. Criaram na Coca-Cola uma idéia de originalidade, rebaixando os concorrentes a meras “cópias”. Fizeram uma garrafa exclusiva, chamada “Contour”, que o consumidor poderia reconhecer sem rótulo, até mesmo de olhos vendados ou no escuro, graças a seu design original, que foi um sucesso, uma marca em si mesma. Esta sucessão acertos publicitários alavancou o sucesso da bebida. Mas é claro que não foi apenas marketing. A bebida, por sua fórmula, conquistou nossos organismos.

Vamos à grande pergunta que não quer calar: a fórmula secreta da Coca-Cola. Como pode ser que nenhum outro refrigerante a tenha descoberto e imitado? Como pode uma bebida fabricada há mais de cem anos manter em sigilo sua fórmula? Eu sempre acreditei nessa lenda urbana de que a fórmula da Coca-Cola era secreta e apenas dois executivos sabiam seu conteúdo, cada um conhecendo apenas a metade da fórmula. Estava errada. Até parece que existem segredos na era da internet.

Senhoras e Senhores, o Desfavor lhes dá a fórmula da Coca-Cola: concentrado de açúcar queimado (vulgo “caramelo”, que é o que lhe dá essa cor escura), ácido ortofosfórico (um “veneno” do qual falarei mais tarde), sacarose (vulgo açúcar, mais precisamente açúcar da frutose do milho), extrato da folha da planta de coca (calma, não é cocaína), cafeína (que faz com que as pessoas que ingerem Coca-Cola se mantenham mais alertas e concentradas), conservantes, Dióxido de Carbono e meu grande inimigo, o Sódio.

“Mas Sally, se todo mundo sabe a fórmula, porque os concorrentes tem gosto de xarope? Porque não fazem bebidas tão gostosas como a Coca-Cola?”. É aqui que começa a baixaria. Não é inteligente escrever o que eu vou escrever, mas eu vou escrever mesmo assim e na pior das hipóteses, isso vira um Processa EU. Já pensou? Ser processada pela Coca-Cola? As outras marcas usam em sua composição uma substância chamada ácido cítrico. A Coca usa ácido ortofosfórico. O ácido ortofosfórico causa uma falsa sensação de leveza, de boca limpa, de refrescância que torna a Coca-Cola mais agradável que a concorrência. Ele é o diferencial. Sem ele a Coca-Cola seria intragável. Mas, se ele é o pulo do gato, porque os demais refrigerantes não o usam?

Simples. Porque é proibido. Só a Coca-Cola tem permissão. Porque é proibido? Porque pode causar uma série de malefício à saúde, quando consumido em excesso, como corrosão do esmalte dos dentes, osteoporose e comprometimento da formação óssea e dentária de uma criança. Ele rouba cálcio do organismo, por isso pode causar esses e muitos outros estragos. Pergunta número dois: se mais ninguém pode usar, porque a Coca-Cola pode? Não sei responder. Ninguém sabe responder. Tirem suas próprias conclusões.

Já fizeram um grande alarde sobre a presença da folha de coca na Coca-Cola. Um laudo do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal concluiu que a Coca-Cola do Brasil usa sim folhas de coca como matéria prima do extrato vegetal que dá origem à bebida. Isso não quer dizer que a Coca-Cola seja uma droga, nem que vicie (até vicia, mas é pelo açúcar e pelo sódio). A folha de coca não é sinônimo de cocaína, não contém alcalóides entorpecentes. Mas então porque tanto barulho? Porque o uso da folha de coca não seria permitido por lei, mesmo que não tenha efeitos entorpecentes. Segue um trecho do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal:

“… as folhas de coca provenientes do vegetal cientificamente denominado Erytroxylum novagranatense, variedade truxillensi, cultivada no Peru, são utilizadas como matéria-prima na fabricação do extrato vegetal a partir do qual é fabricado o refrigerante Coca-Cola (…) as análises químicas realizadas (…) não revelaram a presença de cocaína e outras substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas na composição dos extratos vegetais”.

Na época em que explodiu a controvérsia, o chefão da marca de refrigerantes Dolly foi à imprensa questionar porque a Coca-Cola poderia usar folhas de coca em sua composição se a legislação brasileira proibia sua utilização e de qualquer derivado da folha de coca. O Presidente do Instituto Brasileiro de Auditoria em Vigilância Sanitária disse que, a rigor, o produto deveria ter sua comercialização suspensa.

Desde então, começou uma briga onde de um lado se pede a suspensão da comercialização pelo descumprimento à lei, e do outro a Coca-Cola alegando que não contém substâncias entorpecentes, logo, não faz mal à saúde, logo, não precisa respeitar essa lei. Teve de tudo um pouco, ação judicial, ameaça de morte e boicote. E ninguém fala na porra do ácido ortofosfórico, que mais ninguém pode usar e que é o que realmente está fodendo com a saúde das pessoas.

E não é só o ácido ortofosfórico que faz mal ao organismo humano. O teor de acidez da Coca-Cola é assustador, seu PH é de 2.5, algo próximo ao vinagre ou ao nosso suco gástrico. Tá pouco? Quer mais? Coca-Cola tem uma quantidade elevada de sódio. Cloreto de Sódio provoca uma sensação “refrescante”, o que não passa de uma armadilha, porque acaba causando uma sede ainda maior. Daí essa vontade de beber mais Coca-Cola. E o sódio vai entrando… causando retenção hídrica no seu organismo, vulgo celulite.

A bebida também contém muito açúcar, mas não enjoa porque essa quantidade de sódio compensa e imensa quantidade de açúcar. Um “anula” o outro, nos fazendo ingerir ambos em doses cavalares. Cerca de 10% da Coca-Cola são de açúcar, ou seja, você bebe aproximadamente dez colheres de açúcar de uma vez. E o maldito ácido ortofosfórico combinado com o sódio faz com que você não sinta que está ingerindo tanto açúcar.

Quando tanto açúcar entra no organismo, há produção de insulina para tentar conter o estrago. O fígado transforma esse açúcar em gordura e com o tempo você não cabe mais na sua calça, parte por culpa do açúcar (gordura), parte por culpa do sódio (retenção de líquidos). Todo esse açúcar que você ingeriu é estocado pelo seu organismo, ou seja, aproximadamente duas horas depois, por causa do aumento da produção de insulina, seu organismo deu conta do açúcar, que fica baixo outra vez e você está com vontade de beber Coca-Cola novamente.

Além disso, duas horas depois a cafeína também já parou de fazer efeito. A “euforia da Coca-Cola” passou. Por isso, as pessoas bebem mais, sobrecarregando novamente seu organismo, enquanto o ácido ortofosfórico se encarrega de levar embora pelo intestino grosso seu cálcio, magnésio, zinco e outros.

Porque nosso organismo pede mais de uma coisa que faz mal? Muitos e muitos anos atrás, quando o ser humano caçava para se alimentar, o organismo se acostumou a estocar o máximo que podia, porque nunca se sabia quando seria a próxima refeição. Hoje, por resquício daqueles tempos, o corpo “pede” comidas gordurosas ou açucaradas, para estocar em caso de necessidade, mesmo sem precisar. Sobrevivia quem mais estocava. Esses foram os genes que prosperaram. Açúcar vicia, é um fato científico.

E para quem pensa que estará seguro tomando a versão diet… só lamento. A versão sem açúcar é adoçada com aspartame. O aspartame, por suas propriedades (a explicação é tenebrosamente complexa) tem um tempo de validade muito curto depois de molhado, entre duas semanas e um mês. Depois disso passa a ter um gosto horrível. Para evitar essa deterioração, colocam uma caralhada de substâncias químicas para prolongar a vida útil do adoçante, para impedir que ele cristalize e para diversas outras coisas que são chatas demais para explicar aqui. Conclusão: ainda mais tóxico e nocivo ao organismo do que a versão normal. E contém mais sódio, então, não pensem que quem toma refrigerante sem açúcar não engorda, porque o sódio é um vilão ainda pior que o açúcar na dieta. Sem contar que em ambos os casos, o gás pode dilatar as paredes do estômago e te fazer comer mais.

Mas nada disso entra na cabecinha viciada dos consumidores de Coca-Cola. Mesmo cientes de que, em grandes quantidades e a longo prazo ela pode fazer mal ao seu organismo, ainda existem pessoas que apenas bebem Coca-Cola em suas vidas. Sim, pessoas que substituem água por Coca-Cola. A combinação açúcar – sódio – cafeína tem um potencial viciante e os mais fracos se jogam nos braços do vício como se não houvesse amanhã.

Em países onde há consumo ostensivo de Coca-Cola o número de obesos aumentou significativamente. Nos EUA, 73% da população está acima do peso ideal (fonte: BBC Brasil). Claro que a culpa não é só da Coca-Cola, mas coincidentemente, nos estados onde sua venda é mais expressiva, o número de obesos é maior.

Faço aqui uma pergunta que também costumo fazer aos fumantes: sua primeira vez ao usar o produto, foi boa? A primeira vez que você tomou Coca-Cola, o gosto lhe foi agradável? Duvido. Mas eu duvido é muito. Tal qual os fumantes, geralmente a primeira vez não é agradável, mas ainda assim, as pessoas insistem. Pressão social, curiosidade, ou sabe-se lá porque. O fato é que insistem tanto que o organismo se acostuma e pede mais.

Tente dar Coca-Cola a um animal de estimação. Eu já tentei. Eles viram a cara. Mas o marketing exerce tamanha influência em nós, supostos animais racionais, que acabamos cedendo e nos entregando a aquela latinha vermelha gelada. Nada que um Papai Noel de bochechas rosadas um simpático urso polar dançando não resolva. Quão idiotas nós somos?

Sei que ninguém vai deixar de beber Coca-Cola por causa disto que eu escrevi aqui, nem é essa a intenção. Não quero passar sermão nem fazer campanha contra a Coca-Cola, isso seria hippie demais. Livre arbítrio, cada um escolhe a forma como quer se detonar.

Só fico revoltada quando vejo imbecilóides dando Coca-Cola na mamadeira para seus filhos. Se quer se destruir, beleza, de fode aí, Prêmio Darwin, um imbecil a menos no mundo, mas sacanear uma criança que não pode se defender é um pouco demais para o meu gosto. Permitir a ingestão de grandes quantidades de Coca-Cola antes de que se complete a formação óssea e dentária é extremamente prejudicial à criança. Se eu tivesse mais espaço, entraria em detalhes (já estou no final da quinta página, Somir vai me matar).

Só uma curiosidade: os filhos de muitos empresários que trabalham na Coca-Cola estão proibidos de beber Coca-Cola.

Para me perguntar se eu bebo Coca-Cola, para me perguntar se eu trabalho para a Dolly e para me dizer que você sempre bebeu Coca-Cola e seus ossos e dentes vão muito bem, obrigado: sally@desfavor.com

Juro!

Relacionamentos terminam. Seja lá a motivação, normalmente uma das partes tem menos convicção sobre a necessidade do fim do que a outra. Nesses casos, quem termina acaba enfrentando uma decisão entre contar a verdade sobre os motivos do término ou não.

Sally e Somir enxergam essa decisão de formas diferentes.

Tema de hoje: Quanta verdade deve existir no término de um relacionamento estável?

Pouca, se possível nenhuma. Pelo bem de quem tem de dar seus motivos e principalmente pelo bem de quem tem de ouvi-los. É normal que nesse exato momento você se coloque no papel de uma pessoa que está levando um pé-na-bunda sem entender os motivos. Pensando assim, parece mesmo uma sacanagem mentir.

Mas será que é tão normal assim não entender os motivos? Não confundam ignorar a realidade com não ter noção dela. A presunção de ignorância não combina com um namoro ou casamento. Você realmente se acha tão burro(a) assim a ponto de não perceber o que deu errado? Nem mesmo os relacionamentos que terminam com traição são tão imprevisíveis assim.

Sabem por que parece uma sacanagem mentir?

1. Porque é difícil perceber que quem cuida da sua vida é você. Jogamos muita responsabilidade nas costas de outras pessoas, e num término onde você quer muito saber toda a verdade, na verdade você quer que outra pessoa te coloque na direção certa para se eximir dessa responsabilidade. Infelizmente o problema é SEU;

2. “Como assim alguém não gosta mais de mim?” Tem que ter uma explicação incrível, não? Sinto te decepcionar, mas não precisa de muito para alguém desgostar de você. Uma série de pequenos eventos difíceis de se apontar se acumulam e tornam-se uma bola de neve de rejeição. Você não fez nada de tão errado assim, você É errado(a) para aquela pessoa. E isso dói;

3. Você acha que merece mais do que uma mentira depois de tudo que passaram juntos. Mas… vem cá… Que história é essa de ficar exigindo tratamento especial de alguém que não te quer mais? Não caiu a ficha ainda? Na verdade quem exige a verdade nesse momento só quer mais pano para a manga da conversa, na expectativa de reverter o término. É difícil aceitar o fato.

É medo de pensar. Medo de ir a fundo no que desencadeou o processo e descobrir que você não é aquela pessoa insubstituível que julgava ser. Eu mesmo odeio isso. Mas a vida é assim, você é o líder enquanto puder ser o líder. Nada é eterno, ninguém é irresistível.

Cuidado com a idéia de que não dar grandes satisfações para a outra pessoa é uma maldade. Não é. De uma forma, é dar uma chance para ela de perceber o que está fazendo de errado. Quando você “dá o peixe”, a chance dela simplesmente não entender nada e continuar fazendo o mesmo é maior ainda. Terapeutas demoram anos para conseguir essas coisas, você acha mesmo que com uma conversinha vai fazer mágica? Se você quer mesmo fazer uma boa ação para a pessoa, minta e traga toda a culpa para si mesmo. Ela vai ter o que desabafar e vai ser muito mais fácil te esquecer. Pronto. Deixa ela ir embora! Ela nunca vai mudar. E às vezes nem precisa mesmo… Relacionamentos vem e vão, essa pessoa ainda se acerta com outra mais compatível.

É muita pretensão achar que seus “toques” sobre como tal pessoa perdeu seu interesse são algum referencial benigno para que ela evolua. Quem garante que o(a) babaca não foi você?

E para quem tem de dizer por que quer terminar, por que é melhor mentir?

1. Porque a outra pessoa, na verdade, não precisa dos seus motivos reais para aceitar o término. Ela precisa entender o fim de uma relação e que pessoas diferentes pensam de formas diferentes. Não é o fato de saber que ela é muito carente, por exemplo, que vai acabar com a carência dela. E pior, se essa pessoa não achar um defeito, você adiciona MAIS uma camada de injustiça. Não é melhor para ela achar que você simplesmente não quer mais?

2. A verdade pode ser ofensiva. E o SEU referencial de ofensividade dificilmente vai entrar em acordo com o daquela pessoa com a qual você não quer mais ficar junto. E se para dizer a verdade você acabar batendo justamente numa ferida aberta? Você vai estar lá para ajudar a curá-la? É uma forma de covardia, é uma forma de deixar algumas frases na memória daquela pessoa que vão assombrá-la toda vez que a insegurança bater. Você garante que sua opinião sobre essa pessoa seja verdade absoluta?

3. A verdade pode ser uma porta entreaberta. Quando você é genérico, sobra pouca ou nenhuma possibilidade de estender o assunto. Quando você começa a falar sobre algumas das razões pela qual está se afastando, a tendência é que se argumente. O conjunto decide o término, mas nesse caso de “honestidade ética” você acaba dividindo tudo em pequenos pedaços, e não duvidem que a pessoa que não quer terminar vai se agarrar nesses pedaços que ela pensa ter controle para tentar te convencer a mudar de idéia. O terminado vai achar que o problema são os 5 quilos a mais ao invés do desleixo geral com a aparência, por exemplo.

Se você diz a verdade num término apenas para se sentir bem consigo mesmo e reafirmar na sua mente que está fazendo a coisa certa, está na cara que a única pessoa que te importa é aquela que enxerga no espelho pelas manhãs.

Vocês tem certeza que a mentira é tão nojenta assim nesse caso? Eu não. Eu acho que a verdade CONSTRÓI. Usá-la para destruir é subverter o propósito. Apesar de não ser nenhum bastião da verdade, ainda tenho alguns princípios básicos neste assunto.

A verdade mantém, a mentira termina.

Para dizer que terminou com seu(sua) ex dizendo que ia se alistar na Legião Francesa, para me dizer toda a verdade ou mesmo para dizer que não sou eu, e sim você: somir@desfavor.com


Devemos ser sinceros ao terminar um relacionamento? Sim. Isso quer dizer que devemos dizer coisas rudes e cruéis? Não.

Mentir sem dúvida é o caminho mais fácil. É o caminho adotado pela maior parte dos Cuecas. Eles acham que mentindo nos poupam de sofrimento. Eu discordo. Mentira é um artifício de pessoas medrosas ou então de pessoas que querem evitar problemas. Prefiro ser sincera, porque por mais que ele me odeie naquele momento, um dia, quando estiver recomposto, vai me agradecer por eu não ter tido pena dele. E eu gostaria que fizessem isso comigo.

Você não precisa esfregar a verdade na cara da pessoa. Mas daí a mentir/omitir deliberadamente sobre o motivo do término é um último ato de desonestidade com seu parceiro. Você está negando ao parceiro uma chance de saber exatamente onde deu errado e onde ele ou ela podem melhorar, caso queiram. Tem coisa pior do que aquela pessoa que por pena te fala os clichês “Não é você, o problema sou eu, preciso ficar um pouco sozinho” e te deixa o resto da vida se perguntando onde foi que você errou? Muitas vezes nem é culpa de alguém!

Mentir é pressupor que a pessoa é fraca demais para ouvir a verdade e se recompor. É tomar o outro por idiota, por incompetente e por fraco. Vejam bem, estou dizendo que não se deve mentir sobre O MOTIVO. Isso não quer dizer que tenhamos que detalhar o motivo e estender uma dissertação de duas horas narrando cada desdobramento desse motivo. Apenas o motivo e ponto.

Quando se termina um relacionamento com uma pessoa devemos sim uma satisfação. Negar uma explicação coerente e verdadeira é querer se eximir de uma responsabilidade assumida. Sem contar que a verdade liberta, pode doer horrores, mas liberta. Depois de saber a verdade fica mais difícil de idealizar o parceiro perdido e guardar esperanças. Acelera o processo de cura.

Sem contar que uma mentira pode ser um placebo de curta duração. Não adianta inventar um motivo lindo e que te faça sair bem se a pessoa acabar descobrindo o motivo real depois de um tempo. Pior, se acabar descobrindo por terceiros. Esse tipo de humilhação não se faz, é desleal. Garanto que a pessoa preferiria saber a verdade a passar por esse papel ridículo de “última pessoa a saber”.

Relacionamentos terminam, as pessoas tem o sagrado direito de enjoarem umas das outras, de querer novos caminhos, de desgostar. É uma merda, mas é uma merda maior ainda ficar com alguém por pena ou medo de terminar. Não vamos subestimar os outros, nem nos hiper-estimar: ninguém vai morrer porque levou um fora nosso nem por saber as razões. Nem vai chorar por meses, nem vamos destruir suas vidas. As pessoas são mais fortes do que imaginamos e não temos tanto poder assim sob a vida alheia.

E chega dessa mania egoísta (sim, é essa a palavra, egoísta) de querer sempre sair bem, sair por cima, sair bonito. Tem horas na vida que o mais digno e honesto é dizer “Fiz merda, foi mal. Fiz mesmo, valho menos que uma paçoca”. Mas que mania de disfarçar egoísmo com altruísmo! Ainda ficam dizendo “Menti porque não queria ver ela (ele) sofrerrrr”. Não queria ver sofrer? NÃO TINHA QUE TER SACANEADO A PESSOA. Um pouco tarde para ser nobre, né?

É cômodo mentir. É fácil. É prático. Mas também é covarde. Existem formas racionais e diplomáticas de contar verdades sem arrastar com a vida do outro. A mentira não é necessária. Um pouco de diplomacia, tato e sensibilidade podem ser necessários, mas mentira não. Se você já foi honesto toda uma vida com a pessoa, porra, precisa cagar na saída? Feche com dignidade, fale a verdade!

E cá entre nós, rejeição dói mesmo. E dói por mais nobre que seja o motivo. Não pensem que vão evitar o sofrimento de alguém abarrotando o término com mentiras. Não vão. Periga até piorar o sofrimento! Tem coisa mais difícil do que esquecer alguém que não nos sacaneou, que não fez merda, que não pisou na bola com a gente?

Falando a verdade se dá dignidade à pessoa. Se dá o direito de escolher com base em fatos reais como ela vai se portar com você dali para frente, como ela vai se portar com as pessoas do convívio em comum e qual a estratégia que ela entende melhor para se desvincular desse relacionamento.

Para me dizer que já que todas são loucas e reagem feito loucas ao término, não importa o que se faça, vai passar a falar a verdade, para me dizer que seu ex é tão chiclete que nem com verdade nua, crua e sangrando te deixa em paz e para sugerir temas: sally@desfavor.com

Relacionamentos amorosos terminam. Todo mundo sabe disso e, bem ou mal, todo mundo está preparado para isso. O fim pode ser traumático, mas não se pode dizer que seja inesperado. Já falei tanto sobre isso aqui… Por isso hoje venho falar de um outro fim, muito pior, muito mais sofrido e não esperado: o fim de uma amizade.

Amizades supostamente devem ser para toda a vida. Ao menos poderiam ser para toda a vida. Não se espera que uma amizade termine, porque afinal, se a pessoa se deu ao trabalho de te conhecer melhor a ponto de se tornar sua amiga, e optou por continuar do seu lado, mesmo sabendo exatamente como você é, porque ela iria embora mais tarde?

Na minha opinião, amizades terminam pelos mesmos motivos de relacionamentos amorosos: as pessoas passam a ter interesses diferentes, as pessoas se enganam a respeito do caráter daquele com o qual convive, ciúmes e tantos outros motivos banais. E a dor de terminar uma amizade é a mesma ou até maior do que a de terminar um relacionamento.

Além da dor, tem o constrangimento. Porque terminar um relacionamento é um direito sagrado que todo mundo tem e ninguém questiona isso. Se você deixou de gostar do seu parceiro, ninguém vai te jogar uma pedra, afinal, isso acontece. Mas experimente dizer que deixou de gostar de uma amiga ou de um amigo para ver o surto de fúria que isso desperta nos outros!

O rejeitado ou a rejeitada, inclusive, costumam se portar com mais fúria do que parceiro trocado. A tendência é denegrir a pessoa que rejeitou, para tentar se sentir menos bosta: “tudo bem, ela me rejeitou, mas ela é uma merda, então eu sou legal”. Nada lógico. Mas se serve de conforto para a pessoa, que seja assim. Paciência, pessoas inteligentes e observadoras sabem que quem hoje te elogia e amanhã te xinga é, no mínimo, ridículo. Cada um perde a moral como quer.

Existem motivos graves para virar as costas para uma amiga. Os mais comuns, ao menos nos relatos que eu recebo por e-mail e no fórum são amigas vampiras, que sufocam e parasitam a pessoa. Aquelas amigas que querem monopolizar, que demandam atenção o tempo todo. Essas pessoas carentes geralmente costumam sugar (sem trocadilho) o parceiro, mas quando estão solteiras, parasitam as amigas. Durante um tempo isto é suportável, mas a longo prazo se torna um pé no saco. Dá um pouco de pena porque a pessoa em si nem sempre é má, é apenas carente, capenga emocionalmente e se escora na amiga para suprir sua carência. Mas uma relação dessas faz mal, então, mesmo não sendo má pessoa, é preciso se afastar. E ainda periga da amiga espantar outras amigas, por ciúmes ou possessividade. Uma atitude um tanto quanto lésbica a meu ver.

Outro tipo comum é aquela amiga destruidora, que sempre critica tudo e tenta jogar para baixo as pessoas à sua volta. Nunca nada está bom para ela. Está sempre detonando, sem ao menos ser perguntada. Talvez ela não seja má pessoa, mas quem consegue conviver com uma amiga tão pentelha? Gente assim, sem um pingo de generosidade e compaixão, que jamais conforta uma amiga, tende a afastar as pessoas. E a gente se afasta mesmo, não por deixar de gostar dela, muitas vezes ela tem suas qualidades, mas por gostar de nós mesmas.

E tem também a amiga que parece uma ótima amiga e por trás faz intriga. Faz armações. Faz fofoca. Aquela pessoa tão rejeitada, mas tão rejeitada, que tenta se aproximar dos demais e conquistar sua simpatia contando informações privilegiadas. O mundo é composto por uma grande maioria de fofoqueiros que vivem a vida alheia, então, essa pessoa encontra sempre uma platéia cativa para se aproximar e desfiar um rosário de informações confidenciais sobre as pessoas que as cercam, ou que já as cercaram. Falta de ética total. Claro que os mesmos que ficam ao seu lado para ouvir as fofocas sabem muito bem que essa pessoa não vale uma paçoca e que quando tiver oportunidade fará o mesmo com os demais, mas mesmo assim, lhe dão o que ela procura: aceitação momentânea.

Muitas vezes a amiga nem é uma babaca. A amizade termina por nada, simplesmente porque as pessoas perderam a afinidade. Quem nunca teve uma amiga do colégio com a qual foi perdendo contato gradativo sem saber muito bem o porquê? As pessoas mudam, crescem e vão tomando caminhos diferentes. É natural que se afastem ou se aproximem de outras pessoas de acordo com a afinidade. Eu tive uma amiga assim. Gostava muito dela, realmente gostava. Até hoje tenho afeto. Mas seguimos caminhos tão diferentes que uma não tem mais interesse na outra. Ela casou cedo e fez uma penca de filhos (cinco!). Eu trabalho dez horas por dia. Não temos mais assunto uma com a outra. Não temos mais programas para fazer juntas. Vivemos duas realidades diferentes. Não temos um elo de interesse comum para sustentar nossa amizade. Não brigamos, mas nos afastamos. Em compensação, eu tenho uma grande amiga do colégio (25 anos de amizade) com a qual falo quase todos os dias e com a qual tenho muita afinidade.

O problema principal é como se livrar de um amigo que não é mais desejado, por qualquer motivo. Por motivos mais graves, como traição, falta de caráter ou outros ou por motivos mais banais, como pessoas que simplesmente te sugam, pessoas que se tornaram chatas ou pessoas que te fazem mal. Com namorado a gente senta e faz aquele discurso de que precisamos de um tempo para ficar sozinhas, sem relacionamento amoroso, mas com amigo isso não cola. Não dá para dizer a alguém “Nada pessoal, Fulana, preciso ficar um tempo sem amigos”.

A pergunta que eu deixo para vocês é: o fim de uma amizade precisa ser anunciado? Isso precisa ser verbalizado?

E quando uma das partes ainda acena com a vontade de continuar amiga, como dizer que você não quer mais, que aquilo não é mais interessante para você, que aquilo não te satisfaz mais, que aquilo não te faz bem? Pior: como dizer isso tudo sem magoar, sem que a pessoa fique com raiva?

Eu acho que é mais piedoso ir dando sinais de que você e sua amiga não estão mais em sintonia. Mas a experiência me mostrou que isso desperta a ira alheia, e que muitas vezes as pessoas não entendem ou não querem entender esses sinais. Talvez o ideal seja deixar o preto no branco, de preferência com testemunhas, ao vivo e a cores, para que não pairem dúvidas do que aconteceu e de que sua conduta foi correta. Mas é tão difícil dizer isso na cara de alguém…

É muito ruim ter que dizer a uma pessoa “Foi mal, não te quero mais como amiga”. É muito ruim mesmo. Só que muitas vezes, manter a amizade com a pessoa é pior ainda. E geralmente as pessoas não se mancam se não for verbalizado assim, preto no branco. Você briga, você se afasta e um tempo depois sempre vem um e-mail, um SMS, um depoimento no Orkut ou um telefonema, assim, como quem não quer nada, tentando se reaproximar. Os chutados sempre tentam uma reaproximação. Parece que as pessoas precisam ouvir um “Não quero mais, NUNCA MAIS, manter uma amizade com você! Se manca!”. Só que não é de bom tom falar uma porra dessas. O que fazer?

Tem uma frase que eu repito muito: você só conhece o caráter de uma pessoa depois que a rejeita. Seja amigo, seja funcionário, seja namorado. Uma pessoa aparentemente boa, aparentemente dedicada, que aparentemente gosta de você, pode ficar transtornada quando é rejeitada e pode perder a noção do certo e do errado.

Algumas providências podem ajudar a se proteger nesses momentos. Uma coisa que eu fiz uma vez, e admito, não foi por esperteza, foi por sugestão do Somir, que viu a desgraça antes que ela de fato aconteça, foi “desabafar” uma série de mentiras para uma amiga que eu sabia que cedo ou tarde teria que rejeitar porque estava me sufocando. Desabafei coisas cabeludas (e mentirosas) para ela, porque sabia que na hora da rejeição a raiva viria (sabia porra nenhuma, o Somir me alertou). Não deu outra. Assim que “rompemos” pipocaram essas mentiras escabrosas a meu respeito por todos lados. Até achei graça, porque pude provar que eram mentiras e a pessoa saiu desmoralizada. Fica a dica. Recomendo a Tática Somir de Afastamento.

Poucas pessoas no mundo lidam bem com rejeição. Para romper com uma amiga é bom pressupor que se está ganhando uma inimiga. Tomara que não, tomara que ela encare numa boa, mas se prepare, porque o mais provável é que a pessoa rejeitada vire sua inimiga, por mais cuidadosa que seja a ruptura. Rejeição é rejeição, por mais floreada que seja.

O conselho que eu deixo para quem está do lado da rejeição é que se retire de forma silenciosa e digna. Não interessa porque sua amiga não te quer mais, o que interessa é que ELA NÃO TE QUER MAIS. Foda-se o motivo. É hora de se retirar e procurar gente que te queira, que te valorize e que te aprecie. Não fique com raiva, não se sinta um lixo. Muitas vezes conhecemos pessoas em uma época da vida e com o passar do tempo, cada um vai para um lado, com novos objetivos de vida, novos valores, novas prioridades, que tornam a antiga amizade desinteressante ou incompatível. Isso não faz de você má pessoa, apenas uma pessoa incompatível.

A dúvida que ainda me persegue, e eu gostaria da opinião de vocês nos comentários, é sobre como ultimar uma amizade que não interessa mais, seja porque a amiga é um saco, seja porque é incompatível, seja porque não te faz bem ou seja porque é uma escrota? Mero afastamento? Uma conversa sincera? Carta anônima?

Sou pessimista, acho que qualquer que seja a fórmula adotada, a pessoa rejeitada sempre faz disso um drama e se vinga, de forma sutil ou de forma aberta. Poucas pessoas se retiram com dignidade. Quem está certo do que é e do seu valor, não se importa com esse tipo de rejeição. Quem não sabe muito bem o que é, quem é inseguro, precisa do outro para lhe dizer o que é. O que a pessoa é corresponde ao que o olhar do outro diz sobre ela. E essas são as pessoas que surtam quando são rejeitadas. Precisam detonar quem as rejeitou para desmerecer sua opinião.

Para me dizer que tem uma amiga da qual não consegue se livrar, para me perguntar quais foram as mentiras que o Somir me mandou contar e para dizer que mulher não tem amiga, tem rival: sally@desfavor.com

Ontem (12/06) foi o dia dos namorados. Hoje (13/06) é o dia de um santo católico conhecido por ser “casamenteiro”. Todo ano é o mesmo desfavor: Homens e mulheres solteiros de todo o Brasil fazem de tudo para não deixar essas datas passarem batidas. Afinal, é uma oportunidade para se adequar à expectativa social de não ficarem sozinhos.

Tem gente que até fica meio depressiva nessa sequência de dias “amorosos”. Isso é um desfavor!

Eu normalmente sou um cético azedo sobre qualquer tipo de data comemorativa. Onde a maioria das pessoas enxerga apenas mais uma oportunidade para fazer algo diferente e “entrar no clima”, eu enxergo um comportamento retrógrado, estúpido e emblemático sobre como nossa espécie ainda vive nas trevas da simbologia e misticismo.

O número do dia que você enxerga no calendário não deveria ter nenhum efeito sobre sua mente. Os dias do ano são convenções altamente influenciadas por motivos religiosos e manipulados ao bel-prazer de quem quer que tivesse poder de mudá-los de acordo com o poder dominante na época. Por si só, não significam nada além de contagem de tempo. (E imprecisa, para ajudar… A cada ano sobram 6 horas que precisam ser jogadas no dia 29 de Fevereiro dos anos bissextos.)

É uma bobagem dessas que mexe tanto com os humores das pessoas? Parece até que ainda adoramos o Sol como uma entidade viva e fazemos rituais para agradá-lo por sermos seres primitivos… (Opa…)

O dia dos namorados é uma data comercial. Óbvio. Mas mesmo a maioria da população que sabe disso ainda é suscetível ao clima criado pela mídia e a empolgação social gerada pelo dia 12 de Junho. Desde as pessoas que se sentem deslocadas por estarem solteiras até os desfavores que acham que nesse dia (e no dia seguinte) vão ter mais chances de arranjar alguém…

Sim, estou sendo excessivamente crítico. Sei que poderia simplesmente ignorar a bobagem que é essa data e deixar as pessoas se divertirem nos seus mundinhos ritualísticos. Mas, ser excessivamente crítico te ajuda a perceber que sempre existe mais por detrás dessa diversão aparentemente inocente:

A pessoa funcional.

A pessoa funcional é aquela que segue os padrões esperados dela, é aquela que mantém a sociedade coesa com objetivos, opiniões e medos mais ou menos parecidos. Todo mundo gosta da pessoa funcional. Ela compra nas datas certas, ela trabalha em prol daquele que conseguiu uma posição superior, ela acredita em (teme) seres imaginários mais ou menos parecidos com a média.

A pessoa funcional fica empolgada com o dia dos namorados. Ela sai e abarrota o comércio do país comprando todo tipo de cacareco entulhado nos estoques das lojas. Ela se sente péssima caso esteja encalhada e pensa em diversas formas de contornar esse problema. Mesmo que esse problema só tenha surgido em sua mente em forma de problema por causa do número do dia e mês que viu no calendário. (Sabe aquele que foi inventado para que alguns líderes políticos e religiosos fossem eternizados?)

A pessoa funcional movimenta a economia e reforça a crença geral nas religiões que melhor controlam a população. Tenham em vista que várias pessoas funcionais estão fazendo simpatias e promessas em nome do santo “de hoje”.

Mesmo que toda e qualquer forma de simpatia e promessa seja uma bobagem sem NENHUM efeito prático em qualquer esfera da realidade. (Efeito placebo já é um conceito científico, não há mais desculpas para misticismo nos dias de hoje.)

A pessoa funcional não contesta. Ela funciona.

Foi mal, mas ninguém comemora o dia dos namorados. As pessoas comemoram o fato de estarem dentro da média do que é esperado delas. É útil que todos tenham objetivos parecidos de fazerem pares e criarem famílias. Faz bem para a economia, faz bem para a divisão de propriedade, faz bem para as instituições que lucram muito com isso…

Além disso, fazer o que todo mundo faz é reconfortante para uma mente tão cheia de inseguranças como a humana. Fazer parte do padrão realmente aumenta a qualidade da vida social de uma pessoa. Se a maioria das pessoas se recusa a perceber que faz exatamente o que querem que ela faça, é uma batalha inútil sair dizendo por aí que vai ser diferente. Por isso, conformismo e conformidade tem papéis tão importantes em datas comemorativas como as quais inspiram esta postagem.

Eu sempre achei que TODAS as datas comemorativas gerais eram absurdos (tirando o dia das crianças e o natal quando era criança…), mas sempre tive que me conformar que outras pessoas pensavam diferente. Inventar uma data para comemorar um conceito abstrato (geral) é mais ou menos como fazer um monumento em homenagem a um deus. Eca.

Mas adianta dizer isso por aí? Aposto que vão dizer que eu chamei o dia dos namorados de desfavor porque não estou namorando. SPOILER: Sempre achei uma merda estúpida, mesmo nos meus melhores momentos de namoro.

Acho menos ridículo comemorar a data do primeiro encontro, ou mesmo do primeiro beijo. E nem comecemos a falar sobre as pessoas que estão colocando imagens de um santo de ponta-cabeça neste exato momento…

Chega de comemorar a “idéia” do que é um namoro. Chega de namorar para não ficar sozinho. Chega de bobagem… A vida é o que NÓS fazemos dela.

Eu não sou funcional. (Pelo menos foi o que disse meu psiquiatra.)

E adoro isso. Feliz dia de nada.

Para dizer que obviamente eu estou amargo por estar solteiro, para dizer que fez uma promessa para o santo e conseguiu um namorado na sua agência de modelos ou mesmo para dizer que não entendeu porra nenhuma: somir@desfavor.com


Nós mulheres, vivemos sob constante pressão social. Temos que ser magras para caber nas roupas que vendem em lojas, temos que ter uma profissão para não sermos consideradas acomodadas, temos que estar atualizadas para não virar uma bonita-burra, temos que parecer jovens e etc. Nesta semana uma das imposições sociais salta aos olhos: dia do namorados. Sim, ainda tem mulher histérica que acredita que sua felicidade se mede pelo sucesso em encontrar um parceiro. E a mídia ajuda a alimentar esse desfavor. Essa pressão social é o desfavor da semana. E quem cede a ela também.

Mulher feliz é aquela com um homem do lado. E é melhor ninguém questionar isso, porque automaticamente ganhará a presunção de encalhada e invejosa. É inveja, é sempre a inveja. “Eu tenho homem, ela não tem”. Sinceramente, para ter alguns homens com os quais neguinho anda namorando e casando… prefiro mil vezes ficar sozinha, se for o caso. E QUE BOM que eu consigo ficar sozinha e ficar bem. Essa é uma das coisas que tenho mais orgulho em mim.

Para completar o pacote de desfavor da semana, hoje ainda é dia de Santo Antônio, o suposto santo casamenteiro. O desespero das socialmente pressionadas que “não tem homem” as leva a depositar suas esperanças em simpatias ridículas, entregando a responsabilidade da sua vida ao divino. Nada contra pequenas simpatias, todo mundo tem superstições, o que estou criticando é essa postura radical de algumas mulheres em não mexer o rabo para fazer acontecer e entregar nas mãos de um santo sua felicidade. E criar expectativas enormes com isso.

Até quando mulheres vão dar tanta importância a homem? Até quando elas fizerem do homem seu “tudo”, o usarem para preencher todas as carências e ocupar todos os papéis da sua vida. Homem é para ser SEU HOMEM, ponto. Não é para ser seu melhor amigo, seu pai, seu irmão, seu confidente seu… “tudo”. Não tem que te acompanhar no salão, no médico, no batizado chato e no exame ginecológico. Quem tem amigos, família, colegas, hobbies, trabalho, enfim… quem tem UMA VIDA, completa e satisfatória, não dá tanta importância a homem, simplesmente porque não tem tempo para isso. Não tem tempo para ligar e ficar perguntando onde ele está, não tem tempo para encher o saco do infeliz, controlar, pegar no pé. Homem é um plus. Isso mesmo, um plus. E não a razão da nossa vida e tábua de salvação da nossa felicidade.

Mas, esta semana deixa exposta essa ferida. Todas aquelas que hiper-valorizam homem começaram a dar piti já na segunda-feira. Recebi muitas perguntas de “como vou fazer para passar um dia dos namorados sem namorado”. As que tem namorado sentem “pena” daquelas que estão sozinhas. Os comerciais de TV te mostram como você não é feliz se não tem um homem do lado. Mulheres mais vulneráveis caem nessa armadilha e se desesperam. Passam a sexta deprimidas e o sábado colocando santo na geladeira de cabeça para baixo.

Eu poderia dizer que o desfavor da semana são essas datas comemorativas, mas sinceramente, não acho que o problema seja a data. Acho legal dia dos namorados. O problema são essas mulheres histéricas que acreditam que sua felicidade depende da presença de um homem na sua vida. Eu sempre dou um mesmo conselho a mulheres que se dizem desesperadas por causa de homem: “Calma, vai aparecer alguém, toda panela tem a sua tampa”. Mas cá entre nós? Tem gente que passa a vida sem viver uma grande história de amor. É bom aceitar isso e descobrir formas alternativas de ser feliz. Sim, o amor não acontece para todo mundo. É provável que aconteça para 90% de nós, mas também pode acontecer de encontrarmos muitos homens errados que nunca preenchem nossas expectativas (principalmente quando elas são enormes).

Vamos colocar uma coisa nas nossas cabecinhas: RELACIONAMENTOS SÃO PASSAGEIROS. A gente fica com um homem do lado enquanto dá certo, quando não dá mais certo, quando as pessoas começam a querer coisas diferentes e incompatíveis, a gente se separa e procura outro homem. Não estou pregando relacionamentos descartáveis, acho que temos que lutar pelo relacionamento, mas com bom senso, enquanto ele for POSSÍVEL. Não dependemos de relacionamento para conseguir felicidade.

E se você ainda acha que precisa de um relacionamento para ser feliz, recomendo que procure fazer mais amigos, abrir sua cabeça, viajar, conhecer a diversidade do mundo, de outras culturas, se dedicar a uma profissão pela qual seja apaixonada, se exercitar, praticar um hobbie que te seja prazeroso, enfim, buscar EM VOCÊ MESMA sua própria felicidade. Repetindo: homem é um plus.

E durante o relacionamento, é preciso manter essa linha de pensamento. Ele não é “tudo” para você. Ninguém aguenta ser “tudo” de ninguém, é muita responsabilidade. Ele é um plus. Você vai continuar saindo sozinha com amigos, continuar trabalhando, continuar praticando seu hobbie, dividindo o tempo que você tem entre todas as atividades, sendo ele MAIS UMA, e não sua prioridade absoluta. É isso aí, mais uma. Trate um homem assim, e ele dificilmente deixará de se apaixonar por você, eu prometo. Dê total prioridade a homem, fique muito disponível e veja por si mesma o que acontece com a relação a longo prazo.

Esta semana da pressão social só é desfavor porque tem gente que cede. Vamos todos refletir sobre a importância que damos ao sexo oposto no relacionamento (porque também tem uns homens surtados que se portam da mesma forma neurótica e sufocadora que as mulheres!). Vamos aprender a ser um inteiro, e não uma metade de alguém. Assim, quando a pessoa vai embora, nós continuamos um inteiro.

Para me dizer que eu não sei o que é amor, para me dizer que eu tenho inveja e para me dizer que preferia que eu tivesse escrito algo na linha “dia dos namorados é um feriado capitalista criado pelo comércio para vender mais”: sally@desfavor.com