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Precisamos falar de Bolsonaro?

Precisamos falar de Bolsonaro?

| Desfavor | | 41 comentários em Precisamos falar de Bolsonaro?

+Com ideias extremistas e discurso insultuoso, o presidenciável Jair Bolsonaro já tem o apoio de 30 milhões de brasileiros e consolida-se em segundo lugar nas pesquisas.

E a mídia brasileira começa a entrar no mesmo tipo de armadilha que elegeu o Trump nos EUA. Desfavor da semana.

SALLY

Tudo que falamos sobre Donald Trump se aplica a Bolsonaro: é um merda, um imbecil, um idiota que foi promovido graças ao linchamento que recebeu. Ataques direcionados à pessoa, e não à enorme quantidade de merdas que faz, somados a um sentimento conservador nostálgico que vem em resposta a tempos “modernos demais” para a cabeça da população média causaram um desastre nas últimas eleições dos EUA e tememos que acabem causando um desastre nas próximas eleições brasileiras.

Bolsonaro não tem carisma para se eleger? Gostaria de lembra-los que o Rio de Janeiro, um berço de esquerdinhas e capital mundial da putaria, votou em Marcelo Crivella, pastor, sobrinho de Edir Macedo e pessoa com o carisma de um absorvente usado. Para não votar na esquerda, o brasileiro está fazendo qualquer negócio.

“Ah, mas as pesquisas indicam…”. Meus queridos, as pesquisas indicavam mais de 90% de chances da Hillary vencer. Pesquisas não indicam nada e você tem probleminha cognitivo se ainda acredita em qualquer uma delas. Outra coisa: a corrida presidencial ainda não começou. O candidato mais conhecido é o Lula, pois já foi presidente duas vezes. É comum, é normal que seja o nome mais apontado, pois o brasileiro não conhece nenhum outro que seja candidato e Deus os livre de dizer que não sabem alguma coisa. Deixa a máquina publicitária do Bolsonaro começar a trabalhar para vocês verem se ele não dá um salto nos números.

Desta vez o PT não tem máquina estatal nas mãos para emplacar eleição de um candidato seu. Talvez o PT não tenha nem candidato, pois a coisa fica cada vez mais feia para o Lula. Ficha suja não, ficha imunda. Não custa nada para o STF mudar de ideia e impedir que ele se candidate, sabemos que é um tribunal que não guarda muita coerência. Ele não tem mais dinheiro público para comprar voto com assistencialismo barato, duvido que muita gente fique a seu lado apenas por amor.

Já sabemos que a sociedade geralmente se move a ação e reação: sociedades muito reprimidas passam por um boom de liberar geral e depois, para conter a grande putaria, volta uma onda conservadora. O ser humano é isso, essa coisa tosca e desarranjada sempre em busca de equilíbrio. Em tempos de “homem pelado na exposição do museu” tem muita gente emputecida e revoltada, acreditando que é preciso frear a putaria descarada, na verdade, querendo ver a putaria hipócrita de antigamente.

Como complemento, temos um numero significativo de pessoas que está tão de saco cheio da turma do lacre que faz qualquer negócio para que eles se fodam, inclusive foder todo o país votando em uma pessoa que, até então, vem se mostrando muito incorreta. Gente que não tem nada a perder é um perigo, gente que acha que não faz diferença quem se coloque no poder, todos roubarão e serão escrotos, tende a colocar no poder que ao menos dá uma sacaneada em seus desafetos, para ter algum ganho secundário.

Neste contexto, o que a mídia faz? Vai lá e promove Bolsonaro. A Veja faz uma capa totalmente desnecessária tratando-o como “ameaça”. Para ser uma ameaça, a pessoa precisa ter muito poder, concordam? Pegam um sujeito que é nada mais, nada menos que um merdinha o alçam a uma categoria de “ameaça”, de poderoso. Pronto: todo mundo que está emputecido com a esquerda, com a modernidade, com o lacre, com o que quer que seja, acaba de saber quem é o chefão do outro lado, o cara capaz de combater tudo isso, o sujeito que é visto como ameaça. Muito obrigada por este desfavor.

A mídia se encarregou de nomear Bolsonaro, um sujeito risível que nunca deveria sair das trevas e da escuridão, como antítese de Lula. Não é, é tão merdinha quanto. Mas aos olhos de boa parte da população, agora ele representa uma mudança, o outro lado, um combatente. Não é. É a mesma merda, só que um é cara de pau e o outro é hipócrita, mas são o mesmo lado da moeda. A antítese de toda essa baixaria política que estamos vivendo certamente não está em Jair Bolsonaro.

Mais um detalhe: não importa quão errado, escroto e babaca seja, quando vemos alguém fazendo uma covardia com essa pessoa, tendemos a nos solidarizar. Ninguém gosta de ver covardia. Ataques pessoais baixos como o da Veja fazem com que muita gente que nem sabia da existência do Bolsonaro tenha algum tipo de simpatia por ele. Por mais que todo mundo se ache dono da razão, ficar repetindo apenas que Bolsonaro é um merda só milita a favor dele. Ataques pessoais sem embasamento são covardia.

O sujeito tem centenas de ideias equivocadas, comete uma série de arbitrariedades, tem posturas totalmente antiéticas, mas em vez de iluminar seus erros, todo mundo insiste em bater na pessoa. Soa como covardia, desperta simpatia. Bolsonaro não pode ser retratado como um completo vilão, malvado, terrível. Nem como uma grande ameaça poderosa. Ambos os clichês o glorificam.

Ele é risível, uma pessoa que deve ser tratada como louca, não como ameaça ou contraponto a alguém. Quando você coloca uma pessoa na categoria de seu inimigo, a eleva, diz que ela tem cacife para ser seu inimigo. Bolsonaro deveria ser tratado como uma formiguinha, alguém que não merece ter voz, muito menos ser inimigo.

Já estamos batendo nessa tecla esporadicamente, mas agora é oficial: parem de endemoniar o Bolsonaro, isso vai acabar elegendo ele. Estão conferindo um poder, um simbolismo de antagonista, uma força que ele não tem. Parem com isso porque esse filho da puta já dá sinais que aprendeu a surfar nessa onda e se estiver bem assessorado, ele chega lá.

É uma premissa básica sobre a qual falamos desde 2009: não divulgue o que você não gosta. Quando você divulga um idiota, possibilita que outros idiotas o encontrem, se juntem a ele e formem um bando. Não divulguem idiotas, e entendam de uma vez por todas que criticar é sim uma forma de divulgar. Parem de glorificar o Bolsonaro, alçando-o à categoria de inimigo. Deixem ele morrer falando sozinho.

Para dizer que neste texto fazemos o que mandamos não fazer, para dizer que quer mais é que ele se eleja e ver o circo pegar fogo ou ainda para dizer que é Bolsomito 2018: sally@desfavor.com

SOMIR

Difícil não cair em contradição aqui: para não falar de Bolsonaro, precisamos falar de Bolsonaro. Mas pelo menos na pequena esfera de influência que temos aqui, que fique registrado um ponto de vista que não vamos ver nos próximos meses até a eleição: Bolsonaro não tem a estatura política ou mesmo capacidade para ser o salvador ou o destruidor do Brasil. O máximo que pode acontecer já estamos vendo nos EUA, um presidente que entra deixando todos na expectativa de coisas grandiosas, mas que na prática não faz muita diferença.

Na fase da presunção e das promessas, realmente parece que o país vai ter uma escolha enorme sobre como seguir a partir da sua viabilidade como candidato presidencial, mas… alguém como ele não consegue mudar muitas coisas no país. Se ganhasse, ganharia num país dividido com a esquerda enlouquecida, e por absoluta falta de inclinações políticas do legislativo, teria que subir o morro de subornar deputados e senadores, tudo isso com o temperamento escroto que tem. Bolsonaro conseguiria aprontar algumas, mas nada que não pudesse ser desfeito logo depois e nada com real impacto no funcionamento do país.

Mesmo que você esteja puto com a turma do lacre, ela só vai ficar mais forte com alguém feito o Bolsonaro no poder. Essa gente se alimenta de vitimização, eles amam ter um vilão opressor por perto, até porque é a única razão desse povo viver (suas causas sendo bem secundárias). Como os americanos perceberam, nem mesmo um presidente anti lacre tem força suficiente para dar conta disso. É uma espécie de doença que tem que seguir seu curso, não algo que você arranca da sociedade numa canetada.

E quando a mídia entra nessa armadilha de dar muita atenção para Trumps e Bolsonaros dessa vida, cria uma ilusão de poder que só fortalece suas candidaturas. Trump era uma piada tão boa para a mídia americana que eles não resistiram e basicamente elegeram ele, não conseguiam se afastar daquela fonte inesgotável de polêmica, era bom demais para os negócios! Como personalidade midiática, talvez só Lula seja tão eficiente em criar factóides para alimentar os jornais e as redes sociais atualmente. Não à toa, são os dois mais lembrados e teoricamente líderes da próxima disputa presidencial.

Do ponto de vista de quem vive de fazer as pessoas consumirem seu conteúdo, o Bolsonaro é mesmo um prato cheio. Gera cliques e vendas, para os defensores e detratores. Eu acompanhei bastante a eleição presidencial americana, muito por causa do Trump, e posso afirmar que o mecanismo é bem esse: começa como piada, vai se tornando ameaça, e depois vira uma necessidade enorme de mostrar para o povo como o candidato é ruim. Tudo saindo pela culatra e só tornando o candidato mais e mais viável.

Nesse tipo de situação o que mais importa é visibilidade, porque a narrativa pode ser corrigida durante a campanha: ainda mais nos tempos atuais onde as pessoas estão bem desconfiadas da grande mídia e lidando com muita encheção dos ativistas lacradores, a ideia de alguém que tem um plano mais conservador para o país e parece fora do joguinho de cartas marcadas da política tradicional parece cada vez mais amigável. E quando a mídia começa a chamar essa opção “amigável” de uma ameaça ao país, gera confusão.

E na dúvida, o cidadão médio prefere o instinto dele do que opiniões mais bem informadas e difíceis de entender. Fazemos questão de mencionar esse tema pela preocupação que o mesmo processo que aconteceu nos EUA se repita no Brasil. Quer votar no Bolsonaro? Ele é um babaca que provavelmente vai ser incapaz de gerar mudanças positivas para o país, e só. Se você souber isso e ainda sim estiver empolgado, que seja. Se a outra opção é o Lula, realmente fica complicado. Mas Bolsonaro não tem sequer tamanho para ser mais do que um político excêntrico que vai ser engolido pelo sistema seja lá no que fizer.

Trump está nessa situação, aliás. Fazendo barulho de tempos em tempos, mas quebrando a cara em basicamente todas as reformas que disse que ia fazer. Mesmo com a maioria do Congresso e do Senado, não consegue passar um pedido de café por eles, estando preso a decretos que no máximo geram uma polêmica eventual. Mesmo depois de eleito, Trump faz mais com seu Twitter do que com seu cargo… o que deveria ser óbvio desde o começo. Não há motivos para achar que Bolsonaro eleito tenha sucesso (ou fracasso) maior.

Claro, não somos os EUA, existem muitas diferenças estruturais entre os países, mas a ideia de que um presidente sozinho tenha tanta força é risível numa democracia. O sistema está montado para ser um labirinto de vontades pessoais que mais se anulam do que se complementam. Talvez esse seja até o grande poder do sistema democrático: tornar tudo muito complicada para quem quer mudar alguma coisa. Porque mesmo com toda a bagunça após a eleição do Trump, ele se revelou tão pequeno e irrelevante como se previa quando finalmente conquistou o poder.

E Bolsonaro é isso: um homem intransigente e midiático que na prática não tem suporte ou capacidade de negociação suficiente para ser mais do que um bobo da corte com faixa presidencial. Não vai gerar mudanças suficientes no país, só vamos perder 4 ou 8 anos de presidência com um cão que só sabe latir. Seja lá o que você está pensando, Bolsonaro é menos, muito menos.

Só vai parecer maior se a mídia brasileira criar essa imagem pra ele e cairmos todos na armadilha de polemizar um Zé Ruela qualquer. O que infelizmente vai acontecer… mas se alguém te perguntar, não custa jogar contra e contar para as pessoas o verdadeiro tamanho dele. Quem sabe ajuda?

Para dizer que não sabe se eu sou de direita ou de esquerda, para dizer que nós somos maconheiros comunistas, ou mesmo para dizer que precisa acreditar que alguém pode resolver algo: somir@desfavor.com


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